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Informativo 592 – Clima; 14,5% e 80 cm

1 – As mudanças climáticas batem à sua porta

2 – Pecuária provoca 14,5% de todas as emissões de gases de efeito estufa, diz FAO

3 – Elevação do nível do mar pode superar 80 cm até o fim do século

 

1 – As mudanças climáticas batem à sua porta

Relatório do IPCC regionaliza previsões e revela aumento de temperatura de até 7 graus Celsius no Brasil
 
Novas previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) indicam que o Brasil caminha para um futuro ainda mais preocupante do que se imaginava. Números obtidos pelo GLOBO – parte do quinto relatório do IPCC, que está sendo finalizado em reunião com representantes de 110 países em Estocolmo e só será divulgado oficialmente na sexta-feira – indicam que as temperaturas no país podem aumentar de 3 a 5 graus Celsius até 2100, com as máximas diárias se elevando em até 7 graus. Tal cenário seria catastrófico, com redução de até 30% das chuvas e desaparecimento de 50% das espécies vegetais do Cerrado.
 
Produzidos desde 1990, os relatórios do IPCC sempre foram marcados por previsões globais para o aquecimento e suas consequências, com números de amplo alcance como a elevação da temperatura média da Terra e do nível dos oceanos. Mas embora tenham servido para chamar a atenção para os efeitos planetários da ação humana, os textos muitas vezes falharam em aproximar o cidadão comum do tema e da ciência por trás dele. Diante isso, os 809 especialistas reunidos em Estocolmo para finalizar a primeira parte do novo relatório decidiram regionalizar as previsões, como explicam em rascunho de parte do documento.
 
Segundo os integrantes do primeiro grupo de trabalho do IPCC, esta nova parte do relatório tem como objetivo ajudar os esforços de comunicação e aumentar o engajamento do público tanto em nível regional, nacional e local nas discussões em torno das mudanças climáticas. “Embora estes públicos possam não estar interessados em discussões científicas globais ou em instituições e negociações internacionais, eles podem ficar interessados nas ameaças iminentes que as mudanças climáticas apresentam para sua segurança, seus lares, suas famílias e suas propriedades”, diz a introdução do texto, que continua: “Assim, em uma época na qual algumas pessoas consideram as mudanças climáticas ‘uma ameaça futura’, ‘que não me diz respeito’ ou ‘apenas um boato’, a intenção deste sumário regional e torná-las reais, relevantes e urgentes para elas”.
 
Ainda de acordo com os integrantes do IPCC, o destaque às previsões regionais também leva em conta que, muitas vezes, os impactos das mudanças climáticas, como secas e enchentes, não demonstram ter padrões claros quando observados globalmente. “Por outro lado, quando observadas localmente, estas descobertas científicas podem ser extremamente claras. Assim, o foco em achados locais, nacionais ou regionais não só tornará as mudanças climáticas mais relevantes para o público-alvo como também ajudará a prevenir debates mal informados ou mal conduzidos que aqueles em favor de um futuro de alto carbono podem tentar promover”, acrescenta o documento.
 
Para o Brasil, a expectativa do relatório regional é de mais aridez no Norte e Nordeste e ciclos de secas e tempestades extremas no Sul, acompanhadas de ondas de calor que poderão ter fortes impactos em biomas importantes como a Amazônia e o Cerrado, além de prejudicarem a agricultura e até mesmo a geração de energia pelas hidrelétricas que respondem por mais de 80% da eletricidade consumida no país. Outro alerta do texto é relativo à piora do efeito de ilhas de calor nas zonas urbanas, marcadamente no Sudeste brasileiro, onde estão as maiores cidades do país.
 
– A questão das cidades é um item preocupante – comenta Suzana Kahn-Ribeiro, especialista brasileira que integra o primeiro grupo de trabalho do IPCC. – As cidades precisam ser olhadas com mais atenção, pois têm um papel importante nas alterações climáticas, não só porque são as maiores fontes de emissão de gases do efeito estufa como modificam o albedo da Terra (refletividade) e alteram o microclima criando as ilhas de calor.
 
Já o colombiano Walter Vergara, chefe da Divisão de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), considera a América Latina uma das regiões mais vulneráveis aos eventos extremos provocados pelas mudanças no clima. Segundo Vergara, a diminuição da cobertura glacial do Ártico, da Antártica e da Cordilheira dos Andes, que provocará o aumento do nível do mar, deflagrará uma grave crise econômica em países como o Brasil, onde as cidades mais ricas e populosas são litorâneas.
 
– Toda a infraestrutura costeira, inclusive os portos, será afetada – ressalta. – O aumento das precipitações, outra consequência das mudanças climáticas, prejudicará a agricultura, o que causará um aumento nos preços dos alimentos. A indústria da soja será particularmente abalada. (Cesar Baima, Claudio Motta e Renato Grandelle/O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/as-mudancas-climaticas-batem-sua-porta-10153093#ixzz2g0IvK7FD

 

2 – Pecuária provoca 14,5% de todas as emissões de gases de efeito estufa, diz FAO

O órgão revela que as principais fontes das emissões são a produção e processamento de alimento, as emissões produzidas pela digestão das vacas e a decomposição do estrume
 
A pecuária é responsável por 14,5% das emissões de gases de efeito estufa provocadas pelo homem, anunciou hoje (26) a Organização das Nações Unidas (ONU), ao estimar que a generalização de práticas já existentes permitiria reduzir essas emissões em 30%.
 
