1 – Óleo muda comportamento de fauna
2 – Quebras silenciosas
3 – Ameaça às baleias
1 – Óleo muda comportamento de fauna
Golfinhos e tubarões aparecem em águas rasas da Flórida, fugindo da poluição no Golfo do México; presidente da BP depõe no Congresso
Golfinhos e tubarões começaram a aparecer perto das praias da Flórida, em águas rasas onde normalmente não se arriscam. Milhares de arraias, caranguejos e peixes pequenos estão se aglomerando em um pier do Alabama, enquanto pássaros cobertos de petróleo estão entrando em pântanos e desaparecendo.
Oceanógrafos e biólogos detectaram vários fenômenos decorrentes do vazamento de óleo do poço da empresa BP. Peixes e pássaros fogem da mancha de petróleo que se espalha pelo Golfo do México e se concentra em águas limpas perto da costa. Na quinta-feira (17/6), foi encontrada morta uma baleia da espécie cachalote, mas ainda não foi confirmado se ela morreu por causa do petróleo.
Enquanto isso, em Washington, o presidente da BP, Tony Hayward, foi massacrado durante mais de quatro horas em audiência no Congresso. Hayward foi acusado de adotar “atalhos” para cortar custos, que levaram ao acidente na plataforma Deepwater Horizon, que explodiu no dia 20 de abril, dando origem ao vazamento.
Apenas um congressista não o atacou – o republicano Joe Barton, do Texas, pediu “desculpas” à BP, dizendo que o governo americano havia “achacado” a empresa para conseguir o fundo de US$ 20 bilhões de indenização às pessoas afetadas pelo vazamento. Horas depois, ele se retratou, diante das críticas de republicanos e democratas.
Cerca de 5,5 milhões a 9,5 milhões de litros de petróleo por dia vazam do poço, a 80 quilômetros da costa da Louisiana, nas águas do golfo. Pressionada pelo governo, a BP concordou em criar um fundo de US$ 20 bilhões para indenizar as pessoas e empresas afetadas pelo vazamento.
No Congresso, Hayward pediu desculpas pelos danos causados, mas não respondeu à maioria das perguntas dos legisladores, limitando-se a evasivos “eu não estava envolvido nessa decisão”. Os deputados se irritaram.
O presidente da BP disse estar “devastado pelo acidente”, mas ele disse que não sabia das irregularidades na plataforma até ela explodir. “Com todo o respeito, nós perfuramos centenas de poços por ano ao redor do mundo”, disse Hayward ao deputado Michael Burgess. “Eu sei, e é isso que está me assustando”, respondeu o legislador.
“A BP errou. Vocês tomaram atalhos para economizar tempo e dinheiro”, acusou o deputado Bart Stupak, referindo-se à informação de que a BP escolheu um design de poço que oferecia mais riscos porque era US$ 7 milhões mais barato.
A várias perguntas, Hayward respondia que não tinha feito parte do processo decisório ou que não poderia saber de detalhes. “Não sou engenheiro de perfuração”, disse em um momento. “Não sou oceanógrafo”, em outro. A série de negativas irritaram profundamente os legisladores. “Você está insultando nossa inteligência”, disse o legislador Eliot Engel.
No início de seu depoimento, Hayward foi interrompido por uma manifestante com as mãos manchadas de preto, uma pescadora de camarões da região do golfo. “Você tem de ir para a cadeia”, ela gritou. A manifestante foi imediatamente retirada do recinto pela polícia. (Patrícia Campos Mello)
Petróleo vaza há 50 anos na Nigéria
Grandes vazamentos de petróleo não são novidade na Nigéria. O Delta do Níger, onde a riqueza em baixo da terra é desproporcional à pobreza na superfície, é submetido, há 50 anos, ao equivalente a um derramamento do navio Exxon Valdez (de 41 milhões de litros, ocorrido no Alasca, em 1989) ao ano, segundo estimativas. O petróleo vaza quase todas as semanas, e alguns pântanos há muito tempo não têm mais vida.
É provável que nenhum outro lugar da Terra tenha sido tão castigado pelo petróleo, e os habitantes estão impressionados com a atenção constante que é dada ao vazamento do Golfo do México. Há poucas semanas, um duto da Royal Dutch Shell que havia estourado nos mangues foi fechado após vazar por dois meses: agora, não há um ser vivo em um mundo preto e marrom outrora povoado por camarões e caranguejos.
Não muito longe dali, há petróleo no Riacho Gio, de um vazamento de abril. Em Akwa Ibom, o vazamento de um duto da Exxon Mobil durou semanas.
Os vazamentos são causados por dutos enferrujados, nunca fiscalizados em razão de regulamentação ineficiente ou criminosa e afetados por manutenção deficiente e sabotagens. Apesar da maré negra, os protestos não são frequentes – no mês passado, os soldados que guardam um local da Exxon Mobil espancaram mulheres que realizavam uma manifestação. “Não temos a imprensa internacional para cobrir o que acontece aqui, então ninguém se preocupa”, lamenta Emman Mbong, de Eket.
