1 – Lançado livro da Capes com contribuição da pós-graduação brasileira ao desenvolvimento sustentável
2 – Proteção para o alto-mar morre na praia
3 – Rio+20: Expo Brasil Sustentável apresenta projetos bem-sucedidos de inovação e tecnologia para cidade e campo
1 – Lançado livro da Capes com contribuição da pós-graduação brasileira ao desenvolvimento sustentável
Foi lançado, na manhã de hoje (20), dentro das atividades da Rio+20, o livro Contribuição da pós-graduação brasileira para o desenvolvimento sustentável – Capes na Rio+20.
O presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães, disse que a contribuição que a pós-graduação vem fazendo está registrada na publicação, sobretudo nos últimos anos. “A temática do desenvolvimento sustentável é muito recente, não tem mais de 30 anos, e, antes disso, o Brasil, por meio de vários cursos de pós-graduação, formava recursos humanos na área ambiental, ecologia e outros temas relacionados”.
Para o coordenador da área de ciências ambientais da Capes, Arlindo Philippi Jr, a publicação caracteriza o quanto o Sistema Nacional de Pós-Graduação tem contribuído para as questões da sustentabilidade.
Jorge Guimarães lembrou o fato de a Capes protagonizar ações induzidas em vários temas como engenharias, ciências do mar, TV digital e outros. “Por conta dessas ações e com base nos estudos realizados pela comissão que elaborou o livro, estamos com ações em campo voltadas à temática do desenvolvimento sustentável. Estão sendo trabalhados três editais para este tema”, informou.
Livro – A publicação tem como base informações provenientes do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2011-2020 (Volume I) e dos Documentos Setoriais deste Plano (Volume II), além de incluir textos elaborados por especialistas de reconhecimento internacional. Aos estudos do PNPG foram acrescidos outros, oriundos de contribuições de consultores e de coordenadores de áreas de avaliação da Capes.
O texto registra a evolução da pós-graduação brasileira no enfoque do desenvolvimento sustentável e seus marcos históricos, além do quadro atual e desafios da pós-graduação relacionados aos temas da Rio+20, sendo apresentados aspectos ligados aos importantes instrumentos para formação dos recursos humanos. (Ascom da Capes)
2 – Proteção para o alto-mar morre na praia
Preservação de mais da metade dos oceanos fica de fora do documento oficial da conferência Rio+20, que não prevê mecanismos para águas além das jurisdições nacionais.
O evento Diálogos Para o Desenvolvimento Sustentável, no Riocentro, uma parceria com a ONU, terminou ontem (19) após discussões de dez temas. No último debate, sobre oceanos, os dez especialistas da mesa fizeram uma combinação entre duas propostas: criar uma gestão de pesca baseada no ecossistema, incluindo os pescadores, e desenvolver uma rede global de áreas marinhas com proteção internacional. Já o público no Riocentro optou por “lançar um acordo global para salvar a biodiversidade marinha em alto-mar”, proposta que recebeu 36% dos votos eletrônicos no plenário. Pela internet, a mais popular foi “Evitar a poluição de oceanos por plástico, pela educação e comunicação comunitária”.
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, considerou um sucesso a participação de cerca de cinco mil pessoas nas discussões que ocorreram, desde o último sábado, no Pavilhão 5 do Riocentro. Além disso, 12 mil contribuíram com os debates por uma plataforma on-line criada pelo governo brasileiro. Para cada um dos temas apontados, as três recomendações mais votadas serão enviadas aos chefes de Estado e de governo que estarão no local a partir de hoje (20).
Rebatendo críticas sobre a pequena participação da sociedade civil na conferência oficial, Gilberto Carvalho afirmou que, em relação a outros eventos, a Rio+20 será histórica. Segundo a secretaria, 1,3 milhão de pessoas se inscreveram na plataforma on-line dos debates, que será, segundo o ministro, utilizada para as próximas conferências climáticas das Nações Unidas.
“O diálogo com a sociedade civil é naturalmente tenso, a experiência recente brasileira mostra isso. É impossível que movimentos sociais concordem com as recomendações, porque os governos têm limitações institucionais e de relações de poder. Há limite para mudanças”, disse.
As discussões foram divididas em dez temas: desemprego, trabalho decente e migrações; desenvolvimento sustentável como resposta para a crise econômica e financeira; desenvolvimento sustentável no combate à pobreza; economia e desenvolvimento sustentável, incluindo caminhos para a produção e consumo sustentáveis; florestas; alimentação e segurança alimentar; energia sustentável para todos; água; cidades sustentáveis e inovação; e oceanos.
Ambientalistas criticam – Nos debates, o francês Jean-Michel Cousteau, presidente da Ocean Futures Society, ressaltou o fato de que a situação dos oceanos tem se agravado rapidamente nas últimas décadas. O especialista ressaltou a importância de criar um mecanismo de proteção do alto-mar. Já americana Sylvia Earle, fundadora da Mission Blue Foundation, ressaltou que a Rio+20 é o local para criação de mecanismos de proteção do alto-mar.
