1 – Espécies invasoras causam prejuízo de US$ 1,4 trilhão
2 – Alterações do clima aumentam casos de malária na Amazônia
3 – O mau humor do clima
1 – Espécies invasoras causam prejuízo de US$ 1,4 trilhão
Problema já constitui a segunda maior causa de perda biológica comprovada
No mundo globalizado, o comércio internacional, as viagens de negócio e o turismo estão disseminando um impacto ambiental que já atinge por ano US$ 1,4 trilhão, cerca de 5% do PIB mundial. A fonte do prejuízo são as chamadas espécies exóticas invasoras. Elas chegam a regiões onde antes não existiam, encontram ótimas condições para se desenvolver e transformam-se em praga. E causam destruição, ao competir com as espécies nativas desses novos lugares, desequilibrando os ecossistemas e atingindo atividades produtivas.
Recente levantamento realizado para a Convenção da Diversidade Biológica no Reino Unido, Índia, Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Brasil revela que as perdas chegam a US$ 250 bilhões no conjunto desses países, sendo US$ 100 bilhões referentes ao impacto na agricultura.
Nos seis países estudados existem 120 mil espécies exóticas de plantas, animais e microrganismos introduzidas casualmente pelo transporte, como acontece com a água de lastro dos navios, ou trazidas e cultivadas em novos ambientes com fins econômicos. O problema já constitui a segunda maior causa de perda biológica, depois da fragmentação do habitat natural.
Desde o século 17, essa disseminação contribuiu em todo o mundo para o desaparecimento de 39% dos animais que foram extintos por causas conhecidas. Estima-se a existência de 480 mil espécies invasoras nos diversos ambientes do planeta.
O número cresceu drasticamente na Europa, invadida anualmente por 24 novas espécies de plantas na última década. No projeto DAISIE (Delivering Alien Species Inventories for Europe), a Comissão Europeia identificou 10.992 espécies que entraram no continente desde 2002, contra as quais são hoje tomadas providências de prevenção, manejo e erradicação. Não há iniciativas de controle nos tratados internacionais de comércio.
Como a regulamentação tem se mostrado ineficiente, os países partiram para medidas mais brandas, na forma de códigos de conduta envolvendo atividades comerciais que favorecem a invasão de plantas e animais indesejáveis.
Na China, o prejuízo – considerado subestimado – gira em torno de US$ 15 bilhões. Só o besouro Linomyza sativae causa perdas de U$ 80 milhões por ano. O Japão, por sua vez, foi obrigado a reduzir o uso de espécies exóticas de organismos polinizadores no cultivo de tomate, que representa 10% da produção agrícola e movimenta 20 bilhões de ienes por ano no país. Nos Estados Unidos, a região dos Grandes Lagos perde US$ 200 milhões por ano com espécies invasoras levadas por navios.
“Devido às grandes dimensões territoriais do Brasil e à falta de estrutura para operações, pouco podemos fazer para o controle”, admite Maria Cecília Wey de Brito, secretária da biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. A estratégia, segundo ela, deveria ser a prevenção.
O governo realizou no ano passado um diagnóstico nacional, identificando 543 espécies exóticas invasoras, sendo que 176 afetam a fauna e a flora terrestres e 155 causam danos aos sistemas de produção, principalmente agricultura, pecuária e silvicultura. Com base nesses dados, a Comissão Nacional de Biodiversidade elaborou uma estratégia nacional para tratar a questão, mas que ainda não saiu do papel.
Em São Paulo, o governo montou um grupo de trabalho para mapear o problema e elaborar uma estratégia, discutida em abril pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente. “Apesar dos dados alarmantes, o assunto é ainda desconhecido e pouco estudado no Brasil”, lamenta Aracelis Silva, da Secretaria do Meio Ambiente.
De acordo com o estudo nacional, existem em território paulista 86 espécies exóticas invasoras, tanto em ambientes terrestres como no mar e em rios e lagos. Algumas causam impactos econômicos significativos, como o mexilhão dourado. Originário da Ásia, o molusco atingiu o sul do país e avançou pelo rio Paraná no lastro dos navios de carga, espalhando-se rapidamente nos ambientes aquáticos.
Nas represas de hidrelétricas, provocam prejuízos, uma vez que cem indivíduos têm o poder de se acumular em apenas um metro quadrado de estruturas, como as turbinas de geração de energia.
A Usina de Itaipu, por exemplo, investe alto para combater a praga com aplicação de ozônio desde 2005.
Já a lebre europeia compete no Brasil com uma espécie similar nativa, provocando danos à agricultura, principalmente no oeste de São Paulo. Mais agressivo é o caramujo africano, que consome grande quantidade de vegetação, prejudica a horticultura e causa doenças ao homem.
No caso do javali, a espécie chegou de outra parte do mundo para criação em cativeiro, permitida até 1998, quando se transformou em praga danosa ao solo e ao porco-do-mato nativo, além de transmitir febre aftosa e leptospirose.
Entre as plantas invasoras, uma das mais preocupantes é o braquiária aquática, um capim introduzido para fins forrageiros sem sucesso econômico e que hoje espalha prejuízo nos reservatórios. (Valor Econômico, 28/4)
2 – Alterações do clima aumentam casos de malária na Amazônia
Segundo pesquisador do Inpa, aquecimento acelera metabolismo dos insetos e favorece seu desenvolvimento
A malária e sua relação com as mudanças no clima na região Amazônica foram alguns dos principais assuntos do 2º Workshop do Centro de Estudos de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta), realizado nesta quarta-feira (28) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT).
