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Informativo 272 – Pantanal; biodiesel do mar e do deserto e rebanho de cavalos-marinhos

1 – Pantanal some mais depressa que a Amazônia

2 – Biodiesel do mar e do deserto

3 – Rebanho de cavalos-marinhos

 

1 – Pantanal some mais depressa que a Amazônia, indica satélite

 

Entre 2002 e 2008, o Pantanal perdeu 2,82% de sua área, enquanto o desmatamento na Amazônia atingiu 2,54% do terreno total
O desmatamento no Pantanal tem ritmo mais intenso do que na Amazônia. O dado, divulgado na segunda-feira (7/6), vem do primeiro monitoramento via satélite do bioma, que abrange os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Entre 2002 e 2008, o Pantanal perdeu 2,82% de sua área, enquanto o desmatamento na Amazônia atingiu 2,54% do terreno total.
O estudo divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente revelou que o desmatamento no Pantanal atingiu 4.279 km2, o equivalente a quase três vezes a área da cidade de São Paulo.
“É um bioma que está sofrendo perda de vegetação. É preocupante”, disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. 
A ministra afirmou que um dos fatores que podem explicar esses índices é o fato de o Pantanal não contar com unidades de conservação como a Amazônia. 
Estudos têm mostrado que a criação de áreas protegidas foram um dos principais fatores por trás da redução da devastação da Amazônia, observada nos últimos anos. 
O Pantanal está quase todo dividido em terras privadas. Apesar de a principal atividade econômica da região, a pecuária, conviver bem com a mata nativa, tem havido corte de floresta nas zonas que não alagam para a ampliação de pastagens. 
A ministra apontou outro possível fator de pressão sobre o bioma -o crescimento de atividades como a produção de carvão vegetal para alimentar siderúrgicas em Mato Grosso do Sul. 
“Ainda não foram identificadas todas as causas que explicam a perda de vegetação no bioma. O ministério vai aprofundar os atuais estudos e marcar encontros com os governos estaduais”, informou a ministra.
Até o fim do ano, estão planejadas dez operações contra o desmatamento para o bioma Pantanal. 
Amazônia 
O desmate na Amazônia cresceu 40% em abril deste ano em relação ao mesmo mês de 2009, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (7/6). 
Segundo o ministério, o aumento é apenas aparente: estaria associado à presença menor de nuvens neste ano, o que permite a detecção de áreas antes encobertas. 
“Não detectamos um novo padrão de desmatamento na Amazônia nessas áreas sob avaliação”, afirmou Teixeira. “Vamos manter o compromisso de experimentar níveis cada vez menores neste ano, abaixo de 7.400 km2, que foi o índice de desmatamento do ano passado”, completou.
O número de operações para coibir o desmatamento deverá aumentar a partir deste mês, quando há menos chuvas na região. (Larissa Guimarães) (Folha de SP, 8/6)

 

2 – Biodiesel do mar e do deserto

Índia desenvolve biocombustível a partir de algas marinhas e do pinhão-manso plantado em regiões áridas
A Índia está investindo em pesquisas com algas marinhas e pinhão-manso (Jatropha curcas) a fim de transformá-los em matérias-primas viáveis para obtenção de biodiesel, segundo destacou Pushpito Ghosh, pesquisador da Central Salt & Marine Chemicals Research Institute.
“Temos 1,1 bilhão de habitantes e não conseguimos suprir a demanda interna de açúcar. Ou seja, diferentemente do Brasil não há como produzir, na Índia, etanol a partir de cana-de-açúcar”, disse Ghosh durante o workshop “Scientific Issues on Biofuels”, realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em maio.
Outro obstáculo é a escassez de terras cultiváveis, a despeito do tamanho do país. Por conta disso, uma das principais apostas dos pesquisadores indianos para a produção de combustíveis alternativos está na água.
Ao apresentar taxa de crescimento de 5% a 9% ao dia, as algas marinhas permitem colheitas a cada 45 dias. “Tal produção não pode ser comparada a nenhuma outra cultura convencional”, disse.
Segundo Ghosh, a energia a partir das algas reduziria a pressão por terras, eliminaria o uso de pesticidas e não causaria demanda por água para irrigação como as plantações.
Em contrapartida, o especialista admite que ainda são necessários estudos para precisar os impactos ambientais que a cultura no mar pode causar ao meio ambiente. Entre as críticas recebidas pelo projeto indiano está a de que o cultivo de algas poderia impactar os sistemas de corais.
Além de ser fonte de biocombustível, as algas podem aumentar a produtividade de outras plantações, especialmente a da cana-de-açúcar, segundo uma experiência feita no país com grânulos de algas aplicados como biofertilizantes.
“Esses grânulos são considerados um fertilizante valioso, de grande impacto na produção”, afirmou Ghosh, comentando que o produto costumava ser utilizado apenas como espessante de alimentos.
Aproveitamento total. 
Outra fonte promissora de energia para a Índia é o pinhão-manso, também presente no Brasil. Para produzi-lo, os indianos utilizam regiões áridas e que não sejam utilizadas pela agricultura.
Um dos objetivos da pesquisa foi o aproveitamento integral do fruto. A casca do pinhão, que antes era descartada, passou a ser transformada em briquetes que são distribuídos à população em substituição à lenha. 
Também as sementes que sobravam foram transformadas em torta fertilizante. Por fim, um subproduto da produção do bioetanol, a glicerina crua, recebeu um destino mais complexo: foi transformada em um polímero biodegradável. 
A avaliação do biodiesel feito a partir do pinhão-manso apontou alto rendimento do combustível, aproximando-se do desempenho do diesel de origem fóssil, segundo Ghosh. 
O pesquisador conta que, mesmo com um valor calórico 9% inferior ao seu similar oriundo do petróleo, o diesel do pinhão-manso apresentou eficiência e potência muito parecidas. Ghosh explica que isso se deve ao fato de o biodiesel desenvolvido apresentar uma conversão de energia mais eficiente. 
O diesel de pinhão-manso foi testado em veículos diesel convencionais, sem que fosse preciso nenhuma adaptação nos motores. Um dos maiores desafios na pesquisa do uso do pinhão-manso como biocombustível é aumentar a produtividade do vegetal. Segundo Ghosh, o caminho encontrado pela Índia para crescer na área de energia renovável é eliminar desperdícios tanto de terras como em biomassa produzida. (Fabio Reynol, Agência Fapesp, 8/6)

