Fechar menu lateral

Informativo 235 – Algas contra obesidade, Lições de canto, Como morreram os dinos e Carvão Ecológico

1 – Algas contra obesidade

2 – Lições de canto

3 – Como morreram os dinos

4 – Desmatamento: Carvão Ecológico

 

1 – Algas contra obesidade

Estudo feito no Reino Unido reforça que algas marinhas têm elevado potencial de reduzir a absorção de gordura pelo organismo. Produto foi testado em pães
Algas marinhas podem se tornar uma importante alternativa contra a epidemia de obesidade. A conclusão é de uma pesquisa feita no Reino Unido e apresentada na reunião da American Chemical Society, em São Francisco, na semana passada.
O estudo verificou que as algas têm potencial de reduzir a quantidade de gordura pelo organismo em cerca de 75%. Os pesquisadores, da Universidade de Newcastle, adicionaram fibras obtidas das algas em pães, de modo a desenvolver alimentos que ajudem a perder peso ao serem consumidos.
O grupo liderado por Iain Brownlee e Jeff Pearson observou que o alginato, a fibra natural encontrada nas algas, diminui a absorção de gordura pelo organismo de modo muito mais eficiente do que a maioria dos tratamentos atuais contra obesidade.
Com o uso de um sistema digestivo artificial, os cientistas testaram a eficácia de mais de 60 tipos de fibras naturais ao medir a quantidade de gordura que era digerida e absorvida em cada caso. As algas apresentaram o melhor resultado.
Alginatos são comumente usados como espessantes ou estabilizantes em alguns tipos de alimentos. Segundo os pesquisadores, quando adicionados à massa de pães em testes cegos, os produtos resultantes foram considerados melhores do que o pão branco comum com relação à textura e gosto.
“Obesidade é um problema que não para de crescer e muitas pessoas acham difícil seguir uma dieta ou um programa de exercícios físicos com o objetivo de perder peso”, disse Brownlee.
“Os alginatos têm um grande potencial para o uso no controle de peso e, quando adicionados aos alimentos, oferecem a vantagem adicional de ampliar a quantidade de fibra”, apontou.
A próxima etapa da pesquisa será verificar, por meio de experimentos com voluntários, se os resultados observados no laboratório podem ser reproduzidos em circustâncias normais.
“Verificamos que o alginato reduz significativamente a digestão de gorduras. Isso sugere que, se pudermos adicionar essa fibra natural a produtos ingeridos diariamente – como pão, biscoitos ou iogurte -, até três quartos da gordura contida nessa refeição podem simplesmente passar pelo corpo sem serem absorvidos”, disse Brownlee.
A pesquisa é parte de um projeto de três anos financiado pelo Biotechnology and Biological Sciences Research Council, do Reino Unido. (Agência Fapesp, 31/3)

 

2 – Lições de canto

Descoberta de genes que fazem pássaros cantarem pode ajudar nos distúrbios da fala
Acostumado a se encantar com os sons produzidos pelos pássaros, o homem agora pode ter nesses pequenos animais aliados para entender os mecanismos da sua própria fala e também para combater diversas doenças.
É o que revelam cientistas, que conseguiram fazer, pela primeira vez, o mapeamento genético completo de um cantor da natureza: o mandarim australiano. O trabalho, publicado na revista “Nature”, mostra que ele possui cerca de 800 genes – correspondente a 5% do seu genoma – ligados ao aprendizado do canto.
Como o mandarim aprende a cantar da mesma forma que os humanos aprendem a falar – imitando os mais velhos – o time internacional de pesquisadores que fez o estudo acredita que os dados e a comparação podem nos ajudar não apenas a entender como se dá o aprendizado da linguagem, mas também a compreender os distúrbios da fala e o motivo pelo qual doenças como o autismo e os derrames a afetam.
– O aprendizado do canto é um excelente modelo para diversos outros tipos de aprendizados ligados à fala – diz Chris Ponting, da Universidade de Oxford, um dos autores do estudo. – Há experimentos que podem mostrar as alterações que ocorrem no cérebro durante esse processo. O genoma do mandarim vai ser uma excelente ferramenta para nos ajudar a avançar nesse campo.
Pesando apenas 14 gramas, o mandarim australiano é o primeiro pássaro que canta a ter o seu genoma decodificado. A primeira ave foi a galinha.
Segundo os cientistas, quando pequeno, o mandarim aprende a se expressar através do canto da mesma forma que os bebês humanos: emitindo sons aleatórios, na tentativa de imitar o que ouve dos adultos. Um processo que vai sendo passado de geração a geração.
Ave e humanos têm genes em comum
Como esse aprendizado é semelhante ao humano e como ambos têm genes em comum, os mandarins podem abrir portas para o entendimento de diversos distúrbios da fala, acreditam os pesquisadores. Sobretudo, podem servir de modelos para estudos.
– A partir de agora, esse animal ganha uma importância muito grande para a neurociência humana – garante Wes Warren, da Universidade de Washington, que também participou do estudo. – Mas, levando-se em conta a enorme rede de fatores genéticos e moleculares envolvidos com esse processo, sabemos que teremos uma difícil tarefa pela frente.
Até então, os especialistas acreditavam que existissem cerca de 100 genes envolvidos no aprendizado do canto dos mandarins. A descoberta de que há pelo menos 800 dá a dimensão da complexidade desse processo.
– De fato, o aprendizado do canto é mais complexo do que imaginávamos. A parte do cérebro que controla esse mecanismo é regulada por um número de genes bem maior do que se supunha – conta Erich Jarvis, da Universidade de Duke, na Carolina do Norte.
Muitos desses genes não atuam da forma usual, como um código para a produção de proteínas. Em vez disso, eles integram uma parte do genoma que, até então, era conhecida como DNA-lixo, que não participa da formação de proteínas e tem uma função desconhecida. A análise do genoma dos mandarins revela que essa porção do DNA pode ter uma função crucial nesse processo.
– O mais importante é que agora poderemos expandir nosso conhecimento sobre como se dá a vocalização nos humanos – diz Eric Green, do Instituto de Pesquisa do Genoma Humano, nos EUA. – E isso pode nos levar a novos tratamentos de doenças e desordens que envolvem a fala, do autismo à gagueira. (O Globo, 1/ 4)

