1 – Energia das plantas
2 – Os caçadores dos anfíbios perdidos
3 – Governo e Imazon divergem sobre desmate
1 – Energia das plantas
Congresso Pan-Americano sobre Plantas e Bioenergia reúne cientistas de diversos países para debater pesquisas sobre energia produzida a partir de vegetais
O Brasil deixa no campo até 45 toneladas de galhos e cascas de eucalipto por hectare plantado. Cerca de 5% dessa biomassa se refere a diferentes tipos de açúcares, como frutose, sacarose, glicose e galactose, que poderiam ser transformados em álcool por meio de processos de fermentação.
Com cerca de 4,5 milhões de hectares de eucaliptos plantados no Brasil, o ganho promovido por tal utilização seria muito significativo. Os dados fazem parte da pequisa de Carlos Labate, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), e foram apresentados no 2º Congresso Pan-Americano sobre Plantas e Bioenergia, iniciado domingo (8/8), em São Pedro (SP).
Além da casca de eucalipto, milho, cana-de-açúcar, algas, soja e muitas outras fontes de biocombustível estão no centro das discussões do evento que reúne pesquisadores em química, genética, ecologia e fisiologia, entre outras disciplinas.
“O objetivo do encontro é reunir especialistas em diversas áreas de pesquisa sobre energia a partir de plantas, a fim de construirmos um quadro amplo das diversas questões envolvidas”, disse Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biologia da Universidade de São Paulo e coordenador do evento, à Agência Fapesp.
“Conseguimos reunir, no simpósio, alguns dos principais pesquisadores no mundo nessas áreas”, disse Buckeridge, que é membro da coordenação do programa BIOEN-Fapesp e diretor científico do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas (SP).
A apresentação de abertura foi feita pelo fisiologista Paul Moore, do Hawaii Agricultural Research Center (Estados Unidos), que discorreu sobre a importância e as perspectivas da cultura da cana-de-açúcar para a produção de bioenergia de maneira sustentável ao ambiente.
Moore considera a cana-de-açúcar estratégica para os Estados Unidos conseguirem cumprir as metas assumidas em 2007 de produzir 36 bilhões de galões de combustível a partir de fontes renováveis até o ano de 2022. “Para atingir esse número, a produção [dos biocombustíveis] terá que acelerar e bem rápido”, alertou.
Como solução, o pesquisador propõe o desenvolvimento de novas variedades da planta a partir de cruzamentos entre diferentes famílias. O objetivo seria transformar por hibridização a atual cana-de-açúcar em “cana-de-energia”, um cultivar que teria menores teores de água e de açúcar em troca de fibras mais longas e em maior quantidade.
“As fibras são fundamentais para a chamada segunda geração do etanol, obtido a partir das fibras de celulose. A quantidade de açúcar não é importante nesse caso”, afirmou.
O maior desafio para a produção norte-americana é desenvolver uma espécie de cana-de-açúcar resistente ao frio. A mais cultivada no mundo, a Saccharum officinarum, é tropical e não suporta baixas temperaturas, por isso os países sul-americanos e os africanos são os mais adequados para produzi-la. Nos Estados Unidos, somente o extremo sul do país, que compreende uma pequena parte dos estados da Flórida e do Texas, é capaz de manter plantações.
Moore sugere cruzamentos entre a Saccharum officinarum com cultivares do gênero Miscanthus, uma gramínea que resiste a invernos rigorosos e é encontrada até na mais fria região da Columbia Britânica, no Canadá.
“A espécie híbrida poderia avançar para o norte ocupando primeiro o meio dos Estados Unidos, chegando em uma segunda etapa até o norte do país, que é mais frio”, disse.
O cientista ressalvou os problemas inerentes de novas espécies. “Elas terão comportamento imprevisível e não conhecemos seus efeitos sobre os insetos e sobre as doenças dos vegetais. Não podemos aumentar a produção de biocombustível se ela for ambientalmente insustentável”, disse.
Produção mais eficiente
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), falou no congresso sobre a história do etanol brasileiro desde a introdução da cana-de-açúcar no país, no século 16, passando pelo programa Proálcool, na década de 1970, em meio à crise do petróleo na época.