O evento, na sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manaus (AM), debateu as pesquisas feitas pelo projeto que envolve várias áreas do conhecimento científico.
Na palestra sobre insetos como vetores de doenças tropicais, o pesquisador e vice-diretor do Inpa, Walnderi Tadei, disse que a região Amazônica é sensível as mudanças do clima. “Se tivermos um aquecimento na região amazônica, há uma aceleração do metabolismo dos insetos e eles se desenvolverão mais rápido. Se analisarmos o caso do mosquito da malária, haverá um aumento na transmissão da doença”, afirmou.
Ainda segundo Tadei, a regra vale também para o mosquito da dengue e o mosquito comum, conhecido na região amazônica como carapanã. Para ele, as pesquisas servem para se analisar as condições do ambiente e assim prevenir possíveis epidemias.
“A Amazônia tem um clico hidrológico regular, são oito meses de água subindo e quatro de água baixando. Mas se há uma quebra nessa sequência, seja por qualquer alteração ambiental, teremos de ser capazes de intervir neste processo e é essa a proposta do Adapta e da Rede Malária: contribuir para que elaboremos modelos que possam chegar às comunidades ribeirinhas e agir preventivamente”, destacou.
O projeto Adapta tem recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) e da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). (Assessoria de Imprensa do MCT)
3 – O mau humor do clima
Degelo é intenso nos polos e seca devasta a Etiópia
Dois novos estudos evidenciam que os impactos das mudanças climáticas afetam indistintamente regiões quentes e frias. Na África, uma pesquisa da Oxfam mostra que os agricultores etíopes sofrem com escassez cada vez mais frequente das chuvas, causada pela elevação anormal das temperaturas do Oceano Índico, atribuída ao aquecimento global.
Já pesquisadores britânicos revelam que a perda de gelo flutuante na Antártica e no Ártico, a cada ano, equivale a 1,5 milhão de icebergs do tamanho do que afundou o Titanic. Contrariando o que se sabia até agora, embora este gelo já esteja no mar, ele poderia estar contribuindo para elevar o nível dos oceanos. Isso ocorreria porque, como a água do mar é mais morna e salgada que o gelo flutuante, haveria um desequilíbrio capaz de elevar o oceano.
A crescente escassez de chuvas na Etiópia – um dos países mais pobres do mundo – afeta drasticamente a produção de alimentos, levando muitos agricultores à ruína. Sem condições de trabalhar e se sustentar – perdendo colheitas e vendo a morte dos seus animais – eles buscam novas fontes de renda, muitas vezes abandonando suas casas e deixando para trás as famílias.
É o que revela o estudo da Oxfam, que relaciona o fenômeno ao aquecimento global e comprova que a África está sendo cada vez mais atingida pelas mudanças climáticas, embora tenha contribuído pouco para que elas ocorressem.
O estudo ressalta que o setor agrícola no país – diretamente responsável pela sobrevivência de 85% da população – é especialmente vulnerável às adversidades do tempo, já que possui poucos recursos tecnológicos e é dependente das chuvas (em vez da irrigação).
– A agricultura na Etiópia é muito dependente das chuvas. Isso é agravado pelo crescimento cada vez maior da população, que exige a produção de mais alimentos – afirma Abera Tola, diretor da Oxfam e um dos redatores do relatório. – Nosso estudo mostra que a situação dos agricultores, que já era precária, tem piorado com a escassez de chuvas.
Oceano Índico tem aquecimento anormal
Para o climatologista Chris Funk, da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, as alterações no ritmo das chuvas estão ligadas ao aquecimento do Oceano Índico nos últimos 30 anos.
– Em três décadas, a escassez e a imprevisibilidade das chuvas na Etiópia se agravaram. E isso coincide com o aquecimento anormal das águas do Oceano Índico, associado à emissão de gases do efeito estufa – afirma Funk, que participou do estudo. – Tal aquecimento faz com que o fluxo de umidade que chega ao país seja alterado, trazendo, em vez de chuvas, correntes de ar secas e quentes. E a tendência é que esse fenômeno se intensifique cada vez mais.
No Reino Unido, pesquisadores da Universidade de Leeds comprovaram, pela primeira vez, a velocidade das drásticas reduções do gelo flutuante nos pólos. De acordo com o trabalho, que foi publicado na revista “Geophysical Research Letters”, tal redução é equivalente ao degelo de 1,5 milhão de icebergs do tamanho daquele que causou o naufrágio do Titanic, em 1912.
Mesmo assim, o aumento do nível do mar causado por esse degelo ainda é pequeno. Em um ano, esse aumento seria o equivalente ao diâmetro de um fio de cabelo. Para os pesquisadores, porém, o impacto desse degelo é um sinal que não pode ser ignorado.
– Essas mudanças tiveram impacto no clima regional. Já que se espera que os oceanos aumentem sua temperatura ao longo do século, o degelo desses icebergs deve ser considerado em avaliações futuras do aumento do nível do mar – diz Andrew Shepherd, autor do estudo. (Carlos Albuquerque) (O Globo, 29/4)