1 – Museu da USP expõe crânio de dino brasileiro
2 – Cientistas desvendam mistérios de florestas fossilizadas na Antártida
1 – Museu da USP expõe crânio de dino brasileiro
Descoberto em 2008 em MG, fóssil de 120 milhões de anos é o mais completo crânio de titanossauro já encontrado no mundo
O Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) vai expor o crânio de 120 milhões de anos de um titanossauro, descoberto em 2008 no município de Coração de Jesus, Minas Gerais. Provisoriamente chamado de Tapuiassauro – referência a “tapuia”, como eram conhecidos em tupi os índios do interior do País -, o fóssil é considerado o mais completo crânio de titanossauro já encontrado no mundo.
O Estado acompanhou o processo de escavação com exclusividade desde o início de 2009 e, em setembro do ano passado, publicou um caderno especial com toda a história da descoberta. Parte do material publicado pelo jornal, como as fotos, também estará exposto no museu.
De acordo com os paleontólogos, o fóssil do Tapuiassauro – o nome oficial só vai ser dado após a publicação da pesquisa em uma revista científica internacional – tem 98% de sua estrutura preservada. Além dele, existem apenas dois titanossauros, grupo de répteis quadrúpedes do período Cretáceo, com crânios conhecidos: um na Mongólia e outro em Madagáscar.
A exposição Cabeça Dinossauro – O Novo Titã Brasileiro abre para o público nesta terça-feira (8/2), tem curadoria dos pesquisadores Hussam Zaher, Alberto Carvalho e Maria Isabel Lamdim e é dividida basicamente em três alas diferenciadas.
No hall de entrada, o visitante já encontra o protagonista do passeio: o crânio do Tapuiassauro estará, com outros ossos originais, exposto abaixo de uma réplica de 13 metros de comprimento e aproximadamente 4 metros de altura do dinossauro. Os fósseis originais não são utilizados na montagem porque precisam ser reparados e também preservados para estudo.
Junto ao esqueleto do titanossauro serão expostos também textos introdutórios sobre o que é um dinossauro quais as diferenças em relação a outras espécies.
Além do hall de entrada, a exposição ainda conta com mais duas alas. No lado esquerdo, o visitante encontrará informações sobre o trabalho do paleontólogo e sobre os “bastidores” das escavações, mostrando como é feita a coleta das peças, os cuidados que devem ser tomados para não invalidar os fósseis e o processo para identificar a idade dos achados.
Há também, nessa ala, uma série de informações e vídeos sobre o local onde foi encontrado o crânio e sobre as pessoas que residem no entorno do terreno em Coração de Jesus.
Além do crânio, o visitante poderá ver peças do acervo do próprio museu, como fósseis originais de peixes e crocodilos contemporâneos ao titanossauro. Tudo isso fica na ala direita da exposição, onde os interessados vão descobrir como era a vida no Cretáceo e entender exatamente como vivia o Tapuiassauro.
A separação dos continentes e a extinção dos dinossauros também são temas tratados nessa parte da exposição. A ideia dos organizadores é também conscientizar o público sobre a extinção pela qual o planeta passa no momento, divulgando informações sobre o risco do desaparecimento de algumas espécies ameaçadas – como a ararinha-azul, por exemplo.
A exposição Cabeça Dinossauro – O Novo Titã Brasileiro abre nesta terça-feira (8/2) e segue até 31 de agosto. Após o fim da mostra será exposta uma réplica do crânio feita em resina. (O Estado de SP, 6/2)
2 – Cientistas desvendam mistérios de florestas fossilizadas na Antártida
Estudos revelam florestas e vegetação capaz de sobreviver durante meses de escuridão e dinossauros com visão aguçada
Cientistas que estudam fósseis de plantas e animais encontrados na Antártida descobriram que esses seres possuíam mecanismos sofisticados que lhes permitiam sobreviver vários meses no escuro.
Segundo teorias, no período em que essas criaturas viveram, cem milhões de anos atrás, a Terra estava à beira de um aquecimento extremo.
As calotas de gelo que tinham coberto os polos haviam praticamente derretido, permitindo que amplas florestas crescessem no local.
Hoje, com o aumento nas médias de temperatura registradas no Continente Antártico, os cientistas não descartam a possibilidade de que plantas voltem a florescer na região.
Passado subtropical
Uma das primeiras pessoas a encontrar evidências de florestas antárticas foi o conhecido explorador britânico Robert Falcon Scott. Retornando do Polo Sul, em 1912, ele encontrou fósseis de plantas na geleira Beardmore.
