1 – O planeta esquenta
2 – Aquecimento global afeta grandes lagos e coloca em risco sobrevivência de ecossistemas
1 – O planeta esquenta
Às vésperas da Conferência do Clima, estudos revelam elevação de temperatura
A quatro dias do início da 16ª Conferência do Clima das Nações Unidas, novos estudos climáticos revelam um planeta em perigo. Climatologistas divulgaram na quarta-feira (24/11) que 2010 será o ano mais quente da História desde o início dos registros, em 1850. E mais: a concentração de gases-estufa na atmosfera aumentou desde o ano passado, alcançando marca recorde.
É a forma de a comunidade científica reagir à onda de pessimismo que antecede à convenção – cujo início será na próxima segunda-feira, em Cancún, no México – e mostrar ao mundo o quão urgente é o estabelecimento de um acordo global que estabilize as emissões. A própria ONU tratou de alarmar os participantes da reunião, ao lembrar que as metas já estabelecidas não são suficientes sequer para manter as mudanças climáticas num patamar administrável.
As temperaturas registradas este ano estão 0,8 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais e superam em 0,5 graus a média obtida entre 1961 e 1990. De acordo com os climatologistas, 2010 já está empatado com 1998 e 2005, os dois anos mais quentes desde o início das medições, em 1850.
A diferença entre os três anos é de apenas alguns centésimos, segundo a Nasa, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, dos EUA) e a Unidade de Pesquisa Climática (Inglaterra), e deve ser ultrapassada por 2010.
Outro estudo divulgado na quarta-feira (24/11), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), analisou as promessas já anunciadas para reduzir as emissões de gases-estufa. A conclusão: todos os projetos de todas as nações, somados, não são suficientes para deixar o mundo sequer próximo ao necessário para que o aumento da temperatura global não extrapole 2 graus Celsius. Se o planeta esquentar mais que isso, as mudanças climáticas serão irreversíveis.
Cerca de 80 países, incluindo os maiores emissores de CO2 – China e EUA – já divulgaram suas metas. Os compromissos são variados: a União Europeia, por exemplo, pretende cortar suas emissões em 20% até 2020.
Já a China comunicou que irá “esforçar-se” para reduzir a intensidade
energética demandada por sua economia – a quantidade de CO2 necessária para produzir uma unidade do PIB – de 40 a 45% até o mesmo prazo. Os EUA querem reduzir 17% em relação a 2005.
As intenções foram reproduzidas no Acordo de Copenhague, um documento elaborado às pressas no fim da Conferência do Clima do ano
passado. Mas ele não estabelece metas legalmente vinculantes: todos os compromissos ali reunidos são voluntários.
Atualmente, o mundo emite cerca de 48 gigatoneladas (bilhões de toneladas) de CO2 por ano. Se os países ignorarem o aquecimento global na condução de suas economias, este índice chegaria a 53 gigatoneladas de dióxido de carbono em apenas dez anos.
Se, por outro lado, cumprir integralmente o que diz o Acordo de Copenhague, o mundo emitirá 49 gigatoneladas do gás em 2020. É uma
redução inegável, mas muito abaixo da necessária para que a temperatura aumente em, no máximo, 2 graus Celsius. Para isso, seria preciso liberar apenas 44 gigatoneladas de CO2 para a atmosfera.
– O Acordo de Copenhague simplesmente cita uma lista de metas voluntárias, sem qualquer incentivo ou reafirmação dos países de que, se um deles avançar, os outros também terão de fazê-lo – critica o diretor-executivo da Pnuma, Achim Steiner. – Precisamos pegar as intenções refletidas naquele documento e tirá-las do papel, para que possam se transformar num acordo legalmente vinculante.
Apesar de a recessão econômica ter reduzido as emissões mundiais de CO2 na atmosfera, as concentrações de gases-estufa atingiram, no ano passado, sua maior concentração desde os tempos pré-industriais.
O alerta é da Organização Mundial de Meteorologia, que constatou o crescimento das concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Quanto mais presentes esses gases, maior a possibilidade de ocorrerem mudanças climáticas. (O Globo, 25/11)
2 – Aquecimento global afeta grandes lagos e coloca em risco sobrevivência de ecossistemas
Estudo mediu temperatura da superfície dos 157 maiores lagos do mundo
Na primeira pesquisa global sobre mudanças climáticas nos grandes lagos do planeta, pesquisadores concluíram que estes ecossistemas aqueceram significativamente nos últimos 25 anos. O estudo – coordenado por Philipp Schneider e Simon Hook, da Nasa – usou dados de satélite para medir a temperatura da superfície de 157 dos maiores lagos do mundo.
De acordo com a análise, a temperatura dos locais contemplados pela pesquisa cresceu 0,45 graus Celsius por década. Em alguns lagos, no entanto, este crescimento foi de 1 grau Celsius a cada dez anos. A tendência de aquecimento é mais grave nas latitudes médias e elevadas do Hemisfério Norte.
– Nossa análise fornece uma nova e independente fonte de dados para quem estuda o efeito das mudanças climáticas – explica Schneider, que publicou um artigo sobre o seu estudo na revista “Geophysical Research Letters”, da União Geofísica Americana. – Os resultados trazem implicações para o ecossistema dos lagos, que podem ser afetados negativamente mesmo por pequenas variações na temperatura da água.
Estas mudanças mais tímidas podem proporcionar a formação de florações de algas, tornando um lago tóxico para peixes. Outro efeito indesejado seria a introdução de espécies invasoras, também capaz de mudar o ecossistema local.
Há muito os cientistas usam a temperatura do ar, medida próximo à superfície da Terra, para identificar tendências de aquecimento global. Recentemente os pesquisadores completaram estes dados com um sistema infravermelho termal obtido por satélite, tendo, assim, uma visão mais completa da mudança de temperaturas na superfície.
Schneider e Hook examinaram apenas os dados obtidos no verão, devido à dificuldade para fazer a coleta em lagos cobertos pelo gelo ou escondidos sob nuvens durante outras estações. Todos os lagos examinados tinham, pelo menos, 193 metros quadrados.
A região que apresentou aquecimento mais periclitante foi o norte europeu. Essas tendências também foram grandes no leste da Sibéria, Mongólia e norte da China. O índice abrandou um pouco em torno dos mares Negro e Cáspio. (Renato Grandelle) (O Globo, 25/11)