Fechar menu lateral

Informativo 553 – Menos gás-estufa; fracasso e perda de gelo

1 – Desmatamento provoca menos gás-estufa no Brasil

2 – O fracasso de Kyoto

3 – Levantamento inédito aponta perda de gelo na Antártica e na Groenlândia


1 – Desmatamento provoca menos gás-estufa no Brasil

Mudou o perfil das emissões de gases-estufa do Brasil. Em 2011, energia e agricultura já responderam por cerca de 56% do bolo das emissões brasileiras, tradicionalmente dominadas pelo desmatamento.
Esse dado revela uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que retrata o esforço que o Brasil tem feito para conter o desmatamento e mostra que vem dando certo. Na terça-feira, o governo celebrou o menor índice de desmatamento dos últimos 24 anos ao divulgar os dados do acumulado de agosto de 2011 a julho de 2012 – 4656 km2, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A má notícia é a alta na tendência emissora dos outros setores.

“Estamos passando por uma completa transformação da emissão de gases-estufa do Brasil”, diz o engenheiro florestal Tasso Rezende de Azevedo, autor do estudo “Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil 1990 -2011”. “Partimos da redução do desmatamento, que sempre foi o carro-chefe das emissões brasileiras, e vemos que, já em 2012, elas serão menores que as de energia e agricultura”, diz Azevedo, um dos mais importantes consultores do governo neste tema.

O estudo representa uma estimativa das emissões brasileiras entre 1990 e 2011. Procurou trabalhar com todos os gases-estufa inventariados pelo Brasil dando mais foco ao gás carbônico (CO2), ao metano (NH4) e óxido nitroso (N2 O) que respondem por quase a totalidade do problema. As emissões de energia incluem o consumo de todos os combustíveis fósseis – é aí que estão setores como transportes. O relatório contou com a participação de outros especialistas e usou como base o Inventário Brasileiro de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil e dados públicos disponíveis na internet. Um dos objetivos, diz o autor, é “oferecer subsídios para o debate sobre a trajetória de emissões brasileiras e os avanços em relação à meta de redução de emissões.”

O estudo é uma fotografia das emissões do País nos últimos anos e as dificuldades para o futuro. As emissões mundiais de gases-estufa cresceram 36% entre 1990 e 2011 enquanto as brasileiras subiram só 14%. Há outro dado auspicioso: as emissões brasileiras caíram 35% no total entre 2005 e 2011, enquanto as globais aumentaram 9%.

Mas há um problema nestes números. “Se separarmos as emissões de desmatamento do total veremos que elas caíram 64% no período, mas as outras cresceram 18%”, diz Azevedo. “Isso mostra que o desmatamento tem uma contribuição fundamental no bolo das emissões do País, mas mascara uma realidade que é o crescimento de outros setores em um ritmo maior que o ritmo global.” A tendência de crescimento brasileira é o dobro da mundial.

O Brasil tem o que festejar porque, continuando assim, cumprirá a meta de redução de emissões a que se propôs – cortar em pelo menos 36,1% as emissões em 2020 quando comparadas com a projeção que o País teria se não procurasse conter o desmatamento ou ter políticas e planos setoriais de baixo carbono para todas as outras atividades. “Vamos cumprir as metas, mas com as emissões apontando para cima”, destaca o consultor.

Esse é um dado importante para a nova fase da negociação internacional. Em 2015 o mundo estará dentro de um grande acordo de redução de gases-estufa. Na visão de Azevedo, o País tem feito um esforço grande para cortar “a gordura do desmatamento. Mas, lá na frente, não teremos mais isso”. É por esse motivo que os planos setoriais brasileiros são tão importantes. (Valor Econômico)