O peso adicional dos espécimes pode ter contribuído para a sua trágica morte – Scott morreu congelado dias depois de alcançar o Polo Sul -, mas revelou ao mundo o passado sub-tropical do continente.
A pesquisadora Jane Francis, da Universidade de Leeds, no norte da Inglaterra, seguiu os passos de Scott, passando dez temporadas na Antártida coletando fósseis de plantas. “Ainda acho incrivelmente fascinante a ideia de que a Antártida foi um dia coberta de florestas”, disse Francis à BBC. “Temos como certo que a Antártida sempre foi uma vastidão gelada, mas as calotas de gelo são, em termos de história geológica, relativamente recentes.”
Uma das mais incríveis descobertas da cientista foi feita nas Montanhas Transantárticas, não muito longe de onde Scott encontrou seus fósseis. “Estávamos no alto dos picos gelados quando encontramos uma camada de sedimento cheia de folhas frágeis e gravetos.”
Mais tarde, a equipe descobriu que esses fósseis eram restos de arbustos de faia (árvore típica de climas temperados). Com idade em torno de cinco milhões de anos, os arbustos estavam entre as últimas plantas a viver no continente antes do seu resfriamento.
Outros fósseis revelam que florestas verdadeiramente subtropicais existiram na Antártida em períodos anteriores, durante a chamada “era dos dinossauros”, quando níveis muito mais altos de gás carbônico provocaram um período de aquecimento global extremo no planeta.
“Se você voltar cem milhões de anos no tempo, a Antártida estava coberta de florestas (de árvores) altas, semelhantes às que existem hoje na Nova Zelândia”, disse à BBC Vanessa Bowman, colega de Francis na Universidades de Leeds. “Encontramos com frequência troncos fossilizados que devem ter vindo de árvores muito grandes.”
Para os especialistas, a característica mais intrigante e bizarra das florestas polares era sua capacidade de sobreviver a longos invernos, onde a noite dura meses, e aos verões sem fim, quando o sol brilha à meia-noite.
O cientista David Beerling, da Universidade de Sheffield, no norte do país, explica qual foi o desafio que essas espécies tiveram de enfrentar: “Durante períodos prolongados de escuridão no inverno quente, as árvores consomem seu estoque de nutrientes”, ele disse. Mas se isso continua por tempo muito longo, elas vão acabar “passando fome”, disse Beerling à BBC.
Para entender como as árvores sobreviveram a essas condições extremas, Beerling fez um experimento. Entre as plantas que um dia viveram na Antártida está a espécie Ginkgo biloba, que por viver até hoje é considerada um fóssil vivo.
“O que fizemos foi plantar mudas dessas plantas em estufas sem luz onde pudemos simular as condições de luz da Antártida”, disse Beerling. “Também aumentamos a temperatura e as concentrações de CO2 para obter as mesmas condições.”
O experimento demonstrou que as árvores podem sobreviver incrivelmente bem a esse ambiente estranho. Embora usem seus estoques de alimento no inverno, elas compensam as perdas porque são capazes de fazer a fotossíntese 24 horas por dia no verão.
Outros fósseis encontrados mostram que dinossauros também habitaram a região. O especialista em dinossauros Thomas Rich, do Victoria Museum, na Australia, encontrou vários exemplares desses fósseis.
“O único esqueleto de dinossauro completo que encontramos (na região) é o Leaellynasaura. O que é realmente incomum sobre esse espécime é o crânio. Ele indica que o animal tinha lóbulos ópticos maiores”, ele explicou.
Segundo o especialista, isso indica que os dinossauros polares podem ter possuído uma visão noturna extremamente desenvolvida e, portanto, estavam bem adaptados para encontrar alimento e sobreviver aos prolongados invernos antárticos.
Hoje, lençóis de gelo com espessura de três quilômetros cobrem uma região que um dia foi habitada por florestas e dinossauros. Entretanto, registros geológicos oferecem provas irrefutáveis de que, em toda a história do planeta, vêm ocorrendo flutuações dramáticas no clima do Polo Sul.
Nos últimos 50 anos, a temperatura na Península Antártica subiu em torno de 2,8 graus Celsius, um aquecimento mais rápido do que em qualquer outra parte do mundo. Se esse aquecimento continuar, os cientistas não descartam a possibilidade de que o Continente Antártico volte a ter a cor verde esmeralda.
“Isso é possível”, disse Francis à BBC. “Entretanto, isso implica que espécies de plantas sejam capazes de migrar pelo Oceano do Sul, vindas de lugares como a América do Sul ou a Austrália.” (BBC, 9/2)