 

3 – Como morreram os dinos

“Nos últimos 30 anos, a teoria de que um asteroide atingiu a Terra, formulada pela 1.ª vez em 1980, foi amplamente comprovada”
Fernando Reinach é biólogo. Artigo publicado em “O Estado de SP”:
Três semanas de conversas e meu filho de 4 anos, um apaixonado por dinossauros, ainda tinha a esperança de encontrar pelo menos um vivo. “Mas nem na floresta, papai?” Resignado perante minhas negativas, veio a pergunta. “Mas por que eles morreram?”
Meu avô havia respondido para meu pai que ninguém sabia; meu pai, que já tinha ouvido falar em Darwin, disse-me que “o mundo mudou e eles morreram”. Nossos filhos têm mais sorte: a descoberta de que um asteroide atingiu a Terra e “o mundo mudou”, proposta inicialmente em 1980, foi amplamente comprovada nos últimos 30 anos.
Mas como explicar para as crianças que nós, que existimos como espécie faz somente 1 milhão de anos, somos capazes de descobrir o que ocorreu 65 milhões de anos atrás? Aqui vai o roteiro que pretendo usar nas próximas semanas.
Os dinossauros passeavam por todo o planeta. Seus ossos são encontrados em escavações na Índia, na China, na Europa e nas três Américas. Quando os cientistas escavam rochas que correspondem a períodos recentes, não encontram ossos de dinossauros. Os ossos só aparecem quando a rocha escavada é de uma época anterior ao fim do Cretáceo, que terminou 65 milhões de anos atrás. O impressionante é que os dinossauros desapareceram simultaneamente de todos os continentes. E não foram só os dinossauros: 60% da biodiversidade desapareceu junto com eles.
Nas rochas em que encontramos os últimos dinossauros também encontramos uma camada de pedras contendo uma grande quantidade de irídio. Essa camada está depositada em todos os continentes e mesmo em poços perfurados no fundo dos oceanos. É como se tivesse chovido irídio sobre o planeta.
Mas a espessura da camada que contém o irídio não é a mesma nos diversos continentes. Na Austrália e no Japão, ela tem menos de 1 centímetro de espessura; perto de Nova York, no Caribe e no oceano ao norte das Guianas, a camada é mais grossa, de 3 a 10 cm de espessura. Nas amostras do sul do México ou do Texas, a grossura da camada dessa “chuva de pedras” é de alguns metros. Mas basta chegar à península de Yucatán e a camada acumulada é de dezenas de metros. E o que você encontra exatamente no centro da região onde a camada é mais espessa? Um imenso buraco redondo, a cratera de Chicxulub.
Ela é enorme, 200 quilômetros de diâmetro. Os geólogos acreditam que a cratera tenha se formado por causa do impacto de um meteorito de mais de 10 km de diâmetro. São as pedras e a poeira (contendo irídio) levantadas por essa colisão que choveram sobre todo o planeta. Foi o fim dos dinossauros.
Soterramento e fome. Tudo bem, dirá seu filho, mas como morreram os dinossauros, cobertos de pedras? No México, talvez eles tenham sido soterrados, mas no resto do planeta eles provavelmente morreram de fome.
A análise dos outros componentes dessa camada de irídio conta o resto da história. No fundo dos oceanos, exatamente na mesma época, a velocidade de acumulação de um composto chamado calcita caiu drasticamente. Ela é sintetizada por pequenos animais marinhos, que combinam o cálcio e o gás carbônico. Os esqueletos de calcita desses animais se acumulam ao longo de milênios, formando grandes montanhas no fundo dos mares, os recifes de corais.
A drástica diminuição na velocidade de deposição de calcita sugere que grande parte desses animais também morreu logo após o impacto do meteorito. Os corais morreram porque se alimentam de algas microscópicas e não havia algas para comerem. E essas algas deixaram de existir porque ficou impossível fazer fotossíntese, como indicado por uma grande alteração na distribuição dos isótopos de carbono nessa época.
O que os cientistas imaginam é que a poeira e os resíduos do impacto do asteroide tornaram a atmosfera opaca por décadas, bloqueando a luz solar. E, sem luz, todo o sistema de produção de alimentos, algas e plantas terrestres parou de funcionar. Sem vegetais para comer, morreram os herbívoros; sem herbívoros para devorar, morreram os carnívoros, entre eles o preferido do meu filho, o Tiranossauro Rex. Foi o fim dos dinossauros e início da expansão dos mamíferos.
Esse acidente planetário mostra quão efêmera é a vida no nosso planeta. Um dia, os dinossauros dominavam o planeta; no outro, estavam extintos. Mas também demonstra o poder de recuperação da Terra. Milhões de anos depois, uma nova leva de seres vivos se espalhou pelo planeta, e o lugar do Tiranossauro Rex foi ocupado por um predador ainda mais perigoso, o Homo sapiens. Mais informações: The chicxulub asteroid impact and mass extinction at the cretaceous-paleogene boundry science, vol. 327, pág. 1.214 (O Estado de SP, 1/4)

