1 – Estudo revela cor de penas de dinossauro
2 – Fósseis de dois dinossauros são encontrados no Rio Grande do Sul
3 – Figueiras, vespas e sexo a distância
1 – Estudo revela cor de penas de dinossauro
Pigmento celular indica que bichos tinham, no mínimo, tons negros, marrons e vermelhos no corpo
“Eu costumava dizer aos meus alunos que jamais conseguiríamos saber duas coisas sobre os dinossauros: que sons eles produziam e que cor eles tinham. Isso acaba de mudar.” A frase de efeito do paleontólogo britânico Michael Benton, da Universidade de Bristol, casa bem com o anúncio dos resultados de seu mais recente trabalho: a presença de penas que iam do negro ao castanho-avermelhado em pequenos dinossauros carnívoros da China.
O que parecia um elemento irrecuperável da aparência desses bichos extintos veio à tona graças a uma análise conduzida com microscópios eletrônicos. Benton e colegas da China e da Irlanda conseguiram flagrar, nos dinossauros fossilizados, a presença de melanossomos, minúsculas estruturas celulares que funcionam como reservatório de “corantes” naturais.
Como o nome indica, os melanossomos contêm melanina, o mesmo pigmento que dá cor à pele humana. Duas versões diferentes dos melanossomos correspondem à variação que vai do preto ao castanho-avermelhado ou alaranjado, provavelmente distribuída de forma padronizada pelo corpo dos dinos e, talvez, acompanhada por outras tonalidades.
“É como se nós montássemos uma paleta básica de cores para esses dinossauros”, afirmou Benton em entrevista coletiva. De quebra, a descoberta talvez ajude a derrubar uma controvérsia interminável, sobre a natureza das penas dos dinossauros chineses.
É pena ou não é pena?
Embora versões emplumadas dos bichos tenham aparecido no registro fóssil desde os anos 1990, havia quem duvidasse que as estruturas fossem penas de verdade. Para os céticos, elas não passariam de fibras de colágeno (proteína muito presente nos músculos) ou mesmo “tapetes” de bactérias que decompuseram o corpo dos falecidos dinos.
Com os melanossomos, porém, fica muito difícil contestar a natureza penácea das estruturas, afirma o artigo de Benton e companhia na revista científica “Nature” desta semana.
Afinal, o grupo conseguiu resultados parecidos em cinco espécies diferentes de dinossauros chineses, alguns dos quais nem possuíam plumas, mas apenas filamentos que lembram a penugem dos pintinhos modernos. Os bichos são todos carnívoros pequenos e ágeis, com idade entre 130 milhões e 120 milhões de anos, como o Sinosauropteryx, o Beipiaosaurus e o Sinornithosaurus.
“A nossa sorte é que a melanina é uma proteína bastante durona, o que facilitou a preservação dela nas penas”, diz Benton. Os melanossomos identificados pelo grupo puderam ser distinguidos pelo formato: os alongados, em forma de salsicha, representam uma forma de melanina entre o negro e o cinza, enquanto os esféricos vão do castanho ao amarelo. “Talvez seja possível identificar outros pigmentos e arranjos de melanossomos responsáveis por cores como o azul e o verde”, afirma ele.
Conforme o padrão de penas e cores for ficando mais claro, a ideia é usar esses dados para saber se as plumas dos dinos não voadores os ajudavam a manter a temperatura do corpo, como a pelagem dos mamíferos, ou funcionavam como sinalizadores de status e apelo sexual, como ocorre entre os pavões. As duas coisas, claro, podem ter andado juntas. (Reynaldo José Lopes). (Folha de SP, 28/1)
2 – Fósseis de dois dinossauros são encontrados no Rio Grande do Sul
Ossos estavam na região de São João do Polêsine. Formato dos dentes indica que um deles era carnívoro
Fósseis de dois dinossauros foram encontrados em uma propriedade rural em São João do Polesine, na região central do Rio Grande do Sul. O formato dos dentes de um deles indica que se trata de um pequeno carnívoro – um evento raro, segundo paleontólogos.