“O Brasil começou a utilizar o etanol por necessidade. O país, que gastava, em 1974, US$ 750 milhões em importações de petróleo, passou a pagar mais de US$ 4 bilhões no ano seguinte”, disse.
Brito Cruz destacou que o Estado de São Paulo responde por dois terços da produção nacional atual do combustível, daí a importância de iniciativas como o Programa BIOEN-Fapesp.
Entre os desafios para a pesquisa brasileira nesse setor, Brito Cruz ressaltou o aumento da eficiência dos processos para produção de biocombustível, com a utilização de menos água, menos energia gasta e sem precisar aumentar a área cultivada.
A grande diversidade genética do milho foi tratada por Steve Moose, da Universidade de Illinois (Estados Unidos). Os estudos do cientista indicaram que o milho tem grande capacidade de maximizar a aplicação de nitrogênio, apresentando alta produção em troca de menores doses do macronutriente.
Segundo Mosse, o milho é um bom produtor de açúcares que podem ser convertidos em etanol. Além disso, a planta apresenta grandes oportunidades de melhoria genética e conta com práticas agrícolas bem estabelecidas e conhecidas dos produtores no país, o que facilitaria a produção e a introdução de novas espécies.
O professor Paulo Sergio Graziano Magalhães, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apresentou no encontro o livro Bioetanol de Cana-de-açúcar.
A obra, que será lançada em breve, reúne trabalhos de 139 especialistas, que vão desde desenvolvimento genético e técnicas agrícolas, passando pelas relações de trabalho no campo até políticas públicas envolvidas no desenvolvimento do setor.
Sob a organização geral de Luiz Augusto Barbosa Cortez, professor da Unicamp e coordenador adjunto de Programas Especiais da Fapesp, o livro é dividido em 76 capítulos. Com 992 páginas, estará disponível em português e inglês.
Mais informações sobre o livro Bioetanol de Cana-de-açúcar: www.blucher.com.br/livro.asp?Codlivro=05319 (Fabio Reynol) (Agência Fapesp, 10/8)
2 – Os caçadores dos anfíbios perdidos
Pesquisadores fazem busca global por 100 espécies consideradas potencialmente extintas
Cem espécies “perdidas” de anfíbios, potencialmente extintas, estão mobilizando cientistas de cinco continentes. A Conservação Internacional e a União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) coordenam a busca, em todo o mundo, por estes animais não avistados há muitos anos, que poderiam ser vítimas de doenças e da perda de habitat. Duas das buscas serão no Brasil.
– Duas mil espécies de anfíbios, o que equivale a um terço das existentes no mundo, estão em perigo de extinção – lamenta Claude Gascon, co-presidente do Grupo de Especialistas em Anfíbios da IUCN. – A busca por estes animais é emblemática. O que aconteceu com eles pode, em alguns anos, repetir-se com répteis, mamíferos ou aves.
Entre as 100 espécies procuradas, há uma salamandra quirguiz desaparecida desde 1909. Um sapo dourado costarriquenho passou de abundante a extinto em pouco mais de um ano. A montanha que lhe servia de habitat foi tomada por um fungo patogênico que causa quitridiomicose, doença responsável pela dizimação dos anfíbios.
Duas expedições já estão programadas no Brasil, ambas em setembro. A rãzinha-das-pedras, vista pela última vez em 1982, era comum em localidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Outra espécie, sem nome popular ou registro há 50 anos, será procurada em Minas Gerais, São Paulo e no Rio.
– São espécies de Mata Atlântica, que se reproduzem em riachos de água corrente e em pés de montanha, em habitat florestal – descreve Gascon. – Gostaríamos de fazer as buscas por mais tempo, mas certamente o nosso esforço dará origem a outras iniciativas.
Além de controlar as populações de insetos, que destroem plantações e são vetores de doenças, os anfíbios contribuem para manter os sistemas aquáticos saudáveis. Sua pele tem componentes químicos usados na produção de medicamentos.
