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Informativo 344 – Camada de ozônio e laboratório atmosférico

1 – Camada de ozônio está estável desde 2000

2 – Laboratório atmosférico

 

1 – Camada de ozônio está estável desde 2000

Para cientistas, buraco sobre a Antártida deve se fechar inteiro até o final deste século
A camada de ozônio manteve-se estável na última década. Até o meio do século, ela deve ficar gradualmente mais grossa e voltar a ser como antes dos anos 1980.
Na Antártida, porém, onde o buraco na camada de ozônio é grande, a recuperação será mais demorada. Ele deve se fechar somente somente no fim do século 21.
As conclusões, divulgadas ontem, saíram de um estudo elaborado pela Organização Mundial da Meteorologia (OMM) e pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
Os cientistas atribuem o sucesso à decisão tomada em Montréal, no Canadá, em 1987, de interromper a produção dos clorofluorocarbonetos (CFCs) em produtos como sprays aerossóis e refrigeradores. Os CFCs são os principais responsáveis pela destruição da camada de ozônio.
As primeiras observações de um buraco sazonal aparecendo sobre a Antártida ocorreram na década de 1970. Na época, os países estavam produzindo CFCs em altíssimas quantidades, e a situação da camada de ozônio piorava com velocidade.
Ela é importante porque, nas altas altitudes, o ozônio bloqueia os perigosos raios ultravioleta do Sol e é essencial para a manutenção da vida na Terra. A perda do gás iria, por exemplo, aumentar o risco de câncer de pele.
Por esta avaliação científica sobre a camada de ozônio feita neste ano -a primeira atualização em quatro anos sobre o assunto-, a aplicação do Protocolo de Montréal “impediu um esgotamento maior da camada de ozônio”, e ao mesmo tempo “apresentou valiosos benefícios secundários ao mitigar a mudança climática”.
O Protocolo de Montréal, ao contrário das negociações do clima, é visto como exemplo de acordo internacional que conseguiu resolver um problema ambiental.
O físico e divulgador da ciência americano Carl Sagan, por exemplo, escreveu pouco antes da sua morte, em 1996, que o protocolo era “um triunfo para a glória da espécie humana”, e que serviu para mostrar como a cooperação internacional poderia proteger o meio ambiente. (Folha de SP, 17/9)

 

2 – Laboratório atmosférico

Trabalho publicado na revista “Science”, coordenado por pesquisador brasileiro, elucida mecanismos naturais de controle do clima na Amazônia por meio da emissão de partículas de aerossóis
Um estudo publicado na edição desta sexta-feira (17/9) da revista “Science”, realizado na Amazônia, acaba de elucidar uma série de mecanismos de interação entre a floresta e o clima da região Amazônica, por meio da emissão de partículas de aerossóis – partículas sólidas ou líquidas suspensas na atmosfera.
Coordenado por Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, o trabalho teve a participação de pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, do Instituto Max Planck da Alemanha, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e de outras instituições.

