1 – Fóssil de dentes em Israel pode mudar teoria da evolução humana
2 – Neandertais foram bons cozinheiros
3 – Duas novas espécies de pterodáctilo
1 – Fóssil de dentes em Israel pode mudar teoria da evolução humana
Descoberta seria a evidência mais antiga da existência de seres humanos modernos
Fósseis de dentes de 400 mil anos pode mudar a teoria da evolução humana, segundo arqueólogos israelenses que o encontraram. Os pesquisadores da Universidade de Tel Aviv acreditam que os dentes seriam de seres humanos modernos, tornando o fóssil a mais antiga evidência da existência de um Homo sapiens.
A teoria aceita atualmente é a de que os Homo sapiens se originaram na África há cerca de 200 mil anos antes de se espalhar pelo mundo. Os fósseis de dentes foram encontrados durante as escavações da caverna de Qesem, um sítio pré-histórico encontrado em 2000 a 12 quilômetros ao leste de Tel Aviv, em Israel. A descoberta foi relatada em um artigo publicado na revista especializada American Journal of Physical Anthropology.
Paradigmas
Pesquisadores dizem que mais estudos são necessários. O coordenador do estudo, Avi Gopher, diz que mais pesquisas são necessárias para comprovar a teoria de seus pesquisadores, mas afirma que a descoberta tem o potencial de mudar o conceito da evolução humana.
“A datação da caverna mostra que a presença do Homo sapiens nesta parte do mundo é mais antiga do que as outras evidências que tínhamos até então”, afirma Gopher. “Esta conclusão pode ser de grande importância, porque pode ser a primeira evidência para mudar alguns dos paradigmas que usamos em termos da evolução humana”, diz o pesquisador.
A equipe da Universidade de Tel Aviv analisou os fósseis com raios-X e tomografias computadorizadas. A datação foi feita com base na análise da camada de terra na qual eles foram encontrados. Segundo a teoria aceita atualmente, os humanos modernos e os neandertais se originaram de um ancestral comum que vivia na África há cerca de 700 mil anos. Um grupo que migrou para a Europa se desenvolveu nos neandertais antes de serem extintos. Outro grupo, que permaneceu na África, teria gerado os seres humanos modernos, ou Homo sapiens. (BBC Brasil, 28/12)
2 – Neandertais foram bons cozinheiros
A espécie, que cruzou com humanos antes de desaparecer, sabia lidar com fogo e preparar vários tipos de grão
Tudo bem que eles eram fisicamente um pouco esquisitos, mas é preciso admitir: além de terem feito sexo conosco várias vezes, sabiam cozinhar bastante bem, descobriu-se agora. O que ninguém sabe direito é por que, depois desse romance todo, sumiram sem deixar notícia.
É que, apesar de as pesquisas sobre os neandertais terem avançado bastante em 2010, a extinção da espécie, há 25 mil anos, continua mal explicada -e fica ainda mais misteriosa com o fato de que eles dominavam o fogo.
A notícia, em maio, de que o Homo sapiens cruzou, sim, com neandertais (e que eles deixaram descendentes) foi uma das mais importantes do ano em ciência.
A questão é que os cientistas mostraram que não foi só uma aventura de verão: sexo com neandertais devia ser comum. Até hoje, humanos têm quantidade razoável de DNA neandertal (até 4%).
Os cientistas apontam como palco dos encontros o Oriente Médio, entre 80 mil e 50 mil anos atrás. O trabalho deles, porém, deu força a uma antiga pergunta.
Se os neandertais eram parecidos conosco nesse nível, e não seres fracos e retardados como se especulou no passado, por que foi então que eles desapareceram?
Responder está se tornando cada vez mais difícil.
Uma hipótese simples seria que os humanos, com tecnologias mais sofisticadas, tivessem dominado sem grande dificuldade os neandertais, até mesmo com guerras (e, nesse caso, seria razoável imaginar que, em vez de amor, teriam ocorrido, na verdade, muitos estupros).
Um dos defensores dessa ideia é o americano Jared Diamond, autor de best-sellers como “Armas, Germes e Aço” (1997), sobre o que faz sociedades triunfarem ou desaparecerem. Ele sugere um genocídio parecido com o que aconteceu com alguns povos indígenas modernos.
O trabalho sobre os hábitos alimentares publicado agora na revista “PNAS”, porém, mostra que que eles não eram tão pouco sofisticados assim. Sabiam como preparar vários tipos de grãos, como do grupo Faboideae, que inclui soja, ervilha e feijão.
“Muitos autores argumentam que os neandertais eram incapazes de ingerir a mesma quantidade de calorias que os humanos modernos, e por isso teriam sido superados facilmente”, diz Amanda Henry, do Centro de Estudos Avançados de Paleobiologia dos Hominídeos (EUA). “Mas nosso trabalho mostra que eles eles sabiam utilizar várias plantas disponíveis e transformá-las em comida facilmente digerível.”