 

3 – Rebanho de cavalos-marinhos

Trabalho conjunto de pesquisadores do Espírito Santo e de empresa de exportação de peixes ornamentais resulta na primeira fazenda desses animais no país
Apoluição, a destruição do habitat natural e a pesca indiscriminada estão provocando o desaparecimento gradativo de cavalos-marinhos em todo o planeta. Segundo dados coletados pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), pelo menos oito espécies estão ameaçadas de extinção.
No total, foram contabilizadas 34 espécies em todo o mundo, sendo que apenas duas podem ser encontradas no Brasil: a Hippocampus reidi e a Hippocampus erectus. Visando à conservação desses animais, uma pesquisa desenvolvida em parceria entre a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e uma empresa de exportação de peixes ornamentais marinhos deu origem à primeira fazenda de cavalos-marinhos em cativeiro do país.
Os cavalos-marinhos são encontrados em fundos aquáticos, arenosos ou lodosos, em profundidades que podem variar de 8m a 45m. As tonalidades características desses animais são as mais variadas e chamam a atenção de pesquisadores e leigos pela beleza estonteante.
A espécie Hippocampus reidi, objeto de estudo dos pesquisadores da Ufes, pode ser encontrada em várias cores, mas as mais comuns são amarelo, vermelho, laranja e preto. De acordo com o mestrando Maik da Hora, coordenador do estudo na universidade, esses cavalos-marinhos podem chegar a medir 24cm. “O cardápio preferido desses indivíduos é composto basicamente de microcrustáceos. Em cativeiro, as artêmias também costumam ser muito apreciadas”, destaca.
Atualmente, o animal – encontrado em toda a costa brasileira, principalmente em mangues e estuários – está catalogado na categoria “vulnerável”, segundo critérios da UICN. De acordo com Hora, o perigo é real e precisa ser monitorado. “Os principais problemas que ameaçam a espécie são a degradação ambiental, a poluição dos estuários, o desmatamento de manguezais e as dragagens. Qualquer ação antrópica (provocada pelo homem) é considerada uma grande ameaça”, destaca.
Para chegar à primeira fazenda de cavalos-marinhos foram necessários quatro anos de pesquisa. No conjunto de aquários, os pesquisadores acompanham todo o processo de vida dos animais até eles chegarem à fase adulta. “A primeira etapa ocorre quando os cavalos-marinhos recém-nascidos vêm ao mundo. Eles são separados dos demais em um aquário específico. Todo o processo, que vai do nascimento dos animais até que eles atinjam o tamanho mínimo de exportação, dura cerca de 100 dias”, explica Hora.
Segundo o dono da empresa parceira na iniciativa, Juan Pablo de Marco, essa é a primeira fazenda da espécie H. reidi de que se tem notícia no mundo. Já o trabalho de Maik da Hora é o primeiro publicado internacionalmente sobre a reprodução da espécie. De Marco explica que já fazia a criação de cavalos-marinhos anteriormente. “Porém precisávamos provar aos órgãos ambientais que fazíamos o processo corretamente. A universidade acompanhou e descreveu todo o mecanismo”, enfatiza.
O empresário diz que o projeto acabou despertando o interesse em outros países. “Até os chineses ficaram interessados em grandes quantidades desses animais para uso na medicina. Investimos muito ao longo de oito anos e não tivemos apoio financeiro nenhum. Agora, buscamos parcerias. Os animais exportados estão sendo vendidos por cerca de US$ 12”, explica.
Sobrevivência
A ameaça de extinção de algumas espécies de cavalos-marinhos tem despertado a atenção de especialistas no mundo todo. O biólogo marinho David Harasti, da Universidade de Newcastle, na Austrália, é autor de um estudo que criou em cativeiro o cavalo-marinho-de-barriga e o cavalo-marinho-branco. Os animais foram soltos na baía de Sydney e, caso a iniciativa atinja os resultados pretendidos, o programa poderá ser usado em outros países.
As duas espécies não estão ameaçadas, mas o estudo ajudará a verificar se é possível criar animais para, mais tarde, inseri-los em seu habitat natural. “O grande desafio é fazer com que os animais que nasceram nos cativeiros sobrevivam no ambiente natural”, afirma Harasti, em entrevista por e-mail.
Na lista da UICN, composta por oito espécies ameaçadas de extinção, o cavalo-marinho-do-cabo, que vive nos mares da África do Sul, é o que corre maior risco de desaparecimento. Segundo o australiano, uma das características mais fascinantes dos cavalos-marinhos é o fato de os machos darem à luz aos filhotes.
“Eles são os únicos animais em que isso ocorre. Eles podem trazer ao mundo vários filhotes de uma única vez”, destaca. De acordo com Hora, o macho possui uma bolsa no ventre, chamada de marsúpio. “A fêmea deposita os ovócitos nessa bolsa, onde ocorre a fecundação”, explica. (Gisela Cabral) (Correio Braziliense, 8/6)