1 – Sustentabilidade na Caatinga
2 – ‘As cidades têm agido; os governos federais, não’
3 – Água não é boa em 47% das medições
1 – Sustentabilidade na Caatinga
Evento apresenta propostas e recomendações formuladas pelos estados, com a participação dos municípios e da sociedade civil, para o desenvolvimento sustentável dos principais biomas brasileiros.
Secretários estaduais e municipais de Meio Ambiente debatem sobre a Carta da Caatinga para a Rio+20 em evento que apresenta propostas e recomendações formuladas pelos estados, com a participação dos municípios e da sociedade civil, para o desenvolvimento sustentável dos principais biomas brasileiros. O evento é uma promoção da Abema e da Anamma, associações de entidades estaduais e municipais de meio ambiente, e integra a programação do Parque dos Atletas da Conferência das Nações Unidades sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
A Caatinga abriga mais de 34 milhões de pessoas, ocupa 18% do território nacional e tem 53% de sua cobertura vegetal preservada. Seus desafios concentram-se na segurança hídrica e alimentar e na matriz energética industrial e domiciliar. “No dia em que discutimos uma carta pela sustentabilidade do bioma para a Rio+20, infelizmente temos de registrar a preocupação com a população do semi-árido que hoje vive uma das piores secas da história e ainda recebe água por meio do caminhão, o que é uma indignidade para a condição humana”, disse Hélio Gurgel, presidente da Abema.
Harmonia – Perspectiva que pode ser modificada, segundo gerente de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Campelo, se as possibilidades que existem ao conviver em harmonia com a biodiversidade, buscando alternativas de uso sustentável que transformam a realidade cruel da seca em oportunidades de manejo e negócios verdes, começarem a ser enxergadas.
“Não existe conservação se não houver bom uso e não encontrarmos harmonia ambiental, que hoje é uma das provocações da nossa realidade, defende Campelo. “Por isso, precisamos de um marco legal que não seja inibidor do uso, mas sim provedor dessas alternativas sustentáveis para a Caatinga”.
Iniciativas como a Bodega de Produtos Sustentáveis da Caatinga, que são as mulheres do sertão fazendo negócios ecológicos com a produção de artesanato, óleos, azeites, laticínios de cabra, doces de frutas típicas da região, como umbu, caju, murici, entre outros produtos da sociobiodiversidade do bioma. O Projeto Nutre é outra boa prática de uso sustentável da Caatinga apresentada por Campelo que inclui a comercialização dos produtos da agricultura familiar na alimentação escolar das nove capitais do Nordeste.
Fuligem – O uso de fogões ecológicos é umas das alternativas para a limpeza da matriz energética industrial e doméstica da Caatinga, que, conforme Campelo, ainda tem 40% de sua população cozinhando com lenha, a grande maioria em fogões rústicos, exposta à fumaça e à fuligem, em situações que provocam doenças respiratórias e glaucoma, além de ser a 8ª causa de morte do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), condição que mata mais gente do que a malária.
Durante o dia, os secretários também discutiram sobre as cartas da Amazônia e do Cerrado; o Pacto Nacional pela Gestão das Águas; Políticas Públicas para a Mata Atlântica; e o financiamento do Desenvolvimento Sustentável. (Ascom do MMA)
2 – ‘As cidades têm agido; os governos federais, não’
‘Vamos poupar 1 bilhão de toneladas de gases do efeito estufa até 2030. Isso é mais do que México e Canadá emitem juntos’, diz Michael Bloomberg.
Prefeito de Nova York, Michael Bloomberg chega hoje (19) ao Rio para presidir o C40, cúpula dos prefeitos das maiores cidades do mundo. Num momento em que as negociações da Rio+20 enfrentam críticas, Bloomberg diz que a esperança da sustentabilidade está nas cidades. Ele anunciará uma meta ambiciosa das mais de 50 prefeituras que integram o grupo: cortar um bilhão de toneladas de gases do efeito estufa até 2030.
O que se pode esperar do C40? Quais as metas a serem acordadas?
