1 – Devastação amazônica soma duas Alemanhas
2 – Saiba o que é a pegada ecológica e como reduzir os danos ao planeta
1 – Devastação amazônica soma duas Alemanhas
Área desmatada já ocupa 19% da parte brasileira da floresta original
Nos últimos 25 anos, enquanto a atenção do Brasil e do mundo sobre a Amazônia se concentrou no sobe e desce das taxas anuais de devastação, o desmatamento acumulado na floresta dobrou.
Hoje são 759,2 mil quilômetros quadrados, segundo dados do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais). Essa extensão equivale à metade do Amazonas, ou, em números internacionais, mais que o triplo da área do Reino Unido ou o dobro da Alemanha. São 19% do total de 3,9 milhões de quilômetros quadrados da parte brasileira da floresta.
A devastação, no entanto, é maior. O número se refere apenas à supressão total da floresta, o “corte raso”. Não inclui áreas muito danificadas pela extração seletiva de madeira e também por incêndios do passado, segundo Dalton Morrisson Valeriano, gerente do Programa Amazônia do Inpe.
Em 1988, quando o corte raso acumulado chegou a 376,7 mil quilômetros quadrados, a Constituição estabeleceu a Floresta Amazônica como patrimônio nacional, cujas áreas teriam de ser utilizadas “dentro de condições que assegurem a preservação”.
Nessa época, a atenção internacional sobre a Amazônia alcançou seu auge. Em 1987, as queimadas na região impressionaram os tripulantes da estação espacial soviética Mir e, em seguida, a imprensa internacional.
O governo brasileiro passou a ser criticado até por líderes estrangeiros –como o presidente francês François Mitterrand — pelos incentivos fiscais para pecuária e mineração na região desde os anos 70.
Às vésperas da conferência Eco-92, da ONU, foi anunciada a taxa de desmatamento de 1991, a menor desde o início da medição em 1978. Mas logo atribuíram a redução ao desaquecimento da economia pelas medidas do governo Fernando Collor em 1990.
O corte raso na floresta voltou a crescer. E foi mais intenso em Rondônia, Pará e norte de Mato Grosso, com a expansão de áreas para criação de gado de corte e plantios de grãos, especialmente soja. Na conta da rentabilidade entrava também o baixo custo de terras na região, como ressaltou o relatório do Inpe do período entre 1995 e 1997.
Em 1995, a taxa de desmatamento saltou para o dobro da média dos anos anteriores: 29 mil quilômetros quadrados, o recorde de toda a série histórica, maior que Alagoas.
Era o início do governo de Fernando Henrique Cardoso, no ano seguinte ao fim das altas taxas de inflação. “Com a devastação nesse ano, a oposição entre crescimento econômico e proteção ambiental, já conhecida na teoria, ficou muito evidente na prática”, afirmou o geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, professor emérito da USP.
Nos anos seguintes, as gestões de FHC e de seus sucessores petistas Lula e Dilma Rousseff investiram em sistemas de monitoramento e intensificaram a fiscalização. Desde 2005, a curva de desmatamento se tornou predominantemente descendente, exceto pelo pequeno aumento em 2013. (Mauricio Tuffani / Folha de S.Paulo) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/169412-devastacao-amazonica-soma-duas-alemanhas.shtml
Matéria complementar da Folha de S.Paulo sobre o assunto:
Desmatamento em queda é história de sucesso, diz estudo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/169410-desmatamento-em-queda-e-historia-de-sucesso-diz-estudo.shtml
2 – Saiba o que é a pegada ecológica e como reduzir os danos ao planeta
No Dia do Ambiente, aproveite para descobrir se você vive de forma compatível com a capacidade de regeneração da Terra
Ao caminhar por um terreno delicado, deixamos marcas. É assim na areia, na grama, até no barro e na lama. Cada passo fica ali, símbolo do impacto causado pela nossa passagem. É assim também com a Terra. Aquele produto novo, a última refeição consumida, a escolha de onde morar e como se locomover, o tempo no banho e o gasto de energia: tudo causa um impacto no ambiente. Em maior ou menor grau, isso indica se uma pessoa vive de maneira compatível com a capacidade natural de regeneração do planeta. É a chamada pegada ecológica, que mede o impacto de cada um nos recursos naturais.
