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Informativo 535 – 1ª planta de biocombustível de alga; Bóson de Higgs e Rio+20

1 – País terá 1ª planta de biocombustível de alga

2 – “Pesquisa vai continuar por mais uma década”

3 – Resultados da Rio+20 virão nos próximos anos

 

1 – País terá 1ª planta de biocombustível de alga

 

A See Algae Technology (SAT), empresa austríaca fornecedora de infraestrutura para produção industrial de algas, anuncia hoje (6) a assinatura de um acordo com o grupo sucroalcooleiro JB, de Pernambuco, para a criação da primeira planta comercial de produção de biocombustível a partir de microalgas marinhas do País.

Com investimento inicial de 8 milhões de euros, a SAT iniciará nos primeiros meses do ano que vem a construção da planta adjacente à usina de Vitória de Santo Antão, no Recife, no primeiro projeto do mundo com escala industrial para a fabricação desse combustível alternativo. A expectativa da companhia, sediada em Viena, é que as operações tenham início já no quarto trimestre de 2013. A unidade terá capacidade de produção de até 1,2 milhão de litros de biodiesel de algas por ano.

 

“Estamos muito satisfeitos com essa parceria. Encontramos no Grupo JB a velocidade e vontade de inovar que precisamos nesse segmento”, afirmou o diretor da SAT, Rafael Bianchini.

 

Sob o contrato, a SAT vai projetar uma fazenda de microalgas e fornecer a tecnologia de produção, via sua parceira Dedini (indústria de base paulista focada em usinas) ao Grupo JB, além de supervisionar a instalação e garantir sua produtividade inicial. A joint venture também dará à SAT acesso à rede de contatos comerciais do grupo pernambucano.

 

Para o JB, empresa familiar que começou no Nordeste com a produção de cachaças, trata-se de uma forma de diversificar e buscar novos nichos de mercado. “O negócio de açúcar e álcool está cada vez mais nas mãos dos grandes”, resigna-se Carlos Beltrão, diretor-presidente do grupo, que moi, atualmente, 2 milhões de toneladas de cana por safra e conta com uma área plantada de 15 mil hectares. “Se der certo em Recife, levaremos a tecnologia para Linhares [ES]” – onde o JB tem a segunda usina de açúcar e álcool.

 

A produção de combustíveis a partir de microalgas é uma aposta dos pesquisadores para as novas gerações de biocombustíveis limpos – não oriundos de fontes fósseis. Muitos países, Brasil incluído, debruçam-se em estudos nessa área já há algum tempo. Com rápida reprodução e boa produtividade de óleo, elas são vistas como opção plausível de alternativa ao petróleo. E ainda têm uma vantagem imbatível: não entram em conflito na disputa por terras agrícolas, questão-chave para a segurança alimentar.

 

Para crescer e se multiplicar, algas precisam de água (o meio onde vivem), luz (para a fotossíntese) e nutrientes, como fertilizantes e CO2. Até agora, a grande dificuldade tem sido baratear o alto custo de produção. Especulações recentes do mercado jogavam o preço do litro a R$ 20, graças ao processo de concentração, separação e secagem desses vegetais, que exigem peças caras e com alto consumo de energia.

 

Com as novas tecnologias apresentadas pela empresa austríaca, o preço do biocombustível na usina será similar ao do etanol de cana – entre R$ 0,80 e R$ 1 o litro, diz a SAT.

 

Isso porque algumas mudanças importantes foram feitas. A primeira foi trocar a produção em lagoas a céu aberto para espécies de “silos” de até cinco metros. A vantagem desse processo é que evita-se a contaminação da produção, já que não há interferência do ambiente externo. A segunda, e mais significativa, é a melhor distribuição da iluminação para a reprodução das algas. “Nas lagoas, apenas as microalgas que estão na superfície recebem o sol. As que estão um pouco mais abaixo ficam competindo por luz e nutrientes, o que reduz a produtividade”, diz Bianchini.

 

O pulo do gato, diz o executivo, foi o desenvolvimento de um prisma solar que transfere a luz do sol para os reatores (silos) através de fibras óticas. Com isso, os silos são iluminados por dentro de alto a baixo. Além disso, são ligados através de tubulações à chaminé da usina da JP, por onde passa o CO2 gerado na queima do bagaço da cana. “O custo de energia, alto em outros processos, será zero porque nossa matéria-prima será o sol e o CO2 “.

