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Informativo 222 – Pássaros em perigo e lagarto duplica seus genes

1 – Pássaros em perigo

2 – Espécie de lagarto duplica seus genes para viver sem sexo

 

1 – Pássaros em perigo

 

Levantamento de ONG ambientalista aponta 237 áreas que precisam ser preservadas para garantir a sobrevivência das aves ameaçadas de extinção no Brasil. Segundo entidade, 94 desses locais não contam com nenhuma proteção

Para proteger suas espécies de aves ameaçadas de extinção, o Brasil deve preservar 237 áreas prioritárias para a sobrevivência dos animais. Juntos, os locais, conhecidos como IBAs (sigla em inglês para áreas de importância prioritária para aves), somam 94 milhões de hectares, que representam 11% do território nacional.

O problema é que, desse total, apenas 27 milhões de hectares estão oficialmente protegidos, segundo indica levantamento que acaba de ser finalizado pela Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save), organização não governamental que representa no país a Bird Life Internacional.

No estudo, iniciado em 2001, a entidade levou em conta aspectos como a distribuição restrita dos pássaros (quando ocorrem em área menor que 50 mil quilômetros quadrados), a ocorrência de espécies em apenas um bioma específico e a existência de grupos congregantes (que se juntam em bandos muito grandes em espaços específicos, como as marinhas e migratórias aquáticas).

Em todo o planeta, existem 8 mil áreas prioritárias para conservação de espécies de aves. Ano da biodiversidade declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU), 2010 promete discussões e revisão de normas estabelecidas no encontro ocorrido no Rio de Janeiro em 1992, a Eco 92. O debate vai ser em outubro, no Japão.

Depois do fracasso de negociações durante a 15ª Convenção das Mudanças Climáticas (COP-15) na Dinamarca, em dezembro, é grande a expectativa entre ambientalistas de que o encontro em Nagoya tenha algum resultado mais eficaz.

“Este ano da biodiversidade está sem repercussão. Fala-se muito das mudanças climáticas e da saúde do planeta, de quem pode monitorar o derretimento das calotas polares, mas a biodiversidade está empobrecendo: aves sumindo, macacos desaparecendo, peixes e florestas se perdendo, serviços ambientais fundamentais para a sobrevivência do homem”, alerta o diretor de Conservação da Save Brasil, Pedro Develey, biólogo que conduziu o mapeamento das IBAs no Brasil.

Há 1,2 mil espécies de aves sob risco de desaparecer no mundo. Das globalmente ameaçadas, 122 ocorrem no Brasil, das quais 80% estão na Mata Atlântica. No cerrado, que ocupa boa parte dos territórios mineiro, goiano e do Distrito Federal, são 48 espécies com risco de extinção. Os quatro critérios que definem a necessidade de criar uma IBA são adotados internacionalmente, o que, na avaliação do biólogo, é positivo.

“É interessante adotarmos no Brasil o mesmo critério para indicar as áreas de relevância para a conservação de espécies, pois assim, em Minas Gerais ou na Bahia, estaríamos adotando o mesmo modelo que no Japão, em termos de importância”, diz.

Raros

Em Minas Gerais, o entufado baiano (Merulaxis stresemanni) é bicho raro. Desaparecido há anos, foi registrado no sul da Bahia e um exemplar foi avistado na região de Bandeira, no médio Jequitinhonha, em uma área particular. Para conservar a espécie, a Fundação Biodiversitas, organização não governamental mineira, em parceria com a Save, comprou uma área que está em processo para se transformar em reserva do patrimônio particular natural (RPPN).

Em Goiás, região rica em fauna e flora, 11 espécies globalmente ameaçadas estão no Parque Nacional das Emas, que tem 133 mil hectares e está cercado por extensas áreas de agricultura. O tié-bicudo (Conothraupis mesoleuca), que estava desaparecido e era representado por um único registro histórico em Cáceres (MT), foi achado numa vereda no sudoeste de Goiás.

Já no agreste pernambucano, uma articulação da Save permitiu que uma das espécies mais raras do país tivesse seu habitat preservado, com apoio da comunidade local.

“Para salvarmos o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), ameaçado pelo desmatamento e pelo avanço das plantações de cana-de-açúcar, fizemos um trabalho de conscientização e educação ambiental com a comunidade e conseguimos adquirir parte da área. Quando a gente fortalece a importância da área localmente, isso se torna visível nacionalmente ou até globalmente, levando orgulho para a comunidade. Os moradores entendem que daquela preservação depende a vida deles também. Aí, eles abraçam a causa”, enfatiza Develey.

