1 – Mistério no ar
2 – Computação gráfica ressuscita paleocrocodilo do interior de SP
3 – Raros e ameaçados
1 – Mistério no ar
Atividade normal do Sol diminui e faz a atmosfera da Terra encolher
A mais externa das camadas da atmosfera está encolhendo como resultado da baixa atividade solar, informaram nesta quinta-feira cientistas americanos. A redução de até 30% na densidade da parte superior da termosfera estaria relacionada a uma queda significativa nos níveis de radiação ultravioleta do Sol.
Soa assustador, mas, segundo especialistas, pode ser bom para os satélites. Significa que podem ficar em órbita por períodos maiores, uma vez que sofrerão menos o impacto de gases atmosféricos.
Por outro lado, claro, significa também que o lixo espacial em órbita da Terra pode acabar ficando por lá mais tempo.
Segundo o estudo publicado na “Geophysical Research Letters”, da União Geofísica Americana, a atividade solar esteve incomumente baixa de 2007 a 2009. Durante este período, a camada da atmosfera chamada de termosfera – que vai de 90 a 600 quilômetros sobre a Terra – resfriou e encolheu.
Formada de gás rarefeito, a termosfera é a camada mais externa da atmosfera. É nela que a radiação solar faz seu primeiro contato com a atmosfera do planeta. Durante os períodos de baixa atividade solar, é comum que ela se resfrie e se torne menos densa.
Mas a magnitude da mudança de densidade durante o último período de baixa atividade solar foi 30% maior do que o esperado. Isso reduziu ainda a densidade de gás nas altas camadas, onde muitos satélites orbitam, explicou Thomas Woods, da Universidade do Colorado, coautor do estudo.
E mostrou também que os ciclos solares podem variar bastante.
– Nosso trabalho demonstra que o ciclo solar não apenas varia na típica escala de 11 anos, mas também varia de um período de menor atividade solar a outro – afirmou o autor do estudo, Stanley Solomon, do Observatório de Altas Altitudes, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA. – Nem todos os períodos de mínima atividade solar são iguais.
Satélites e lixo mais tempo em órbita
A energia solar liberada tende a variar em ciclos de 11 anos, marcados por aumentos e reduções das manchas solares. De 2007 a 2009, foi registrado um período de mínima atividade solar especialmente longo, sem praticamente nenhuma mancha ou tempestade solar.
Durante este mesmo período de baixa atividade solar, a termosfera encolheu mais do que em qualquer outro dos últimos 43 anos de exploração espacial.
– Com a densidade da termosfera mais baixa, nossos satélites terão uma vida mais longa em órbita – afirmou Woods. – Esta é uma boa notícia para os satélites em operação hoje, mas é uma má notícia para os milhares de objetos fora de operação que podem ficar por mais tempo no espaço e colidir com os satélites.
Os cientistas avaliaram diversos fatores que poderiam estar causando a misteriosa retração atmosférica. Na experiência, simularam o impacto da radiação solar e também o papel do dióxido de carbono – um potente gás do efeito estufa – que, segundo estimativas anteriores, está reduzindo a densidade da camada externa da atmosfera de 2% a 5% por década. Os resultados finais indicam que, de fato, o CO2 não contribuiu com mais de 3%.
– Está claro que o recorde de baixa temperatura e densidade foi causado por níveis incomumente baixos de radiação solar – afirmou Solomon.
Segundo Woods, a pesquisa revela que o Sol pode estar passando por um período de baixa atividade similar aos registrados no início do século XIX e no começo do século XX. Isso poderia indicar que a atividade solar permanecerá baixa ainda por um tempo.
– Se for realmente parecido com alguns padrões no passado, esperamos um ciclo de baixa atividade solar pelos próximos 10 a 30 anos – afirmou.
Embora a redução da atividade solar tenha resultado no resfriamento da parte superior da termosfera, o mesmo não pode ser dito da superfície da Terra. O ano de 2009 foi o quinto mais quente já registrado desde o início do acompanhamento da temperatura do planeta e o recordista desde 2000. (O Globo, 27/8)
2 – Computação gráfica ressuscita paleocrocodilo do interior de SP
Fóssil de 90 milhões de anos passou por uma tomografia no Rio de Janeiro
O crocodilo Baurusuchus salgadoensis desapareceu da face da Terra lá se vão 90 milhões de anos, mas isso não é motivo para que o bicho deixe de dar seus passeios -ao menos virtualmente.
Usando tomografia e técnicas de computação gráfica, uma equipe da UFRJ simulou como a criatura teria caminhado no interior de São Paulo durante a Era dos Dinossauros. O principal resultado da iniciativa: andando, o bicho não tinha nada a ver com os jacarés de hoje.
“Era um bicho totalmente terrestre. Se você o jogasse na água, ele afundaria”, brinca Felipe Mesquita de Vasconcellos, paleontólogo da UFRJ. Ele coordenou o trabalho, do qual também participaram Ismar Carvalho, Tiago Marinho e Karol Duarte.