Sem domínio do fogo, os neandertais seriam uma espécie bastante frágil. Teriam uma dieta bem mais pobre, ainda mais por habitarem regiões bastante frias da Europa e da Ásia. Presenciaram a Era do Gelo, e teriam sofrido horrores sem fogo.
Sabe-se também que tinham várias ferramentas de pedra e sabiam caçar, assim como os humanos da época. Não conheciam a agricultura, mas nós também não. Talvez sua linguagem fosse menos elaborada que a humana, talvez sua organização social fosse menos complexa, mas é difícil saber.
No que se refere à estética, talvez não fossem exatamente beldades, mas, nas palavras do grande antropólogo americano Carleton Coon, se colocassem um terno passariam desapercebidos em qualquer metrô do mundo.
Método envolve análise do tártaro de dente fóssil
Não é exatamente agradável, mas os cientistas descobriram mais sobre a dieta dos neandertais analisando a placa bacteriana mineralizada -tártaro- em dentes de neandertal encontrados no Iraque e na Bélgica.
Há 50 mil anos, não era em qualquer esquina que se comprava escova, fio dental e enxágue bucal, então essa placa oferece uma quantidade grande de informações sobre o que comiam os donos dos dentes.
Dos três dentes iraquianos disponíveis (um canino, um molar e um incisivo), por exemplo, os cientistas tiraram 73 exemplares diferentes de grãos catalogados. Eles estavam danificados de uma maneira que evidencia que tinham passado antes pelo fogo.
A amostra incluía tipos selvagens de trigo, centeio e cevada -nada indica, porém, que os neandertais soubessem fazer cerveja, que só apareceu há menos de 10 mil anos, para nunca mais ser abandonada.
As espécies eram selvagens porque era necessário coletar tudo isso no mato: a agricultura só apareceria milhares de anos depois, provavelmente um pouco antes da cerveja.
Não há, também, sinal de que neandertais tivessem estruturas para armazenar os grãos, mas também não se sabe com grande precisão quando os humanos começaram a fazer isso. (Ricardo Mioto) (Folha de SP, 28/12)
3 – Duas novas espécies de pterodáctilo
Brasileiro é responsável pela descrição dos répteis voadores do Canadá
Dividir os dinossauros em grupos biológicos costuma ser uma tarefa complicada – afinal, eles foram varridos do planeta há 65 milhões de anos.
Classificar os pterossauros, então, nem se fala. Os répteis voadores, sempre confundidos errôneamente com os dinos, dão trabalho constante aos taxonomistas. Prova disso são os pterodáctilos Pteranodon.
Inicialmente o grupo desse tipo específico de pterossauro concentrava 11 espécies. Essas, depois, foram reduzidas a apenas duas. Agora, após nova revisão, o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional, bateu o martelo: quatro espécies estão concentradas ali.
Kellner baseou seu estudo, publicado na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”, na análise de fósseis a que teve acesso dois anos atrás, no Museu de Geologia da Universidade de Alberta, no Canadá.
– Trata-se de um grupo de pterodáctilos que já foi revisto várias vezes – lembra Kellner.
– Na última, os pesquisadores concluíram que, ali, só havia duas espécies, e, em ambas, o macho tem morfologia diferente da fêmea. Mas conferi que, apesar disso, havia animais naquele material que não se encaixavam em nenhuma das descrições existentes.
As principais diferenças entre os pterodáctilos do grupo, segundo Kellner, são a direção e extensão da crista formada pelo frontal e a proporção do rosto. As fêmeas, que botam os ovos, têm canal pelviano maior do que os machos.
A histórica indefinição do número de espécies de pterodáctilos não surpreende Kellner. O paleontólogo ressalta que, na maioria das vezes, os cientistas têm às mãos um número muito limitado de fósseis, cuja preservação é quase sempre restrita às partes duras do organismo. E é na anatomia dos tecidos moles – como tamanho e cores de penas e pelos – que se encontra as maiores variações entre as espécies.
O estudo dos répteis voadores ainda conta com obstáculos peculiares. Um deles é a grande mobilidade dos animais, muito maior do que a registrada em dinossauros. Boa parte do material já encontrado de pterodáctilos consiste em vestígios isolados.
Esqueletos completos ainda são extremamente raros.
– Não raro os pterossauros, por poderem voar, estão longe das áreas onde há maior probabilidade de fossilização. Assim, sua chance de preservação
diminui muito – lamenta Kellner.
– Outro aspecto importante é a fragilidade de seu esqueleto. Os ossos são particularmente finos. Se quebrarem, dependendo do tamanho do estrago, a morfologia original pode ser resgatada. Mas há o risco de sofrerem uma deformação plástica. Nesse caso, não conseguimos recuperar a sua configuração original.
Os pterodáctilos também não contam com representantes contemporâneos – ou seja, qualquer outra espécie a que possam ser comparados. Se deixassem “sucessores”, seus herdeiros poderiam ser usados para que os paleontólogos tivessem ao menos alguma noção, por exemplo, da composição de seu esqueleto. (O Globo, 28/12)