1 – Science traz coletânea sobre impactos das mudanças climáticas
2 – Desmatamento da Amazônia aumentou 100% no último ano
1 – Science traz coletânea sobre impactos das mudanças climáticas
Edição especial da publicação reúne estudos sobre os efeitos das transformações do clima nos sistemas naturais e afirma que a influência do homem é uma realidade
Mudanças climáticas antropogênicas são parte da nossa realidade. Mesmo as mais otimistas estimativas sobre os efeitos do uso contemporâneo dos combustíveis fósseis sugerem que a temperatura global subirá pelo menos 2ºC antes do fim do século e que as emissões de CO2 afetarão o clima pelas próximas dezenas de milhares de anos.
É assim que começa a introdução para a edição do dia dois de agosto do que é possivelmente o mais famoso periódico científico do planeta, a revista Science.
A principal meta das pesquisas atuais é predizer como essas mudanças afetarão os ecossistemas globais e a população humana que depende deles. Essa edição especial da Science está focada no atual estágio do nosso conhecimento sobre os efeitos das mudanças climáticas nos sistemas naturais, com ênfase particular em como o conhecimento do passado está nos ajudando a entender os potenciais impactos biológicos e a fazer melhores previsões, segue o texto.
Um dos estudos apresentados detalha por que a segurança alimentar é uma das questões com as quais devemos nos preocupar.
Apesar de nas últimas décadas a quantidade de pessoas passando fome ter diminuído, desde 2007 a diferença entre oferta e demanda por alimentos tem ficado cada vez menor. Segundo os pesquisadores, as mudanças climáticas podem ser o fator que faltava para que a produtividade não consiga mais acompanhar a expansão da população mundial.
A alta do preço dos alimentos registrada em 2008 representa o aumento da vulnerabilidade do sistema global de alimentos aos extremos climáticos e à volatilidade econômica. Precisamos criar um sistema alimentar que seja inteligente climaticamente para que resista aos impactos climáticos. É necessário desenvolver culturas que sejam tolerantes a secas e às altas temperaturas, assim como novas técnicas que reduzam as emissões de carbono do uso do solo. Além disso, temos que garantir que o comércio, os investimentos e as políticas de desenvolvimento para a agricultura sejam também inteligentes climaticamente, afirmou Tim Wheeler, principal autor do estudo.
Em outro trabalho presente na Science especial, pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, afirmaram que durante esse século as mudanças climáticas podem ocorrer em um ritmo dez vezes mais rápido do que qualquer outra alteração no clima dos últimos 65 milhões de anos.
Sabemos que os ecossistemas foram capazes de se adaptar às mudanças passadas, quando o planeta aqueceu poucos graus durante milhares de anos. Mas a trajetória atual das temperaturas não tem precedente, são alterações que acontecerão em termos de décadas. Já vemos muitas espécies sendo desafiadas pela velocidade das mudanças, afirmou Noah Diffenbaugh, coautor do estudo.
Para e editora-chefe da Science, Marcia McNutt, antecipar o futuro sob a influência das mudanças climáticas é um dos maiores desafios do nosso tempo.
Não estamos apenas experimentando o aumento das emissões de gases do efeito estufa, mas também a eutrofização [fenômeno causado pelo excesso de nutrientes na água, provocando um aumento excessivo de algas], a poluição do ar e da água, gigantescas conversões de terra e muitos outros insultos [ao planeta], todos eles interagindo e com efeitos cumulativos. O problema real que precisamos resolver para entendermos como o ecossistema pode se transformar é entender esses impactos cumulativos.
Lidar com os problemas de dimensões cumulativas é a prioridade se queremos encontrar soluções viáveis para a real crise ambiental nas próximas décadas. É preciso que todos os cientistas encarem esse desafio, escreveu McNutt. Fonte: 12/08/2013 – Autor: Fabiano Ávila – Fonte: Instituto CarbonoBrasil
2 – Desmatamento da Amazônia aumentou 100% no último ano
O desmatamento na Amazônia aumentou no último ano após quase uma década de redução drástica, apontam indicadores ainda provisórios que acionam um alerta sobre o delicado momento atravessado pela maior floresta tropical do planeta.
Entre agosto de 2012 e junho de 2013, o Instituto Imazon detectou um aumento de 100% do desmatamento. Os dados provisórios do governo até maio indicam um aumento de 30%.
O Brasil conseguiu reduzir o desmatamento de sua floresta para 4.571 km2 em 2012, o menor em décadas, após o alarmante máximo de 27.772 km2 em 2004.
A medição anual do desmatamento vai de agosto a julho, mas o governo insiste que os dados definitivos serão conhecidos até o final do ano com informações mais precisas de satélites.
Os números do desmatamento coincidem com grandes obras e leis que afetam a região, aprovadas por um Congresso que tem uma poderosa bancada favorável ao agronegócio em um país produtor de matérias-primas.
Em outubro foi sancionada a reforma do Código Federal, impulsionada pela bancada ruralista e questionada pelos ecologistas. Esta lei definiu que os agricultores e pecuaristas devem preservar em suas propriedades na Amazônia 80% da cobertura vegetal de selva.
“Uma das razões para o aumento recente do desmatamento foi o Código Florestal: provocou um rumor que o produtor interpretou como anistia” para aqueles que desmatam, disse à AFP o secretário de Municípios Verdes do estado do Pará (norte), Justiniano Netto.
O governo de Dilma Rousseff “continua impulsionando grandes obras, mas não criou novas áreas protegidas e quase não demarcou terras indígenas, que são barreiras ao desmatamento e, ao mesmo tempo, depende do apoio de uma frente política, (que integra) o agronegócio, que tem um grande poder que não tinha antes e uma agenda muito clara de revisão de políticas indígenas e áreas protegidas”, disse à AFP o encarregado da Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario.
Os indígenas estão em pé de guerra diante de iniciativas em debate no Congresso, como a possibilidade de instalar concessões de mineração ou fazendas em suas terras, e que seja o Parlamento que demarque seus territórios, um assunto atualmente nas mãos do governo, destacou Cleber Buzzatto, secretário executivo do Conselho Indigenista (CIMI). “É um processo de ataque violento aos direitos indígenas”, disse.
Líderes de 121 etnias de todo o país invadiram a Câmara dos Deputados em abril para reivindicar seus direitos e acusaram a presidente de ser anti-indígena.
Os analistas se recusam a concluir que o aumento indicado no desmatamento está marcando uma nova tendência no país que em oito anos conseguiu reduzir em mais de 80% o desmatamento na floresta, mas advertem que é preciso colocar mãos à obra.
“O Brasil tem as armas para continuar reduzindo o desmatamento, mas não pode afrouxar as regras, precisa deixar claro que não aceitaria anistias e agirá com dureza contra quem desmata”, afirmou Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon.
Os analistas identificam uma nova tendência em boa parte do desmatamento: a especulação de terras incentivada por grandes obras de infraestrutura ou logística, como hidrelétricas, estradas e portos, que melhoram a perspectiva de desenvolvimento econômico.
“O Brasil tem que investir na prevenção: muitos dos danos ambientais e sociais destas obras podem ser prevenidos”, afirmou Ian Thompson, diretor do programa Amazônia da ONG The Nature Conservancy.
O Instituto da Reforma Agrária do governo se comprometeu na semana passada a reduzir em 80% até 2020 o desmatamento nos territórios da Amazônia entregues a camponeses sem terra, onde foi denunciado um significativo aumento da devastação. Fonte: Agência AFP.