A Amazônia é uma das poucas regiões continentais em que as partículas de aerossóis e seus efeitos climáticos não são dominados por fontes antropogênicas – derivadas da ação humana. Durante a estação chuvosa, as condições atmosféricas da Amazônia lembram as condições limpas pré-industriais do ponto de vista das partículas de aerossóis.
“Foram medidas concentrações ultrabaixas de partículas, de cerca de 200 partículas por centímetro cúbico, enquanto em área continentais no hemisfério Norte esta concentração é de cerca de 20 mil a 30 mil partículas por centímetro cúbico, por causa da poluição sempre presente”, explicou Artaxo.
O estudo mostra que a Amazônia é um forte reator biogeoquímico, no qual a biosfera e a atmosfera produzem núcleos para a formação de nuvens e sustentam o vigoroso ciclo hidrológico na região. “O regime de interações aerossóis-nuvens-precipitação nesse ambiente natural é muito distinto de regiões poluídas de nosso planeta”, disse.
O estudo revelou mecanismos em que a floresta emite diretamente partículas que são chave na nucleação de nuvens. As propriedades físico-químicas dessas partículas revelam mecanismos de formação de aerossóis secundários na atmosfera da Amazônia que são muito particulares.
“Cerca de 85% da massa de aerossóis da fração fina das partículas (aerossóis menores que 2,5 micrometros) é constituída de partículas orgânicas, em forte contraste com áreas oceânicas e áreas continentais poluídas, dominadas por compostos inorgânicos tais como sulfatos e nitratos”, disse Artaxo.
O estudo mostrou que a composição das partículas de aerossóis na Amazônia é muito particular e reflete como eram as condições atmosféricas nos ecossistemas terrestres há milhares de anos, antes da poluição generalizada que caracteriza a atmosfera continental atual, em particular no hemisfério Norte.
A Amazônia é uma das poucas regiões continentais (a outra é a Antártica) em que ainda é possível observar condições atmosféricas extremamente limpas durante a estação chuvosa, que foi quando o estudo foi realizado.
O estudo mostra que as partículas submicrométricas, que são a maior parte dos núcleos de condensação de nuvens, são predominantemente compostas de material orgânico secundário formado na atmosfera pela oxidação de compostos biogênicos gasosos emitidos pela vegetação.
“Compostos voláteis gasosos emitidos para a atmosfera pelas plantas são oxidados por reações com ozônio e radicais hidroxila que mudam sua estrutura química adicionando átomos de oxigênio. Isso faz com que estes compostos sejam menos voláteis e condensam formando novas partículas ou se condensando em partículas pré-existentes”, disse Artaxo.
Essas partículas servem como núcleos nos quais vapor de água atmosférico condensa e nuvens são formadas. Esses mecanismos são fundamentais para o ciclo hidrológico da Amazônia e no balanço radiativo atmosférico. Por outro lado, as partículas maiores que 1 micrometro são emitidas diretamente pela vegetação e constituem uma fração majoritária dos núcleos de condensação de gelo, que formam nuvens convectivas profundas e congeladas na Amazônia.
“Núcleos de gelo que são necessários para a formação de nuvens profundas na Amazônia foram observados como sendo originários majoritariamente de processos biológicos, emitidos pela vegetação como partículas primárias”, disse o pesquisador que coordena atualmente o Projeto Temático “Aeroclima – Efeitos diretos e indiretos de aerossóis no clima na Amazônia e no Pantanal”, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O estudo – que além da Fapesp teve apoio financeiro do CNPq, da National Science Foundation (Estados Unidos) e do Instituto Max Planck, entre outras agências de fomento – mostra também que o número e o tamanho de partículas de aerossóis é mais importante do que as propriedades das partículas de absorver líquidos. Isso tem implicações importantes nos mecanismos de produção de nuvens convectivas sobre a Amazônia.
“As implicações do estudo indicam que as atividades humanas estão definitivamente alterando de modo intenso as propriedades atmosféricas em amplas áreas de nosso planeta, e os mecanismos de formação e desenvolvimento de nuvens estão sendo modificados pela ação do homem”, afirmou Artaxo.
“A alta atividade biológica controlando processos atmosféricos da região Amazônica mostra que os seres vivos de nosso planeta de certo modo moldam o meio ambiente de acordo com suas necessidades. Mas, quando a poluição industrial domina, esses mecanismos são suprimidos. Para entender o futuro do clima de nosso planeta, precisamos compreender como o clima era formado antes do advento da revolução industrial e a contaminação atmosférica que ocorreu nos últimos séculos”, afirmou.
Segundo o pesquisador, o estudo adiciona mecanismos científicos mais sólidos para entender o papel da floresta amazônica no clima global, e como as alterações no uso do solo em curso na Amazônia podem influenciar o clima da região e do planeta como um todo.
Além de Artaxo, o artigo é assinado pelos brasileiros Theotonio Mendes Pauliquevis, da Universidade Federal de São Paulo, e Antônio Manzi, do Inpa.
Na mesma edição da “Science”, um artigo de Antony Clarke e Vladimir Kapustin, da Universidade do Havaí, nos Estados Unidos, descreve estudo feito com aerossóis atmosféricos sobre várias regiões do oceano Pacífico. Os pesquisadores observaram que os tipos de partículas diferem bastante, dependendo de onde têm origem.
O estudo concluiu que a quantidade de aerossóis aumenta grandemente quando são originários de atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e da biomassa, em comparação com as partículas atmosféricas suspensas observadas sobre as regiões mais remotas e limpas.
Segundo a “Science”, juntos, os dois estudos destacam diferenças importantes entre aerossóis originados de processos naturais e da ação antropogênica.
Como os aerossóis atmosféricos têm influência tanto no clima global como na saúde humana, os resultados das duas pesquisas deverão ajudar a compreender melhor o processo de formação de nuvens, as diferenças químicas específicas entre ambientais naturais e poluídos e, também, a criar modelos para avaliar como mudanças em regiões como a Bacia Amazônica podem afetar a atmosfera tanto regional como globalmente.
Os artigos “Rainforest Aerosols as Biogenic Nuclei of Clouds and Precipitation in the Amazon” (doi:10.1126/science.1191056), de Ulrich Pöschl, Paulo Artaxo e outros, e “Hemispheric Aerosol Vertical Profiles: Anthropogenic Impacts on Optical Depth and Cloud Nuclei” (doi:10.1126/science.1188838), de Clarke e Kapustin, podem ser lidos por assinantes da “Science” em www.sciencemag.org (Agência Fapesp, 17/9)