Fechar menu lateral

Informativo 542 – Longe da meta e afeta Argentina

1 – Áreas protegidas crescem, mas ainda estão longe da meta global para 2020

2 – Estudo mostra que desmatamento da Amazônia afeta chuvas na Argentina

 

1 – Áreas protegidas crescem, mas ainda estão longe da meta global para 2020

 

A cobertura de áreas protegidas no planeta aumentou consideravelmente nos últimos 20 anos, tanto em terra quanto no mar, mas ainda está muito longe de atingir as metas internacionais estabelecidas para 2020 dentro da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas.

Segundo um relatório publicado, no dia 7 de setembro, pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), o percentual global de áreas protegidas no ambiente terrestre aumentou de 8,8% para 12,7% entre 1990 e 2010. Em ambientes marinhos dentro das áreas de jurisdição nacional (excluindo águas internacionais), o aumento foi de 0,9% para 4%.

 

As metas da CDB, conhecidas como Metas de Aichi (em referência à região japonesa na qual foram acordadas, em 2010), são de 17% para ambientes terrestres e de 10% para os oceanos.

 

Para chegar a esses números, segundo o relatório, será necessário criar nos próximos oito anos mais de 6 milhões de quilômetros quadrados de áreas protegidas em terra (duas vezes o tamanho da Argentina, por exemplo) e 8 milhões de quilômetros quadrados no mar (uma área maior que a Austrália). O relatório, chamado Planeta Protegido, foi apresentado no Congresso Mundial sobre Conservação, que ocorre na Coreia do Sul até o dia 15.

 

O líder da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF, Claudio Maretti, que está no congresso, ressaltou que grande parte do aumento da cobertura global de áreas protegidas terrestres se deve à criação de unidades de conservação na Amazônia. Tanto pelo governo federal, nos primeiros anos do governo Lula, quanto pelos governos estaduais. Entre 2003 e 2009, o Brasil foi responsável por mais de 70% das áreas protegidas terrestres criadas no mundo, por exemplo. “Foi uma época de ouro que infelizmente acabou”, diz Maretti, referindo-se ao fato de a presidente Dilma Rousseff não ter criado nenhuma área de tamanho significativo até agora.

 

Atualmente, cerca de 25% da Amazônia estão protegidos – ao menos legalmente – por unidades de conservação (UCs) como parques nacionais e reservas extrativistas. A meta nacional era chegar a 30% até 2010. Segundo a Iniciativa Amazônia Viva, seria preciso chegar a 36%, no mínimo, para garantir uma conservação adequada da biodiversidade amazônica, e a até 70%,para salvaguardar os serviços ecológicos essenciais prestados pela floresta, como estocagem de carbono e produção de chuvas.

 

Segundo o relatório da IUCN, as áreas protegidas garantem o sustento de mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e guardam 15% dos estoques naturais de carbono do planeta.

 

Orçamento – Maretti aponta para outro problema federal: a falta de recursos, humanos e financeiros. “A cobertura de áreas protegidas aumentou bastante, mas o orçamento, não. O resultado é uma redução da quantidade de recursos disponível por hectare para a implementação e gestão dessas áreas”, diz.

 

O governo também está em dívida com os oceanos. O aumento de áreas protegidas marinhas no Brasil foi irrisório no período, apesar do aumento significativo em escala global. Apenas 1,5% dos ecossistemas marinhos e costeiros do País conta com algum tipo de proteção legal. (O Estado de São Paulo – 8/9)

 

2 – Estudo mostra que desmatamento da Amazônia afeta chuvas na Argentina

 

A perda de floresta tropical pode afetar pessoas a milhares de quilômetros de distância, de acordo com um novo estudo publicado na revista “Nature”.

O desmatamento pode causar uma grave redução das chuvas nos trópicos, com graves consequências para as pessoas, não só nessa região, mas em áreas vizinhas, disseram pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, e do Centro de Ecologia e Hidrologia do Conselho de Pesquisa Ambiental Britânico.

 

O ar que passa sobre grandes áreas de floresta tropical produz pelo menos duas vezes mais chuva do que o que se move por áreas com pouca vegetação. Em alguns casos, as florestas contribuem para o aumento de precipitação a milhares de quilômetros de distância, de acordo com o estudo.

