Fechar menu lateral

Informativo 615 – Jararaca; cromossomo Y; coral assassino e gol de placa

1 – Estudo sobre picada da jararaca ajuda a entender mecanismos da hemorragia

2 – Descobertas mostram que cromossomo Y não é um mero definidor de sexo

3 – Investigação aponta invasão da costa do Rio por coral assassino

4 – Ainda há chance de um gol de placa para o tatu-bola e a Caatinga

 

 

1 – Estudo sobre picada da jararaca ajuda a entender mecanismos da hemorragia

 

Entender as causas desses efeitos, a sua etiologia, no entanto, é um desafio complexo

Há muito se sabe que o envenenamento provocado por serpentes como a jararaca (Bothrops jararaca) pode causar danos aos tecidos ao redor do local da picada e estimular um quadro de hemorragia. Entender as causas desses efeitos, a sua etiologia, no entanto, é um desafio complexo.

 

É o que conta o médico veterinário Marcelo Larami Santoro, pesquisador do Instituto Butantan, em São Paulo, que conduziu o projeto “Importância da lesão local induzida por metaloproteinases de venenos ofídicos na indução de plaquetopenia em envenenamentos” de 2011 a 2013 com o apoio FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

 

“Na maioria das ocorrências, o soro antiofídico é eficaz para tratar as picadas de jararaca; em casos mais graves, porém, pode ocorrer uma hemorragia muito intensa que deve receber tratamento específico”, disse o pesquisador.

 

Para entender como o veneno da jararaca afeta o sistema de coagulação e as plaquetas (células que ajudam a controlar a perda de sangue), foram feitos experimentos em ratos utilizando duas vias de inoculação, a subcutânea e a intravenosa. Com isso, procurou-se verificar a importância da lesão local na indução da plaquetopenia (redução da contagem de plaquetas no sangue) e das alterações do sistema de coagulação.

 

O estudo também testou a importância das duas principais classes de toxinas presentes no veneno, as metaloproteinases e as serinaproteinases; para isso, o veneno da jararaca foi incubado, antes de ser injetado nos animais, com inibidores apropriados. O objetivo da incubação do veneno é promover a inibição de determinadas enzimas. Como já se sabe, ambas as classes apresentam atividade anti-hemostática, ou seja, impedem a detenção da perda sanguínea, reação que ocorre quando o organismo tenta inibir uma hemorragia.

 

De acordo com os resultados, as duas classes de toxinas não estão diretamente envolvidas na origem da plaquetopenia induzida pelo veneno da jararaca, o que suscitou a conclusão de que outros mecanismos ou toxinas do veneno devam ser responsáveis pela redução das plaquetas. No entanto, as metaloproteinases do veneno se mostram essenciais para o desenvolvimento dos distúrbios da coagulação. Essa evidência contesta uma opinião difundida ao longo dos anos entre médicos e cientistas, de que as serinaproteinases são as toxinas mais importantes para o consumo do fibrinogênio, proteína envolvida no processo de coagulação sanguínea e cuja diminuição no sangue favorece o quadro hemorrágico decorrente da picada da jararaca.

 

Outro dado importante levantando foi que a lesão provocada no local da inoculação do veneno pode estimular a liberação de fator tissular na circulação sanguínea. Conhecido também como tromboplastina, o fator tissular é uma substância presente em tecidos, monócitos e plaquetas que desempenha um papel fundamental na coagulação sanguínea.

 

“O aumento do fator tissular na circulação torna a ação do veneno mais potente, aumentando os danos nos tecidos ao favorecer a coagulopatia, que são distúrbios de coagulação”, acrescentou Santoro, ressaltando que o estudo da ação dos venenos ofídicos ao longo do século XX ajudou a ciência a descobrir os mecanismos da coagulação sanguínea.

 

O artigo Bothrops jararaca venommetalloproteinases are essential for coagulopathyandincrease plasma tissuefactorlevelsduringenvenomation, descrevendo todos esses resultados, será publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases.