De acordo com os pesquisadores, o animal se alimentava de pequenos insetos, anfíbios e outros mamíferos que viviam na região. A descoberta, divulgada nesta quarta-feira (27/1), foi feita durante uma escavação realizada em novembro. (G1, 28/1)
3 – Figueiras, vespas e sexo a distância
“O que se acredita é que as vespas são carregadas pelo vento e, ao sentirem o cheiro do néctar, voam ativamente em direção às figueiras em flor”
Fernando Reinach (fernando@reinach.com) é biólogo. Artigo publicado em “O Estado de SP”:
Plantas e insetos selaram um pacto. Os insetos voam de flor em flor, transportando o pólen necessário para fertilizar os óvulos. Em troca, coletam o néctar de que necessitam para se alimentar. Para grande parte das plantas e insetos, é uma relação promíscua, em que diversas espécies de insetos polinizam uma mesma espécie de vegetal.
Mas a fidelidade impera na relação entre a figueira africana Ficus sycomorus e a vespa Certosolen arabicus. A vespa é o único inseto capaz de polinizar a figueira, que por sua vez é a única fonte de alimento da vespa. Seus destinos estão intimamente interligados. A vespa nasce no momento em que a figueira produz suas flores do sexo masculino, ricas em pólen e pobres em néctar.
Como só vive dois dias e a figueira na qual nasceu só vai produzir flores femininas semanas depois, resta à vespa procurar alimento nas figueiras da vizinhança. Ao penetrar nas flores femininas, a vespa deposita o pólen, sorve o néctar e coloca seus ovos. Novas vespas eclodem na próxima floração e o ciclo se repete.
Com o desmatamento, a distância entre as figueiras vem aumentando. Os cientistas temiam que, de um momento para outro, a distância entre as árvores se tornaria maior que a autonomia de voo das vespas. Sendo assim, vespas e figueiras desapareceriam.
Era preciso descobrir a autonomia de voo das vespas. O truque foi estudar as figueiras ao longo do Rio Ugab, no deserto da Namíbia. Como o rio corta o deserto e as figueiras só se desenvolvem nas margens úmidas, cientistas percorreram os últimos 253 quilômetros do rio e identificaram as figueiras que cresciam nas margens.
A localização de cada uma das 79 figueiras foi determinada com um sistema de GPS. As distâncias entre as árvores variaram de alguns metros a 84 quilômetros. Folhas de cada uma delas foram coletadas e seu DNA, extraído. De cada uma das árvores também foram coletadas sementes, que, após germinarem no laboratório, tiveram seu DNA purificado.
De posse das amostras de DNA, os cientistas utilizaram um teste de paternidade, semelhante aos que identificam o pai de uma criança, para descobrir a árvore “pai” – aquela que havia produzido o pólen para fecundar o óvulo – de cada semente. Assim, por exemplo, foi descoberto que uma semente produzida pela árvore nº 1 tinha como pai a nº 3.
Como os dados do GPS permitem calcular a distância entre a árvore nº 1 e a nº 3, foi possível deduzir a rota percorrida pelas vespas carregando o pólen das flores macho da árvore nº 3 para as flores fêmeas da nº 1.
Esse tipo de análise foi repetido para cada uma das dezenas de sementes coletadas. Os resultados demonstram que a menor distância entre uma árvore doadora de pólen e uma produtora de semente foi de 14,2 quilômetros, que a maior foi de 160 quilômetros e que a distância média voada pelas vespas carregando pólen foi de 88,6 quilômetros.
O resultado é surpreendente, uma vez que essas pequenas vespas só vivem dois dias e voam somente durante a noite. O que se acredita é que as vespas são carregadas pelo vento e, ao sentirem o cheiro do néctar, voam ativamente em direção às figueiras em flor.
Essa experiência demonstra que, utilizando sua colaboração com as vespas, as figueiras são capazes de praticar sexo mesmo quando o parceiro está localizado a mais de 150 quilômetros de distância. O time figueira/vespa, com seus milhões de anos de cooperação, é sem dúvida o campeão na prática do sexo a distância.
Mais informações: Wind-borne insects mediate directional pollen transfer between desert fig trees 160 kilometers apart. PNAS, vol.106, pag. 20.342, 2009. (O Estado de SP, 28/1)