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Informativo 366 – Biodiversidade; Valor econômico; Peixe-boi amazônico; Amazônia e Pré-história

1 – Brasil rejeita acordo parcial sobre biodiversidade

2 – Brasil vai calcular valor econômico de sua diversidade biológica

3 – Seca em rios ameaça peixe-boi amazônico

4 – Amazônia ganha uma espécie a cada 3 dias

5 – Joias da pré-história

 

1 – Brasil rejeita acordo parcial sobre biodiversidade

Ministra Izabella Teixeira afirma que, se não houver pacto sobre a regulamentação do uso de recursos genéticos, o país não concordará com mais nada
Diplomatas e autoridades da delegação brasileira avisam: “Não estamos blefando.” Se não houver acordo sobre a regulamentação do uso de recursos genéticos da biodiversidade, o país não concordará com mais nada na 10ª Conferência das Partes (COP-10) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que está em andamento em Nagoya, no Japão, desde o dia 19.
“Se quisermos falar sério sobre biodiversidade, temos de falar do pacote todo”, disse ao Estado a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que chegou a Nagoya no domingo (24/10) para chefiar a delegação brasileira na reta final da conferência.
A COP-10 é a reunião mais importante da CDB, um tratado internacional lançado em 1992 para promover a conservação e o uso sustentável da biodiversidade do planeta. A adoção de um protocolo de regras para o acesso e a repartição de benefícios (ABS, na sigla em inglês) oriundos da exploração comercial de recursos genéticos é a grande lacuna da convenção, que o Brasil e outros países ricos em biodiversidade têm especial interesse em preencher.
As decisões da convenção precisam ser tomadas por consenso entre os 193 países participantes. Se não houver acordo sobre ABS e o Brasil, apoiado por outros países em desenvolvimento, levar a cabo a ameaça de não aprovar outros temas, ocorrerá um fracasso total da conferência.
Os outros dois grandes temas da agenda em Nagoya são a definição de metas para 2020 e a falta de apoio financeiro dos países desenvolvidos para programas de conservação ambiental nos países em desenvolvimento. “Como é que vamos avançar em metas se não tivermos financiamento e se não há regras para acesso e repartição de benefícios dos recursos genéticos?”, argumenta a ministra brasileira.
A ideia por trás do protocolo seria garantir que os lucros obtidos com produtos desenvolvidos com base em recursos genéticos da biodiversidade sejam compartilhados com o país de origem da espécie e com as populações tradicionais que eventualmente tenham contribuído para a pesquisa. Por exemplo, no caso de um fármaco desenvolvido na Europa com base na molécula de uma planta brasileira usada na medicina tradicional de alguma tribo indígena da Amazônia. 
Faltando quatro dias para o fim da COP-10, a negociação sobre ABS avança madrugada adentro. Países desenvolvidos, como Canadá, Austrália e alguns europeus, resistem à regulamentação, temendo redução da liberdade de pesquisa – e dos eventuais lucros obtidos com ela. 
Mas há também divergências fortes entre países em desenvolvimento. O bloco africano, por exemplo, insiste que o protocolo deve ter efeito retroativo, o que implicaria pagamento de royalties por todos os recursos biológicos extraídos do continente nas últimas décadas ou até séculos. Uma proposta inaceitável para os países desenvolvidos e também para o Brasil, cuja agricultura é quase 100% baseada em espécies exóticas, trazidas originalmente de outros países e continentes, incluindo arroz, feijão, milho e até a carne.
A ameaça de não aprovar nada caso não haja um acerto sobre ABS e financiamento é uma jogada audaciosa do País, que tem o tema como prioridade número um na agenda. O superintendente de Conservação da WWF-Brasil, Claudio Maretti, acha que a estratégia se justifica. “Os países desenvolvidos foram muito competentes em protelar a discussão durante anos. Chegou a hora de dizer um basta. Quem tem de ceder agora são eles.” (Herton Escobar) (O Estado de SP, 26/10)

 