 

Parceria com Argentina

O projeto contou com a participação da pesquisadora María Elisa Peichotto, da Universidad Nacional del Nordeste (NDDE) da Argentina. O trabalho foi aprovado na chamada do acordo de cooperação científica assinado em 2010 entre a FAPESP e o Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas de la República Argentina (Conicet).

 

A pesquisadora argentina é a autora principal de um artigo científico desenvolvido durante o projeto,Inflammatoryeffectsofpatagonfibrase, a metalloproteinasefromPhilodryaspatagoniensis(Patagonia Green Racer; Dipsadidae) venom, publicado no periódico Experimental Biologyand Medicine.

 

A parceria com o país vizinho ainda colaborou para a realização da primeira Jornada “Investigación biomédica de animales venenosos de la selva paranaense”, realizada em maio de 2013 na cidade argentina de Puerto Iguaçu.

 

Outro fruto importante do projeto foi a pesquisa de mestrado “Patogênese dos distúrbios hemostáticos sistêmicos induzidos pelo veneno da serpente Bothrops jararaca“, da estudante Karine Miki Yamashita, apoiada por uma bolsa FAPESP.

 

Santoro pretende agora continuar a investigação sobre o fator tissular e os mecanismos envolvidos com ele. “Conhecendo-o melhor poderemos colaborar para combater a sua ação nos casos de envenenamento”, diz. (Agência Fapesp)

 

2 – Descobertas mostram que cromossomo Y não é um mero definidor de sexo

 

Pesquisa revela que as células carregam propriedades do cromossomo

O cromossomo Y, conhecido na biologia básica por definir o sexo, e que já foi até tido como ameaçado de extinção por estar com a carga genética diminuindo, voltou a ser visto com atenção: segundo um novo estudo do Instituto Whitehead, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ele atua na expressão dos genes e pode explicar as diferenças de propensão a doenças entre homens e mulheres.

 

O estudo publicado na revista Nature também mostra que, de fato, o cromossomo Y tem apenas 19 dos aproximadamente 600 genes que ambos os cromossomos (X e Y) compartilhavam há cerca de 300 milhões de anos. O declínio do cromossomo Y parou e ele está estável nos últimos 25 milhões de anos. Isso porque muitos desses genes são cruciais para a sobrevivência humana, muito mais do que apenas determinar o sexo.

 

Alguns deles afetam a síntese de proteínas, o quanto ativo um gene é, outros emendam segmentos de RNA. São encontrados no coração, no sangue, nos pulmões e outros tecidos do corpo.

 

– São personagens poderosos na “central de comando” das células – afirma David Page, biólogo do instituto Whitehead e um dos autores da pesquisa.

 

Nos mamíferos e em muitos outros animais as fêmeas têm dois cromossomos X (abreviado XX) e os machos um cromossomo X e um Y (abreviado XY). O cromossomo Y é muito menor e evoluiu a partir de um X através da perda massiva de genes.

 

O cromossomo Y sofria com as más notícias. Em 2002, outra pesquisa publicada na Nature previa que ele estaria extinto em 10 milhões de anos, o que deixou muita gente divagando se os homens iriam junto. A pesquisa de Page e seus colegas do MIT examinou justamente a história evolutiva do cromossomo e revelou o quão estável ele esteve nos últimos 25 milhões de anos.

 

Isso se deu graças a 12 genes que não tem nada a ver com a determinação do sexo. São responsáveis por funções celulares vitais como a síntese de proteínas e a regulação da transcrição de outros genes. Isso significa, de acordo com o estudo, que o cromossomo Y é importante para a sobrevivência de todo o organismo.

