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Informativo 481 – Criosfera; Riqueza desconhecida e Tomar juízo

1 – Módulo Criosfera 1 é inaugurado na Antártica

2 – Riqueza desconhecida

3 – Um bom momento para tomar juízo, artigo de Washinton Novaes

 

1 – Módulo Criosfera 1 é inaugurado na Antártica

Cientistas brasileiros inauguraram o primeiro módulo nacional no interior da Antártica, o Criosfera 1, em cerimônia realizada nesta quinta-feira (12) no acampamento avançado.
Após quase um mês no continente gelado – o grupo chegou na Antártica em 17 de dezembro de 2011 -, enfrentando sensações térmicas de até 42°C negativos, o trabalho de instalação de todos os equipamentos internos e externos do módulo foi concluído com sucesso. As primeiras transmissões de dados meteorológicos, em fase de teste, foram enviadas via satélite na última semana para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Este é o primeiro módulo científico brasileiro no interior do continente antártico, pois o país possui apenas uma base na região da península. Toda a infraestrutura do Criosfera 1 foi desenvolvida, integrada e testada no Inpe.

O módulo tem uma estrutura de 6,30 m de comprimento, 2,60 m de largura e 2,5 m de altura, resultando em um peso total de 3,5 mil quilos. Ele fica a 1,5 m do solo para evitar o acúmulo de neve ao redor e permitir a passagem do vento. Com o envio diário por satélite dos dados meteorológicos coletados a intenção é obter análise sobre os reflexos dos poluentes gerados na América do Sul e outras partes do mundo no continente antártico.

O grupo é composto pelos dez cientistas que estão na região junto ao módulo (84°S, 79°29’39″W) e mais sete que ficaram realizando trabalhos no chamado acampamento base, localizado na região da Geleira Union (79°46’S, 82°50’W). Participam pesquisadores e técnicos do Inpe e das universidades Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Entre as principais atividades científicas estão: a perfuração das camadas de gelo sobre o continente antártico do acampamento avançado, a fim de obter os testemunhos que revelam a história da composição atmosférica do planeta (cilindros de gelo com cerca de 7 cm de diâmetro e 80 cm de comprimento); a montagem e ativação do módulo Criosfera 1, que ficará funcionando de forma autônoma e enviando dados meteorológicos durante todo o ano, e o levantamento da morfologia e dinâmica das massas de gelo da Geleira Union e como elas respondem às variações ambientais.

Pelas condições meteorológicas e agenda de trabalho, os cientistas adiaram seu retorno do acampamento avançado, que deve ocorrer entre 19 e 22 de janeiro, e devem chegar a Punta Arenas, no Chile, apenas pelo dia 24 do mesmo mês.

Sustentável – Um marco para o Programa Antártico Brasileiro, a inauguração do módulo evidencia o pioneirismo das instituições de pesquisa nacionais. O Criosfera 1 será o primeiro do tipo instalado no interior antártico a funcionar 24 horas por dia, sem a necessidade de acompanhamento humano em suas operações. Também é sustentável, pois possui painéis solares e geradores eólicos ao invés de utilizar combustível fóssil para seu funcionamento.

Ao retornarem da expedição, os cientistas brasileiros deixarão equipamentos automáticos de monitoração meteorológica, medida de dióxido de carbono e também de amostragem de particulados atmosféricos, que continuarão em operação durante todo ano de 2012 e seu funcionamento, assim como dos sistemas de energia, serão acompanhados por meio de comunicação por satélite.

Os resultados obtidos no módulo autônomo irão se somar às pesquisas realizadas na Estação Antártica Brasileira de Comandante Ferraz, localizada na latitude 62° S, na borda do continente. Ao lado de outras instituições brasileiras, o Inpe realiza pesquisas na região há mais de 25 anos. Seus estudos na Antártica enfocam a dinâmica da atmosfera, a camada de ozônio, meteorologia, gases do efeito estufa, a radiação ultravioleta, o transporte de poluição, oceanografia e interação oceano-atmosfera.
(Ascom do Inpe)

 

2 – Riqueza desconhecida

Estudo internacional feito com participação de pesquisadores brasileiros mostra que os ecossistemas secos, como o semiárido nordestino, têm um papel mais importante do que se pensava no equilíbrio ecológico do mundo.
À primeira vista, eles podem ser vistos como ambientes inóspitos à vida, desertos em formação ou regiões sem importância para o meio ambiente. No entanto, as áreas de terras secas – que incluem alguns tipos de savanas, estepes e semiáridos – estão longe de ser irrelevantes. Além de compreender 41% da superfície terrestre e abrigar 38% dos seres humanos, esse tipo de formação representa uma verdadeira joia natural, cumprindo um papel fundamental na luta contra as mudanças climáticas. A conclusão é do maior estudo já feito no mundo sobre esses ecossistemas, publicado na edição de hoje da revista Science e elaborado com a participação da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia.

