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Informativo 625 – Migrações; ameaça e jovem

1 – Mudanças climáticas de longo prazo provocam mais migrações do que os desastres naturais

2 – Pesticidas muito usados no mundo ameaçam a biodiversidade

3 – Jovem holandês criou projeto para limpar os oceanos

 

1 – Mudanças climáticas de longo prazo provocam mais migrações do que os desastres naturais

 

Aumento da temperatura é a principal razão de deslocamentos

Quatro meses atrás, o vulcão Sinabung entrou em erupção na Indonésia, esvaziando as aldeias vizinhas, cobertas de cinzas. Cerca de 100 mil pessoas deixaram suas casas, mas a grande maioria voltou semanas depois. Esse é um retrato de como um desastre natural espanta uma população sem afugentá-la definitivamente. Agora, um estudo das universidades americanas de Princeton e Califórnia e do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos afirma que as mudanças climáticas, que ocorrem a longo prazo, provocam mais migrações do que as catástrofes isoladas.

 

Segundo os pesquisadores, a temperatura e o índice de chuvas são os principais motivadores para as migrações definitivas. Com o avanço dos eventos extremos nas próximas décadas, cada vez mais áreas vão se tornar inabitáveis, e o contingente dos chamados refugiados climáticos deve explodir.

 

No estudo, publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, os cientistas acompanharam por 15 anos o deslocamento de sete mil famílias da Indonésia. O país, que é o maior arquipélago do mundo, tem uma população de cerca de 250 milhões de pessoas. Aproximadamente 40% dependem da agricultura, e muitos vivem em áreas costeiras. São regiões altamente vulneráveis ao aumento do nível do mar e outros efeitos ligados às mudanças climáticas.

 

DESERTIFICAÇÃO É OUTRA CAUSA

Com base nos registros, a pesquisa mostrou que o número de refugiados climáticos é maior em locais onde cresceu a temperatura média do país, que é de 25,1 graus Celsius. Segundo o estudo, isso ocorreu porque o aumento dos termômetros compromete o rendimento das culturas agrícolas. As chuvas teriam um papel mais tímido nas migrações definitivas.

 

Vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, Suzana Kahn concorda com os resultados do estudo.

 

– Uma população pode acreditar que um episódio isolado, como um vulcão, logo vai se resolver – lembra Suzana, que também é professora da Coppe/UFRJ. – Mas as mudanças climáticas vão obrigar que estas pessoas se retirem definitivamente de suas regiões. É um fenômeno já visto nos pequenos países do Pacífico, que já negociam uma migração definitiva para a Nova Zelândia, por causa do aumento do nível do mar.

 

A desertificação no Norte da África também provoca a migração de milhares de pessoas para o Sul da Europa. Esse deslocamento tem levado ao crescimento de legendas de extrema-direita, hostis à chegada dos refugiados climáticos.

 

– A migração de grandes populações também tem consequências econômicas – ressalta Suzana. – Na Europa, por exemplo, a resistência aos africanos é grande porque eles aceitam condições de trabalho muito desfavoráveis. No Ártico, o derretimento de geleiras proporciona a escavação de novos poços de petróleo, o que atrairia muitas pessoas e empresas. (Renato Grandelle / O Globo)

http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/mudancas-climaticas-de-longo-prazo-provocam-mais-migracoes-do-que-os-desastres-naturais-12988197#ixzz35ZVsrLCU

 

2 – Pesticidas muito usados no mundo ameaçam a biodiversidade

 

Autores de estudo que examinou 800 pesquisas sobre o assunto pedem regulamentação mais rígida

Alguns dos pesticidas mais utilizados no mundo têm efeitos nefastos sobre a biodiversidade, não se limitando apenas às abelhas, mas que prejudicam também as borboletas, minhocas, aves e peixes, segundo uma avaliação científica internacional apresentada nesta terça-feira.

 

Depois de ter examinado as conclusões de 800 estudos publicado nos últimos vinte anos, os autores desta avaliação pedem para endurecer ainda mais a regulamentação sobre os neonicotinoides e o fipronil, os dois tipos de substâncias químicas estudadas, e de “começar a planejar sua supressão progressiva em escala mundial ou, ao menos, formular planos destinados a reduzir fortemente seu uso no mundo”.