2 – O fracasso de Kyoto

Série de artigos publicados na revista Nature aponta que o protocolo internacional criado para combater o aquecimento global falhou. Além de não ter sido possível implementar um mercado de carbono eficiente, as emissões de gases do efeito estufa aumentaram nos últimos anos.
“O aquecedor está ligado.” A frase estampada na capa da edição de hoje da revista Nature anuncia, com base em uma série de artigos, o fracasso do Protocolo de Kyoto em conseguir reduzir as emissões globais de gases causadores do efeito estufa, apesar de todo o esforço empregado em sucessivas reuniões de cúpula dedicadas ao tema. O alerta de uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo é feito no momento em que, mais uma vez, líderes políticos tentam chegar a um acordo para prorrogar a validade do protocolo, previsto para expirar no próximo mês, durante a 18ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP18), em Doha, no Catar.

Segundo Dieter Helm, professor de Políticas Energéticas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, embora o principal alvo de Kyoto tenha sido reduzir os níveis de CO2 e demais gases que agravam o aquecimento global, as emissões permanecem em uma curva ascendente. “Elas passaram de quase 2 partes por milhão (ppm) por ano, no início de 1990, para quase 3ppm atualmente”, informa o especialista, para quem a situação deve piorar ainda mais.

“O grande problema de Kyoto é que ele leva em consideração apenas a produção de carbono, e não a emissão”, afirma o britânico. A distorção nos cálculos favorece o lançamento de uma quantidade maior de carbono na atmosfera. “O aquecimento global não leva em conta as fronteiras nacionais. Se um consumidor dos Estados Unidos compra um carro, pouco importa se o aço dentro dele é feito lá ou na China”, prossegue. “A diferença entre a produção de carbono e o consumo de carbono não é trivial. Veja o Reino Unido: de 1990  a 2005,  a sua produção de carbono caiu cerca de 15%, mas o consumo subiu aproximadamente 19%, quando se leva em conta o carbono embutido nas importações.” O que ocorreu, portanto, segundo o especialista, foi uma transferência das emissões, desvirtuando a intenção do protocolo.

Se o atual acordo é falho, a elaboração de um substituto é ainda mais problemática. “Na COP de Durban, em dezembro de 2011, o máximo que se conseguiu foi que os países participantes concordassem que até 2015 haverá um acordo sobre o que eles podem fazer depois de 2020”, lamenta o britânico.

Mercado – Outro aspecto do protocolo que falhou em seus objetivos e deve criar um panorama tenebroso para o mundo nos próximos anos é o mercado global de carbono. Segundo o que foi projetado em 1997, os países poderiam colocar um preço nas emissões – ou em seus cortes – e negociá-las entre si. Até o início dos anos 2000, o mercado estava prestes a se tornar uma realidade, mas uma sequência de acontecimentos minou o projeto.

O primeiro deles foi a eleição de George W. Bush, um forte crítico do protocolo, que presidiu os EUA entre 2001 e 2009. Contudo, outros fatores, além da resistência da maior economia e maior poluidor do mundo, outros pontos contribuíram para o fracasso. “A crise de crédito colocou instrumentos de negociação complexos em descrédito. A European Union Emissions Trading Scheme (EU ETS) se viu envolta em escândalos, como o roubo de licenças de emissão e fraudes fiscais”, enumera Michael Grubb, pesquisador da Universidade de Cambridge, também no Reino Unido. Assim, questões financeiras e políticas formaram um gargalo para o crescimento do mercado mesmo na Europa, região que tem se mostrado mais flexível à adoção de mecanismos de redução das emissões.

Em um dos artigos que compõem o especial da Nature, Grubb explica que, embora a questão tenha ganhado novo fôlego nos EUA, no período pós-Bush, a crise econômica atuou como freio na região. “Criou-se o consenso de que os Estados Unidos não teriam estômago para precificação do carbono – o público nunca aceitaria uma tributação”, conta. Sem um mercado grande, o comércio de carbono viu seus preços despencarem. Atualmente, o certificado para emissão de 1t de carbono custa tão pouco que é mais barato pagar por ele do que investir em tecnologias verdes.