 

Segundo o diretor da SAT, cerca de 50% das algas resultam em óleo para biocombustíveis e a outra metade em biomassa. Por ser proteica, essa biomassa é utilizada como substituição para a soja na alimentação de rebanhos na pecuária e na criação de peixes. Ainda segundo Bianchini, em um segundo momento a planta poderá ser utilizada também para produzir bioetanol a partir de algas geneticamente modificadas. Para isso, no entanto, ainda é preciso obter validação da Agência Nacional de Petróleo (ANP). (Valor Econômico)

 

2 – “Pesquisa vai continuar por mais uma década”

 

Professor da UERJ, André Sznajder, que atua no Cern, não esconde o entusiasmo com o anúncio da descoberta do provável bóson de Higgs.

O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) André Sznajder não esconde o entusiasmo com o anúncio da descoberta do provável bóson de Higgs. Nos últimos anos, o físico carioca de 44 anos se divide entre o Rio de Janeiro e a sede do Cern, na Suíça, em busca do Bóson de Higgs. Ele atua diretamente na análise de dados de procura da “partícula de Deus” no experimento CMS, um dos detectores de partículas envolvidos na descoberta. Desde 2006, quando se envolveu no projeto, ele espera por esse momento.

 

O Globo: Quão certo estão os pesquisadores de que encontraram o Bóson de Higgs?

André Sznajder: O Modelo Padrão da Física (MP) tem sido colocado à prova há décadas e todas as suas previsões teóricas têm sido verificadas na prática, mas esta é a primeira evidência direta da existência do Bóson de Higgs. Isso é histórico. Antes destes resultados anunciados agora, só tínhamos evidências indiretas, como a descoberta dos Bósons de Gauge W e Z, nos anos 80 também pelo Cern. Mas, como a quantidade de eventos ainda é pequena, não podemos afirmar com certeza que esta nova partícula é o Bóson de Higgs. Será necessário coletar dados por mais alguns anos a fim de que possamos afirmar com 100% de certeza. Teremos de provar que esta partícula tem as propriedades que procuramos e que ela é única.

 

Qual é o futuro da pesquisa envolvendo a chamada “partícula de Deus”?

Sznajder: A pesquisa no acelerador de partículas do Cern tem previsão de continuar por mais de uma década. E mais: existe a possibilidade da construção de um acelerador de elétrons que seria mais propício ainda para efetuar medidas de precisão sobre o Higgs.

 

Qual foi o seu papel na descoberta?

Sznajder: Existem diversos grupos de análise de dados no contexto do experimento, que exploram diferentes aspectos do Modelo Padrão e também da física além dele. Até porque procuramos também evidências previstas por outras teorias, como a supersimetria, dimensões extras e etc. Eu faço parte do experimento CMS, um detector de partículas extremamente complexo operado por milhares de engenheiros. Desde que me envolvi com o experimento, em 2006, me dedico a estudar assuntos relacionados à física do Higgs e atualmente trabalho com o grupo que analisa os dados experimentais a procura da partícula.

 

Como é trabalhar num projeto do qual participam três mil cientistas de todo o mundo?

Sznajder: O trabalho é extremamente organizado e colaborativo. O trabalho de pesquisa acontece por meio de videoconferências entre pesquisadores baseados em diversos países. Mas são necessárias viagens frequentes ao Cern para que possamos participar da coleta de dados, realizar reuniões de trabalho e pensar em desenvolvimentos de software e hardware para o detector de partículas.

 

O senhor acredita que o Brasil tem cientistas com nível internacional para projetos como esse?

Sznajder: Sim. Neste caso, participamos em pé de igualdade com outros países. Temos evoluído muito no que se refere ao financiamento da pesquisa básica. Mas, no caso do Cern, ainda temos dificuldade de obter envolvimento nos projetos de construção do detector e manutenção de pesquisadores por longos períodos. Isso acontece tanto pela falta de volume de recursos disponíveis quanto pela dificuldade em compatibilizar regulamentos, calendários e restrições das agências de fomento do Brasil. Às vezes perdemos a oportunidade de participar de projetos importantes devido à burocracia e o engessamento dessas agências. (O Globo)

 

3 – Resultados da Rio+20 virão nos próximos anos

 

A Rio+20 não acabou com o fim da conferência, mês passado, no Rio. Seu legado ainda está em construção, como a definição de metas específicas para os países, que serão conhecidas nos próximos três anos e meio. Esta foi a principal conclusão do seminário “O legado da Rio+20 para a economia verde”, promovido ontem (3) pelo jornal O Globo, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Além dos desdobramentos da parte oficial da Rio+20, os especialistas presentes no encontro acreditam que a conferência serviu para dar uma nova dimensão ao desenvolvimento sustentável, um tema que saiu das rodas de ambientalistas para ser tratado por toda a sociedade. “A conferência Rio+20 não se encerra em si, pelo contrário: ela abre um amplo caminho de trabalho”, afirmou Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente.