As patas do bicho, eretas, permitiam que ele corresse com relativa desenvoltura em terra firme. Na frente, ele tendia a caminhar apoiado na ponta dos dedos, estima o grupo, enquanto o peso da parte de trás do corpo se apoiava nas palmas da pata, tal como fazem os ursos.
O animal alcançava 3 m de comprimento e cerca de 400 kg. O trabalho só foi possível graças aos fósseis bastante completos da espécie, dos quais foram obtidas várias imagens detalhadas 3D com um tomógrafo.
Confira vídeo do paleocrocodilo em www.folha.com.br/ci789557 (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 27/8)
3 – Raros e ameaçados
Mapeamento identifica 819 espécies de peixes que ocorrem apenas em determinadas regiões do país e aponta que a maioria das áreas-chave para a conservação dos sistemas aquáticos estão desprotegidas
Informações acumuladas ao longo de décadas resultaram no que pode ser o mapeamento mais completo sobre a fauna de peixes brasileiros elaborado até hoje.
O trabalho – desenvolvido por seis cientistas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil) – identificou 819 espécies de peixes raros de água doce no país. Além disso, com base nas distribuições das espécies, foram mapeadas 540 bacias hidrográficas que podem ser consideradas áreas-chave para a conservação (ACB) dos ecossistemas aquáticos brasileiros.
O estudo, porém, trouxe um alerta: apenas 26% das 540 ACBs podem ser consideradas razoavelmente protegidas.
“Desse total, 40% das áreas se encontram em estado crítico, devido ao impacto direto de hidrelétricas ou por apresentarem uma combinação de baixa proteção formal (unidades de conservação) e altas taxas de perda de habitat”, enfatiza o documento.
Os especialistas também chegaram à conclusão de que as áreas críticas estão passando por um rápido processo de degradação ambiental. Segundo informações, elas abrigam cerca de 344 espécies endêmicas de peixes, ou seja, aquelas que só ocorrem naquela região.
O cientista da UFRJ Paulo Buckup conta que a pesquisa teve como ponto de partida a avaliação de todas as espécies de peixes de água doce ocorrentes no Brasil e conhecidos em 2007.
“A partir dessa lista, foram selecionadas as espécies cuja ocorrência é conhecida apenas em áreas restritas. Elas são importantes, pois são mais vulneráveis e, se desaparecerem daqueles locais, estarão extintas”, enfatiza. De acordo com ele, a partir da lista inicial, os pesquisadores passaram três anos debruçados sobre o tema, verificando dados e mapeando a ocorrência de espécies em mapas digitais.
“Descobrimos muitas áreas onde ocorrem espécies de distribuição restrita”, destaca Buckup. Segundo ele, as áreas mais críticas estão situadas no Sudeste do Brasil. O Pimelodella kronei, um bagre cego que vive nas águas das cavernas do Rio Iporanga, está ameaçado devido ao avanço das cidades.
Já a espécie Heptapterus multiradiatus, que habitava o curso superior do Rio Tietê, não é vista há quase um século. Em Altamira (PA), nas margens do Rio Xingu, os pesquisadores identificaram quatro áreas críticas que abrigam pelo menos nove espécies de peixes de distribuição restrita, como os das espécies Pituna xinguensis e Plesiolebias altamira.
Conservação
Na opinião do especialista da UFRJ, em primeiro lugar é necessário que sejam realizados estudos que descubram a melhor maneira de conservar as espécies ameaçadas. “Paralelamente, é necessário intensificar a fiscalização e o cumprimento da legislação ambiental. De nada adianta criar novas áreas de proteção se elas não estão efetivamente protegidas ou se as leis são alteradas à medida que a destruição avança”, destaca.
Conforme Buckup, as primeiras consequências da falta de proteção já começaram a aparecer, tanto é que algumas espécies descritas no século passado não existem mais. “Quase 6 mil espécies de peixes de água doce estão catalogadas no país. Se as mais vulneráveis não forem asseguradas, teremos um grande número de extinções, uma grande tragédia”, diz.
Alguns dos grandes rios brasileiros, segundo o cientista, também podem seguir o mesmo caminho de cursos d’água como o Tietê, que foi substituído por um sistema de lagos separados por barragens e apenas algumas espécies sobreviveram.
Thais Kasecker, coordenadora da CI-Brasil, recomenda que o conteúdo do estudo publicado seja levado em consideração durante o planejamento de qualquer obra de infraestrutura no Brasil, como no caso das hidrelétricas. “É preciso que os responsáveis pela obra conheçam a biodiversidade que será afetada”, defende.
Para o especialista Alexandre Marco da Silva, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a alteração vegetal desenfreada influencia diversos fatores. “Não somente na qualidade da água relacionada a parâmetros químicos e físicos, mas na geometria do leito do curso d’água devido ao processo de assoreamento, no regime hídrico, alteração da comunidade fitoplanctônica e zooplanctônica, dentre outras”, afirma. (Gisela Cabral) (Correio Braziliense, 30/8)