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Informativo 391 – 2010, o ano selvagem; Camundongo canta e Elefantes

1 – 2010, o ano selvagem

2 – Camundongo canta como passarinho

3 – Diferença entre elefantes

 

1 – 2010, o ano selvagem

Desastres naturais mataram 260 mil
Este foi o ano em que a Terra deu o troco. Terremotos, ondas de calor e frio extremos, enchentes, vulcões, supertufões, desmoronamentos e secas mataram pelo menos 260 mil pessoas em 2010 – ano mais letal em uma geração, mostra levantamento da AP. Os desastres naturais mataram mais em 2010 do que os ataques terroristas dos últimos 40 anos combinados.
– A expressão “o desastre do século” perdeu o sentido em 2010, pois houve muitos desastres assim – disse Craig Fugate, diretor da Agência de Gerenciamento de Desastres dos EUA.
Segundo cientistas e especialistas em desastres naturais, o ser humano deve culpar a si mesmo, e não a natureza, na maioria dos casos. Construções precárias conspiraram para tornar terremotos mais letais do que deveriam. Mais pessoas vivem hoje na pobreza em construções vulneráveis de cidades superpovoadas. Isso significa que, quando a terra treme, um rio transborda ou uma grande tempestade acontece, mais gente morre.
– Desastres geológicos, como terremotos, são fenômenos regulares. Todas as mudanças são causadas pelo homem – disse Andreas Schraft, vicepresidente de análise de risco de catástrofes da seguradora Swiss Re.
O terremoto que em janeiro matou mais de 220 mil pessoas no Haiti é o exemplo perfeito. Port-au-Prince tinha três vezes mais habitantes – quase todos pobres – do que há 25 anos. Se o mesmo sismo tivesse ocorrido em 1985 em vez de 2010, o número de mortos provavelmente teria sido cerca de 80 mil, disse Richard Olson, diretor do Departamento de Redução de Riscos em Desastres da Universidade Internacional da Flórida.
Em fevereiro, um terremoto 500 vezes mais forte do que o do Haiti atingiu uma área bem menos pobre e povoada do Chile e menos de mil pessoas morreram.
Calor opressivo e frio polar
Cientistas destacam que o clima também está em transformação devido ao aquecimento global. O resultado são mais fenômenos extremos, como ondas de frio e calor.
No verão passado do Hemisfério Norte, um sistema climático poderoso causou uma onda de calor escorchante na Rússia e enchentes devastadoras no Paquistão, que cobriram mais de 160 mil quilômetros quadrados, ou mais de três vezes a área do estado do Rio de Janeiro. Só esse sistema de calor e tempestades matou 17 mil pessoas, mais do que a soma de todos acidentes aéreos do mundo nos últimos 15 anos.
– É um tipo de suicídio. Construímos casas que nos matam (em terremotos), erguemos habitações em áreas de inundações e depois nos afogamos – argumenta Roger Bilham, professor de Geologia da Universidade do Colorado. – É nossa culpa não prever tais coisas, que são a Terra fazendo o que ela faz.
E ninguém pode classificar melhor a situação do que Vera Savinova, administradora de uma clínica odontológica, que em agosto usava uma máscara para se proteger da fumaça causada pelos incêndios florestais em uma Moscou calorenta:
– Nosso planeta está nos alertando sobre o que pode acontecer se não tomarmos conta da natureza.
O grande número de fenômenos climáticos extremos em 2010 é um sinal clássico do aquecimento global causado pelo homem sobre o qual os cientistas tanto avisaram. Eles calculam que a onda de calor russa – que estabeleceu novo recorde nacional de 43,88 graus Celsius – aconteceria apenas uma vez a cada 100 mil anos se não fosse o aquecimento global. Dados preliminares mostram ainda que outros 18 países registraram os dias mais quentes de sua história.
– Esses fenômenos não aconteceriam sem o aquecimento global – diz Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA.
É por isso que muitos dos que estudam desastres naturais para ganhar a vida dizem que é um erro classificar 2010 só como um ano ruim qualquer.
– A Terra se vinga associada às más decisões do homem – diz Debarati Guha Sapir, diretor do Centro de Pesquisas Epidemiológicas em Desastres da Organização Mundial da Saúde. – É como se todas as políticas governamentais ou para o desenvolvimento estivessem ajudando a Terra a se vingar ao invés de nos protegerem dela. Criamos as condições para que qualquer pequena coisa que a Terra faça tenha um impacto desproporcional. (Seth Borenstein e Julie Reed Bell, da Associated Press) (O Globo, 21/12)

 