O diferencial desse índice está no apelo individual. Cada pessoa pode, por meio de um questionário simples, saber o quanto consome, em média, dos recursos naturais do planeta. O resultado é acessível: nada de quantidade de gases emitidos ou créditos de carbono necessários – cálculos muito importantes, mas pouco tangíveis. Sua pegada ecológica é determinada em hectares, uma forma de traduzir qual o tamanho do território que uma pessoa utiliza para se sustentar.
– Temos de nos conscientizar sobre o impacto causado na natureza com o nosso padrão de consumo. Atualmente, temos consumido mais do que a natureza pode prover. Com a pegada ecológica, cada um pode determinar seu impacto no cotidiano e pensar em formas mais sustentáveis de viver no planeta – avalia a bióloga Terezinha Martins, analista de conservação do WWF-Brasil.
Calcular esse rastro ambiental é uma tarefa que engloba, principalmente, os hábitos de consumo. Quem não dispensa uma porção de carne vermelha por dia (ou mais!) exige recursos naturais em demasia, assim como quem prefere percorrer distâncias curtas de carro. Tomar banhos demorados, deixar luzes ligadas enquanto o Sol brilha lá fora, colocar todo lixo no mesmo saco: tudo isso contribui para aumentar seu impacto no mundo.
E mudar hábitos que prejudicam o local onde vivemos passa, primeiro, por entender que algumas atitudes, mesmo aquelas que não parecem ter muito ação no ambiente, podem afetar a Terra como a conhecemos. Um modo de vida mais sustentável implica em exigir menos da natureza – garantindo, assim, uma pegada mais leve. Não é o caso de evitar o que uma pessoa já se acostumou a fazer, mas identificar maneiras de contornar o alto consumo de algumas práticas.
– É importante as pessoas perceberem a sua contribuição pessoal na pressão sobre os recursos naturais. O conceito de consumo sustentável é uma utopia: a solução está em as pessoas perceberem os cenários e os desafios e, a partir daí, vislumbrar as contribuições pessoais que podem fazer no dia a dia para sair dessa rota de colisão com a insustentabilidade – adverte Genebaldo Freire Dias, PhD em ecologia e funcionário aposentado do Ibama.
Ter consciência do próprio efeito sobre o ambiente tende a fazer a diferença: ainda que alguns hábitos nunca mudem, repensar as atitudes individuais leva cada um a entender melhor como contribuir para o futuro – e o presente – do planeta.
Os primeiros passos
Começar a reduzir o impacto no ambiente demanda apenas conscientização. Práticas simples podem diminuir a sua pegada ecológica. O incentivo aos bons hábitos e o sinal de alerta para os ruins pode partir de cada um – mais do que de iniciativas do governo ou até mesmo de empresas. Ambientalistas apontam que alguns fatores determinantes para a marca são alheios à ação individual, mas há muito espaço para mudança.
– Vivemos em um contexto em que, muitas vezes, não conseguimos ser ecologicamente corretos – afirma Cristiane Fensterseifer Brodbeck, educadora ambiental e professora da Unisinos. – É difícil deixar o carro de lado sem um transporte público de qualidade, e nossos horários dificilmente permitem uma visita à feira. Mesmo assim, é preciso refletir, porque não há uma solução mágica para as questões ambientais: a mudança começa por cada um.
Há, porém, quem acredite que modificar práticas insustentáveis não é mais questão de escolha, mas uma necessidade. Para o PhD em ecologia Genebaldo Freire Dias, a adequação de hábitos passou a ser uma estratégia de sobrevivência – e será exigida da nossa espécie uma adaptação muito maior. Ele compara a situação ambiental atual com a de algumas décadas atrás para afirmar que somente apagar a luz, usar menos água já não funcionam mais.
