1 – Cientistas brasileiros redescobrem peixe raro
2 – Descritas antes na internet
1 – Cientistas brasileiros redescobrem peixe raro
Stygichthys typhlops foi reencontrado
Ele é cego, mede cerca de 5 centímetros, tem aspecto esbranquiçado em tom cor-de-rosa; se alimenta de uma espécie de crustáceo e viveu esquecido por quase 50 anos em aquíferos de Jaíba, no interior de Minas Gerais. E só recentemente foi redescoberto por cientistas brasileiros da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Parente da traíra, piranha e piaba, o Stygichthys typhlops foi encontrado por acaso no Brasil e classificado em 1962 nos Estados Unidos.
De lá pra cá, nunca mais se teve notícia dele, apesar de ser conhecido da população local.
Para pesquisadores que o localizaram, provavelmente trata-se de uma espécie rara e que agora será melhor estudada.
Um artigo sobre a redescoberta do Stygichthys typhlops foi publicado na revista “Journal of Fish Biology”. Até 2004, um exemplar levado há 50 anos pelo americano Joseph Tosi para os Estados Unidos era o único conhecido. Até que especialistas brasileiros, liderados por Cristiano Moreira, saíram em seu encalço. Nas expedições foram coletados 34 exemplares do peixe, da ordem dos caraciformes, que vivem em água doce. Mas, diferentemente da maioria de seus primos, o Stygichthys habita águas subterrâneas, sem luz, não enxerga e apresenta pouca pigmentação.
Antes da redescoberta, pensava-se que o peixe estava extinto e não havia qualquer informação quanto à sua distribuição e abundância. Foi necessário entrevistar moradores para conseguir pistas. – Aqui ele só ocorre na região norte de Minas Gerais e é conhecido como piaba branca, mas não se sabe ao certo seu nome comum – diz Moreira.
– Apesar de fazer parte do grupo das piranhas, o Stygichthys é muito diferente do ponto de vista morfológico.
A ideia de procurá-lo surgiu porque ictiologistas (especialistas em peixes) estudam a evolução dos caraciformes e queriam saber onde o Stygichthys se encaixa. Foi difícil porque ele habita poços que a partir da década de 80 começaram a desaparecer devido ao maior consumo de água na agricultura local. E isso é uma ameaça à espécie. Daí a importância de saber qual é o estado de conservação, principalmente porque o peixe vive em área de grande impacto ambiental. (Antônio Marinho) (O Globo, 13/5)
2 – Descritas antes na internet
Novas espécies de plantas são descritas pela primeira vez em periódico que existe apenas na forma eletrônica. Em 2011, novos padrões para nomenclatura em tempos de internet serão discutidos
Quatro novas espécies de plantas tropicais do gênero Solanum (Solanaceae), que inclui representantes tão diversos como o tomate, a batata e a mandrágora, acabam se ser descritos.
Mas a novidade não está apenas na descrição, uma vez que artigos sobre novas plantas são publicados às centenas a cada ano. A novidade é como as espécies foram descritas. Trata-se da primeira vez que um estudo com a descrição de novas espécies é publicado apenas na forma eletrônica.
O artigo foi publicado pelo periódico on-line “PLoS ONE” por Sandra Knapp, do Museu de História Natural de Londres.
A denominação de novas plantas é governada pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN, na sigla em inglês), que estabelece como data formal para início da publicação de nomes de taxa o dia 1º de Maio de 1753, coincidente com a publicação da obra Species Plantarum, do botânico sueco Carolus Linnaeus.
A presente edição do ICBN, de 2006, é conhecida como Código de Viena e tem como base decisões tomadas durante o 27º Congresso Internacional de Botânica (IBC), realizado na capital austríaca em 2005.
Tradicionalmente, considerava-se que o ICBN não aceitaria qualquer outro tipo de publicação de novos nomes além do impresso em papel. Mas o novo artigo oferece uma solução para a questão, ao separar os processos de impressão do editor, permitindo com que o autor possa imprimir suas próprias cópias e distribuí-las para museus e instituições relevantes no dia da publicação. Processo que, com a popularização dos computadores e da internet, é hoje bastante simples.
Segundo a Public Library of Science, responsável pelo PLoS One, o artigo de Sandra é o primeiro a efetivamente publicar novos nomes de plantas inicialmente em um periódico eletrônico ao mesmo tempo que seguindo as regras e recomendações da ICBN.
Como o PLoS One é de acesso livre e gratuito, o artigo está disponível a qualquer interessado da comunidade científica para ler ou copiar.
Autora de diversos livros e uma das mais respeitadas taxonomistas no mundo, Sandra Knapp é também uma das principais pesquisadoras em solenáceas e conhece bem os códigos de nomenclatura.
“Esses códigos são possivelmente o melhor e mais duradouro exemplo de adesão voluntária a padrões científicos. Eles tem sido usados desde o início do século 19 e, embora legalistas, eles não amarram legalmente”, disse.
Em vez disso, os códigos se baseiam na comunidade de cientistas que aderam aos padrões estabelecidos por gerações de taxonomistas. Eles existem, aponta Sandra, para ajudar a manter a estabilidade na nomenclatura ao fornecer regras claras para publicação.
“Sem os códigos que governam a nomenclatura, seria o caos. Muitos nomes diferentes poderiam existir para as mesmas espécies e espécies distintas poderiam ser referidas pelo mesmo nome. Isso impactaria todos os ramos das ciências da vida, uma vez que o nome de uma espécie – seja um grão ou um patógeno – representa uma parte fundamental da comunicação de conhecimento sobre o mundo natural”, disse.
Novas recomendações tem sido introduzidas nos últimos anos de modo a servir de referência para a publicação eletrônica, cada vez mais imprescindível. Sandra presidirá a Seção de Nomenclatura no próximo Congresso Internacional de Botânica, em 2011 em Melbourne, na Austrália.
O artigo “Four New Vining Species of Solanum (Dulcamaroid Clade) from Montane Habitats in Tropical America” (DOI:10.1371/journal.pone.0010502), de Sandra Knapp, pode ser lido em http://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0010502 (Agência Fapesp, 13/5)