A pesquisa avaliou 224 sistemas de terras secas em 16 países: Espanha, Estados Unidos, México, Brasil, Equador, Venezuela, Peru, Irã, Israel, Austrália, Marrocos, Tunísia, Quênia, Argentina, Chile e China. Segundo os cientistas envolvidos, esse tipo de formação contém 20% dos principais centros de biodiversidade vegetal em todo o mundo, além de ser o lar de 30% das áreas endêmicas em aves. “Existem numerosos estudos sobre diversos aspectos das terras áridas. Contudo, sabemos muito menos sobre o tema do que sobre zonas tropicais e temperadas e zonas aquáticas”, conta ao Correio o líder do estudo, Fernando Maestre, pesquisador da Universidad Rey Juan Carlos, na Espanha.

De acordo com ele, apenas 3% dos estudos sobre relações ecológicas foram feitos em zonas áridas. “Poucos pesquisadores têm se interessado em explorar essas questões em zonas áridas, talvez porque sempre pensem que nesses ambientes o funcionamento do ecossistema é governado principalmente por fatores abióticos, como pluviosidade e temperatura”, completa o espanhol, segundo quem essa noção foi posta em xeque pelo novo levantamento. “Nosso estudo mostra que a biodiversidade é um determinante importante do funcionamento dos ecossistemas áridos, e pode ser ainda mais importante do que fatores como a precipitação média anual para explicar a variação em termos de funcionalidade em escala global”, aponta.

Serviços – Depois de inúmeras pesquisas de campo e análises de laboratório, os pesquisadores perceberam que os sistemas secos têm uma dinâmica muito mais complexa do que se imaginava. Apesar de desempenharem um papel menos intenso na reciclagem do carbono, principal causador do efeito estufa, eles têm um papel ainda assim importante nesse e em outros processos, como a purificação da água e o controle do clima, os chamados serviços ecológicos. E mais: sua participação nesses serviços está diretamente ligada à biodiversidade. Quanto mais diversa uma área, mais importante para o controle global ela é.

Os resultados indicam, contudo, um problema. “O aquecimento global do planeta está diminuindo a funcionalidade do árido, com um impacto negativo na sua capacidade de produzir serviços essenciais para a manutenção da vida na Terra”, conta Maestre. Isso acontece porque o aumento na temperatura média das regiões secas inviabiliza a existência das espécies mais delicadas, diminuindo a biodiversidade, questão que se descobriu agora ser essencial para a participação efetiva das formações vegetais nos serviços ecológicos. “Hoje, podemos não chegar a um acordo sobre limitar as emissões de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global, mas podemos ajudar a minimizar as consequências de sua emissão ao restaurar a biodiversidade vegetal”, completa.

Coautor do estudo, o pesquisador David Eldridge, da Universidade de New South Wales, na Austrália, explica que a descoberta valoriza ainda mais a importância da biodiversidade, anteriormente vista com atenção especial apenas em outros biomas. “Nossas descobertas sugerem que a riqueza de espécies de plantas pode ser particularmente importante para a manutenção de funções do ecossistema ligadas ao ciclo de carbono e nitrogênio, que sustenta o sequestro de carbono e a fertilidade do solo”, diz. “Como a degradação da terra é muitas vezes acompanhada pela perda de fertilidade do solo, a riqueza de espécies de plantas também pode promover a resistência de ecossistemas à desertificação”, completa. (Correio Braziliense)

 

3 – Um bom momento para tomar juízo, artigo de Washinton Novaes

Washington Novaes é jornalista e escrever às sextas-feiras no O Estado de São Paulo.
A nova discussão e votação do projeto de Código Florestal no Congresso, prevista para as semanas depois de terminado o recesso, poderá ser uma boa oportunidade para que os parlamentares, observando o que está acontecendo de desastres em razão de “eventos extremos” (chuvas, principalmente) nos Estados de Minas Gerais, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, entre outros pontos, possam rever dispositivos que reduzem áreas de preservação permanente à beira de rios, em encostas e topos de morros. O panorama naqueles Estados é muito claro: o desmatamento nas três situações reduz a infiltração de água no subsolo, aumenta a erosão e o carreamento de sedimentos para a calha dos rios – e nesta se reduz a capacidade de receber água e manter contido o fluxo hídrico. As enchentes não só afetam culturas como derrubam barragens, destroem pontes e aterros, inundam comunidades, desalojam dezenas de milhares de pessoas. O caso do Rio Muriaé, nestas últimas semanas, é bem típico.