 

A ministra salientou que a Rio+20 iniciou um processo que deve ser concluído até 2015: a definição dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, um novo tratado sobre o clima e nova regulamentação de proteção aos oceanos. Entre os principais pontos de progresso na Rio+20, ela cita a discussão para criar um novo indicador para substituir o Produto Interno Bruto (PIB), o fortalecimento do órgão da ONU para o meio ambiente (Pnuma) e o debate sobre consumo sustentável. Ela mencionou ainda a criação do Rio+, centro de excelência de debates que ficará no Rio de Janeiro para analisar o desenvolvimento sustentável, ligado à ONU.

 

Izabella também chegou a brincar com as críticas ao texto final que surgiu do encontro de chefes de Estado. Ela começou sua apresentação lendo manchetes negativas sobre a conferência. Quando a maior parte dos presentes no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, acreditava que as notícias se relacionavam à Rio+20, a ministra mostrou que eram títulos das reportagens da Rio-92, no momento de seu encerramento, sugerindo que a crítica é pontual e que a análise correta do legado depende de um tempo histórico diferente.

 

“Achei este seminário muito relevante, pois temos agora muito trabalho pela frente e não podemos nos perder dos debates que tivemos”, disse a ministra, que destacou que a complexidade dos debates não se refere apenas à diferença entre os países, lembrando que mesmo no Brasil há realidades antagônicas. Segundo ela, não há, por exemplo, uma recicladora sequer no Norte ou no Nordeste.

 

Sergio Besserman, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da prefeitura do Rio, afirmou que a avaliação sobre o legado da Rio+20 é complexa, pois envolve diversos aspectos, que vão além do documento oficial produzido pelos países. Ele cita como avanços o nível do debate técnico nos mais de três mil eventos paralelos que ocorreram durante a conferência, e a maior responsabilidade para a cidade do Rio, que terá de avançar em pontos fundamentais como a coleta seletiva do lixo e o tratamento do esgoto. “Não podemos imaginar ter a Baía de Guanabara ainda poluída daqui a 20 anos”.

 

O economista e ambientalista acredita, também, que um dos pontos positivos da Rio+20 foi a desmistificação de alguns temas. “Não adianta achar que a energia eólica e a solar vão substituir o petróleo. Na geração de energia, teremos de discutir todas as formas, como hidrelétrica e nuclear. O legado da Rio+20 ainda será construído”, afirmou Besserman.

 

Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), lembrou que a Rio+20 terá como legado a realização bienal da feira ExpoBrasil Sustentável, no Rio, um fundo de R$ 2 bilhões para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas, além de novos desafios para os cientistas, que deverão estar mais focados na economia verde. Ele também afirmou que o debate entre crescimento e sustentabilidade não está resolvido. “É mais fácil escrever sobre os fundos bilionários para o desenvolvimento sustentável do que ter um diálogo franco com os países africanos que, com a exploração do petróleo, conseguiram arrancar milhões de pessoas da miséria”, disse Arbix, lembrando que a região é a que mais cresce no mundo.

 

Branca Americano, da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), lembrou que os debates da Rio+20 evidenciaram a responsabilidade de todos com a sustentabilidade, inclusive dos consumidores. “A Rio+20 trouxe o debate para a vida das pessoas, basta olhar na plateia deste seminário para ver que não há apenas cientistas, cada vez mais o cidadão comum se interessa por isso. E a discussão agora não é mais infantil, como se países e tecnologias fossem divididas entre bom e mau, certo e errado. O mundo é complexo e o debate do desenvolvimento sustentável e da economia verde também”, disse.

 

Já Monica Messenberg, diretora de relações institucionais da CNI, comemorou os diversos compromissos assumidos pela iniciativa privada durante a Rio+20. “A Rio+20 tornou mais claro que sustentabilidade e competitividade andam juntas e que tecnologia e inovação são os principais direcionadores de transformações nesse sentido”, disse. (O Globo)