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Informativo 522 – Sustentabilidade na Amazônia; Inovação e 10 mil espécies de micróbios

1 – Rio+20: Pesquisadores discutem perspectivas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia

2 – Rio+20: Inovação é a saída para conciliar preservação ambiental e desenvolvimento, diz ministro

3 – Corpo humano abriga quase 10 mil espécies de micróbios

 

1 – Rio+20: Pesquisadores discutem perspectivas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia

 

O painel foi realizado no Fórum sobre C,T&I para o Desenvolvimento Sustentável, organizado pelo International Council for Science.

Pesquisadores realizaram um debate ontem (13) a respeito da necessidade de uma “revolução científica” para garantir a sustentabilidade da Amazônia, durante o Fórum sobre C,T&I para o Desenvolvimento Sustentável, organizado pelo International Council for Science (ICSU), na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A mesa, intitulada ‘Science, Technology and Innovation for the Sustainable Development of Amazonia: A Brazilian perspective’, teve como base as análises do livro ‘Amazônia: desafio brasileiro do século XXI – a necessidade de uma revolução cientifica e tecnológica’, produzido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC).

 

A geógrafa e pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biodiversidade e Uso da Terra da Amazônia, Bertha Becker, alertou para a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a região, dotada de uma “riqueza verde”, a fim de descobrir o seu potencial. “Não está clara a convergência entre economia verde e erradicação da pobreza”, pontua, lembrando da importância de valorizar os diferentes caminhos para o desenvolvimento sustentável.

 

Bertha foi a primeira a fazer considerações no evento, do qual participaram também a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader; o presidente da ABC, Jacob Palis; o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre; e o vice-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), João Carlos Ferraz.

 

Pobreza e riqueza – A geógrafa lembrou que, apesar da riqueza da Amazônia, sua população ainda é “extremamente pobre” e contribui com apenas 8% do PIB do País. “A maioria dos assentamentos pobres do País está na região. E ainda há a imigração internacional, como os haitianos que chegaram ao Acre e pessoas que estão vindo da África e Índia. A pobreza está se acentuando”, alerta, lembrando também a necessidade de criar políticas para os centros urbanos da Amazônia, já que normalmente se pensa mais nas populações das florestas.

 

Por sua vez, Carlos Nobre destacou dois aspectos descritos no documento da ABC: a necessidade de interconectar a Região Amazônica (“é um imenso espaço, vazio em termos de telecomunicações”) e potencializar a capacidade científica e “extrair valores do coração da Amazônia”. Valores que incluem recursos que movimentem a economia, como vem acontecendo com a produção de açaí, exemplo dado pelo climatologista.

 

Nobre comemora o fato de atualmente haver muitos cientistas em posições políticas de destaque no Governo, mas afirma que, no caso da Amazônia, ainda é preciso investir em bases científicas estruturais, criando mais empresas, universidades, laboratórios e um parque tecnológico.

 

Modelo especial – Helena Nader lembrou a dificuldade de atrair e manter pesquisadores qualificados na região, destacando o exemplo bem sucedido no estado do Amazonas, onde a política educativa atingiu todos os níveis do ensino. “Precisamos de políticas públicas e também de tenacidade”, completou o vice-presidente do BNDES. Bertha Becker recordou o sucesso da “multiplicação dos campi” na região, com “cada vez mais gente ingressando na universidade por lá”.

 

Além disso, a presidente da SBPC ressaltou que a Amazônia precisa de um modelo próprio de sustentabilidade. “Não há país na mesma situação, com tanta diversidade, e os modelos não podem ser copiados”, sublinha. “Tenho 64 anos e quando era pequena escutava que a Amazônia é o futuro. Não quero morrer ouvindo que ela ainda é o futuro”, conclui. (Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)

 

2 – Rio+20: Inovação é a saída para conciliar preservação ambiental e desenvolvimento, diz ministro

 

O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, declarou ontem (13) que a Rio+20 – Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – deve estimular o pensamento da sociedade sobre a importância de conciliar preservação ambiental com o desenvolvimento econômico, com mais investimentos em educação e geração de emprego. Para ele, a saída é investir em inovação, na agregação de novas tecnologias e na criatividade dos processos produtivos e da produção de alimentos garantindo, ao mesmo tempo, a preservação ambiental.

“Não há como mudar as práticas e as maneiras de produção, respeitando o meio ambiente, sem inovar, sem incluir novas tecnologias”, disse o ministro ontem à imprensa, no primeiro dia do evento científico e tecnológico para o desenvolvimento sustentável, batizado de Pop Ciência na Rio+20, que vai até o dia 22, no Armazém 4, do Píer Mauá.

 

Segundo ele, o Ministério busca vias para conciliar inclusão social, desenvolvimento econômico e preservação ambiental sob a ótica da ciência e tecnologia. “O que está sendo discutido é como fazer com que a produção se mantenha ao mesmo tempo com a preservação ambiental. Entendemos que a ciência e tecnologia são também muito importantes para isso”, salientou.

 

Para Raupp, o Brasil hoje apresenta algumas medidas inovadoras, praticadas, sobretudo, no plantio direto da agricultura, utilizado por 70% da agricultura comercial (empresarial). “Essa é uma prática sustentável que tem de ser disseminada para todo mundo”, declarou o ministro que durante a exposição interagiu como equipamentos digitais disponíveis no evento e visitou vários estandes de instituições científicas, como a Sociedade para o Progresso da Ciência (SBPC), Observatório Nacional (ON), Instituto Nacional do Semi-Árido (Insa) e Fiocruz.