No plenário, além de ativistas, estiveram o rei Carlos Gustavo e a rainha Silvia, da Suécia. Após quatro dias de reuniões, a secretária-executiva da WWF, Cecília Vey de Brito, afirmou que as recomendações escolhidas ainda não representam as principais reivindicações da sociedade.
Mas a falta do lançamento de um marco para a preservação do alto-mar criou polêmica. Não estão previstos mecanismos para a proteção das águas que ficam além das jurisdições nacionais e representam 64% do total. Ambientalistas da High Seas Alliance (HSA), que reúne ONGs, lamentaram o texto escrito pelos negociadores, dizendo que ele pode ser resumido em quatro palavras: “não estamos fazendo nada”. Ainda há chances, consideradas muito remotas, de que os governantes voltem a colocar o assunto em negociação.
“Os temas dos oceanos foram os últimos a ser negociados. O Brasil optou por excluir o assunto da pauta para poder fechar o documento sem pontos abertos”, disse Matthew Gianni, consultor político da Deep Sea Conservation Coalition.
Há seis anos especialistas discutem a criação de mecanismos para a proteção do alto-mar. Por causa da falta de acordo, sobretudo por parte dos representantes de EUA, Canadá, Japão, Venezuela e Rússia, as propostas não sairão do papel na Rio+20. Só daqui a três anos haverá espaço para nova discussão em algum fórum da ONU.
“O oceano era uma das quatro prioridades do governo brasileiro. Realmente, queríamos que esta não fosse a Cúpula da Terra, mas dos Oceanos. Porém, de madrugada, no último parágrafo negociado, a proposta caiu por terra”, disse Sue Lieberman, diretora de Política Internacional do Pew Environment Group.
Especialistas elogiaram, no entanto, o fato de o texto citar o controle da pesca e subsídios à indústria pesqueira. (O Globo)
3 – Rio+20: Expo Brasil Sustentável apresenta projetos bem-sucedidos de inovação e tecnologia para cidade e campo
Casas sustentáveis que permitiriam desfavelização, ozônio despoluente, biopesticidas e usinas caseiras de biogás são algumas das iniciativas expostas na mostra.
No lugar de seis meses, uma obra que levantaria uma casa de 50 metros quadrados em duas semanas, onde paredes, telhados e toda a sustentação fossem feitos de materiais leves e ecológicos. Um equipamento que permite a eliminação de qualquer odor tendo como matéria prima apenas o oxigênio. Uma plantação de cana que elimina suas pragas com a pulverização de fungos. O que todas essas soluções têm em comum? Além de serem sustentáveis e ecológicas, estão disponíveis para matar a curiosidade do público no Armazém 3 do Píer Mauá, dentro da Expo Brasil Sustentável, mostra da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
O sonho da casa própria, almejado pela grande maioria dos brasileiros, foi o que motivou e aguçou o senso de oportunidade da curitibana Embafort, empresa de embalagem industrial. Para Humberto Cabral, diretor da companhia, concreto é coisa do passado. A experiência no desenvolvimento e produção de embalagens industriais de madeira gerou expertise para a equipe de Cabral desenvolver peças de alto isolamento acústico e resistência, feitas de madeira de reflorestamento prensada e isopor, que se encaixam como paredes, tetos e pisos, prescindindo de colunas e até de vigas, mesmo no caso de edifícios.
Segundo Cabral, até duas pessoas podem montar este tipo de casa, comum em países como Chile (especialmente depois da destruição provocada pelos recentes terremotos no país) e nos Estados Unidos. O diretor acredita que as casas ecológicas industrializadas em série no Sistema de Construção a Seco (SCS) podem ser uma ferramenta para desfavelizar áreas, permitindo moradias dignas às pessoas que não querem abandonar o local onde vivem.
O público-alvo são as classes C, D e E e o custo chega a ser 20% mais econômico que o das opções de alvenaria. “O proprietário pode comprar o kit e montar, a partir de um projeto arquitetônico. Até 50% dos resíduos urbanos vêm da construção civil. Nós temos menos de 3,5% de resíduos, que ainda podem ser reutilizados”, conta, lembrando que a empresa foi certificada com as normas ISO 9.001, ISO 14.001 e OHSAS 18.001e ganhou o Prêmio Finep em 2006.
Ozônio e fungos – Por outro lado, a BrasilOzônio, sediada na Universidade de São Paulo, tirou do recurso mais democrático da Terra, o ar, seu sustento. Tendo como matéria prima o oxigênio, a empresa gera ozônio em alta concentração, utilizado em mais de 60 aplicações, como tratamento de água e fluidos, esterilização de materiais cirúrgicos e alimentos ou eliminação de odores. “O ozônio é o mais potente germicida do planeta e o segundo mais potente oxidante”, destaca Samy Menasce, diretor da empresa.
