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Informativo 351 – Genes liagos à altura e Carta revela desprezo por “mãe” do DNA

1 – Identificados genes ligados à altura

2 – Carta revela desprezo por “mãe” do DNA

 

1 – Identificados genes ligados à altura

Consórcio internacional determinou mais de 180 segmentos de DNA
Os genes são os principais responsáveis pela altura que temos. Embora 80% da variabilidade na altura possa ser atribuída a fatores genéticos, saber quais genes seriam os mais determinantes permanecia uma incógnita.
Agora, pesquisadores do consórcio internacional Giant (gigante, em inglês) conseguiram mostrar que diferenças em 180 diversos segmentos do DNA podem exercer um papel importante na determinação da altura de cada indivíduo.
Esses segmentos estão relacionados a genes responsáveis pelo crescimento do esqueleto, à densidade dos ossos e à obesidade, como mostra o resultado do estudo envolvendo mais de 180 mil pessoas e publicado na revista “Nature”.
Embora apenas 20% da altura de um indivíduo possa ser creditada a fatores externos, como alimentação, não existe uma diferenciação genética simples entre os altos e os baixos.
Na verdade, segundo os cientistas, trata-se de um efeito cumulativo das ações de um grande número de genes diferentes.
Separar os efeitos de cada um desses genes é difícil, salvo se o código genético de um número muito grande de pessoas for analisado a fundo.
Joel Hirschhorn, principal autor do estudo, do Hospital Infantil de Boston e da Escola de Medicina de Harvard, afirma:
– Este estudo é o maior passo dado até agora na compreensão das variantes genéticas que respondem pelas diferenças de altura entre as pessoas.
Mike Weedon, da Peninsula Medical School, no Reino Unido, que também participou do estudo, concorda com o colega:
– Descobrimos pistas sobre como os genes ligados ao crescimento são regulados por variantes genéticas em suas proximidades e ainda identificamos novos candidatos que devem exercer um papel importante no crescimento. (O Globo, 30/9)

 

2 – Carta revela desprezo por “mãe” do DNA

Nos anos 1950, colegas questionavam o trabalho de Rosalind Franklin; ela morreu sem crédito pela descoberta
Cartas reveladas agora ajudam a contar a história da mulher mais injustiçada da ciência moderna.
Nelas, Rosalind Franklin, cujo fundamental papel na descoberta da estrutura do DNA hoje é reconhecido, é atacada pelo próprio chefe do seu laboratório, o biólogo molecular Maurice Wilkins, nos anos 1950. Eles se odiavam e mal conversavam.
“Espero que a fumaça de bruxaria saia logo das nossas vistas”, escreveu ele em 1953 para o colega Francis Crick, querendo se ver livre dela.
Havia, na época, uma corrida desesperada por mostrar como era o DNA. Franklin, com trinta e poucos anos, acabou sendo jogada para fora da pista pelos colegas.
Competiam dois grupos. De um lado, o de Wilkins, esse que a chamou de bruxa, no King’s College de Londres, onde ela estava. De outro, Crick e James Watson, na Universidade de Cambridge.
A jovem Franklin avançava rápido. Em 1952, obteve com raio-X ótimas imagens de DNA, em especial uma delas, conhecida simplesmente como “a fotografia 51”.
Ficou com essas imagens por meses, mas não teve o insight de perceber que se tratava de uma dupla hélice, como uma escada em caracol.
Um aluno de Franklin, intrigado com a questão em aberto, mostrou a foto 51 a Wilkins, sem que a sua orientadora soubesse, querendo saber se ele teria alguma proposta de estrutura. Wilkins compartilhou a imagem com os colegas de Cambridge.
Lá, Crick e Watson tiveram o lampejo que Franklin não teve. Em 1953, publicariam um artigo na revista “Nature” com a proposta de estrutura, hoje consagrada. Wilkins escreveu um comentário. Franklin não foi citada.
Ela viria a morrer em 1958, com câncer no ovário, aos 37, sem reconhecimento e sem saber que o trio que publicou na “Nature” tinha visto seus dados -achou, aliás, que as conclusões deles faziam sentido, e que tinham encontrado resultados parecidos com os dela independentemente.
Em 1962, ganharam o Nobel de medicina -o papel de Franklin ainda era desconhecido e, mesmo que não fosse, não há Nobel póstumo.
As cartas mostram, porém, que os três tinham consciência de que não conseguiriam o Nobel sem o trabalho dela.
Logo após a publicação na “Nature”, Wilkins escreve para Crick: “E pensar que Rosie teve todas aquelas imagens em 3D por nove meses e não viu uma hélice. Cristo.”
Só a partir do final dos anos 1960 ela começou a ser reconhecida. Em 2000, o próprio Watson citou o seu papel na descoberta. Segundo ele, ela só não soube interpretar seus próprios dados. Ficou para a história como a “dama sombria” da descoberta da dupla hélice.
Papéis ficaram mais de 50 anos desaparecidos
Francis Crick morreu em 2004, e acreditava-se que boa parte das suas cartas da época da descoberta da estrutura do DNA tinham sido jogadas fora.
Alexander Gann, responsável pelas publicações do Laboratório de Cold Spring Harbor (EUA), descobriu, porém, que isso não era verdade.
Crick dividiu sala em Cambridge com outro pesquisador, Sydney Brenner, por mais de 20 anos, inclusive nos anos 1950.
Brenner, que tem 83 anos (e ganhou o Nobel de medicina, em 2002), quis se livrar das várias caixas de arquivo que guardava há décadas. Deu tudo para a equipe de Gann, que poderia ver algum valor histórico na sua vida.
Gann achou esse valor histórico mas, para infelicidade de Brenner, não em algo relacionado a ele. 
Por algum motivo misterioso, em algum momento 34 cartas recebidas e enviadas por Crick (ele registrava tudo com papel carbono) pularam para as gavetas de Brenner na bagunça da sala que dividiam e ficaram assim guardadas por mais de 50 anos, sem ver a luz do Sol.
Boa parte da correspondência foi com Maurice Wilkins, um dos responsáveis por levar as imagens de Rosalind Franklin para Crick e James Watson sem que ela tivesse conhecimento disso.
Wilkins também morreu em 2004. Do trio que ganhou o Nobel, apenas Watson está vivo, com 82, e passou os últimos anos se envolvendo em polêmicas. Disse, por exemplo, que negros são menos inteligentes e que seria uma ótima ideia utilizar a genética para deixar todas as mulheres bonitas. (Ricardo Mioto) (Folha de SP, 30/9)