– Hoje é mais difícil do que era há 10 anos, porque as mudanças necessárias são mais drásticas: elas vão incomodar mais do que em décadas passadas. Está se exigindo das pessoas um processo de adaptação muito mais profundo, e não são mudanças de hábitos simples. É preciso nos adaptar, mudar nosso estilo de vida – ressalta o professor.
Afinal, cada passo fica marcado, mas não de maneira indelével: basta uma atitude para suavizar aquele rastro. E sempre há tempo de olhar para trás e avaliar o que foi feito – e assim, se for preciso, mudar o passo seguinte.
O que é a pegada ecológica?
Quantos planetas seriam necessários para manter o seu estilo de vida? Essa é a questão proposta pelo conceito de pegada ecológica, um dos principais indicadores de sustentabilidade do mundo.
> A pegada de cada um representa a marca deixada na Terra pelos próprios hábitos – seja por meio do tamanho das áreas de cultivo necessárias para se alimentar, seja pela quantidade de área natural devastada para a construção de indústrias ou moradias.
> Apresentada em hectares (ou “pontos”), a pegada calcula a extensão de território que uma pessoa utiliza, em média, para se sustentar. Diversos fatores influenciam esse índice: os modos de consumo, alimentação e transporte são alguns deles.
> Quem pedala para ir ao trabalho causa menos danos ao ambiente, assim como quem dá preferência à agricultura local e tenta consumir menos água e energia.
> A pegada ecológica compara o consumo individual de recursos naturais em relação à capacidade da Terra de repor o que foi utilizado. É uma maneira prática de entender o impacto causado no planeta e de aprender como é possível mudar as más práticas – ou manter aquelas exemplares.
Como é calculada?
Segundo a WWF, a pegada ecológica de um país, de uma cidade ou de uma pessoa corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentam seu estilo de vida. Vários tipos de variáveis são levados em conta nesse cálculo: desde alimentação até transporte, passando por habitação e energia, entre outros.
Os componentes do cálculo desse rastro são os seis abaixo:
Como diminuir?
Em média, consumimos 50% a mais do que a capacidade de reposição da Terra – o que significa que precisamos de um planeta e meio para manter nosso padrão de vida atual.
Se você ficou preocupado com o tamanho da sua pegada ecológica, fique atento a algumas dicas.
Evite hábitos consumistas
O indicado é só trocar aparelhos eletrônicos quando apresentarem defeito, não quando um novo for lançado. Esses produtos demandam grande quantidade de recursos naturais não renováveis e exigem o consumo de muita energia para serem produzidos.
Prefira energia limpa
Além de emitirem gases de efeito estufa (principalmente o gás carbônico), combustíveis fósseis poluem o ar, a água e o solo. Dê prioridade ao transporte público e a veículos sustentáveis.
Consuma menos água e energia
O desperdício é um dos maiores vilões desse cálculo. Procure tomar banhos mais curtos, usar lâmpadas que não agridam o ambiente e economizar papel, por exemplo.
Recicle o lixo
Se cada pessoa separar os produtos descartáveis para reciclagem, muito dano ambiental pode ser evitado. É recomendado ainda que se reutilize plástico e vidro sempre que possível – pode ser uma embalagem que vira vaso, ou uma garrafa transformada em arte. Produtos eletrônicos, pilhas, baterias de celulares e lâmpadas também devem ser descartados corretamente e encaminhados para postos de coleta adequados.
OUTRAS PEGADAS
A pegada ecológica é o indicador mais conhecido dos impactos da ação humana sobre o meio ambiente, mas não está sozinha. A esse índice se somam a pegada de carbono e a pegada hídrica. Juntas, são conhecidas como a “família de pegadas”. Todas têm o mesmo objetivo: alertar cada um para que, em conjunto, se possa reduzir o impacto do ser humano na Terra.
DICA
Teste sua pegada ecológica em www.suapegadaecologica.com.br
(Guilherme Justino / Zero Hora)
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/planeta-ciencia/noticia/2014/06/saiba-o-que-e-a-pegada-ecologica-e-como-reduzir-os-danos-ao-planeta-4518658.html