 

4 – Desmatamento: Carvão Ecológico

 

 

A desertificação do semiárido vem contribuindo para a degradação do bioma Caatinga. Nesse desmonte acelerado da natureza, o Ceará teve, em seis anos, 4.132 quilômetros quadrados desmatados, colocando-se em segundo lugar na voragem contra seus parcos recursos de flora e fauna. Nesse quadro de destruição, o Estado só perde para a Bahia, onde foram desmatados nove mil quilômetros quadrados no período entre 2002 e 2008.
Essa lamentável realidade está contida no último relatório sobre o bioma Caatinga, realizado pelo Ministério do Meio Ambiente. A extensão da Caatinga, no País, era de 826 mil quilômetros quadrados, conforme mapeou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Dessa imensa faixa territorial, 45,39% já não mais existem, afetados pela mão destruidora do homem.
A Caatinga, riqueza ambiental típica do Nordeste brasileiro, ocupa 11% do espaço nacional, sendo o ecossistema menos estudado e, por isso, menos conhecido, apesar de sua riqueza potencial. Sua história se caracteriza pela acentuada destruição dos recursos ambientais, ao longo do processo da formação brasileira. Nunca houve interesse do poder público em mobilizar seus pesquisadores para a identificação, em profundidade, do que ela representa para o semiárido.
Bahia e Ceará, os Estados mais afetados nessa configuração ambiental de grave crise, são os espaços territoriais do Nordeste onde há a maior presença do bioma. No Ceará, a Caatinga corresponde a 83% do território total do Estado. Qualquer baixa nela registrada repercute mais do que em qualquer outro Estado do semiárido. De positivo, ele possui, atualmente, o monitoramento das áreas degradadas, feito pela Funceme, com o emprego de sofisticados recursos tecnológicos, como os satélites, identificando especialmente as queimadas.
A desertificação ronda o entorno de Santa Quitéria, Crateús, Tauá, Saboeiro, Boa Viagem, Acopiara e Barro. A destruição da mata nativa para sua transformação em lenha foi uma das causas de tantos malefícios ao meio ambiente. A lenha ainda serve como insumo básico para atividades industriais exercidas pelas padarias e pizzarias, principalmente. A destruição da mata é completada para a produção de carvão.
Contudo, no município de Tejuçuoca, afetado pela desertificação em curso na região de Irauçuba, surgiu uma ideia simples, mas capaz de atenuar o processo destrutivo da mata em busca de lenha e carvão. Lá uma empresa de pequeno porte começou a produção, com sucesso, de um carvão ecológico, prensado em tabletes, sem vestígios de poluição, absorvendo a mão-de-obra local liberada das roças.
O briquete de carvão vegetal, 100% natural, resulta do aproveitamento dos resíduos da madeira queimada, da casca de coco e outros tipos de fibras, triturados, com a adição de um aglutinante à base de fécula de mandioca. Se houver empenho do poder público, esta poderá ser a saída para proteger o que resta de mata nativa e incentivar uma nova forma de empreendimento agroindustrial que tem mercado assegurado. Solução inteligente de baixo custo. Fonte: Diário do Nordeste de 27.03.2010