 

“As provas são muito claras. Estamos diante de uma ameaça que pesa sobre a produtividade de nosso meio natural e agrícola”, indica em um comunicado o Dr Jean-Marc Bonmatin (CNRS), um dos principais autores desta análise realizada nos últimos quatro anos.

 

A avaliação foi feita por um painel de 29 pesquisadores internacionais no âmbito de um grupo de trabalho especializado em pesticidas sistêmicos (concebidos para ser absorvidos pelas plantas). Este grupo aconselha, entre outros, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o organismo que vigia a saúde da biodiversidade mundial através de sua lista vermelha de espécies ameaçadas.

 

As conclusões são publicadas em oito artigos durante o verão na revista Environmental Science and Pollution Research, afirma este grupo de trabalho.

 

Os pesticidas estudados são “os mais utilizados hoje no mundo, com uma quota de mercado estimada em 40%” e também “são utilizados normalmente nos tratamentos domésticos para a prevenção das pulgas nos gatos e nos cachorros e na luta contra os cupins nas estruturas de madeira”.

 

Os efeitos vinculados à exposição de pesticidas “podem ser imediatos e nefastos, embora também crônicos”, afirmam os pesquisadores. Os efeitos são diversos, como a perda de olfato ou de memória, uma perda de fertilidade, diminuição da ingestão de alimentos, abelhas que forrageiam menos ou uma capacidade alterada das minhocas de cavar túneis.

 

Estes pesticidas são denunciados há anos como uma das causas que explicam o declive das populações de abelhas. A União Europeia já suspendeu em 2013 o uso do fipronil e de três neonicotinoides devido aos seus efeitos nos polinizadores. (Zero Hora)

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/planeta-ciencia/noticia/2014/06/pesticidas-muito-usados-no-mundo-ameacam-a-biodiversidade-4534677.html

 

3 – Jovem holandês criou projeto para limpar os oceanos

 

Proposta para recolher lixo plástico passa por financiamento coletivo para levantar US$ 2 milhões
 

Por que navegar pelos mares tirando lixo com embarcações poluentes se uma simples barreira pode fazer o trabalho, aproveitando o próprio movimento dos oceanos? Foi com uma pergunta assim que Boyan Slat, um holandês de apenas 19 anos, criou um projeto que tem a ambição de limpar os mares do planeta. O plano começa na região conhecida como Grande Depósito de Lixo do Pacífico, onde se concentram milhares de toneladas de plásticos.

 

Sem apoio financeiro de governos ou aporte de instituições para tentar cumprir o objetivo, Boyan criou a fundação TheOcean Cleanup, que agora tenta arrecadar US$ 2 milhões por meio de financiamento coletivo – e já atingiu 37% da meta. Concentrando-se no problema dos plásticos, causadores de transtornos à vida de aves, mamíferos e peixes – que podem chegar à cadeia alimentar humana, já que os animais acabam ingerindo substâncias tóxicas -, o jovem imaginou que uma série de barreiras flutuantes seria capaz de aproveitar as correntes oceânicas para bloquear o lixo encontrado nas águas. Todos esses detritos, de difícil acesso para qualquer veículo aquático, seriam reunidos de forma natural, permitindo uma extração posterior eficiente.

 

A principal vantagem do método, segundo o jovem, está em permitir que os mares sigam seu fluxo normal, sem trazer prejuízos à vida marinha e, ainda assim, juntando o material indesejável em um único local para permitir sua retirada. Em vez de ir até o plástico, as barreiras deixam que o plástico vá até elas e, a partir dali, passe a receber um destino adequado. Com esse método, porém, só é possível reunir o material que fica mais próximo da superfície, nos primeiros 3 metros de profundidade.

 

– Infelizmente, o plástico não vai embora sozinho. Eu me perguntei: “por que não podemos limpar isso tudo?”. Então pensei que, ao distribuir um sistema de longos “braços flutuantes” pelo mar, os oceanos poderiam basicamente fazer a própria limpeza – explica Boyan.

