1 – Nova ameaça aos rios do cerrado
2 – Amazônia teve cerca de 270 km2 de área desmatada
3 – Análise de esgoto permite mapear áreas de consumo e refino de drogas
4 – Mais de mil novas espécies descobertas em 10 anos na Nova Guiné
1 – Nova ameaça aos rios do cerrado
O alerta sobre a invasão de mexilhões que causam danos ambientais é do biólogo Flávio da Costa Fernandes, que tratará do tema na 63ª Reunião Anual da SBPC.
Depois de se disseminar pelos rios do Pantanal, o mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), um pequeno molusco invasor originário do sul da Ásia, que causa grandes estragos nos ambientes em que se adapta, está prestes a alcançar os cursos d água do cerrado. O alerta será feito pelo biólogo Flávio da Costa Fernandes, em sua conferência A ameaça do mexilhão dourado sobre os rios do cerrado, que faz parte da programação da 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento será realizado de 10 a 15 de julho de 2011, na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO).
Mestre e doutor em oceanografia biológica, Fernandes é pesquisador no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, da Marinha do Brasil. Entre 2005 e 2007, ele coordenou um grande projeto do Ministério do Meio Ambiente em conjunto com Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que tinha como objetivo estabelecer medidas de controle do mexilhão dourado, evitando novas invasões, limitando a dispersão e minimizando os seus impactos. Participaram pesquisadores de instituições do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Esse pequeno molusco bivalve (de duas conchas) de água doce, que não passa de 4 cm, chegou à América do Sul, mais precisamente no Rio da Prata, na Argentina, em 1991, na água de lastro de navios vindos da China. “Dali, subindo os rios Paraná e Paraguai, fixado aos cascos de embarcações, o mexilhão chegou ao Pantanal e infestou os rios de cinco países: Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil”, conta Fernandes. Esse meio de dispersão é o mais usado pela espécie, mas não é o único. Ela também pode se espalhar por meio da pesca esportiva, abertura de canais, aderida às patas de aves ou no sistema digestivo dos peixes.
O mexilhão dourado foi detectado pela primeira vez no País em 1998 e, desde então, já infestou cinco estados: Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Agora, usando Rio Paranapanema como caminho, essa espécie exótica invasora já chegou à divisa de Minas Gerais e Goiás. Dali é um pulo para os rios do Cerrado, como diz Fernandes. Com a capacidade de se incrustar em qualquer superfície submersa, como madeira, rocha, plástico e até vidro, o mexilhão dourado pode causar grandes problemas.
Fernandes vai mostrar em sua conferência na Reunião da SBPC, que os impactos causados pelo pequeno molusco têm sido tanto ecológicos como econômicos. “O mexilhão fixa-se sobre todos os substratos consolidados”, explica. “Ele entope as bombas de aspiração, as tubulações de várias empresas que dependem da água dos rios para manter as suas atividades industriais, como fornecimento de água potável, energia elétrica e outros usos.” Na área ambiental, o animal altera todo o equilíbrio do ecossistema, eliminando espécies nativas, desestruturando a cadeia alimentar, por ser alimento de alguns peixes que serão beneficiados pela sua presença e por retirar da água as partículas em suspensão, deixando-a mais transparente, o que modifica todo o ambiente.
Segundo Fernandes, apesar de sua alta capacidade de causar estragos, há formas de combater o mexilhão dourado e evitar que ele chegue aos rios do cerrado. “Uma maneira de impedir essa invasão seria o controle de embarcações entre bacias, nas estradas por onde são transportadas, pois barcos que pescam numa delas teriam que ser examinados e limpos antes de ingressarem em outra”, diz. “A abertura de canais entre bacias também deveria ser evitada, pois ela viabiliza a invasão.” Apesar disso, o pesquisador diz que não tem conhecimento de um programa governamental ou privado para combate deste invasor nos rios do cerrado. “Infelizmente, a erradicação dessa espécie invasora deverá para as próximas gerações”, lamenta.
Serviço: A palestra do biólogo Flávio da Costa Fernandes será realizada no dia 15 de julho, das 10h30 às 12h00, no campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG). A entrada é franca. A 63ª Reunião Anual da SBPC contará com 148 atividades, entre conferências, mesas-redondas, simpósios e encontros, além de 67 minicursos e cinco sessões de pôsteres. Boa parte dessas atividades abordará o tema principal do evento: “Cerrado: Água, Alimento e Energia”. Haverá ainda uma exposição de ciência e tecnologia, entre outras atividades paralelas.
Veja a programação completa em: www.sbpcnet.org.br/goiania/home/.