Apesar do pessimismo generalizado, Grubb elenca três passos necessários para colocar as medidas de combate às mudanças climáticas de volta nos trilhos. O primeiro seria a inclusão dos Estados Unidos nos esforços globais para a redução das mudanças climáticas. Outro ponto seria o fortalecimento do comércio global de carbono. Por fim, o britânico defende que as nações mais pobres passem a investir em economia verde. “Os países em desenvolvimento devem parar de apontar a responsabilidade das mudanças climáticas para os países ricos e focar seu desenvolvimento em tecnologias limpas”, completa.

Polêmica – A adoção de metas por países em desenvolvimento é uma das questões mais polêmicas das negociações ambientais. Os países desenvolvidos afirmam que a fatura ambiental deve ser paga por todos, independentemente da condição econômica. Por outro lado, o grupo de países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, defende que a questão da pobreza seja levada em consideração. Segundo o grupo, os países ricos devem focar a solução do problema ambiental, enquanto os emergentes precisam se desenvolver e retirar sua população da miséria. (Correio Braziliense)

3 – Levantamento inédito aponta perda de gelo na Antártica e na Groenlândia

Um time de 47 especialistas de 26 laboratórios internacionais reuniu dados de dez missões de satélites para medir a perda de gelo das calotas de gelo da Antártica e da Groenlândia, e o reflexo disso no aumento do nível do mar.
A conclusão deles é que, desde 1992, o derretimento nessas regiões elevou os oceanos em cerca de 11,1 milímetros. Segundo os autores, dois terços da água vieram da Groenlândia, e o restante, da Antártica.

A pesquisa será publicada na próxima edição da revista “Science”, nesta sexta-feira (30). Os dados se enquadram na da previsão do relatório do o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de 2007, mas esta era tão ampla que sequer permitia saber com certeza se a Antártica estava perdendo ou ganhando gelo.

Segundo os autores, o novo levantamento é duas vezes mais preciso do que a informação de que se dispunha antes. “Nossas estimativas de perda de geleiras são as mais confiáveis até agora. Elas encerram 20 anos de incerteza em relação às mudanças na massa das camadas de gelo da Antártica e da Groenlândia, e sua intenção é virarem os dados de referência para os cientistas do clima a partir de agora”, afirmou a jornalistas o professor da Universidade de Leeds, na Inglaterra, Andrew Shepherd.

O estudo ainda aponta que a taxa combinada de derretimento da camada de gelo aumentou com o tempo e, juntas, Groenlândia e Antártica agora perdem mais de três vezes a quantidade de gelo que perdiam na década de 1990.

O professor Erik Ivins, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês), um dos coordenadores do levantamento, aponta que “a taxa de perda de gelo na Groenlândia aumentou quase cinco vezes desde meados dos anos 1990. Em contraste, enquanto as mudanças regionais no gelo antártico ao longo do tempo são surpreendentes, o balanço geral permaneceu relativamente constante – ao menos dentro da certeza proporcionada pelas medidas de satélite que temos à mão”.

Padronização – De acordo como glaciologista brasileiro Jefferson Simões, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, que não participou do trabalho, mas acompanha as pesquisas na área, a metodologia desenvolvida pelos cientistas ajuda a reestruturar e padronizar as medidas referentes ao degelo global.

“Nós temos claramente sinais de degelo acelerado no sul da Groenlândia, norte da Península antártica e nas montanhas pelo mundo. O serviço de monitoramento das geleiras funciona há 160 anos e percebemos um processo de derretimento acelerado nos últimos 20 anos”, explica.

Segundo ele, a grande questão a partir de agora é descobrir se o limite máximo de elevação do nível do mar até 2100 é mesmo de um metro, conforme previsão feita pelo IPCC, ou se pode superar essa medida.

Desde a última segunda-feira (26), representantes de mais de 190 países estão reunidos no Qatar para a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP 18), para discutir como será possível reduzir as emissões de gases-estufa que elevam as temperaturas do planeta. (Globo Natureza)