2 – Brasil vai calcular valor econômico de sua diversidade biológica

Anúncio da ministra do Meio Ambiente foi feito na COP 10, em Nagoya. Custo global da perda de biodiversidade é de R$ 3,6 trilhões a R$ 8,2 tri
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou nesta segunda-feira (25/10), durante a Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP 10), em Nagoya, no Japão, que o Brasil está preparando um relatório sobre o valor dos ecossistemas e da biodiversidade.
O objetivo é que o documento sirva como referência para futuras decisões políticas e para o desenvolvimento de uma economia sustentável. “É importante conciliar estratégias de desenvolvimento e manutenção da biodiversidade”, disse a ministra, segundo informações divulgadas pelo ministério.
O relatório brasileiro terá como referência o estudo “A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade” (Teeb, na sigla em inglês), produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e lançado durante a COP 10. O estudo internacional apontou o valor econômico de florestas, água, solo, animais, entre outros, bem como os custos ocasionados pela perda desses recursos.
Segundo o Teeb, o custo anual da perda da biodiversidade fica entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões (R$ 3,6 trilhões e R$ 8,2 trilhões).
Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, a intenção é que os dados do Teeb Brasil sejam incorporados por políticas públicas, empresas privadas, setor produtivo e governos ao tomar decisões sobre agricultura, segurança alimentar, segurança energética e exploração de recursos naturais, como o pré-sal.
“Este será o grande desafio deste século. A base de tudo deve ser a sustentabilidade. Creio que o relatório possa contribuir para associar todos estes temas nas discussões dos tomadores de decisão”, disse Izabella.
A ministra disse ainda que o Teeb Brasil já está sendo preparado, e que os requerimentos para a adoção destas estratégias no País estão em fase de análise. “Agora nós estamos preparando os termos de referência para finalizar a negociação. Depois que forem estabelecidos os compromissos da COP 10, pretendemos desenvolver uma nova estratégia nacional baseada no Teeb como referência de uma nova economia sustentável”, afirmou. (Agência Estado, 25/10)

 

3 – Seca em rios ameaça peixe-boi amazônico

Diminuição do nível da água no Amazonas restringe a área de locomoção do mamífero marinho, que se torna alvo fácil de predadores. Nesta segunda-feira (26/10), fiscais participaram de operação contra a caça ilegal
O peixe-boi amazônico, primo da espécie marinha encontrada no Norte e Nordeste, teve a caça intensificada por conta da seca nos rios da região. Ontem, equipe percorreu os municípios de Autazes, Coari e Silves, no Amazonas, para fiscalizar a atividade, considerada ilegal desde 1960.
A diminuição do nível da água – esta é a segunda maior vazante em 108 anos de registros da base do porto de Manaus – restringe a área de locomoção do mamífero marinho, que se torna alvo fácil. “Tivemos notícia que há caminhões carregados de carne de peixe-boi deixando a margem dos rios”, denuncia o veterinário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Anselmo D’Affonseca, em entrevista por telefone.
A ação de ontem, realizada pelo Inpa e a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), entidade de pesquisa e conservação da espécie financiada pela Petrobras, contou com dez pessoas. “Matar peixe-boi é um crime inafiançável e só contribui para aumentar o grau de ameaça da espécie”, considera o veterinário. As duas instituições estão sediadas em Manaus.
O animal, cientificamente chamado Trichechus inunguis, é do mesmo gênero do peixe-boi marinho (Trichechus manatus). Um pouco menor e também mais escuro que o segundo, é exclusivo da água doce, enquanto seu primo nordestino habita tanto o mar quanto a foz dos rios. As duas espécies estão na lista brasileira e na da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) de animais ameaçados de extinção.
O veterinário do Inpa destaca que a taxa de reprodução lenta e o porte grande fazem do peixe-boi amazônico uma espécie vulnerável à extinção. “A fêmea atinge a maturidade sexual apenas aos 10 anos e pare um filhote por gestação. Como amamenta e se dedica aos cuidados da cria, só fica prenhe a cada quatro ou cinco anos”, justifica Anselmo D’Affonseca. A gestação dura de 12 a 13 meses.
Alvo de caçadores entre 1930 e 1950, o animal teve pelo menos 200 mil exemplares dizimados nesse período para a extração da pele. “Esses são os números oficiais, mas acreditamos que houve mais mortes”, destaca o pesquisador.
Segundo ele, não há estimativa populacional da espécie. É difícil contar peixe-boi amazônico. De difícil visualização, eles estão espalhados por igarapés e outros tipos de mananciais. Já seu equivalente marinho tem população calculada em 500 animais.
Além de menor, a espécie amazônica possui uma mancha clara no ventre que a distingue da marinha. O amazônico pesa até 450 quilos e alcança 2,80 metros. Já o peixe-boi marinho atinge 700 quilos e pode medir mais de 3,5 metros.
Nas instalações do Inpa há 45 exemplares da espécie amazônica, que, de acordo com registros de cativeiro, pode viver até 36 anos. “Esse é o mais velho que já viveu em confinamento. Imaginamos que possa chegar a 60 anos.”
Situação na área deve melhorar até novembro
A seca nos rios da Amazônia deve ser revertida até o próximo mês, seguindo o ciclo hidrológico da região. Segundo o superintendente de Usos Múltiplos da Agência Nacional de Águas (ANA), Joaquim Gondim, nos pontos de observação em Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira já é possível perceber aumento no volume dos rios Solimões e Negro. Os dois rios, que sofreram este ano a maior seca desde 1902, formam o rio Amazonas, o maior em volume de água do planeta.
Segundo o superintendente, a seca nos rios foi causada pela diminuição das chuvas nas áreas de nascente na Colômbia e na Venezuela (Rio Negro) e na Cordilheira dos Andes no Equador e no Peru, o que diminuiu o degelo na região onde surge o Solimões. Na opinião de Marcos Ximenes Pontes, um dos coordenadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), episódios extremos estão ficando cada vez mais frequente e mais agudos.
Para ele, esses fenômenos confirmam as hipóteses de que as mudanças climáticas estão ocorrendo. Entretanto, ele acredita que é preciso fazer estudos mais aprofundados para avaliar se é um momento de exceção ou tem a ver com a mudança climática.
Joaquim Gondim afirma que a vazante dos rios faz parte da variação natural do clima e corresponde à janela hidrológica anual. Para ele, só um estudo de longo prazo que confirmasse a repetição das secas poderia alimentar alguma hipótese relacionada à mudança climática.
Os dois especialistas salientaram que a seca dos igarapés dos rios que formam o Amazonas tem isolado as populações que não podem circular de barco. Segundo eles, os ribeirinhos sofrem com a falta de abastecimento de alimentos e água potável e muitas crianças param de ir a escola por causa da falta de transporte. (Jornal do Commercio, 26/10)