Contribuições

Além de usar os critérios da Birdlife, o estudo usou as listas brasileiras das espécies ameaçadas e dados sobre as áreas protegidas. Vários ornitólogos brasileiros que desenvolvem estudos em seus estados contribuíram com informações previamente coletadas e compiladas.

“Tivemos a participação de 60 pesquisadores. Em 2001, mapeamos áreas de Mata Atlântica e, depois, ampliamos para outros biomas (pampa, caatinga, Pantanal, cerrado, Amazônia). Com a finalização do material, temos 237 áreas de extrema importância a serem protegidas. Dessas, 51 têm proteção. Ao todo, 94 locais não têm nenhum mecanismo de conservação. As áreas com proteção parcial somam 92. Isso significa dizer que sugerimos 100 mil hectares preservados para a sobrevivência de determinado grupo de aves, mas apenas 20 mil estão cuidados”, acrescenta o biólogo.

Segundo Develey, as aves são ótimos indicadores biológicos, por isso a importância não apenas de preservá-las, mas de aumentar suas populações. “Se a árvore que tem frutos na sua copa desaparece, a ave frugívora vai ter de sair dali, em busca de alimento. Daí, acabamos encontrando espécimes em locais onde não deveriam estar. As aves são um grupo muito diverso: há ave da copa, ave do sub-bosque, ave da água, ave do chão, e elas interagem com mamíferos, répteis. Acabam sendo uma espécie de guarda-chuva para outros animais. Por isso que, garantindo essas IBAs, vamos garantir boa parte da biodiversidade do país”, diz.

Um dos objetivos de levantamentos como o realizado pela Save é dar subsídios e argumentos para secretarias estaduais e municipais de meio ambiente, promotores públicos e órgãos ambientais na elaboração de propostas de políticas e ações públicas para conservação e proteção da fauna e da flora. (Cristiana Andrade) (Correio Braziliense, 17/3)

 

2 – Espécie de lagarto duplica seus genes para viver sem sexo

 

Dobrar número de cromossomos ajuda a produzir variabilidade na ausência de machos, diz estudo

Uma equipe de pesquisadores nos EUA resolveu o mistério por trás de uma população de lagartos na qual só existem fêmeas que se reproduzem sozinhas, dispensando a fertilização por machos -uma forma de reprodução sem sexo conhecida como partenogênese.

Os cientistas descobriram que elas produzem células germinativas -as que dão origem a espermatozoides e óvulos- com o dobro de cromossomos dos lagartos que fazem sexo.

Toda reprodução sem sexo é intrigante para aos biólogos, pois a menor variabilidade genética poderia diminuir a capacidade da espécie de se adaptar ao ambiente e lidar com novos parasitas e predadores.

Sexo também traz problemas: a eficiência da transmissão de genes cai e há grande custo energético. Mas isso é compensado pela variabilidade genética, que leva a indivíduos potencialmente mais aptos.

Os lagartos da espécie Aspidoscelis tesselata vivem no sudoeste dos EUA e norte do México e têm cerca de 10 cm.

A equipe liderada por Peter Baumann, do Instituto Stowers de Pesquisa Médica, mostrou que, com o dobro de cromossomos na divisão celular, é possível haver recombinação de genes entre cromossomos geneticamente idênticos.

“Nosso trabalho mostra que animais podem abandonar a reprodução sexual, pelo menos por muitas e muitas gerações, se outras táticas forem usadas para gerar e preservar a diversidade genética”, disse Baumann à Folha. O estudo foi publicado na semana passada na revista científica “Nature”.

A partenogênese (“nascimento virgem”, em grego) ocorre em plantas e animais, incluindo vespas, peixes, salamandras e répteis, mas não há casos entre mamíferos.

“Se estima que 0,1% das espécies multicelulares se reproduzem via partenogênse”, diz Baumann. “Nos lagartos com que trabalhamos há uma incidência muito alta. Cerca de um terço das 50 espécies próximas são partenogenéticas.”

O porquê disso é algo que ainda se pesquisa.

“Se um animal está bem adaptado ao seu ambiente e este não muda muito, a diversidade genética dentro da espécie se torna muito menos importante do que o grau de reprodução. Uma espécie partenogenética pode se reproduzir mais rápido porque cada indivíduo pode ter crias e não se gasta nem tempo nem energia na busca de um parceiro”, afirma Baumann.

Isso ajuda as explicar o porquê de espécies partenogenéticas conseguirem se espalhar e competir com as sexuais em alguns habitats. Basta uma fêmea para colonizar uma ilha, enquanto seria preciso um macho e uma fêmea para fazer o mesmo na espécie sexuada -e eles teriam de se encontrar e “gostar” um do outro. (Ricardo Bonalume Neto) (Folha de SP, 17/3)