1 – Cientistas descobrem nova corrente oceânica na região da Antártida
2 – Pesquisadores do Amazonas investigam plantas nativas no tratamento da malária
3 – Cientistas criticam índice de risco de dengue do governo
4 – Água que não acaba mais
1 – Cientistas descobrem nova corrente oceânica na região da Antártida
Seu volume equivale a 40 vezes o do Rio Amazonas. Segundo pesquisadores, ela é fundamental para regular o clima
Cientistas descobriram uma corrente de movimento rápido no oceano profundo com volume equivalente a 40 vezes o Rio Amazonas próxima à Antártida, que irá ajudar pesquisadores a monitorar os impactos das mudanças climáticas sobre os oceanos do mundo.
Segundo estudo publicado na edição de domingo da revista “Nature Geoscience”, uma equipe de cientistas australianos e japoneses descobriu que a corrente é uma parte fundamental de um padrão global de circulação oceânica que ajuda a controlar o clima do planeta.
Os cientistas já haviam detectado indícios da corrente, mas não tinham mais dados sobre ela. “Nós não sabíamos se era uma parte significativa da circulação ou não, e isso mostra claramente que é,” disse um dos autores, Steve Rintoul.
Rintoul, do Centro Cooperativo de Pesquisas do Clima e Ecossistemas da Antártida, em Hobart, disse que a corrente é a mais rápida do oceano profundo encontrada até hoje, com uma velocidade média de 20 cm por segundo. Ela transporta mais de 12 milhões de metros cúbicos por segundo de água fria e salgada da Antártida.
“Essas são as maiores velocidades que vimos até agora nesta profundidade, de três quilômetros abaixo da superfície, o que foi realmente uma surpresa para nós.”
A corrente é parte de uma rede muito maior que atravessa os oceanos do mundo, agindo como uma esteira rolante gigante para distribuir o calor ao redor do globo.
Os oceanos são também um grande estoque de dióxido de carbono, o principal gás causador do efeito estufa que é emitido naturalmente e pelo homem, principalmente pela queima de combustíveis fósseis.
A equipe usou equipamentos de medição ancorados ao fundo do mar em profundidades de até 4,5 km e registrou a velocidade da corrente, sua temperatura e salinidade durante um período de dois anos.
“As medições contínuas nos permitem, pela primeira vez, determinar a quantidade de água que a corrente profunda leva para o norte,” disse Rintoul.
Ele disse que uma questão-chave para prever o clima é saber se a circulação vai se manter com a sua força atual ou se é sensível a alterações como as mudanças climáticas. Isso requer ainda mais melhorias nas medições da velocidade e do volume da água salgada fria ao redor da Antártida. (G1, 25/4)
2 – Pesquisadores do Amazonas investigam plantas nativas no tratamento da malária
Estudo utiliza remédios derivados da espécie Picrolemma sprucei, conhecida popularmente como caferana
Com cerca de 5 milhões de km2 de extensão e mais de 300 espécies de árvores por hectare, a Amazônia reserva grandes descobertas para a humanidade. É nesse sentido que estudos voltados para a cura de patologias a partir de princípios ativos de plantas nativas estão sendo desenvolvidos no Amazonas.
Um dos exemplos é a busca por antimaláricos formulados com produtos derivados de plantas amazônicas, destinados ao combate da malária em pessoas já infectadas, mas nas quais o parasita desenvolveu resistência aos remédios atualmente utilizados.
O trabalho está sendo desenvolvido por pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM), sob a coordenação da mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas Mônica Regina Costa, com acompanhamento da graduanda em Farmácia Tailah Oliveira Azevedo, que é bolsista do Programa de Iniciação Científica (Paic), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Desenvolvido em parceria entre a Fapeam, FMT-AM, Fhemoam, Inpa e Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o estudo também conta com a co-orientação do mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas e atual coordenador e professor do curso de Farmácia do Centro Universitário do Norte (UniNorte), Luiz Francisco Rocha e Silva.
A pesquisa, intitulada “Atividade antimalárica in vitro de derivados semi-sintéticos de produtos naturais amazônicos”, tenta reproduzir em frascos de laboratório a corrente sanguínea humana para poder realizar os testes com as novas substâncias encontradas nas plantas.
Segundo Tailah Azevedo, são utilizadas amostras de sangue humano saudável, coletadas na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Fhemoam). “Os parasitas são depositados nessas amostras e assim, podemos verificar as constantes evoluções e mutações que o Plasmodium sofre, desenvolvendo remédios específicos para determinados casos”, explicou a bolsista.
Na pesquisa são utilizados os produtos Isobruceína-D e Neosergiolida, remédios derivados da espécie Picrolemma sprucei, conhecida popularmente como caferana.