 

A descoberta pode mudar a forma de estudo de biólogos e bioquímicos que estudam as células sem ter ideia se são XX ou XY. A pesquisa dos americanos seguirá neste sentido, atrás da diferença entre células masculinas e femininas. Isso abre uma porta para descobrirmos o motivo de algumas doenças se manifestarem mais em homens do que mulheres, por exemplo. Os cientistas acreditam que os cromossomos podem ser mais responsáveis por essa diferença do que hormônios sexuais como testosterona e estrogênio. (Zero Hora)  http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/planeta-ciencia/noticia/2014/04/descobertas-mostram-que-cromossomo-y-nao-e-um-mero-definidor-de-sexo-4483083.htm

 

3 – Investigação aponta invasão da costa do Rio por coral assassino

 

 

De acordo com o Ministério Público Federal, a espécie já teria contaminado todo o litoral

Apontada como uma das maiores ameaças aos ecossistemas costeiros do Brasil, a bioinvasão pelo coral-sol, que começou pela Baía da Ilha Grande e já teria se espalhado por todo o litoral fluminense, será discutida numa audiência pública, convocada por três procuradores da República, nesta segunda-feira, no Rio. Segundo investigação preliminar do Ministério Público Federal, o coral-sol, conhecido como coral assassino e que expulsa espécies nativas, entrou acidentalmente no Brasil através de plataformas de petróleo e gás encomendadas pela Petrobras, que passaram pelo Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis. Ainda de acordo com o MPF, a costa de Angra, Paraty, Mangaratiba, Rio, Arraial do Cabo e Búzios já estaria contaminada.

 

O sinal de alerta no MPF foi dado em 2012 por Monique Cheker, procuradora da República de Angra, durante uma visita à Estação Ecológica de Tamoios. A região da Baía da Ilha Grande é a mais afetada porque a temperatura da água é mais elevada, principalmente nas proximidades das usinas nucleares, o que facilitaria a proliferação da espécie. Foi instaurado um inquérito civil público que levou à identificação de alguns locais da costa de Angra já contaminados: os terminais da Petrobras, da Brasfels e da Vale.

 

Danos incluem redução do número de peixes em áreas afetadas

A audiência pública desta segunda-feira foi convocada por Monique Cheker e pelos procuradores Douglas Araújo e Maurício Ribeiro Manso, do Rio e de São Pedro da Aldeia. A procuradora afirmou que os objetivos da audiência pública são, de forma imediata, informar a sociedade civil sobre o problema e convidar todos que tenham informações úteis para a investigação dos inquéritos instaurados pelo MPF em Angra, no Rio e na Região dos Lagos.

 

O coral-sol, segundo especialistas ouvidos pelo MPF, provoca a perda da biodiversidade e a fragilização dos recursos pesqueiros, além de outros impactos sociais e ambientais.

 

Para a audiência pública, foram convocados Petrobras, Ibama, ICMBio, Inea, Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, Estaleiro Brasfels, Vale, Uerj e Consórcio Projeto Coral-Sol.

 

– Através dos inquéritos, vamos identificar causas e responsáveis e, ao fim, compensar e paralisar o dano ambiental – disse a procuradora.

 

O biólogo marinho Vinicius Padula, doutorando da Universidade de Munique, na Alemanha, disse que a bioinvasão é grave. Segundo ele, na Ilha Grande, o coral já cobriu boa parte do fundo do mar e ocupou o espaço das espécies nativas:

 

– A audiência pública é um avanço no combate a esse problema.

 

Origem: Ilhas Galápagos

Um dos integrantes do Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos, o biólogo Salvatore Siciliano disse que o coral-sol é originário das Ilhas Galápagos. Os primeiros foram identificados há dez anos na Baía da Ilha Grande, mas os corais assassinos, segundo ele, já se dispersaram por boa parte do Sudeste.

 

– A invasão pode provocar danos às espécies locais, que passam a competir por espaço e alimento. Essa espécie pegou carona nos cascos de navios e plataformas de petróleo, e o aumento do fluxo de navios só facilita essa dispersão.