Michael Bloomberg: O C40 tem inúmeras ações. Uma delas é que vamos poupar 250 milhões de toneladas de gases do efeito estufa até 2020. E um bilhão de toneladas até 2030. Isso é mais do que México e Canadá emitem juntos. A segunda coisa é que colocamos as cidades juntas para compartilhar as melhores práticas. E estamos trabalhando com a Clinton Climate Initiative (fundada pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton) para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Há outro programa no qual estamos trabalhando, que é interromper a emissão de gases dos aterros, algo muito prejudicial ao nosso meio ambiente, mas ninguém foca nisso. As cidades vão fazer isso.
Qual é a responsabilidade das cidades com relação à sustentabilidade?
Bloomberg: Em 20 anos desde a última grande conferência no Rio, os governos federais foram incapazes de se reunir e fazer algo. Mas as cidades têm feito bastante: têm liderado a cobrança para se reduzir a criminalidade nas ruas, têm lutado contra o terrorismo, estão focadas em melhorar a educação. E são elas também que estão tendo progresso na questão do meio ambiente. Isso porque elas têm que responder ao público a cada dia sobre coisas específicas. Elas não podem apenas se sentar e ficar discutindo legislação com metas para daqui a 20 ou 30 anos. As pessoas querem um ar mais limpo, querem que suas crianças bebam uma água mais pura, querem passar pelo tráfego para chegar ao trabalho sem problemas.
A esperança estaria então nas cidades?
Bloomberg: A História tem mostrado que as cidades têm agido, e infelizmente os governos federais não o têm feito. Esperamos que eles mudem.
Negociadores da Rio+20 e especialistas em meio ambiente têm apontado a crise internacional como um empecilho a resultados ambiciosos para a sustentabilidade. O senhor concorda com isso?
Bloomberg: Em períodos econômicos difíceis ou bons, eu quero que minhas crianças sejam saudáveis. Mas isso não para daqui a 50 anos. Estamos tentando consertar o meio ambiente agora. E, quando os tempos são difíceis, alguns poderão dizer que não é um bom momento. Mas, quando o tempo for bom, também dirão que não é um bom momento. Na verdade, eu argumentaria que o ambiente econômico provavelmente seria melhor se gastássemos mais tempo focando nessas questões em vez de perder tempo com as coisas que geralmente fazemos.
Mas há dinheiro suficiente para essas mudanças?
Bloomberg: Com certeza. A maioria dessas ações não custa nada. Será mais barato converter o plano de energia com uso de carvão para gás natural; seria muito mais barato parar de poluir a água para não ter que filtrá-la; seria muito melhor se deixássemos de poluir para depois não ter que gastar dinheiro retirando essa poluição do ambiente. É mais barato fazer do que não fazer.
O presidente Barack Obama disse que não virá à Rio+20 e escalou a secretária de Estado, Hillary Clinton. A imagem dos Estados Unidos ficará prejudicada com essa decisão?
Bloomberg: Tanto o presidente Barack Obama como a secretária Hillary Clinton têm grande reputação. O presidente disse a ela para nos representar, e isso mostra o quanto ele está preocupado em tornar nosso meio ambiente melhor. Muitas pessoas só vão para falar, já Hillary tem ação. Obama pediu à sua secretária de Estado, que é fenomenalmente conhecida e respeitada, que fosse representá-lo.
Os EUA são fortemente criticados por não assinar uma série de acordos internacionais que visam à sustentabilidade e ainda por dificultar as negociações, no caso, por exemplo, da Rio+20. Como lidar com essas críticas?
Bloomberg: Tenho criticado o nosso Congresso por não defender e assinar muitos dos acordos internacionais, não estou satisfeito com isso. Com sorte, o presidente pode colocá-los para trabalhar juntos para fazer o que eu e você concordamos que é certo. Nós deveríamos assiná-los.
O que o senhor citaria como bons exemplos de Nova York que poderiam ser replicados pelas cidades?
