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Informativo 487 – Ameaça aos mangues; Carbono; Data da Terra e Maior lago

1 – Código Florestal ameaça mangues

2 – Carbono mais ‘caro’ pode salvar espécies

3 – Fóssil altera data de surgimento da vida animal na Terra

4 – Russos chegam ao maior lago subterrâneo da Antártica

 

1 – Código Florestal ameaça mangues

Importantes e cobiçadas, regiões costeiras perderam proteção quando projeto foi votado no Senado.
Prestes a voltar para a Câmara dos Deputados, o Código Florestal tem no aumento da vulnerabilidade dos manguezais um de seus pontos mais polêmicos. Alterações feitas pelo Senado no projeto de lei, em dezembro, abriram a possibilidade da ocupação de apicuns – uma parte dos manguezais. Pelo acordo, os produtores de camarões e de sal poderão ampliar sua atividade em até 10% na Amazônia e 35% no Nordeste.

O Brasil é o segundo país com maior cobertura de manguezais – cerca de 9% -, perdendo para a Indonésia (21%), de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). No País, eles ocorrem do Amapá até Santa Catarina. Considerados pelo atual Código Florestal como áreas de preservação permanente (APPs), os manguezais são estratégicos para a sobrevivência da população que vive no litoral e para a manutenção dos sistemas costeiros e das praias. Berçário de espécies marinhas, eles fixam carbono, protegem a linha da costa e alimentam aves migratórias e mamíferos, incluindo o homem.

Entre as pressões sofridas pelos manguezais estão a poluição por químicos e petróleo e a especulação imobiliária. No Nordeste, também são pressionados pela criação de camarão e, no Sudeste, pela ampliação portuária, como está prevista na Baixada Santista e em São Sebastião (SP). “A emenda sobre os apicuns deixa o Brasil totalmente exposto. Estamos falando da costa inteira, praticamente toda coberta por manguezais, salgados e restingas”, alerta Mário Mantovani, um dos criadores da campanha Mangue faz a Diferença, lançada em janeiro pela sociedade civil organizada. “A questão não é isolada. O Brasil não tem nenhuma política pública voltada para os seus mares. O que ainda segurava a barbárie era a condição de APP dos manguezais”, diz.

Estratégicos – As áreas alagadas sempre habitaram o imaginário popular. No candomblé, a junção da água doce com a salgada é representada por Nanã – figura projetada em São Bartolomeu na Igreja Católica. Esses ecossistemas, porém, carregam uma conotação pejorativa: local de mosquitos, lama, áreas impenetráveis. Para quem vive nas grandes cidades, a imagem dos catadores de caranguejo, enterrados na lama até os joelhos, evoca um primitivismo pré-medieval. Entretanto, essas áreas são tão importantes quanto cobiçadas.

Encontradas apenas nos trópicos e subtrópicos, são regiões de interface entre a terra e o mar e, por isso, possuem água doce e salgada. Inundadas pelas marés diariamente, elas não ocorrem em áreas expostas e sim em ambientes mais fechados. Poucas espécies suportam o ambiente salobro das águas do manguezal, e as funções que esse ecossistema exerce são fundamentais para a manutenção dos serviços das regiões costeiras. Entre eles se destacam o lazer, o transporte marítimo e o fornecimento de proteína: mais de 80% das espécies marinhas se reproduzem nos manguezais.

No Brasil, a área de maior concentração contínua de manguezais está entre o Amapá e o Maranhão, incluindo praticamente toda a costa do Pará. “Depois temos extensões menores e áreas mais dependentes de cada estuário de rio, como ocorre muito no Ceará”, diz Yara Schaeffer Novelli, professora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e uma das maiores especialistas no assunto.

Expansão de porto ocupará 7% dos mangues da Baixada – No litoral de São Paulo, os tensores das áreas de mangue diferem. “No litoral norte é a especulação imobiliária e a segunda residência. Na Baixada Santista, portos, indústrias e dragagens. E o litoral sul é o mais conservado, mas vem sofrendo pressão com a perda de salinidade da água”, resume Marília Cunha-Lignon, doutora em oceanografia biológica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A região mais impactada do estado é a Baixada Santista. Segundo Luiz Roberto Numa de Oliveira, coordenador do Gerenciamento Costeiro de São Paulo, a inevitável ampliação portuária em Santos está sendo planejada. “O porto de Santos vai dobrar sua capacidade nos próximos dez anos. Mas só vai crescer nas margens do canal dragado e onde há áreas de manguezais degradados. A área gravada como possível de expansão portuária é quase 7% da área total dos manguezais do estuário”, diz.

A geógrafa Ana Lúcia dos Santos explica as funções do manguezal: retém sedimentos, funciona como filtro, serve de pousio para aves. (O Estado de São Paulo – 5/2)

 

2 – Carbono mais ‘caro’ pode salvar espécies

Estudo liderado por brasileiro analisou impacto do mercado de crédito de carbono, que paga pela preservação.
Quanto maior o valor de mercado da tonelada de carbono não emitido à atmosfera, mais espécies de plantas e de animais que vivem nas florestas são preservadas. É o que indica um estudo de pesquisadores europeus coordenados por um economista brasileiro.

O grupo parte do princípio que as políticas de crédito de carbono ajudam a manter as florestas em pé. Isso porque o sistema permite que quem tenha preservado suas florestas venda créditos a quem tenha poluído além do que determinam as convenções internacionais.

