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Informativo 383 – Eventos extremos e acelerados; Década quente; Camada de Ozônio sobre a Antártica e “extraterrestre”

1 – Eventos extremos e acelerados

2 – Década bate recorde e é a mais quente da história, diz estudo

3 – Abertura na camada de ozônio sobre a Antártida é a menor em 5 anos

4 – Nasa anuncia nova bactéria com DNA “extraterrestre”

 

1 – Eventos extremos e acelerados

Mudanças climáticas aumentam frequência de ondas de calor
O inverno severo do Hemisfério Norte, a onda de calor em Moscou em meados do ano, as inundações no Paquistão. Os eventos climáticos extremos que assombraram 2010 vão tornar-se mais frequentes nas próximas décadas, segundo prognóstico divulgado na quarta-feira (1/12) pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM).
Os sinais de um quadro descontrolado no futuro são evidentes. A um mês de seu fim, 2010 já é considerado o mais quente desde o início das edições de temperatura. E os próximos anos deverão ser ainda piores, com ondas de calor escorchante.
Os cientistas explicam que mesmo ondas de frio extremo, como a que agora volta a afetar parte da Europa, podem estar associadas ao aquecimento global. Em sua análise, a OMM admite ser “impossível dizer se um ou outro desastre natural foi ‘causado’ por mudança climática”.
Ainda assim, a instituição alerta que “o cenário atual será provavelmente alterado pela maior concentração de gases-estufa na atmosfera”.
Em entrevista durante a 16ª Conferência do Clima, em Cancún, no México, o diretor do Programa de Investigação do Clima Mundial da OMM, Ghassam Asrar, pediu para que os países priorizem o desenvolvimento de sua infraestrutura para que, assim, resistam melhor aos eventos extremos.
Estas ações impediriam, por exemplo, a morte de 1.500 pessoas no Paquistão, devido a uma série de inundações ocorridas em agosto. O Brasil é uma vítima em potencial das intempéries provocadas pelo aquecimento global. Em outubro, a consultoria britânica Maplecroft criou um ranking de vulnerabilidade às mudanças climáticas. O país ficou na 81ª posição, classificado como “alto risco”, entre os 170 listados.
– Haverá mudanças notáveis nos parâmetros climáticos do Brasil nos próximos 30 anos, como o nível de precipitações, temperatura e umidade – adverte o analista Matthew Bunce, um dos responsáveis pelo estudo. – As regiões ao leste do país são mais expostas aos riscos da mudança climática, devido à sua suscetibilidade histórica a inundações e seca.
Apenas 30% do território do país está exposto a mudanças altas ou extremas, mas isso equivale a uma área onde mora uma grande parcela da população. O acirramento dos eventos extremos fez o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) rever as estatísticas divulgadas, três anos atrás, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O órgão, vinculado à ONU, previa que os termômetros brasileiros avançariam até 4 graus Celsius na Amazônia em 2100.
– Agora admitimos que, no Norte do país, a temperatura pode crescer 5 graus, e, no Sul, até 3 graus – explica o climatologista José Marengo, do Inpe.
– Uma série de episódios nos motivou a rever os prognósticos. Por exemplo, 2010 termina como o ano mais quente da série histórica, mesmo sem um fenômeno natural de grande porte. Afinal, o El Niño foi incomparavelmente mais fraco do que em sua última aparição, em 1998.
É evidente que a ação humana tem a sua responsabilidade neste recorde. Até meados do século, a temperatura média subiria mais de 3 graus em boa parte do país, desencadeando uma série de transformações. A caatinga passaria por um processo de desertificação. A Floresta Amazônia vai se retrair. O bioma passaria por secas rigorosas, com extinção de diversas espécies. As queimadas facilitariam a expansão de doenças respiratórias.
O Sul, por sua vez, sofreria com mais precipitações, tornando-se mais exposto a enchentes e deslizamentos em centros urbanos. (Renato Grandelle) (O Globo, 2/12)

 

2 – Década bate recorde e é a mais quente da história, diz estudo

Levantamento de meteorologistas foi divulgado no Cancún
O ano de 2010 encerra a década mais quente já registrada na história e já empata com 2005 e 1998 como o ano mais quente. Os dados foram divulgados na quinta-feira (2/12) em Cancún pela OMM (Organização Meteorológica Mundial).
Segundo quatro séries de dados de temperatura compiladas pela OMM, até novembro 2010 estava ligeiramente mais quente que 1998, ano considerado o de temperatura mais elevada desde que as medições sistemáticas começaram, em 1850.
Como dezembro começa com um fenômeno La Niña, que tende a resfriar o planeta, pode ser que 2010 acabe um pouco menos quente. De qualquer forma, diz Michel Jarraud, secretário-executivo da OMM, as médias dos três anos são as três mais altas, dentro do limite de incerteza.
Nesta década, as temperaturas médias globais ficaram 0,46ºC acima da média de 1961 a 1990. Neste ano, elas estão 0,55ºC acima.
O Ártico foi mais uma vez o lugar onde o planeta mais esquentou: 3ºC acima da média na década. Das 23 sub-regiões em que o planeta foi dividido para análise, apenas uma -o norte da Austrália- teve temperaturas menores que a média neste ano.
Jarraud lembrou os comentários no início do ano sobre o inverno rigoroso no hemisfério Norte -para alguns, sinal da inexistência do aquecimento global.
“Apesar do que as pessoas possam ter sentido localmente, globalmente estava mais quente que o normal.”
Com as temperaturas, vieram os eventos extremos: na Rússia, a onda de calor que deixou Moscou em chamas teve temperaturas 7,6ºC mais altas que a média.
“Isso não foi só excepcional, não houve nada parecido na história”, disse o chefe da OMM, lembrando que a mesma anomalia meteorológica que esquentou o país causou também outros desastres naturais extremos.
Além disso, houve seca recorde em lugares como a Amazônia, e chuvas recordes em várias outras regiões. (Cláudio Ângelo) (Folha de SP, 3/12)