Mas muitas espécies não têm se adaptado a mudanças climáticas, como a elevação da temperatura em regiões de maior altitude. (O Globo, 10/8)
3 – Governo e Imazon divergem sobre desmate
Inpe aponta queda de 49% entre agosto de 2009 e junho deste ano; Imazon vê alta de 8% no mesmo período
O desmatamento na Amazônia em 2010 deve ser, pelo segundo ano consecutivo, um dos menores da história, indicam dados de monitoramento por satélite. A questão é se a cifra será a menor ou a segunda menor. Depende de para quem se pergunta.
O governo federal prevê uma queda recorde, com base em dados preliminares do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A ONG Imazon fala em um aumento discreto em relação a 2009.
No ano passado, a taxa foi a mais baixa da história: 7.400 km2, o equivalente a “apenas” cinco vezes a área da cidade de São Paulo.
Na segunda-feira (9/8), os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia) divulgaram dados que indicam uma queda de 49% entre agosto de 2009 e junho deste ano.
Segundo o sistema Deter, que detecta o desmate com maior velocidade, mas menor precisão, foram 1.808 km2 desmatados nesse período, contra 3.537 km2 nos 11 meses anteriores.
Rezende chegou a arriscar que o Prodes, sistema que dá a taxa oficial do ano, mostrará uma devastação “em torno de 5.500 km2”.
Já o SAD, sistema desenvolvido pelo Imazon e que usa o mesmo tipo de imagem de satélite que o Deter, aponta um aumento de 8% no acumulado agosto-junho.
Quente e seco
Adalberto Veríssimo, do Imazon, aposta que o número final ficará em torno de 8.000 km2. “É um ano muito quente e muito seco na Amazônia, além de ser ano de eleição”, diz. “Vamos torcer para 5.000 km2, mas não bate com nada do que estamos vendo aqui”, continua.
Se a previsão do governo se confirmar, será a primeira vez na história que o desmatamento amazônico cai em um ano de eleição.
Um dos fatores que podem explicar a divergência grande entre o SAD e o Deter é a mudança no perfil do desmate amazônico.
Café pequeno
Em vez de grandes derrubadas, concentradas no sul, sudeste e leste (o chamado “arco do desmatamento”), o que se vê hoje são derrubadas pequenas.
Elas estão concentradas sobretudo no eixo da BR-163 e na Terra do Meio, no Pará e no sul do Amazonas (único estado que teve aumento no desmate no período).
Segundo Gilberto Câmara, diretor do Inpe, o número de desmatamentos menores de 50 hectares (limite de detecção do Deter) subiu de 30% do total na Amazônia em 2002 para 75% em 2009.
“O Inpe reafirma que não dá para afirmar que o desmatamento caiu 50% por causa do problema dos pequenos desmatamentos”, declarou. (Cláudio Ângelo) (Folha de SP, 10/8)
Extração ilegal de madeira cai 75% no Pará
A retirada não autorizada de madeira no Pará -maior produtor madeireiro nacional- diminuiu 75% (278,2 mil hectares) entre agosto de 2008 e julho de 2009, em comparação com o ano anterior.
Apesar da redução, a maior parte da madeira ainda tem origem ilegal: 94,4 mil hectares, o equivalente a 73% da extração.
O resultado faz parte do boletim Transparência Manejo Florestal do Pará, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
O coordenador do estudo, André Monteiro, disse que a redução já era esperada, devido ao aumento da fiscalização e à preocupação das empresas.
“As madeireiras estão mais preocupadas com as regras da atividade. Como não havia monitoramento, elas agiam livremente”, afirmou o coordenador.
Segundo o relatório, as derrubadas ilegais aconteceram em todas as regiões, mas foram mais concentradas em áreas próximas a estradas, devido à facilidade de escoamento.
Para chegar ao raio-X da extração de madeira, o Imazon usou seu próprio programa de análise de imagens de satélite, cruzando os dados com os de controle florestal da Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará).
O excesso de nuvens em algumas imagens impediu que todo o Estado fosse avaliado. Alguma áreas consideradas críticas no ano passado escaparam. Assim, o Imazon diz que os números da extração podem estar subestimados.
O secretário estadual de Meio Ambiente, Aníbal Picanço, disse que ainda não examinou o boletim e preferiu não se manifestar. (Giuliana Miranda) (Folha de SP, 10/8)