Segundo Azevedo, essas substâncias se mostram mais eficazes do que as plantas in natura, ou seja, no seu estado natural. Os derivados possuem um nível de toxicidade menos evasivo ao organismo humano, o que aumenta o potencial de cura e diminui os efeitos colaterais no paciente.
“Não foram realizados testes em humanos, mas ao compararmos microscopicamente as drogas utilizadas atualmente, que servem como parâmetro, com os produtos derivados e semi-sintéticos, percebemos que surtiram um efeito acima do esperado”, contou Azevedo.
Entenda a transmissão da malária
A malária é transmitida pela picada das fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles. Os mosquitos têm maior atividade durante o período da noite, do crepúsculo ao amanhecer. Contaminam-se ao picar os portadores da doença, tornando-se o principal vetor de transmissão desta para outras pessoas.
Só as fêmeas picam o homem e alimentam-se de sangue. Os machos vivem de seivas de plantas. As larvas se desenvolvem em águas paradas, e a prevalência máxima ocorre durante as estações com chuva abundante. (Assessoria de Comunicação da Fapeam)
3 – Cientistas criticam índice de risco de dengue do governo
Para eles, indicadores de infestação utilizados como referência não são precisos
Principal referência para as ações preventivas contra a dengue, os índices de infestação pelo mosquito Aedes aegypti utilizados hoje são considerados pouco precisos por cientistas da Fiocruz-PE, UFMG e USP, que sugerem outra abordagem.
Hoje, o principal indicador de risco da dengue adotado pelo Ministério da Saúde é calculado a partir da observação e contagem de criadouros do Aedes pelos agentes de saúde, o que é criticado pelos estudiosos.
“Os criadouros são difíceis de serem localizados”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Lêda Regis. Para ela, o método depende muito da atuação do agente. “É melhor fazer o mosquito chegar até nós do que ir atrás dele.”
Por isso, ela desenvolve há dois anos, em dois municípios de Pernambuco, um sistema de monitoramento do Aedes baseado em armadilhas, que atraem as fêmeas do mosquito.
O índice de infestação das residências é calculado com base nos ovos botados por armadilha, que são contados por um programa de computador. “Nossos índices são sempre muito mais elevados do que os estimados pela detecção visual dos criadouros [no método do Ministério da Saúde]”, diz ela.
Apesar de o combate aos criadouros ser essencial para a erradicação do mosquito, há consenso entre os pesquisadores de que índices baseados no número de ovos, larvas ou de Aedes adultos são mais eficientes para estimar o risco de transmissão da doença.
Em Minas Gerais, uma equipe da UFMG conseguiu desenvolver um índice baseado nas fêmeas adultas do mosquito, que já foi aplicado em 38 cidades e está em uso há três anos.
A contagem dos insetos, que são capturados em armadilhas, é feita semanalmente, o que origina 52 relatórios de risco de transmissão da doença por ano -quase nove vezes mais do que o método oficial.
Segundo o pesquisador Marcelo Resende, o indicador ajudou a focar as ações de combate ao mosquito nas áreas de maior risco. Com isso, a incidência da doença caiu 93,7% em um ano nos municípios que o utilizaram, contra 83% em cidades do mesmo perfil que contaram apenas com os relatórios bimensais do ministério.
Um indicador semelhante também é utilizado em Teresina (PI), num projeto coordenado pelo professor da USP Almério de Castro. Lá, o trabalho está em andamento desde 2008 e ajudou a reduzir a incidência da doença em 85%.
A limitação dos indicadores oficiais é reconhecida pelo próprio Ministério da Saúde, que está bancando pesquisas para o desenvolvimento de novos índices há um ano. “O ideal seria que tivéssemos uma medida de risco mais próxima do real”, diz o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho.
Apesar dos bons resultados, o Ministério da Saúde e os estudiosos dizem que essas novas estratégias de combate ao mosquito ainda precisam de mais testes. O Ministério da Saúde também diz que, pelos novos métodos, não se sabe a proporção entre os insetos capturados e os existentes no ambiente.
A Organização Mundial da Saúde também ressalta a necessidade de comprovação científica desses indicadores, mas os considera uma boa ferramenta para inibir a dengue.
(Esthelita Hass Carazzai) (Folha de SP, 26/4)
4 – Água que não acaba mais
Estudos mostram que o Aquífero Alter do Chão pode ser o maior manancial subterrâneo do mundo, com capacidade de abastecer a população mundial por três séculos. Pesquisadores alertam para a necessidade de uso sustentável
A Região Norte é, sem dúvida, um dos maiores símbolos da riqueza natural encontrada no Brasil. Agora, além de abrigar a Floresta Amazônica e o Rio Amazonas, ela pode ser conhecida por possuir a maior reserva mundial de águas subterrâneas. Estudos realizados pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontam que o Aquífero Alter do Chão, localizado sob os estados do Pará, do Amazonas e do Amapá, pode ser o maior do planeta.