Nada leva a crer que vá mudar o panorama de “eventos extremos”. Estudos nas Universidades de Colúmbia e da Carolina do Norte, nos EUA (Forbes, 23/12/2011), publicados nos Proceedings of the National Academy of Sciences (agosto de 2009), preveem que impactos nos cultivos de milho, soja e algodão, em função de temperaturas mais altas neste século, serão pelo menos 25% a 30% maiores, antes de se iniciar um processo de declínio; as projeções mais pessimistas indicam perdas entre 63% e 82% até o fim do século 21. Também a Organização Meteorológica Mundial prevê que a temperatura terrestre continuará a elevar-se – 2010 foi um dos anos mais quentes desde 1850 e entre 1998 e 2011 tivemos os 12 anos mais quentes desde que se registram temperaturas. E estas, se mais elevadas, podem influenciar chuvas mais fortes.

Mesmo no Brasil há informações inquietantes. Estudos do professor Paolo Alfredini, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da USP (Estado, 1.º/1), mostram que a elevação do nível do mar no litoral norte de São Paulo – segundo registros da Cia. Docas de Santos entre 1944 e 2007 – pode ser calculada em 74 centímetros em um século e deve acelerar-se em 20 anos, para chegar no final do século 21 a um metro nos pontos de menor declive. Água salgada pode comprometer sistemas de abastecimento urbano.
Em nosso país, escreve o correspondente Jamil Chade (Estado, 6/1), enchentes já provocaram prejuízos de R$ 5 bilhões em uma década – dados da seguradora Swiss Re -, além de 120 mortes por ano, entre os 19 milhões de pessoas expostas ao risco. Segundo a ONU, já somos o 13.º país mais vulnerável por esse ângulo, com 246 mil pessoas afetadas por ano, e o 18.º em prejuízos. Só nas últimas semanas, 2,5 milhões de pessoas foram atingidas pelas chuvas, diz o governo federal (Estado, 10/1) – sem falar nas secas extremas no Rio Grande do Sul, com prejuízos de R$ 2 bilhões nos cultivos de soja, milho e algodão.

Desde a década de 1980 o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, vem advertindo para o agravamento dos desastres nessa área, mas parecemos surdos, cegos e céticos. Ao menos por aqui. Para ficar só nos fatos mais recentes, em 2010 a hoje presidente Dilma Rousseff prometeu que o governo federal tomaria medidas para evitar novos desastres. Mas quando se lê hoje sobre escândalos no Ministério da Integração Nacional, conclui-se que os interesses eleitorais prevaleceram sobre tudo. Em oito anos o Congresso Nacional autorizou a aplicação de R$ 2,8 bilhões em programas de prevenção de desastres nessa área, mas só foram aplicados R$ 695,4 milhões (O Globo, 3/1). No ano passado mais de 900 pessoas morreram nas inundações e nos deslizamentos de terras no Estado do Rio de Janeiro. Mas de lá para cá praticamente nada se fez para mudar o quadro – e as novas chuvas estão levando a novos desastres. Em Belo Horizonte dezembro foi o mês mais chuvoso na História, diz o Instituto Nacional de Meteorologia – e o panorama em Minas é desastroso, a começar pelas regiões banhadas ali (e no Estado do Rio de Janeiro) pelo Rio Muriaé. Nas proximidades de Campos, toda a população de Três Vendas, cerca de 4 mil pessoas, teve de abandonar suas residências.

Levantamento do Serviço Geológico do Brasil (O Globo, 3/1) indica que em 251 municípios há risco de acidentes por causa do clima, e 178,5 mil pessoas vivem em áreas de risco alto ou muito alto. Só na cidade de São Paulo 27,1 mil famílias, cerca de 100 mil pessoas, moram em regiões de alto risco. Quase 1 milhão de pessoas ocupam áreas inadequadas, inclusive de preservação permanente. Ainda há pouco o Ministério Público recorreu à Justiça para exigir que os órgãos estaduais e municipais promovam obras em 121 favelas onde 20 mil moradias correm o risco de sofrer com deslizamentos.

É preciso repetir: mudanças climáticas já são o mais grave problema a enfrentar, aqui e em toda parte. Há poucos dias, a Universidade de Louisiana (EUA) advertiu que são muito fortes os riscos para a população de 16 países no Sul da Ásia, com o derretimento de geleiras, que se verifica também no Ártico e nos Andes. O governo das Ilhas Maldivas, no Pacífico, anunciou que vai cuidar da transferência de parte de sua população para a Austrália por causa da elevação do nível do mar, que já está acontecendo e ameaça mais de 30 países-ilhas.

Iniciativas importantes estão ocorrendo nas áreas de energia, transportes, construção e outras para reduzir emissões de poluentes. De modo geral, entretanto, continuam a prevalecer, nos negócios públicos e em empresas, as lógicas financeiras imediatistas. Quando acordaremos? Poderíamos dar um bom exemplo ao mundo no caso do nosso Código Florestal, durante a próxima votação. Os cientistas já mostraram que não é preciso retroceder na proteção aos biomas para expandir a agropecuária. É preciso ouvi-los.