 

A audiência pública será das 13h às 18h30m, no auditório da Procuradoria da República no Rio de Janeiro, na Avenida Nilo Peçanha 31, no Centro. A participação será limitada à capacidade do auditório. (Paulo Roberto Araujo / O Globo)

http://oglobo.globo.com/rio/investigacao-aponta-invasao-da-costa-do-rio-por-coral-assassino-12316671#ixzz30BLv2qZB

 

4 – Ainda há chance de um gol de placa para o tatu-bola e a Caatinga

 

Pela conservação do mascote da Copa do Mundo e de seu habitat, pesquisadores propõem desafio à Fifa e ao governo brasileiro: mil hectares de Caatinga protegidos para cada gol marcado na competição

A seleção do tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), uma espécie tipicamente brasileira, como mascote oficial da Copa do Mundo Fifa 2014 é uma grande oportunidade para engajar os parceiros do maior evento esportivo do mundo em uma agenda efetiva de conservação. Entretanto, tanto o tatu-bola quanto seu habitat principal, a Caatinga do nordeste do Brasil, estão ameaçados e precisam de proteção.

 

Em um artigo que acaba de ser publicado na revista científica Biotropica, pesquisadores das Universidades Federais de Pernambuco (UFPE), do Vale do São Francisco (Univasf), da Paraíba (UFPB), do ICMBio e da Universidad Autônoma do México discutem o que os organizadores da competição deveriam fazer para que o seu mascote oficial possa ser beneficiado pelo tão falado legado da Copa.

 

“Estamos estimulando a Fifa e o governo brasileiro a incorporarem três ações conservacionistas concretas ao legado ambiental da Copa no Brasil: 1) expandir o sistema de parques e reservas na Caatinga; 2) honrar os investimentos prometidos para os “Parques da Copa”; e 3) acelerar a publicação do plano de ação para a conservação do tatu-bola” aponta Felipe Pimentel Lopes de Melo, um dos autores e professor da UFPE.

 

Ameaçada pelo desmatamento, pela caça e pastoreio excessivos, grandes extensões da Caatinga vêm desaparecendo rapidamente e a expansão da sua área protegida e a melhoria de seus parques e reservas é um desejo antigo de todos que se preocupam com este ecossistema genuinamente brasileiro. “Acreditamos que ainda há tempo para um grande gol ambiental e estamos provocando a Fifa e o governo brasileiro a estabelecerem uma meta ambiciosa: para cada gol marcado na Copa do Mundo, ao menos 1.000 hectares de Caatinga devem ser protegidos como parques e reservas”, explica Enrico Bernard, também da UFPE.

 

Ao ajudarem a retirar o tatu-bola da lista de espécies ameaçadas e ao comprometerem-se com a proteção da Caatinga, os pesquisadores esperam que a Fifa e o Governo Brasileiro pratiquem o fair play e marquem o melhor gol da Copa no Brasil. “Proteger o que resta da Caatinga é extremamente urgente. O futebol é o esporte mais popular do mundo e esperamos que toda a atenção da mídia nacional e internacional pela Copa nos ajude a espalhar esta mensagem de conservação. Queremos que a escolha do tatu-bola não seja apenas simbólica, mas que efetivamente contribua para a conservação desta espécie tão carismática e de seu ambiente”, afirma José Alves Siqueira, professor da Univasf e um dos maiores divulgadores da riqueza biológica da Caatinga.

 

Os pesquisadores esperam que o desafio seja aceito pela Fifa e pelo governo brasileiro, e que Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo e companhia façam o maior número de gols de uma Copa. Além de deixarem as torcidas em êxtase, seus gols contribuiriam para a conservação da biodiversidade brasileira.

 

“Football and Biodiversity Conservation: FIFA and Brazil Can Still Hit a Green Goal”, Felipe P. Melo, Jose A. Siqueira, Braulio A. Santos, Orione Alvares-da-Silva, Gerardo Ceballos & Enrico Bernard. Biotropica DOI: 10.1111/btp.12114.

http://biotropica.org/worldcup

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/btp.12114/abstract