 

3 – Abertura na camada de ozônio sobre a Antártida é a menor em 5 anos

Extensão do buraco está em 22 milhões de quilômetros quadrados. Dados são de instituto de pesquisas científicas da Nova Zelândia
O buraco da camada de ozônio sobre a Antártida reduziu ao menor tamanho nos últimos cinco anos, indicou nesta sexta-feira (3) o Instituto Nacional de Água e Pesquisa Atmosférica da Nova Zelândia (Niwa, na sigla em inglês).
Os cientistas calcularam que a extensão do buraco é de 22 milhões de quilômetros quadrados, dois milhões a menos que em 2009. No ano de 2000, quando foi registrado o maior diâmetro para a falha na camada, o valor era de 29 milhões.
O déficit da massa de ozônio também se reduziu a 27 milhões de toneladas, sensível melhora na comparação com as 35 milhões de toneladas de 2009 e as 43 milhões de 2000.
“Podemos dizer que o buraco na camada de ozônio está melhorando de acordo com as observações deste ano”, disse o cientista Stephen Wood, que apontou que as iniciativas internacionais como o Protocolo de Montreal, de 1987, estão dando resultados.
A camada de ozônio, que protege das radiações ultravioleta, diminuiu, segundo os cientistas, pelo efeito de produtos como o clorofluorcarbono (CFC), utilizados em refrigeradores e aerossóis, proibidos a partir do acordo relativo à cidade canadense.
(EFE) (G1, 3/12)

 

4 – Nasa anuncia nova bactéria com DNA “extraterrestre”

Pesquisadores da agência descobriram organismo com composição molecar que parecia inviável para a vida
Não foi desta vez que a Nasa anunciou que existe vida extraterrestre, ao contrário do muitos esperavam. A novidade é que existe vida de uma forma completamente diferente de tudo o que conhecíamos até agora.
A agência espacial americana despertou curiosidade generalizada desde a última terça-feira, quando divulgou uma nota oficial dizendo que anunciaria nesta semana uma “descoberta que teria impacto na busca de provas sobre a vida extraterrestre”.
Depois de muita expectativa, a Nasa, em entrevista coletiva realizada na quinta-feira (2/12), revelou que a descoberta é uma bactéria. Mas não é um micro-organismo qualquer.
Ela incorpora no DNA um elemento tóxico que, em tese, não deveria fazer parte da química da vida: o arsênio.
Membro do grupo das halomonadáceas, ela vive no lago Mono, em região gélida e paradisíaca da Califórnia. As águas ali são extremamente salgadas e têm alta concentração de arsênio.
Essa bactéria substituiu o fósforo -definido pelos biólogos como um dos seis elementos químicos cruciais à vida- por arsênio.
O fósforo é essencial no metabolismo celular, pois ajuda a formar o “corrimão” da molécula de DNA.
Submetida à privação de fósforo, a estranha bactéria, porém, sobreviveu e se multiplicou em laboratório.
“Até o momento, achava-se que todos os organismos terrestres precisavam para seu metabolismo ao menos desses seis elementos [carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo]”, analisa Douglas Galante, astrobiólogo da USP.
“Encontrar um contraexemplo é uma quebra de paradigma sobre o que é realmente necessário à vida”, completa o cientista.
Para Felisa Wolfe-Simon, pesquisadora da Nasa e do Serviço de Geológico dos EUA que chefiou o trabalho, essa descoberta “ampliará consideravelmente nossa percepção sobre a vida”.
“No corpo humano, para cada célula, há cerca de dez micro-organismos. É um universo novo que nós precisamos explorar, porque também tem implicações sobre nós”, completou a cientista.
Em reportagem publicada na edição desta semana, a “Science” mostra vozes dissonantes em relação à descoberta. O texto lembra, por exemplo, que o arsênio é muito instável na água.
A equipe da Nasa não explicou como exatamente o arsênio substituiu o fósforo no DNA e em outras moléculas da bactéria estudada.
No artigo que detalha a pesquisa, que sairá em edição futura da “Science”, os cientistas são categóricos: “os mecanismos pelos quais essas moléculas operam continuam desconhecidos”.
Eles também não fazem ideia de como as bactérias se comportam na natureza.
Além disso, o crescimento da bactéria com o arsênio ficou prejudicado, em comparação com a mesma bactéria que tinha fósforo.
Mesmo assim, a astrobiologia- área que estuda a origem, a evolução e a distribuição da vida- está em festa.
“É um artigo que quebra paradigmas. Pode ser que tenhamos descoberto a primeira exceção à regra”, afirmou Douglas Galante.
Na Nasa, os pesquisadores já começaram a falar em financiamento para mais detalhes da pesquisa e, quem sabe, futuras aplicações.
James Elser, da Universidade do Arizona, que também participou do trabalho, falou até em usos envolvendo futuros biocombustíveis e manejo de lixo tóxico. (Sabine Righetti) (Giuliana Miranda) (Folha de SP, 3/12)