Bloomberg: Estamos fazendo uma série de coisas. Estamos plantando um milhão de árvores para aumentar os valores das propriedades e ainda melhorar o ar, construindo mais galerias pluviais. Estamos mudando nossa legislação e tentando nos livrar dos combustíveis fósseis, para que haja menos poluentes no ar. Todas essas coisas estamos fazendo todos os dias. Temos nosso PlaNYC com 127 metas, das quais algumas já foram cumpridas e outras estão em andamento. Temos um compromisso de que todas as pessoas vivam próximo a parques, que todas entendam o valor da comida, quais os valores calóricos dela. Trabalhamos duro para restringir o fumo, para que as pessoas não tenham que respirar o ar de outro fumando. Estamos fazendo muito.
Qual sua expectativa com relação à vinda para o Rio e como avalia nossas políticas para a sustentabilidade?
Bloomberg: Vou ter a oportunidade de conhecer os prefeitos de outras cidades e tentar explicar ao mundo que estamos nisso juntos e deveríamos trabalhar duro para tornar o meio ambiente melhor. Não daqui a muito tempo, mas agora. Não tenho muita familiaridade com as políticas públicas daí. (O Globo)
3 – Água não é boa em 47% das medições
Quase a metade dos 135 pontos analisados em áreas urbanas apresenta índices ruins ou péssimos de contaminação, segundo estudo.
Um estudo conduzido pela Agência Nacional de Águas (ANA), com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mostra que 47% dos 135 pontos monitorados em áreas urbanas têm a qualidade da água péssima ou ruim. A maioria desses locais (61%) pertence à Região Hidrográfica do Paraná, que inclui cidades como São Paulo, Curitiba, Goiânia e Campinas.
Levando-se em consideração os 1.988 pontos de acompanhamento em todo o País, que incluem áreas rurais e periféricas, 75% têm índice de qualidade de água (IQA) considerado bom. Esse índice leva em conta elementos como coliformes (bactérias indicadoras de contaminação por esgoto doméstico), fósforo, oxigênio dissolvido, turbidez, pH.
O principal fator para a baixa qualidade da água é o esgoto, afirma Marcelo Pires, gerente de Estudos e Levantamentos da Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA. “O processo de urbanização que ocorreu no Brasil nos últimos 50 anos não foi acompanhado pelo saneamento. A situação crítica que a gente vive nas áreas urbanas é consequência disso”, afirmou.
Além desse diagnóstico, o levantamento traz pela primeira vez uma análise de tendência da qualidade da água, feita a partir de dados coletados por dez anos, no período entre 2001 e 2010. Em 92 localidades de monitoramento foi possível observar alguma tendência – em 47 pontos tem havido melhora na qualidade da água e em 45 deles, esse índice piorou.
O IQA aumentou nos pontos de acompanhamento que estão próximo aos grandes centros urbanos. Dos 47 locais, 24 estão em São Paulo. “A gente identificou que em algumas bacias há melhora por investimentos em saneamento básico. Isso ocorre no Rio Tietê, em São Paulo, no Rio das Velhas, em Minas Gerais, e no Rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro”, explica Pires.
Por outro lado, o IQA apresentou queda em regiões rurais, como a bacia do Rio Ivinhema, no Mato Grosso do Sul. “São áreas em que houve crescimento muito grande da população e da produção agroindustrial, e os investimentos em saneamento não acompanharam”, explicou o pesquisador.
O estudo chama atenção para o fato de apenas 10% do volume total de esgoto tratado no Brasil incluir a remoção do fósforo, presente em detergentes domésticos, por exemplo, que é um dos responsáveis pelo fenômeno da eutrofização – processo caracterizado pelo aumento de nutrientes nas águas, que provoca o crescimento de algas e plantas aquáticas. “A eutrofização afeta a biodiversidade aquática e a vida humana, causando prejuízos ambientais e econômicos”, diz o relatório.
Entre os casos recentes citados, estão a proibição da pesca nos rios da Velha e São Francisco (MG), depois que a presença de cianobactérias foi confirmada, em 2007; e a interdição para banho e pesca do Reservatório Foz de Areia, na Bacia do Rio Iguaçu (Paraná) em razão do surgimento de algas tóxicas. (O Estado de São Paulo)