A conclusão é da agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que hoje lança o relatório Lidar com as Alterações Climáticas através da Pecuária: Uma Avaliação Global das Emissões e das Oportunidades de Mitigação, que a organização diz ser a mais vasta análise feita até hoje do impacto da produção animal para o aquecimento global.
 
Segundo a FAO, as principais fontes das emissões são a produção e processamento de alimento (45% do total), as emissões produzidas pela digestão das vacas (39%) e a decomposição do estrume (10%). O resto é atribuído ao processamento e transporte dos produtos animais.
 
Todas juntas, as emissões de gases de efeito estufa resultantes da pecuária equivalem a 7,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, ou seja, 14,5% de todas as emissões produzidas pela atividade humana.
 
A agência da ONU, sediada em Roma, conclui ainda que a aplicação mais generalizada de métodos já existentes, incluindo a mudança da dieta dos animais e uma produção mais eficiente dos alimentos para o gado, permitiriam reduzir as emissões em 30%.
 
“Essas descobertas mostram que o potencial de melhoria do desempenho ambiental do setor é significativo”, disse Ren Wang, diretor adjunto da FAO para a Agricultura e a Proteção do Consumidor.
 
Ele diz ser “imperativo agir agora” para reduzir as emissões do setor, uma vez que a procura de carne e de leite aumenta de forma muito rápida, em especial nos mercados emergentes. (Agência Brasil, via Agência Lusa)

 

3 – Elevação do nível do mar pode superar 80 cm até o fim do século

O novo estudo do IPCC deve superar a estimativa de 2007, entre 18 e 59 centímetros em 2100
 
Especialistas revisarão para cima a elevação do nível do mar esperada para o próximo século na sexta-feira (27), durante a conferência sobre o clima em Estocolmo, na Suécia, alertando para uma ameaça importante provocada pelas mudanças climáticas que não deve preocupar apenas os atóis do Pacífico.
 
Em 2007, em seu relatório, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) avaliou que a alta média dos oceanos poderia alcançar entre 18 e 59 centímetros em 2100.
 
Em sua nova análise sobre o estado do planeta, que terá sua primeira parte publicada na sexta-feira, a organização científica revisará estes números para cima, referindo-se a uma alta das águas que pode superar os 80 cm no fim do século, segundo versão provisória do resumo que ainda pode ser modificada.
 
O tema, evidentemente, é vital para muitos Estados insulares do Pacífico, como Tuvalu, Maldivas e Kiribati.
 
Mas também diz respeito, potencialmente, a dezenas de milhões de pessoas que vivem nas metrópoles costeiras e nos grandes deltas.
 
Um estudo recente, publicado na revista NatureClimateChange, calcula o potencial impacto econômico das inundações nas 136 cidades costeiras com mais de um milhão de habitantes: o custo poderia superar em 2050 o bilhão de dólares, se nada for feito para protegê-las.
 
Diante de semelhante consequência, o IPCC tenta adotar respostas cada vez mais precisas.
 
“Reduzimos atualmente a margem de incerteza de forma considerável”, informou à AFP AnnyCazenave, especialista em observação dos oceanos no Laboratório Francês de Estudos em Geofísica e Oceanografia Espacial (Legos).
 
Globalmente, a elevação do nível do mar se acelerou há 20 anos, constatam os climatologistas: 3,2 mm anuais em média nos últimos 20 anos contra 1,7 mm em média entre 1901 e 2010.
 
Agora, leva-se mais em consideração um fenômeno insuficientemente conhecido em 2007: o deslizamento nos mares das geleiras costeiras da Groenlândia e da Antártica, indicou Cazenave, co-autora, como em 2007, do capítulo sobre o mar do novo relatório do IPCC.
 
De acordo com estudos mais recentes, as calotas da Groenlândia e da Antártica teriam contribuído em pouco menos de um terço da elevação do nível do mar há 20 anos. O resto se distribui entre a dilatação térmica e o derretimento das geleiras de montanhas.
 
Ainda é possível fazer avanços na forma de regsitrar a grande variabilidade regional da elevação das águas.
 
Essa variabilidade se deve às diferenças na expansão térmica, mas também aos movimentos da crosta terrestre. Em algumas regiões, o solo tem a tendência de afundar, por exemplo, por causa do bombeamento da água ou da exploração do petróleo, tornando estas regiões ainda mais vulneráveis.
 
Segundo os cientistas, esse é o caso da costa leste dos Estados Unidos, onde o mar sobe mais rápido do que do outro lado do Atlântico.
 
Em algumas regiões, o aumento do nível do mar seria “dez vezes mais rápido do que a média”, declarou recentemente o geofísico Jerry Mitrovica à revista Nature.
 
Essas respostas científicas são mais esperadas do que nunca pelas autoridades políticas e econômicas.
 
“As pessoas encarregadas de tomar decisões se sentem com frequência desorientadas quando há 25 estudos que oferecem resultados diferentes”, afirmou StephaneHallegate, economista do Banco Mundial e especialista em clima.
 
“O relatório do IPCC vai esclarecer o estado do conhecimento, destacando os estudos mais sólidos”, acrescentou. (Portal UOL, via Agência Ambiente Brasil)