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Informativo 532 – Catálogo; Economia verde segundo plano e Livro-jogo

1 – SP tem catálogo de biodiversidade

2 – Crise vai deixar economia verde em segundo plano

3 – Rio+20: Livro-jogo ajuda a conscientizar crianças e jovens

 

1 – SP tem catálogo de biodiversidade

 

Em 12 anos de existência, o Programa de Pesquisas em Conservação Sustentável da Biodiversidade, conhecido como Programa Biota/Fapesp, catalogou mais de 11 mil espécies de plantas, animais e microrganismos do estado de São Paulo. Embora o acervo total seja desconhecido, considerando-se invertebrados e plantas superiores, a amostra representa mais de 80% do que é conhecido da biodiversidade do estado.

Desde que foi criado, em 1999, até 2011, o Biota consumiu investimentos de R$ 122 milhões da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e formou 200 mestres e 215 doutores. Os resultados do programa foram apresentados no painel Biodiversidade no Contexto da Sustentabilidade, no Humanidades 2012, evento paralelo à Rio +20.

 

Segundo Carlos Alfredo Joly, coordenador do Biota/Fapesp, o programa gerou um sistema integrado de informações sobre a biodiversidade do estado, que permite um mapeamento da distribuição das espécies nos diferentes remanescentes com áreas de vegetação nativa. Além disso, o Banco de Dados Biota, onde estão catalogadas as espécies, permitiu que, em 2007, em colaboração com a Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, a Conservation International e o WWF se produzisse um mapa de áreas prioritárias para conservação e restauração da biodiversidade.

 

“O Biota serviu de base para pelo menos 20 textos normativos, entre leis, resoluções e decretos que vigoram hoje no estado e de forma imperiosa vinculam decisões governamentais construídas a partir de pesquisa aplicada. Usamos o Biota para tomar decisões estratégicas de ampliação de conservação ou para definir as área prioritárias. Não usamos a especulação imobiliária”, diz Rubens Riseck, secretário-adjunto de Meio Ambiente de São Paulo.

 

Concebido para durar dez anos, o programa foi renovado por mais dez anos pela Fapesp com a meta de atacar novas frentes. Para Joly, o saldo é positivo, porque o programa conseguiu transferir conhecimento para aperfeiçoar políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade e conseguiu traduzir parte do conhecimento para o setor produtivo por meio da bioprospecção e do patenteamento de inovações.

 

A Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), que reúne mais de 30 empresas nacionais de química fina, trabalha também para ter acesso aos recursos da biodiversidade. Segundo Ana Claudia Dias de Oliveira, gerente de biodiversidade e propriedade intelectual da entidade, a questão que precisa ser colocada é a possibilidade de se obter produtos da biodiversidade com responsabilidade social e sustentabilidade.

 

A Abifina vai trabalhar numa proposta de minuta para modificar a MP 2186-16 que será elaborada em conjunto com o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos (IPDFarma), comunidades tradicionais, academia, indústria e a sociedade civil. Hoje, qualquer desenvolvimento de produto ou pesquisa acadêmica que envolva a biodiversidade tem de solicitar uma autorização ao Conselho de Patrimônio Genético (CEGEN), que não consegue dar conta do back log de processos nem deliberar sobre os temas não previstos na MP. (Valor Econômico)

 

2 – Crise vai deixar economia verde em segundo plano

 

A crise global impede os países ricos de colocar preocupações ambientais no topo de sua agenda política, dificultando a transição para uma economia verde. “Na Europa ou nos Estados Unidos, as pessoas estão preocupadas mesmo com o colapso financeiro e com a transferência de empregos para a Ásia”, disse o consultor em políticas ambientais Thomas Heller, professor da Universidade de Stanford e diretor da Climate Policy Initiative.

Para o economista Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia, só a mobilização da sociedade civil poderá convencer os governos a costurar ações mais firmes contra as mudanças climáticas.

 

“Eu tenho certeza de que o presidente [Barack] Obama está preocupado, mas ele não dará uma palavra sobre isso nos próximos meses, porque seus consultores políticos vão lhe dizer para calar-se”, afirmou Sachs, referindo-se à corrida eleitoral à Casa Branca. Ele lembrou um dos documentos firmados na Rio92 para exemplificar por que o governo americano dedica pouca atenção às discussões da Rio+20. “Somos 300 milhões de americanos, mas dificilmente chega a 1 milhão o número de pessoas que sabem o que é a Convenção da Biodiversidade.”

 

Heller e Sachs participaram ontem (21) de uma mesa-redonda na Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, no Rio, ao lado de brasileiros como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Apesar de terem destacado o senso de urgência no combate às mudanças climáticas, nenhum deles mencionou os termos “estilo de vida” ou “redução do consumo” – nem outra expressão parecida – nas três horas de debates, como certamente gostariam de ter ouvido muitos ambientalistas.

 

Um dos consensos, conforme resumiu Armínio, é que “os mercados sozinhos nunca vão conseguir resolver essas questões”. O importante, segundo o ex-presidente do BC, é que os governos desenhem os incentivos corretos para fomentar ações do setor privado.