A política começou a ser discutida na primeira reunião do painel do clima da ONU, em 1988. A ideia é que esse tipo de negociação aconteça principalmente entre países ricos (que poluem muito) e os mais pobres (que emitem menos carbono e venderiam seus créditos). A conclusão dos pesquisadores é que quanto mais alto o valor do crédito de carbono no mercado, mais sobrevida ganham as florestas e os animais que vivem nela.

Sem as políticas de crédito de carbono, calculam os cientistas, 36 mil espécies de animais e de plantas florestais seriam extintas até 2100. Com a tonelada de carbono a US$ 7, valor perto do que é negociado hoje, cerca de 50% dessas espécies seriam preservadas até 2100. Se o preço subisse para US$ 25 a tonelada, a preservação aumentaria para 94% das espécies florestais.

Para o economista Bernardo Strassburg, do Instituto Internacional para Sustentabilidade (ISS), que coordenou o trabalho, negociar a tonelada do carbono a US$ 25 é bastante factível. “Em 2007, quando o mercado de crédito de carbono estava aquecido, chegamos a negociar a tonelada a US$ 34.” De acordo com Strassburg, o IPCC (painel do clima da ONU) considera que até US$ 100 por tonelada são aceitáveis.

Hoje, o mercado de crédito de carbono está desaquecido por falta de acordo nas convenções internacionais de clima. Além disso, algumas correntes defendem que os créditos favorecem mais o mercado do que o ambiente.

Depende da floresta – Os impactos dos créditos de carbono na preservação das espécies, de acordo com a pesquisa, dependem da biodiversidade da floresta e variam em cada região. “Na Mata Atlântica, por exemplo, a manutenção da floresta reduziria significativamente a perda de biodiversidade do Brasil”, disse o coordenador do trabalho.

Para o economista, é importante saber quais áreas valem mais a pena serem preservadas para direcionar políticas. Ele lembra que manter as florestas não significa ter menos áreas agrícolas. “Podemos expandir a produção agrícola por meio de novas tecnologias, sem mexer nas florestas”.

O estudo foi publicado ontem (5) na revista “Nature Climate Change”. Agora, os cientistas planejam ampliar a análise do impacto das políticas de carbono na preservação em áreas não florestais, como as savanas. (Folha de São Paulo)

 

3 – Fóssil altera data de surgimento da vida animal na Terra

Uma equipe de pesquisadores descobriu na Namíbia fósseis de esponja que podem ser a primeira prova de vida animal na Terra, o que faz remontar em milhões de anos a data estimada da aparição desta forma de vida.
Os fósseis estavam, em sua maioria, no Parque Nacional de Etosha e também em outros pontos do país africano, em rochas de até 760 milhões de anos. A descoberta é de uma equipe internacional de dez pesquisadores que publicaram seus resultados no “South African Journal of Science”.

Até agora, a comunidade científica considerava que a vida animal havia surgido na Terra entre 600 milhões e 650 milhões de anos. Com os fósseis recém-encontrados, essa origem remontaria entre 100 milhões e 150 milhões de anos a mais.

Segundo o estudo, as minúsculas esponjas esféricas, do tamanho de um grão de pó e cheias de buracos que permitem a passagem da água, são nossos ancestrais mais distantes, assegura Tony Prave, um dos coautores do estudo, da Universidade de St Andrew (Escócia). “Se pegarmos a árvore genealógica e remontarmos até o que se chama grupo mãe, o ancestral de todos os animais, então, sim, esta seria nossa mãe comum”, afirmou.

Para o professor Prave, a descoberta de fósseis de 760 milhões de anos é coerente com a hipótese dos especialistas da genética, que trabalham com o “relógio molecular”. Trata-se de um método que permite determinar a idade de uma espécie comparando as variações de seu DNA com as de outras espécies vizinhas. A esponja seria o primeiro advento de uma forma de vida multicelular, acrescentou Prave. (Folha Online)

 

4 – Russos chegam ao maior lago subterrâneo da Antártica

São quase 3.800 metros de profundidade, mas o governo não confirmou o feito.
A Academia de Ciências da Rússia anunciou esta segunda-feira que cientistas daquele país conseguiram chegar, após mais de 30 anos de tentativa, ao lago subglacial Vostok, o maior dos mais de 400 lagos deste tipo conhecido na Antártica.

Segundo a nota oficial da academia, o grupo de pesquisadores concluiu, neste domingo, “a 3.768 metros de profundidade, a perfuração e atingiu a superfície do lago subglacial”. O governo russo ainda não se pronunciou.

O lago foi isolado da superfície há milênios, o que significa que poderia conter formas de vida ainda desconhecidas para a ciência. Além de pesquisadores de outros países, os cientistas correm, literalmente, contra o tempo. O frio e a escuridão total se aproximam, com a chegada, nos próximos meses, do inverno antártico. Mas o professor John Priscu, que mantém contato com os russos, disse à rede britânica BBC que eles estão “muito, muito próximos”.

Segundo o Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica da Rússia, sediada em São Petersburgo, uma equipe já perfura o lago desde o dia 2 de janeiro, e progredia a uma velocidade de 1,75 metro por dia. No dia 12 de janeiro, a atividade foi interrompida para medições e para a troca a troca da broca usado na perfuração por uma menor, projetada para passar pelo gelo restante, que teria de cinco a dez metros. (O Globo)