As crianças nadam no estuário poluído, os pescadores levam seus barcos cada vez mais longe e as mulheres do mercado andam com esforço entre os riachos de petróleo. “O petróleo da Shell está no meu corpo”, afirmou Hannah Baage.
O fato de o desastre do golfo paralisar um país e um presidente que tanto admiram é motivo de espanto para as pessoas daqui. “O presidente Obama está preocupado com aquele vazamento”, comentou Claytus Kanyie, funcionário da prefeitura. “Ninguém está preocupado com este aqui.” Ao longe, saía fumaça de um lugar onde, segundo Kanyie, funciona uma refinaria ilegal operada por ladrões de petróleo e protegida, ao que se fala, pelas forças de segurança nigerianas. Antes dos vazamentos, disse Kanyie, as mulheres de Bodo ganhavam a vida catando moluscos e mariscos nos pântanos.
Nada menos que 2 bilhões de litros vazaram no Delta do Níger nos últimos 50 anos ou cerca de 41 milhões ao ano, concluíram especialistas em relatório de 2006. Portanto, as pessoas daqui olham com compaixão a situação no golfo. “Sentimos muito por eles, mas é o que acontece aqui há 50 anos”, disse Mbong.
Embora grande parte da área tenha sido destruída, restam muitos espaços imensos de verde. Os ambientalistas afirmam que, com um programa de recuperação intensiva, o delta poderia voltar a ser o que era.
A Nigéria produziu mais de 2 milhões de barris de petróleo ao dia, no ano passado, e em mais de 50 anos milhares de quilômetros de dutos foram instalados nos pântanos. A Shell, principal empresa exploradora, opera em milhares de quilômetros quadrados, segundo a Anistia Internacional. Colunas envelhecidas de válvulas nos poços de petróleo se destacam entre palmeiras. Às vezes o petróleo jorra delas, mesmo que os poços estejam desativados.
Caroline Wittgen, porta-voz da Shell em Lagos, disse: “Não discutimos os vazamentos”, mas argumentou que a “vasta maioria” é provocada por sabotagem ou roubo, e apenas 2% por falhas dos equipamentos ou erro humano. (Adam Nossiter, do New York Times) (O Estado de SP, 18/6)
2 – Quebras silenciosas
Rompimento nas placas na crosta terrestre nem sempre resulta em grandes erupções vulcânicas, conclui estudo publicado na “Nature”
Quando placas na crostra terrestre se rompem, isso nem sempre implica a ocorrência de grandes erupções vulcânicas. A conclusão é de um estudo publicado nesta quinta-feira (17/6) na revista “Nature”.
A pesquisa explica por que algumas partes do mundo experimentaram erupções de grande porte há milhões de anos, enquanto outras não.
A crosta terrestre é dividida em placas que estão em constante movimento – em períodos de tempo de milhões de anos. As placas ocasionalmente colidem umas com as outras ou se fundem. Também podem quebrar, formando novas.
Quando uma placa tectônica se quebra, uma coluna de rocha derretida pode ser ejetada do interior terrestre, causando uma forte atividade vulcânica na superfície.
Quando a crosta se abriu, promovendo a deriva continental que deu origem às atuais América do Norte e Europa, há cerca de 54 milhões de anos, o processo provocou uma atividade vulcânica intensa no espaço aberto.
Os cientistas estimavam que tal atividade ocorresse apenas nos espaços formados quando os continentes se separam, mas o novo estudo indica que houve pouca atividade vulcânica quando o atual subcontinente indiano se separou do que hoje se conhece por Seicheles, há 63 milhões de anos.
De acordo com pesquisas anteriores, a temperatura do manto abaixo da placa seria a chave para determinar o nível de atividade vulcânica no caso de rompimento. Mas o novo estudo demonstrou que a história anterior da fenda também influencia fortemente se haverá ou não atividade vulcânica.
No caso do rompimento que separou a América do Norte da Europa, uma atividade de grande dimensão ocorreu pela extensão da fenda porque um evento geológico anterior havia deixado a placa mais fina, destaca o novo estudo.
Isso teria fornecido um ponto focal no qual o manto sob a placa se derreteu rapidamente, formando magma que foi ejetado facilmente pela placa fina até a superfície, em grandes explosões.
Em comparação, quando a Índia se separou das Seicheles, pouca atividade vulcânica se fez presente, porque a região havia experimentado um forte vulcanismo em uma área próxima 6 milhões de anos antes. Isso teria esfriado o manto e reduzido o suprimento de magma, deixando muito pouco para quando ocorreu a quebra da placa.
Os pesquisadores realizaram análises nas profundezas do Oceano Índico de modo a determinar o tipo de rochas abaixo do solo oceânico. Descobriram apenas pequenas quantidades de rochas basálticas, que indicam atividade vulcânica anterior.
O grupo também usou novos modelos computacionais, que eles mesmo desenvolveram, para simular o que teria ocorrido no solo oceânico no processo que levou à separação da Índia e das Seicheles.