 

Considerando as estimativas futuras de desmatamento, os autores afirmam que a destruição da floresta pode reduzir as chuvas na Amazônia em 21% até 2050 durante a estação seca. “Nós descobrimos que as florestas na Amazônia e na República Democrática do Congo também mantêm a precipitação nas periferias dessas bacias, ou seja, em regiões onde um grande número de pessoas depende dessas chuvas para sobreviver”, disse o autor do estudo, Dominick Spracklen, da Escola sobre a Terra e o Ambiente da Universidade de Leeds.

 

“Nosso estudo sugere que o desmatamento na Amazônia ou no Congo poderia ter consequências catastróficas para as pessoas que vivem a milhares de quilômetros de distância em países vizinhos”, afirmou.

 

Impacto na Argentina, Paraguai, Brasil e Uruguai – O estudo demonstra a importância fundamental da proteção à floresta, segundo seus autores. Em declarações anteriores à BBC, o cientista José Marengo, especialista em mudanças climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) do Brasil, explicou por que a floresta amazônica afeta as chuvas tanto no sul do Brasil quanto na Argentina, no Uruguai e no Paraguai.

 

Os ventos alísios, que vêm do Oceano Atlântico para o continente, arrastam umidade para o interior da América do Sul tropical, isto é, a Amazônia e o Nordeste do país. E além da umidade que vem do Atlântico, a vegetação amazônica contribui para o aumento da umidade por meio do processo de evapotranspiração, como é chamada a evaporação dos rios juntamente com a transpiração das plantas.

 

“Essa umidade é carregada pelo vento em direção aos Andes, que desvia para o Sudeste da América do Sul. Assim, algumas das chuvas que ocorrem na bacia do Rio da Prata, incluindo o Sul do Brasil, de fato vêm da Amazônia”, disse Marengo. “Se não existisse a floresta amazônica, o Sul teria menos umidade, de forma que Paraguai, Uruguai, Argentina e o sul devem à Amazônia parte de suas chuvas.”

 

Deslocamento de ar – Os cientistas têm debatido, ao longo de décadas, a ligação entre vegetação e precipitação. É sabido que as plantas retornam a umidade do ar através do processo de evapotranspiração, mas não está claro o impacto das florestas tropicais em termos de quantidade e distribuição geográfica. Os autores do novo estudo usaram dados de satélite da agência espacial americana (Nasa) sobre vegetação e precipitação, e um modelo de previsão de padrões de movimentos de vento.

 

“Vimos o que aconteceu com o ar nos dias anteriores, que caminho havia tomado e sobre que área de vegetação”, disse Spracklen. Os pesquisadores analisaram a trajetória das massas de ar de diferentes partes de florestas. Quanto maior era a vegetação sobre a qual o ar tinha viajado, maiores a umidade e a quantidade de precipitação produzida.

 

“As observações mostram que, para compreender como as florestas impactam as chuvas, temos de levar em conta a forma como o ar interagiu com a vegetação durante sua viagem de milhares de quilômetros”, disse Stephen Arnold, pesquisador da Universidade de Leeds e co-autor do estudo.

 

“Isso tem implicações importantes para os tomadores de decisão, quando se considera o impacto ambiental do desmatamento, já que seus efeitos nas chuvas podem se sentir não só localmente, mas em uma escala continental”, afirmou. “O Brasil fez recentemente alguns avanços na redução dos altos índices de desmatamento, e nosso estudo mostra que esse progresso deve ser mantido.”

 

Um estudo anterior, publicado na revista “Nature” em janeiro, mostrou que a combinação de agricultura, desmatamento e mudança climática estão enfraquecendo o ecossistema amazônico, potencialmente levando à perda de sua capacidade de retenção de dióxido de carbono (CO2) e geração de chuva.

 

O trabalho conclui que, apesar da grande redução do desmatamento na Amazônia brasileira (28 mil hectares por ano em 2004 para 7 mil hectares em 2011), a floresta permanece frágil. (Portal G1)