 

As primeiras doações, feitas a partir de abril de 2013, viabilizaram a criação da The Ocean Cleanup e os estudos iniciais sobre o projeto, que contam com contribuições voluntárias de pesquisadores. Com as etapas fundamentais concluídas, chegou a hora de colocar em prática. O próximo passo é pôr em funcionamento uma plataforma-piloto para a realização de testes em até quatro anos, antes da implementação total do projeto. A arrecadação para essa nova etapa começou em 3 de junho, com o objetivo de obter US$ 2 milhões em cem dias.

 

Placa de sujeira antiga foi descoberta em 1997

Em um evento no início do mês em Nova York para apresentar a ideia, Boyan mostrou os resultados de um estudo de viabilidade. Em 530 páginas, o relatório procura mostrar que o conceito, divulgado pelo jovem desde o ano passado, consiste em um método viável para a remoção de detritos da mancha de lixo entre o Havaí e a Califórnia, onde correntes marinhas se encontram, concentrando toneladas de plástico e outras substâncias poluentes.

 

Essa “ilha de lixo” fica distante da costa, dificultando sua retirada e a responsabilização de algum país – já que muitos são banhados pelo oceano e nenhum fica, de fato, encarregado da área. Outro obstáculo para a limpeza dessa mancha é que as águas ali são pouco transitadas pela navegação mercantil e turística, criando assim um problema que incomoda principalmente ecologistas e cientistas. A placa de sujeira existe há muitos e muitos anos, mas foi descoberta somente em 1997.

 

A própria existência de depósitos involuntários de lixo como esse no oceano dificulta uma solução. Uma expedição programada para 2012 fracassou por conta de incidentes causados por detritos plásticos, e um explorador francês partiu rumo ao desconhecido no ano seguinte apenas para entender o fenômeno. Na semana passada, o chefe da diplomacia americana pediu o desenvolvimento de uma estratégia global.

 

– Como seres humanos, não há nada que compartilhemos tão completamente quanto o oceano que cobre cerca de três quartos do nosso planeta, afirmou o secretário de Estado americano, John Kerry, ao abrir uma conferência sobre o tema que reuniu chefes de governo e ministros de 80 países.

 

“Acreditamos que é possível”

Boyan Slat mergulhava na Grécia quando viu mais plástico ao seu redor do que peixes. Decidiu que limparia parte do Pacífico. Por telefone, falou a ZH sobre a ideia.

 

Como você decidiu agir para combater a poluição?

Tinha 16 anos quando percebi esse problema sobre a poluição por plásticos. Fiz um projeto na escola e, a partir daí, isso saiu de controle, eu não consegui mais parar de pensar no assunto.

 

Você ouviu pessoas dizerem que uma solução assim seria impossível?

Percebi que muitas pessoas mencionavam que era impossível, mas, ao mesmo tempo, não havia qualquer pesquisa para provar essa afirmação, apenas gente dizendo que não poderia ser feito. Decidi ver por mim mesmo, e desenvolvi esse conceito há dois anos.

 

Quais são os maiores obstáculos para pôr a ideia em prática?

Há um ano e meio, tudo estava muito parado: não havia financiamento, apenas o dinheiro do meu bolso. Foi um período difícil, mas, em março de 2013, o conceito se tornou viral e passamos a receber apoio. Há alguns desafios óbvios, como descobrir se a estrutura consegue suportar tempestades ou como mantê-la no lugar. Esse tem sido nosso foco desde o ano passado.

 

Também precisamos nos preocupar com o transporte (se o navio tem de ser registrado em algum país específico, por exemplo), se isso não interferiria no tráfego marítimo, e investigamos se o conceito não faria mesmo mal ao ambiente. O destino dado ao plástico foi outra preocupação, e descobrimos que o material pode ser transformado em óleo ou aproveitado em outros produtos. Tivemos muitos desafios, mas identificamos os problemas, inclusive com a ajuda de críticos ao projeto, e acreditamos que é possível colocar tudo em prática. (Guilherme Justino / Zero Hora).