2 – Camundongo canta como passarinho

Japoneses desenvolvem roedor transgênico para estudar evolução da linguagem
Cientistas japoneses anunciaram na terça-feira (22/12) o desenvolvimento de um camundongo geneticamente modificado para “cantar” como um passarinho. Segundo os pesquisadores, o animal pode ajudar a entender a evolução da linguagem humana.
O roedor faz parte do “Projeto de Evolução de Camundongos” da Universidade de Osaka, que usa animais geneticamente alterados para serem mais suscetíveis a erros de cópias em seu DNA e, portanto, a mutações.
O roedor não recebeu nenhum gene de ave. Trata-se de uma modificação mais simples, embora trabalhosa. Ele é fruto de paciente seleção de camundongos.
– As mutações são a força por trás da evolução. Nós cruzamos os camundongos geneticamente alterados por gerações para ver o que aconteceria – disse o pesquisador chefe Arikuni Uchimura.
– Analisamos os camundongos recém-nascidos um por um até que um dia encontramos um que estava cantando como um pássaro – acrescentou, destacando que o animal nasceu por acaso, mas que a característica será passada para as futuras gerações.
O laboratório agora conta com mais de 100 “camundongos cantores” para futuras pesquisas. Os cientistas esperam que eles forneçam pistas sobre como a linguagem evolui, assim como pesquisadores em outros locais estudam pássaros cantores em busca de sinais que os ajudem a entender as origens da linguagem humana.
Eles descobriram que os pássaros usam diferentes sons unidos em grupos que são como palavras e depois as sequenciam para cantar suas “músicas”, que estão sujeitas a algumas regras linguísticas.
– Os camundongos são melhores que os pássaros para esses estudos porque são mamíferos e, assim, mais parecidos com os humanos na sua estrutura cerebral e outros aspectos biológicos – considera Uchimura. – Estamos observando como um camundongo que emite sons novos afeta outros camundongos comuns no mesmo grupo, isto é, sua conotação social. (O Globo, 22/12)

 

3 – Diferença entre elefantes

África tem duas espécies de elefantes e não só uma, como se pensava, revela estudo. Geneticamente, animais africanos da savana e da floresta são tão diferentes como mamutes e elefantes modernos da Ásia
Um novo estudo realizado por pesquisadores norte-americanos e britânicos revelou que existem duas espécies de elefantes na África e não apenas uma, como se acreditava até agora.
Os pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard (Estados Unidos), da Universidade de Illinois (Estados Unidos) e da Universidade de York (Reino Unido) utilizaram análise genética para provar que, na África, o elefante das savanas e o elefante das florestas mantiveram-se separados por vários milhões de anos.
Os resultados do estudo foram publicados na revista de acesso aberto “PLoS Biology”. Os cientistas compararam o DNA de elefantes modernos da África e da Ásia ao DNA extraído de duas espécies extintas: o mamute e o mastodonte.
De acordo com os autores, pela primeira vez foram geradas sequências para o genoma nuclear do mastodonte. Também é a primeira fez que se realizou uma análise conjunta do elefante asiático, dos elefantes africanos da floresta e da savana, dos mamutes e do mastodonte americano.
“Do ponto de vista experimental, enfrentamos um grande desafio ao extrair sequências de DNA de dois fósseis – de mamutes e mastodontes – e alinhá-los com o DNA de elefantes modernos sobre centenas de segmentos do genoma”, disse Nadin Rohland, do Departamento de Genética da Escola de Medicina de Harvard.
“A descoberta surpreendente é que os elefantes das florestas e das savanas da África – que alguns acreditavam ser da mesma espécie – são tão distintos entre si como os elefantes asiáticos e os mamutes”, disse David Reich, professor do mesmo departamento.
Os cientistas dispunham de DNA de apenas um único elefante de cada espécie, mas conseguiram extrair, de cada genoma, dados suficientes para analisar milhões de anos de evolução até a época em que os elefantes divergiram pela primeira vez entre eles.
“A divergência das duas espécies ocorreu mais ou menos na época da divergência entre os elefantes da Ásia e os mamutes”, disse Michi Hofreiter, especialista no estudo de DNAs ancestrais no Departamento de Biologia de York. “A ruptura entre os elefantes africanos das savanas e das florestas é quase tão antiga como a ruptura entre os humanos e os chimpanzés. Esse resultado nos deixou muito surpresos.”
A possibilidade de que se tratava de duas espécies separadas foi levantada pela primeira vez em 2001, mas o estudo atual fornece a prova mais contundente até agora de que elas são de fato distintas.
Anteriormente, muitos naturalistas acreditavam que os elefantes africanos das savanas e das florestas fossem duas populações da mesma espécie, apesar das consideráveis diferenças de tamanho observadas. O elefante da savana tem uma altura média, do chão até o ombro, de 3,5 metros. O elefante da floresta tem uma altura média de 2,5 metros. O elefante da savana pesa entre seis e sete toneladas – aproximadamente o dobro do peso do elefante da floresta.
As análises de DNA revelaram uma ampla gama de diferenças genéticas entre as espécies. O elefante da savana e o mamute têm uma diversidade genética muito baixa, enquanto os elefantes da Ásia têm diversidade média e os elefantes da floresta têm uma diversidade muito alta. Os pesquisadores acreditam que essas diferenças se devem à variação dos níveis de competição reprodutiva entre os machos.
“A partir de agora temos que tratar os elefantes da floresta e da savana, para fins de conservação, como duas unidades diferentes”, disse Alfred Roca, professor do Departamento de Ciência Animal da Universidade de Illinois.
“Desde 1950, todos os elefantes africanos têm sido conservados com uma só espécie. Agora que sabemos que os elefantes da savana e da floresta são dois animais muito diferentes, a prioridade para fins de conservação deveria ser dada ao elefante da floresta”, disse.
O artigo de Nadin Rohland e outros pode ser lido em www.plosbiology.org (Agência Fapesp, 22/12)