A hipótese é baseada em dados ainda iniciais, mas fortes o suficiente para entusiasmar os cientistas. Eles indicam que o aquífero detém um volume de água que alcança 86.400km³ (86,4 trilhões de litros), o dobro da quantidade encontrada no Aquífero Guarani – localizado entre Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina e considerado atualmente o maior manancial subterrâneo de água doce do mundo, com 45 mil quilômetros cúbicos.
Os pesquisadores envolvidos nos estudos acreditam que o Alter do Chão poderia abastecer a população mundial por 300 anos. “A existência desse aquífero já era conhecida há vários anos, mas não havia estudos comprovando seu potencial. Não temos dúvidas de que se trata do maior aquífero do mundo”, afirma Milton Matta, geólogo da UFPA que participa da equipe técnica que analisa o manancial.
A equipe de pesquisadores – formada ainda pelo professores Francisco Matos de Abreu, André Montenegro Duarte e Mário Ramos Ribeiro, da instituição paraense, e Itabaraci Cavalcante, da UFC – tem indicativos técnicos que comprovam o potencial de uso das águas do Alter do Chão, como a menor vulnerabilidade a contaminação e a maior facilidade de extração do líquido.
Matta explica que, entre a superfície e o Aquífero Guarani, há uma formação de rochas basálticas muito antigas, repletas de fraturas verticais que se tornam caminho fácil para contaminantes atingirem a água, tornando-a mais poluída. Além disso, essas rochas são mais duras e espessas, dificultando o acesso.
Já o Alter do Chão é recoberto por rochas sedimentares formadas por arenito e argilito. O primeiro material possui poros onde a água fica armazenada, permitindo um bombeamento mais fácil. Já o argilito, que fica sobre a água, é um protetor natural, que impede contaminantes de atingirem o aquífero. Ou seja, além de mais fácil de ser retirada, a água do reservatório da Região Norte é mais limpa. “É uma água de muito boa qualidade, que não precisa de estação de tratamento”, afirma o geólogo.
Outro aspecto destacado na pesquisa é a espessura do manancial, que vai de 500m a 600m, enquanto a do Guarani tem em média 300m. “Isso quer dizer que temos quase o dobro de água armazenada do Alter do Chão em relação ao Guarani”, comenta Matta. Os pesquisadores, no entanto, ainda não determinaram com precisão razoável as profundidades do aquífero do Norte.
Financiamento
Depois dos estudos preliminares, os técnicos preparam um projeto para apresentar ao Banco Mundial e a outros financiadores para viabilizar um levantamento mais detalhado sobre o potencial do aquífero. A intenção é obter dados para comprovar definitivamente que se trata do maior reservatório subterrâneo de água doce do mundo.
O custo desse levantamento está orçado em US$ 5 milhões. Segundo Matta, o valor representa a sexta parte do que foi investido no Aquífero Guarani nos últimos cinco anos.
“Depósitos de águas subterrâneas são reservas estratégicas para mais da metade da população paraense. Eles precisam ser conhecidos para que possam ser usados com sustentabilidade. São um patrimônio inalienável da nação brasileira”, justifica o pesquisador. Ele lembra que o Alter do Chão hoje abastece cidades como Manaus e diversos municípios do Pará, como Santarém.
Para o gerente de Águas Subterrâneas da Agência Nacional de Águas (ANA), Fernando Roberto de Oliveira, um estudo sobre o Aquífero Alter do Chão é essencial para o abastecimento brasileiro.
“A Bacia Sedimentar do Amazonas potencialmente comporta grandes aquíferos, sendo que alguns deles podem estar interligados, podendo configurar um grande sistema, sendo inicialmente denominado Sistema Aquífero Amazonas. O Alter do Chão seria um dos aquíferos desse sistema”, explica.
Quanto às vantagens oferecidas pelo Alter do Chão, Oliveira afirma que o conhecimento sobre suas dimensões e reservas ainda é pequeno. “Porém, as prospecções iniciais indicam volumes de água armazenados muito elevados, podendo constituir um aquífero estratégico para a região, em que pese a grande disponibilidade de águas superficiais.” Oliveira diz que a ANA está preparando edital de licitação para contratar empresa de consultoria para elaborar estudos geológicos sobre o Alter do Chão.
(Sílvia Pacheco) (Correio Braziliense, 27/4)