 

4 – Amazônia ganha uma espécie a cada 3 dias

Relatório diz que foram achados 1.222 novos animais e plantas em dez anos; conta desconsidera invertebrados
A enorme biodiversidade da Amazônia é velha conhecida dos cientistas, mas agora eles estão mais próximos de quantificá-la. Um novo relatório mostra que, entre 1999 e 2009, foram registradas 1.222 novas espécies na região -o equivalente a um novo achado a cada três dias.
Isso significa que, sozinha, a floresta amazônica revelou mais espécies do que a soma de outros biomas reconhecidamente biodiversos, como Bornéu e a bacia do rio Congo, no mesmo período.
Entre as novidades estão tipos de piranhas, macacos, papagaios, sapos, um boto-cor-de-rosa e até uma gigantesca sucuri. Os dados estão no relatório “Amazônia Viva!”, que acaba de ser lançado pela ONG WWF.
O documento compila dados de oito países e da Guiana Francesa (território francês), locais por onde se estende o bioma amazônico.
O resultado só considera os vertebrados. De acordo com o relatório, “milhares de invertebrados documentados” ficaram de fora.
“O número impressionante de descobertas mostra que, se aumentarmos o esforço de pesquisa, temos potencial para localizar ainda mais espécies”, afirma Mauro Armelin, mestre em ciências florestais e coordenador do Programa da Amazônia da WWF-Brasil.
O Brasil, país que tem a maior “fatia” da floresta, destacou-se com seus primatas. Das sete novas espécies, seis estão em território nacional.
Contando com eles, foram registrados 39 mamíferos. Na Bolívia, foram encontradas novas espécies de botos, que se distinguiriam de seus “parentes” brasileiros por terem corpo e cabeça menores, além de mais dentes.
As plantas são responsáveis pela maior parte das novas espécies. Foram 637 na última década. Os peixes vêm atrás, com 257 novos registros. Também foram contabilizados 216 novos anfíbios, 55 répteis e outras 16 aves.
Apesar de recém-descobertas, muitas das novas espécies já estão em perigo. A pressão da agricultura, a expansão da pecuária e a construção de grandes hidrelétricas na região ameaçam o habitat de espécies que dependem de um frágil equilíbrio para sobreviver.
É o caso do Coendou roosmalenorum, um minúsculo ouriço encontrado nas margens do rio Madeira, em Rondônia. O bichinho foi descoberto durante uma expedição de resgate de fauna na área, afetada pela construção da hidrelétrica Samuel.
“Quanto maior o potencial de retorno econômico ligado ao habitat dessas espécies, mais ameaçadas elas estão”, disse Mauro Armelin.
Segundo o coordenador, o Estado tem um papel importante para a preservação das novas e das antigas espécies.
“O BNDES financia grandes obras de infraestrutura aqui e no exterior. É preciso ligar essas ações aos esforços de preservação”, avalia.
O relatório completo estará disponível para o público no site da WWF-Brasil ( www.wwf.org.br ), em inglês e em português. (Giuliana Miranda) (Folha de SP, 26/10)