(Ascom da SBPC)
2 – Amazônia teve cerca de 270 km2 de área desmatada
Os dados são do sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Importante ferramenta de suporte à fiscalização na Amazônia, o sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indica que, no último mês de maio, 268 quilômetros quadrados da floresta sofreram corte raso ou degradação progressiva. Relatórios completos sobre o desmatamento verificado em maio, bem como nos meses anteriores, estão disponíveis na página: www.obt.inpe.br/deter.
Em operação desde 2004, o Deter é um sistema de alerta para suporte à fiscalização e controle de desmatamento. Embora os dados sejam divulgados em relatórios mensais ou bimestrais, os resultados são enviados quase que diariamente ao Ibama, responsável por fiscalizar as áreas de alerta.
O Deter utiliza imagens do sensor Modis do satélite Terra, com resolução espacial de 250 metros, que possibilitam detectar polígonos de desmatamento com área maior que 25 hectares. Nem todos os desmatamentos são identificados devido à eventual cobertura de nuvens.
A menor resolução dos sensores usados pelo Deter é compensada pela capacidade de observação diária, que torna o sistema uma ferramenta ideal para informar rapidamente aos órgãos de fiscalização sobre novos desmatamentos.
Este sistema registra tanto áreas de corte raso, quando os satélites detectam a completa retirada da floresta nativa, quanto áreas classificadas como degradação progressiva, que revelam o processo de desmatamento na região.
Os números apontados pelo Deter são importantes indicadores para os órgãos de controle e fiscalização. No entanto, para computar a taxa anual do desmatamento por corte raso na Amazônia, o Inpe utiliza o Prodes (www.obt.inpe.br/prodes), que trabalha com imagens de melhor resolução espacial capazes de mostrar também os pequenos desmatamentos. Em função da cobertura de nuvens variável de um mês para outro e, também, da resolução dos satélites, o Inpe não recomenda a comparação entre dados de diferentes meses e anos obtidos pelo Deter.
A cada divulgação sobre o sistema de alerta Deter, o Inpe apresenta também um relatório de avaliação amostral dos dados. Os relatórios, assim como todos os dados relativos ao Deter, são públicos e podem ser consultados em www.obt.inpe.br/deter.
(Ascom do Inpe)
3 – Análise de esgoto permite mapear áreas de consumo e refino de drogas
Estimar o consumo de drogas ilícitas como cocaína, crack, morfina, anfetaminas, entre outras, não é uma tarefa fácil no Brasil.
Atualmente os dados se baseiam em apreensões feitas pela polícia, associados às informações disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acredita-se que estas estimativas estejam muito abaixo dos indicadores reais, dessa forma, é necessário desenvolver uma ferramenta rápida, confiável e de baixo custo para saber quanto, onde e que tipos de drogas estão sendo consumidas pela população, instrumentos importantes para subsidiar políticas públicas.
Nesse sentido, o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA) desenvolve uma ferramenta de mapeamento por meio da análise de esgoto doméstico, sob a coordenação professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e bolsista do CNPq, Wilson F. Jardim. Essa abordagem é inédita no Brasil e começou a ser praticada em alguns países apenas neste século. “É uma excelente ferramenta não apenas para ajudar na repressão ao consumo de drogas ilícitas, mas tem um caráter bem mais amplo e nobre, servindo para nortear programas sociais de reabilitação de usuários, conhecer áreas de maior consumo dentro de um espaço urbano, acompanhar a evolução do consumo e comércio de novas drogas e detectar laboratórios de refino”, explica o pesquisador.
O procedimento se baseia na coleta representativa das amostras de esgoto nas estações de tratamento, dentro de uma janela temporal conhecida. As amostras são tratadas a fim de permitir sua análise por uma técnica instrumental denominada LC-MS/MS, ou seja, cromatografia líquida acoplada a um espectrômetro de massas. A maior contribuição do estudo foi o desenvolvimento de um aparato para a manipulação das amostras com o mínimo de contato humano, diminuindo as contaminações, bem como a estratégia para calcular valores confiáveis.
“Quando um usuário consome um determinado tipo de droga, a mesma é metabolizada no organismo sendo depois excretada no esgoto. Utilizando métodos e equipamentos de análise muito sensíveis, é possível identificar e quantificar o quanto dos metabólitos e da droga original estão presentes numa amostra de esgoto. Se esta amostra é coletada numa Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), podemos estimar o quanto da droga foi consumida num bairro ou numa região da cidade”, ressalta Jardim.
Área de teste – Em parceria com a Polícia Federal, a Universidade de Brasília e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB), os precedimentos foram testados em Brasília para estimar o consumo de cocaína e outras drogas ilícitas. Foram realizadas duas campanhas amostrais, que somados apontaram para o consumo anual de aproximadamente 1,1 tonelada de cloridrato de cocaína. Valor muito superior a estimativa feita por meio de apreensões, que chegam a menos de 400 quilos por ano. A região com maior consumo per capita foi a cidade de Samambaia, seguida da Asa Norte. O consumo médio anual no DF foi estimado em 4,6 doses por habitante.