 

Mas as mudanças serão graduais, completou Malan. “Não há um big-bang, uma mãe de todas as batalhas”, disse o ex-ministro, acrescentando que a recuperação da crise também pode abrir brechas para a economia verde: “Não é inimaginável que se procurem estímulos a investimentos que tenham a ver com a mitigação de mudanças climáticas”.

 

Para Sachs, ainda não se descobriu uma forma de conciliar o crescimento com a descarbonização da economia. Por isso, ele diz não ser exagero classificar o desafio atual como algo sem precedentes, principalmente porque exige coordenação entre os países. “Na história da humanidade, nunca colaboramos uns com os outros em escala global”, afirmou. Apesar disso, não é “só uma questão de boa vontade política ou de romper interesses de empresas”, mas de desenvolver novas tecnologias.

 

De acordo com Heller, a transição para uma economia verde significa “liberar recursos naturais consumidos pela baixa produtividade”, mas isso requer mudanças em incentivos oficiais e subsídios. Não só em economias desenvolvidas, segundo alertou, mas também para a soja e o gado no Mato Grosso ou no Pará. “Eu sei que muitos economistas não gostam de subsídios, mas é a ferramenta de que dispomos.”

 

Evitando um tom pessimista, Heller citou transformações históricas para jogar esperança na plateia. “Se olharmos para os últimos 250 anos, ninguém conseguiu prever com sucesso o que aconteceria nos 100 ou mesmo nos 50 anos seguintes. Os ciclos de mudanças ficaram mais fortes e fomos capazes de lidar com essas transições. Isso é uma fonte de otimismo.”

 

“A razão do otimismo é que os motivos pelos quais precisamos mudar coincidem com as necessidades de governos e de empresas”, prosseguiu Heller. Os recursos naturais estão cada vez mais caros e isso força as empresas a inovar. Em termos políticos, os países estão ficando mais democráticos, mesmo que isso normalmente não tenha nada que ver com mudanças climáticas, concluiu o professor de Stanford. (Valor Econômico)

 

3 – Rio+20: Livro-jogo ajuda a conscientizar crianças e jovens

 

Uma parceria da SBPC com a bióloga Nurit Bensusan, o livro ‘Rio+20, +21, +22, +23…’ fala de temas como biodiversidade, oceanos e preservação de espécies de maneira lúdica.

Não adianta só prestar atenção na aula e deixar de lado os deveres de casa. O dia a dia escolar bem que poderia funcionar como metáfora para as centenas de autoridades que neste momento estão discutindo um futuro melhor na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Porém, pode ser mais fácil e mais eficiente aplicá-la a quem de fato pode mudar algo: as crianças e jovens.

 

Com esse pensamento, a bióloga especialista em ecologia e doutora em educação pela Universidade de Brasília (UnB) Nurit Bensusan decidiu aplicar sua experiência como divulgadora científica para criar um livro-jogo que explicasse aos pequenos o que de fato é a conferência. ‘Rio+20, +21, +22, +23…’, obra feita em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e com a Biolúdica, explica o porquê do evento, fala sobre sustentabilidade e questões relativas aos oceanos, biodiversidade, preservação de espécies ameaçadas de extinção, entre outros temas relevantes.

 

“Comecei a perceber que as crianças não sabiam nada sobre a Rio+20. Achei que seria interessante fazer um material sobre a conferência e também explicar que as discussões não se esgotam nela, daí o título. Se não der certo, não podemos esperar até a Rio+40”, detalha ao Jornal da Ciência a autora, que lançou o livro diante de uma plateia predominantemente juvenil nesta quinta-feira (21), no Armazém 4 do Píer Mauá.

 

Três jogos – A obra, feita em apenas dois meses, tem ilustrações caprichadas, criadas a partir de recortes e que podem vir a ser objeto de uma exposição no futuro. O livro traz três jogos encartados: o primeiro fala sobre espécies ameaçadas; o segundo sobre o futuro da humanidade, relacionado à preservação ambiental; e o último ganhou nome de Polislândia, tratando de temas relacionados à vida nas grandes cidades e à convivência do homem com a natureza.

 

Nurit acredita que não se deve subestimar a capacidade de compreensão das crianças. “Isso é até uma questão de princípios, para mim, dentro da divulgação científica”, reitera a bióloga, que há dois anos começou a se familiarizar com a linguagem de trabalho para esse grupo. “Enquanto o pessoal daqui [das exposições sobre ciência no Piér Mauá] está falando para as pessoas da Rio+20, nós estamos falando com as da Rio+40, as que tomarão decisões nela”, destaca.

 

Ela lembra também que as crianças normalmente têm uma “empatia” que os adultos vão perdendo ao longo da vida. “Os adultos se perguntam o que vai mudar na vida deles se o mico-leão dourado se extinguir. Mas se você comentar isso com uma criança, ela vai se preocupar, vai querer saber o que fazer para evitar que o ‘coitado’ morra. Existe uma

empatia não utilitarista e a ideia é não deixá-las perder isso de jeito nenhum”, conclui. Se depender da grande fila que se formou para receber o livro após a palestra, o objetivo está bem encaminhado. (Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)