 

5 – Joias da pré-história

Descobertas na Índia centenas de criaturas de 50 milhões de anos presas em âmbar
Pesquisadores alemães apresentaram na segunda-feira (26/10) uma descoberta que poderia perfeitamente inspirar um filme como “Parque Jurássico”.
As criaturas em questão não são do período jurássico (199 milhões a 145 milhões de anos atrás), mas ainda assim antigas o suficiente para acrescentar capítulos inéditos ao conhecimento da pré-história. São cerca de 700 abelhas, formigas, aranhas e outras pequenas criaturas que viveram há 50 milhões de anos.
Morreram aprisionadas em âmbar. E a jazida desse âmbar, descoberta em Cambaia, na Índia, é, muito provavelmente, a maior e mais espetacular do mundo.
“Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS), os cientistas da Universidade de Bonn estimam que os 700 animais são apenas uma amostra do que a reserva indiana pode abrigar. Esses insetos e aracnídeos sobreviveram à extinção dos dinossauros. Viveram em uma época anterior à dos mamíferos.
Morreram aprisionados na resina de árvores que, com o tempo, se transformou em âmbar.
O depósito de âmbar é o primeiro a ser descoberto na Índia e pode ser maior que as estruturas conhecidas em Rússia, Polônia, Ucrânia e Alemanha, os mais importantes conhecidos até então.
O âmbar forma-se quando a leve e pegajosa seiva de árvores solidificase, formando rígidos blocos de resina.
Quando enterrados, eles se transformam numa substância valiosa por sua cor, transparência e beleza natural. A resina produzida pelas árvores tem propriedades antissépticas para proteger a planta contra o ataque de fungos e bactérias, uma característica que também ajuda a preservar insetos ou pequenos animais que ficam presos antes de ela se solidificar.
O depósito foi encontrado nas minas de carvão a céu aberto da região de Cambaia, no noroeste da Índia. De acordo com os pesquisadores, uma análise do âmbar mostra que ele foi formado pela resina de uma família de madeiras de lei tropicais ainda existente no sudeste asiático.
Os animais encontrados em âmbar europeu correspondem frequentemente a cascas vazias porque seu interior, de parte mole, foi dissolvido. No entanto, o âmbar indiano preservou os animais intactos, permitindo aos pesquisadores um estudo mais detalhado.
– Podemos dissolver o âmbar e retirar o animal ainda inteiro – disse Joe Rust, que liderou a equipe responsável pela descoberta. – É como extrair um dinossauro completo do âmbar e analisá-lo em detalhes.
A história de um mosquito pré-histórico que havia acabado de jantar no sangue de um dinossauro antes de ficar agarrado à resina de uma árvore fazia parte do roteiro do filme “Jurassic Park”, de 1993, baseado no livro homônimo de Michael Crichton. Na obra, o DNA de dinossauros é recuperado do inseto e usado para trazer os lagartos gigantes novamente à vida.
Rust, no entanto, não acredita na possibilidade de obter material genético dos insetos presos no âmbar indiano.
– Nunca encontraremos DNA ancestral no âmbar. Ele está completamente destruído e deteriora após milhares de anos – explica.
A maioria das espécies no âmbar indiano é de insetos, mas também há pequenos aracnídeos e até fragmentos de plantas. Uma espécie de formiga é de um gênero só existente hoje na Austrália.
Analisando as camadas de carvão de onde o âmbar foi descoberto, concluiu-se que os animais teriam vivido entre 52 e 50 milhões de anos atrás, quando o subcontinente indiano ainda era uma ilha que se movia a uma velocidade de 15 a 20 centímetros por ano em direção a Ásia. A colisão entre estes blocos formou os Himalaias.
Os pesquisadores mostraram que a semelhança das espécies do âmbar e aquelas encontradas na Ásia e Europa acabou com uma teoria, segundo a qual a vida selvagem indiana teria sido a responsável por povoar os outros continentes.
– A Índia ficou isolada por milhões de anos. Após sua colisão com a Ásia, acreditava-se que a fauna da Índia teria conseguido se expandir dali para outra terras – conta Rust. – O que descobrimos nesse âmbar é que os insetos ali contidos tinham grande semelhança com os já existentes na Europa. (O Globo, 26/10)