 

Interação entre pesquisa e produção – Para fazer frente às práticas sustentáveis dos próximos anos, o ministro afirmou ser necessário investir mais na criatividade e na formação de profissionais que possam interagir nesse processo. “É fundamental investir na interação das pesquisas com todas as atividades produtivas, entre as pessoas que criam o conhecimento e os setores produtivos.”

 

O ministro citou a Embrapa como exemplo bem-sucedido por estimular novos procedimentos e o uso de tecnologias pelos produtores agrícolas. “É por isso que a agricultura brasileira evoluiu. Esse é um bom exemplo para ser utilizado em todas as áreas”, disse o ministro, sem citar a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), instituição que terá o papel de estimular a parceria com o empresariado nacional na área da inovação.

 

Interiorização da pesquisa – O diretor de serviços e soluções da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), José Luiz Ribeiro Filho, defendeu o desenvolvimento de políticas públicas capazes de melhorar a infraestrutura da área de telecomunicações da rede de pesquisas acadêmicas (instituições de pesquisas e universidades) do País. O ideal, disse ele, é estimular a interação de pesquisadores do interior do País com os dos grandes centros para expandir os trabalhos científicos e tecnológicos. “A cobertura da infraestrutura no interior do País é muito ineficiente”, disse ele, destacando que a infraestrutura da área de telecomunicações da rede de pesquisa acadêmica dos grandes centros é uma das melhores do mundo.

 

Sustentabilidade – Já o secretário-executivo do MCTI, Luiz Antonio Elias, disse que a força da competitividade, para fazer frente ao desenvolvimento econômico, mesmo diante da atual crise internacional, está no progresso técnico. Segundo ele, é necessário considerar o tema sustentabilidade como eixo básico estruturante desse processo.

 

“A conferência Rio+20 em meio à crise econômica mundial é um momento oportuno e de reflexão. Existem questões importantes sobre o tratamento da biodiversidade mundial, de oportunidade de se extrair valor agregado da área de fármacos, da área de fito-cosméticos e de um conjunto de princípios ativos importantes para a sociedade mundial a partir da biodiversidade, da qual o Brasil é um dos mais ricos”, disse.

 

Ao acompanhar a abertura do evento, o ministro Raupp elogiou a exposição de temas e de equipamentos digitais interativos sobre a biodiversidade e sustentabilidade. “Acho que eles contribuem fortemente com o espírito da Rio+20. Ou seja, difundem as informações, especialmente aos mais jovens e a estudantes, indicando os caminhos a serem seguidos. Relacionar a exposição com as atividades escolares é um valor indicativo imenso.”

 

Na ocasião, o ministro concordou com a ideia de que todas as escolas públicas deveriam ter um banco de dados digital sobre a biodiversidade. “Essa seria uma boa idéia. Por que não se digitaliza tudo isso [material em exposição sobre biodiversidade e sustentabilidade] e oferta para todas as escolas do Brasil?”, questionou para depois responder: “Acho que isso é um projeto para nós [MCTI] e o MEC [Ministério da Educação] fazermos. É uma excelente idéia para ser concretizada.” (Viviane Monteiro – Jornal da Ciência).

 

3 – Corpo humano abriga quase 10 mil espécies de micróbios

 

Projeto fez primeiro mapa de micro-organismos que ‘colonizam’ o homem.

Pela primeira vez, pesquisadores mapearam as comunidades de micro-organismos do corpo humano, como bactérias e fungos. O Projeto Microbioma Humano, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, publicou ontem um conjunto de 14 estudos nas revistas “Nature” e “PLoS”.

 

As pesquisas usaram técnicas de sequenciamento de DNA para identificar esses organismos e mostrar sua diversidade e abundância nos seres humanos, além de suas funções no corpo.

 

Os micro-organismos analisados foram retirados de 242 homens e mulheres. A coleta foi feita em diferentes partes do corpo, como pele, boca, intestino e vagina. Até então, só as bactérias do trato gastrointestinal haviam sido catalogadas pelo projeto MetaHIT, que envolve oito países.

 

Os pesquisadores concluíram que quase 10 mil espécies de micro-organismos perfazem as comunidades ecológicas no nosso corpo. Eles também mostraram que cada parte do corpo tem uma população diferente de micróbios, cada uma com sua função – no caso do intestino, os micro-organismos ajudam a digerir os alimentos.

 

O projeto mostrou ainda que cada pessoa tem um microbioma único, com tipos e quantidades diferentes de bactérias para realizar o mesmo trabalho. Uma quantidade alta ou baixa da mesma bactéria não quer dizer que uma pessoa seja mais ou menos saudável.

 

James Versalovic, pesquisador do projeto e chefe do departamento de patologia do Texas Children’s Hospital, nos EUA, afirma que a maioria dos micróbios no corpo não causa doenças. “Esperamos que com esses dados as pessoas fiquem menos paranóicas e não usem antibióticos ou sabonetes bactericidas para tudo. Interferir no equilíbrio do microbioma pode causar mais danos que benefícios.”

 

Versalovic diz que definir o microbioma de um adulto saudável e saber quais são e o que fazem os micróbios que habitam o ser humano era o primeiro objetivo do Projeto Microbioma Humano.

 

Agora, com o material genético proveniente de comunidades completas de micróbios, os próximos passos serão comparar os micróbios de pessoas saudáveis com os de doentes para entender como os problemas se desenvolvem e criar novas drogas.

 

Um dos estudos do MetaHIT já mostrou que quem tem menor diversidade de bactérias na flora intestinal tende a ser obeso, a ter mais gordura no fígado e responder pior a dietas.

 

“Essa é só a ponta do iceberg. O interessante será observar como os dois genomas -o humano e o dos microrganismos- interagem”, diz Vasco Azevedo, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. (Folha de São Paulo).