“Através da análise do esgoto, podemos ver as tendências de consumo em tempo recorde, o que seria de imensa valia para a sociedade. Por exemplo, a explosão no consumo do crack poderia ter sido antecipada há muito mais tempo usando o saneamento forense, permitindo assim que o Estado se aparelhasse e se preparasse melhor para atacar este problema tão devastador”, destaca o pesquisador.
Para Wilson, é importante ressaltar que a pesquisa é limitada por que o saneamento é precário. “A estimativa do consumo de drogas demanda uma malha coletora de esgoto eficiente e abrangente, atualmente, são poucas as cidades brasileiras que poderiam ser mapeadas adequadamente para este fim. Seria necessário um investimento de R$ 15 milhões para termos uma radiografia preliminar do problema nas principais capitais brasileiras. A PF seria um grande aliado para manter esta estrutura de coleta e análise, ao disponibilizar seus laboratórios para suporte, uma vez que atua em todo o território nacional”, finaliza.
História – O interesse pelos contaminantes emergentes em geral surgiu no Laboratório de Química Ambiental do IQ da Unicamp em 2006, com o início das pesquisas sobre a contaminação dos mananciais da cidade de Campinas por compostos não legislados. Com o INCTAA aconteceu a expansão do programa visando mapear o consumo de drogas ilícitas, atividade pioneira no Brasil. O projeto conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
(Ascom do CNPq)
4 – Mais de mil novas espécies descobertas em 10 anos na Nova Guiné
A Nova Guiné, que se estende da Ásia à Oceania, cobre apenas 0,5% da superfície da Terra, mas possui até 8% das espécies catalogadas no mundo.
Ratos de um metro, rãs com caninos, cobras cegas e um golfinho de cabeça redonda fazem parte de mais de mil espécies descobertas em 10 anos na ilha de Nova Guiné, dotada de uma impressionante biodiversidade, anunciou na segunda-feira (27) o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Os cientistas fizeram as surpreendentes descobertas, incluindo dezenas de borboletas e invertebrados, a um ritmo de duas por semana entre 1998 e 2008, informou o WWF em um relatório sobre a biodiversidade desta ilha compartilhada pela Indonésia e Papua Nova Guiné.
“Este estudo mostra que as selvas e os rios da Nova Guiné se encontram entre os mais ricos, em termos de biodiversidade, no mundo”, resumiu Neil Stronach, chefe para a Melanésia Ocidental do Fundo Mundial para a Natureza. “Esta biodiversidade é tamanha que ainda atualmente é possível fazer novas descobertas”, segundo o relatório.
A Nova Guiné, que se estende da Ásia à Oceania, só cobre 0,5% da superfície da Terra, mas possui até 8% das espécies catalogadas no mundo. Um único quilômetro quadrado de floresta tropical pode abrigar mais de 150 espécies de pássaros, de plumagens muito coloridas. Os cientistas viram igualmente a maior borboleta existente, com uma envergadura de 30 cm, e ratos gigantes de cerca de um metro de comprimento.
Entre as 1.060 espécies descobertas em 10 anos, uma das mais notáveis é a do golfinho de cabeça redonda e nadadeiras levantadas, que vive em águas pouco profundas das desembocaduras dos rios. Esta descoberta, feita em 2005 na Papua-Nova Guiné, foi a primeira de uma nova espécie de golfinhos em três décadas, segundo o WWF.
Foram registradas também 580 novas espécies de invertebrados, entre elas um caracol amarelo fluorescente, e 71 peixes. Entre as 43 espécies de répteis figura uma das tranquilas serpentes do mundo: ela mede apenas de 12 a 14 cm, não vê nada, não morde e carece de veneno.
“Litoria sauroni” é o nome que os cientistas deram a uma rã cujos olhos com manches rubro-negras recordam Sauron, o personagem maléfico da saga “O senhor dos anéis”. Uma rã mede apenas um centímetro de comprimento, enquanto que outra possui patas aladas.
Apesar da empolgação dos cientistas por estas descobertas, o WWF adverte que a intensificação das atividades humanas ameaça seriamente o ecossistema de Nova Guiné. Muito rica em matérias-primas, a Nova Guiné é, de fato, vítima do desmatamento, legal ou não, para o desenvolvimento de minas, plantações e a construção de estradas.
“A estas ameaças ambientais se soma a mudança climática, que aumenta a quantidade de incêndios florestais, a erosão e a afluência da água do mar nas áreas costeiras habitadas pelas espécies animais”, enfatiza WWF.
(Jornal do Commércio-PE)