“Nós não inventamos o ozônio nem somos os primeiros a fazer isso. Nosso diferencial foi desenvolver sistemas onde é possível captar o ar ambiente [de qualquer qualidade], filtrar, secar, separar o oxigênio e a partir dele gerar o ozônio em alta concentração”, detalha Menasce, ressaltando a portabilidade e o barateamento dos equipamentos, além da pouca energia utilizada. Ele destaca a utilização do equipamento em barcos e em hotéis, para eliminação de cheiro de cigarro e germes dos quartos, por exemplo.
Eliminar organismos prejudiciais à saúde também é o negócio da SmartBio, sediada em Adamantina (SP). No caso, da saúde de vegetais, mais especificamente a manutenção de plantações de cana-de-açúcar, milho e soja. Com foco na agricultura de precisão, a empresa atua, entre outras áreas, no desenvolvimento de produtos biológicos para o controle de doenças, pragas e plantas daninhas, aumentando a produtividade e o acúmulo de biomassa e açúcares.
Cristiano Fagundes, gestor de inovação da empresa, detalha a produção de defensivos agrícolas e as estratégias de manejo integrado no uso da biodiversidade. Ele dá exemplos de fungos como metarhizium, beauveria (ambos para controle biológico de insetos) e o trichoderma (no combate a patógenos de solo). Com doses altamente concentradas de 1X1012, os sachês com esporos são diluídos em água e pulverizados nas plantações. Em média, são aplicadas cinco doses por hectare, mas a quantidade pode variar dependendo da infestação.
“Vamos a campo, identificamos os fungos que atacam certas pestes, como a cigarrinha das raízes, que ataca a cana, e o reproduzimos em laboratório em larga escala”, detalha, sublinhando que os fungos não são prejudiciais aos humanos nem aos vegetais. O metarhizium e a beauveria, por exemplo, são produzidos em laboratório a partir de arroz (mil quilos produzem 300 gramas de fungo). O grão, depois de lavado, pode ser reutilizado para novas culturas desses microorganismos ou como ração animal.
De acordo com Fagundes, a solução é até 50 % mais barata que os pesticidas químicos (que podem custar 120 reais por hectare). O biopesticida pode demorar um pouco mais a eliminar as pragas, porém, alerta o gestor, além de evitar matar outros insetos presentes na plantação, a solução biológica mantém o equilíbrio natural por meio da reprodução dos fungos aplicados, evitando novas infestações.
Plástico de etanol e usina – Com um dos maiores estandes da Expo Brasil Sustentável, a Braskem apresenta sua intenção de contribuir para um mundo com química sustentável por meio de projetos como o Polietileno (PE) Verde, bioplástico feito de etanol de cana de açúcar. Daniel Farah, gestor de inovação da empresa, sublinha que a grande vantagem desse plástico, idêntico ao de origem petroquímica, é ter uma matéria-prima renovável.
“Muita gente pergunta se é biodegradável, mas não é. Porém, vem do etanol, uma fonte renovável, e pode ser reciclado”, especifica Farah, que presenciou reações curiosas dos visitantes, como a de pessoas que tentam sentir cheiro de álcool ou açúcar no material. De acordo com o gestor, cada tonelada de PE Verde produzido reduz até 4,6 toneladas de emissões de CO2. “200 mil toneladas por ano de PE Verde significam menos 920 mil toneladas de CO2 no mesmo período, o que equivalem às emissões de 920 mil carros por ano”, detalha, lembrando que há um projeto de polipropileno (PP) verde no segundo semestre de 2013.
O estande da Itaipu Binacional é outro dos que mais atraem visitantes na mostra, exibindo iniciativas como o Parque Tecnológico Itaipu, o Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação e o Projeto Ñandeva, que visa fortalecer o desenvolvimento do artesanato da região que une Brasil, Paraguai e Argentina. Entre os projetos que chamam atenção está o de Geração Distribuída com Saneamento Ambiental, cuja exposição reproduz as etapas de funcionamento de uma usina de biogás instalada em uma granja de suínos. Nela, a energia elétrica é produzida por um biodigestor que processa esterco.
A granja, localizada em São Miguel do Iguaçu (oeste do Paraná), tem pontos de monitoramento instalados, que vão transmitindo, em tempo real, a produção de energia em kW a um infográfico eletrônico que pode ser visto na exposição. De acordo com o engenheiro ambiental Felipe Pinheiro Silva, os dejetos produzidos pelos 5,2 mil suínos podem fornecer quase 900 kW por dia.
A energia do biogás atende a todas as necessidades da granja de 250 hectares e ainda sobra eletricidade para vender, o que rende uma soma de cerca de 2,5 mil reais extras para o dono. Os resíduos do processo são tratados (evitando a contaminação de lençóis freáticos, por exemplo) e ainda são reaproveitados para a produção de biofertilizantes. (Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)