“Extinção em massa, a formação de novos continentes e mudanças climáticas globais são alguns dos efeitos que podem ocorrer quando as placas se quebram e causam grandes erupções. Nosso estudo ajudará a enxergar com mais clareza os fatores por trás dos eventos que contribuíram para moldar a Terra durante milhões de anos”, disse Jenny Collier, do Departamento de Ciência da Terra e Engenharia no Imperial College London, um dos autores do estudo.
Os pesquisadores pretendem explorar as profundezas do Atlântico, de modo a determinar a antiga atividade vulcânica na região que se abriu quando a África se separou da América do Sul.
O artigo “The importance of rift history for volcanic margin formation” (doi:10.1038/nature09063), de John Armitage e outros, pode ser lido por assinantes da “Nature” em www.nature.com (Agência Fapesp, 17/6)
3 – Ameaça às baleias
Encontro na próxima semana discute fim da moratória de 24 anos à caça do animal
As baleias podem estar mais ameaçadas do que nunca. A próxima reunião anual da Comissão Baleeira Internacional (CBI), que começa semana que vem no Marrocos, tem em pauta o fim da moratória de 24 anos à pesca do cetáceo. A proposta a ser debatida – e que conta com o apoio de Japão, Islândia e Noruega – acaba com o programa científico, mas estabelece uma cota total de pesca de 1.800 baleias por ano, incluindo duas espécies ameaçadas de extinção.
Ambientalistas temem que, se o plano for aprovado, a caça indiscriminada será retomada.
Apesar de todas as críticas internacionais, o Japão está fazendo campanha para derrubar a moratória.
E, segundo o jornal “Sunday Times”, o país está travando um jogo sujo nos bastidores para conquistar os votos necessários: estaria comprando os delegados de países pobres e pequenos para conseguir derrubar a proibição e retomar a pesca comercial dos mamíferos.
Repórteres do jornal britânico se fizeram passar por representantes de um fictício ambientalista milionário e ofereceram dinheiro para que representantes de países como São Cristóvão e Nevis, Grenada, Ilhas Marshall, Kiribati, Guiné e Costa do Marfim votassem contra a proposta defendida pelo Japão.
Durante as negociações, eles gravaram declarações de funcionários públicos revelando o “apoio financeiro” que teriam recebido do governo japonês.
O delegado de Guiné revelou aos jornalistas disfarçados que seu país recebe 7.900 libras anuais do Japão para fazer parte da CBI e a comitiva oficial tem todas as despesas pagas nas viagens, além de uma diária de US$ 300 para cada um. A diária de um ministro seria superior a US$ 1 mil.
Até prostitutas seriam oferecidas como suborno
O Ministério da Relações Exteriores do Japão negou as denúncias, afirmando que o país não cobre nenhuma despesa de membros da CBI, mas outros delegados confirmaram a ajuda japonesa.
Em conversa com o “Sunday Times”, o delegado da Tanzânia, Geoffrey Nanyaro, insinuou que, durante visitas pagas a Tóquio, até prostitutas são oferecidas. A reportagem não surpreendeu ambientalistas, que já haviam denunciado práticas ilegais cometidas pelo governo japonês em sua luta para manter a caça às baleias.
– É mais um exemplo de corrupção envolvendo a indústria baleeira, financiada com o dinheiro do contribuinte – disse ao GLOBO Junichi Sato, diretor do Greenpeace no Japão, que denunciou um esquema de contrabando de carne de baleia permitido pelo governo japonês.
– O jornal chamou a atenção para algo que o Greenpeace já sabe há anos: o governo do Japão é capaz de ir muito longe para manter o seu chamado programa científico de caça às baleias, escondendo o desperdício e a desonestidade para mantê-lo.
Sato e outro membro do Greenpeace, Toru Suzuki, estão sendo julgados sob a acusação de roubo e invasão de propriedade e podem pegar até dez anos de prisão. Seu caso teve repercussão internacional e a condução do julgamento foi criticada por grupos de direitos humanos, mas a imprensa japonesa não dá muito destaque ao assunto.
País nunca respeitou proibição, segundo Greenpeace
O Japão nunca respeitou a moratória da pesca e afirma que caça baleias somente para fins científicos, mas Sato e Suzuki mostraram, em sua investigação, como a carne é vendida pela própria tripulação dos baleeiros.
Desde que a moratória internacional foi aprovada, em 1986, foram mortas 35 mil baleias. Por isso, os ambientalistas temem que a liberação oficial de uma cota anual seja o sinal verde para a caça indiscriminada.
A Austrália é o maior opositor do Japão na CBI e seu ministro do Meio Ambiente, Peter Garrett, lidera uma campanha para impedir a retomada da pesca comercial através do estabelecimento de cotas anuais.
– No momento em que os líderes se preparam para a próxima reunião da CBI, a denúncia do “Times” é mais uma razão para que governos não aceitem as políticas japonesas e trabalhem para encontrar uma solução que, finalmente, proteja as baleias e não a indústria – disse Sato.
O Brasil tem se posicionado a favor da manutenção da moratória à caça do animal e deve manter a posição na próxima reunião. (Claudia Sarmento) (O Globo, 17/6)