1 – Peixe amazônico vira opção no mercado de couros exóticos
2 – Padrão de chuvas é alterado por aquecimento
1 – Peixe amazônico vira opção no mercado de couros exóticos
Projeto quer a criação de uma cadeia produtiva no Amazonas
A pele dos peixes amazônicos, geralmente descartada no ambiente ou em lixões, surge como opção para o mercado brasileiro de couros exóticos. A iniciativa é incentivada pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas por meio do projeto AMA (Ame o Amazonas), com a grife Iódice.
O material também está na mira da empresa gaúcha Péltica, que trabalha com couros exóticos e é especializada no de peixes há três anos. “Já trabalhamos com o couro de peixes marítimos do Maranhão e do Pará. No Amazonas, além de evitar a poluição, podemos ganhar com uma matéria-prima nobre”, afirma Alexandre Frasson, sócio na empresa.
A Péltica pesquisou e testou em seu curtume a pele de diferentes peixes da região. Por enquanto, foram aprovadas como insumo as do aruanã e do tucunaré.
A pele de algumas espécies, como a pirarara, é mais resistente que a bovina, de acordo com Nilson Carvalho, coordenador do Projeto de Beneficiamento de Couro de Peixe do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Além disso, o insumo é abundante. Atualmente, segundo o instituto, uma tonelada de pele de peixe é desperdiçada por dia no Estado.
Na coleção de inverno da Iódice, apresentada na São Paulo Fashion Week, em janeiro, o couro de peixe amazônico foi utilizado para a confecção de bolsas, de cintos e de sapatos.
Os produtos, cujos preços vão de R$ 180 a R$ 900, foram bem aceitos pelos clientes da marca, segundo Alexandre Iodice, coordenador de estilo da Iódice Denim.
Cadeia produtiva
Entre os planos do governo do Estado e da Iódice está a criação de uma cadeia de beneficiamento de couro de peixe no Estado. “A gente foi desbravar o mercado. Agora a ideia é sempre manter [esses produtos nas coleções], então voltamos a fazer um trabalho de desenvolvimento. Eles [os produtores locais] poderão fornecer para qualquer indústria”, explica Iodice.
Ele destaca, além da sustentabilidade, o impacto positivo do desenvolvimento da atividade na geração de recursos para o Estado e para os produtores locais. Se o mercado local der garantia de abastecimento do insumo, a Péltica abrirá uma filial no Amazonas.
De acordo com Frasson, o investimento para a instalação de um curtume com capacidade de processamento diário de 5.000 peles – incluindo o tratamento de efluentes – é estimado em cerca de R$ 2,5 milhões.
Para incentivar os produtores, a empresa já realizou um curso que os ensinou a processar a pele de peixe. Para ter valor comercial, o material deve ter 30 centímetros e não pode ter furos.
Também foram apresentadas as técnicas de curtume para a sua conservação, já que, enquanto não houver filial no Amazonas, o transporte até a indústria gaúcha será feito em caminhão.
De acordo com Carvalho, o Inpa já havia tentado desenvolver a atividade na região. “Não vingou porque eles [os produtores] não quiseram fazer investimentos.” Porém, ele acredita que o envolvimento de empresas interessadas no produto “era o que faltava” para estimular a produção local. (Grazielle Schneider) (Folha de SP, 7/9)
2 – Padrão de chuvas é alterado por aquecimento
Pesquisa alerta que é preciso diversificar as fontes de água para evitar o aumento da fome
A precipitação de chuvas, cada vez mais imprevisível devido às mudanças climáticas, ameaça seriamente a segurança alimentar e o crescimento econômico, segundo especialistas em hidrologia. Num relatório do Instituto Internacional para a Gestão da Água, no Sri Lanka (IWMI, na sigla em inglês), eles defendem um maior investimento em armazenamento de água e afirmam que a Ásia e a África são as regiões mais suscetíveis porque, em grande parte, dependem diretamente da chuva para a agricultura.
Os políticos e agricultores precisam encontrar urgentemente formas de diversificar as fontes de água, alertam os autores da pesquisa para o IWMI. E eles estimam que até 499 milhões de pessoas na África e na Índia poderiam se beneficiar de uma melhor gestão da água na agricultura.
O relatório adverte contra a excessiva dependência de soluções únicas, tais como grandes barragens. Segundo os autores, a construção de grandes represas sugere um alívio rápido, mas não garante totalmente a sustentabilidade a longo prazo. Apesar de sua capacidade para controlar inundações e melhorar a produtividade agrícola, essa opção traz problemas sociais e ambientais.
De acordo com o IWMI, as mudanças nos cursos dos rios já levaram 80 milhões de pessoas a se deslocarem de suas cidades e atingem 470 milhões que vivem perto de represas.
– Assim como os consumidores modernos diversificam suas fontes de renda para reduzir riscos, os pequenos agricultores precisam de uma ampla gama de reservas de água para amortizar os impactos das mudanças climáticas – diz Matthew McCartney, principal autor do relatório. – Quando se esgota uma fonte, pode-se usar as demais.
Período de extremos: secas e inundações
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU projetou um período mais extremo de secas, inundações e calor neste século. E o relatório do IWMI diz que apesar de uma grande expansão da irrigação nas últimas décadas na Ásia, 66% da agricultura da região dependem das chuvas. Na África Subsaariana, este índice é ainda maior: 94%. Estas são as áreas onde a infraestrutura de armazenamento de água é menos desenvolvida.
– Milhões de agricultores estão á mercê da disponibilidade de água – diz Colin Chartres, diretor-geral do IWMI. – A mudança climática vai atingir duramente essas pessoas. É preciso fazer logo grandes investimentos em medidas de adaptação.
Na opinião dos autores, uma abordagem integrada combinando grandes e pequenas áreas de armazenamento é a melhor estratégia. Eles sugerem o uso da água de zonas úmidas naturais (pântanos), das águas subterrâneas e coletadas em lagos, tanques e reservatórios.
– Para milhões de agricultores que dependem das chuvas, o acesso seguro à água pode fazer toda a diferença entre a fome crônica e o progresso estável em direção à segurança alimentar – acrescenta McCartney.
Mesmo pequenas quantidades de águas armazenadas, permitindo que culturas e animais sobrevivam a períodos de seca, pode produzir grandes ganhos agrícolas.
Calor agrava os desastres
Um melhor sistema de alerta sobre ciclones e ondas de calor, assim como no índice da pobreza, em nações em desenvolvimento, tornaram esses países mais preparados para enfrentar as condições extremas do tempo, o que colabora para frear o número de mortes. Mas isso não significa o fim do aumento do perigo, diz Diarmid Campbell-Lemdrum, especialista da Organização Mundial de Saúde.
O aumento da temperatura, diz o pesquisador, poderá agravar os efeitos dos desastres naturais e prejudicar a produção de alimentos: – A mudança climática apenas acrescenta outro motivo para controlar a malária, a diarreia e a lidar com o problema da má nutrição. Esses são os grandes desafios.
Para Andrew Haines, diretor da Escola de Medicina Tropical e Higiene em Londres, há hoje um crescimento da taxa de mortalidade por causas indiretas. (O Globo, 8/9)