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Informativo 333 – Universo; Fé e Fronteira marítima

1 – Universo não precisou de Deus para surgir

2 – Incrível mesmo seria se a ciência usasse fé como explicação

3 – Brasil amplia a fronteira marítima da área do pré-sal

1 – Universo não precisou de Deus para surgir, diz físico

Britânico Stephen Hawking, 68, reacende polêmica religiosa em novo livro
O físico-celebridade britânico Stephen Hawking aparentemente cansou de bancar o bonzinho com Deus. Em seu mais novo livro, ele afirma que o Criador é dispensável para explicar o Universo.
E isso porque a obra de Hawking, 68, recebeu o nome enganoso de “The Grand Design” (“O Projeto Grandioso”). Mas, junto com o físico e coautor Leonard Mlodinow, o que ele faz no texto é negar a existência de um projeto divino para o Cosmos.
“Uma vez que existe uma lei como a gravidade, o Universo pode e vai criar a si mesmo a partir do nada. A criação espontânea é a razão pela qual existe alguma coisa no lugar de coisa nenhuma, a razão de nós existirmos.
Não é preciso invocar Deus para que o Universo tenha um começo”, escreveu a dupla.
O trecho do livro, que só chega às lojas na semana que vem, foi publicado no diário “Times”, de Londres.
O bafafá em torno das frases fez com que Hawking fosse um dos temas mais comentados no Twitter na quinta-feira e levou até a uma réplica mal-humorada do rabino-chefe do Reino Unido, Lorde Jonathan Sacks. “A ciência que se disfarça de religião é tão perniciosa quanto a religião que se disfarça de ciência”, disse.
A imprensa britânica chegou a pintar o livro como uma virada de casaca. “Parece que levaram ao pé da letra a afirmação dele sobre Deus na obra “Uma Breve História do Tempo”, de 1988″, diz o físico Leandro Tessler, da Unicamp. Nesse best-seller, Hawking disse que entender as leis do Universo seria como ler “a mente de Deus”.
Mais tarde, porém, deixou claro que se tratava de uma metáfora e afirmou que não era religioso. Quase totalmente paralisado e com fama de gênio, Hawking tem aura de profeta da ciência, mas não há nada de realmente novo no que escreveu.
“A ideia de que o Universo surgiu do nada, de que as teorias físicas permitem isso, não é nova. Resulta da junção entre teoria da relatividade e mecânica quântica”, diz Roberto Belisário, doutor em física pela Unicamp.
No livro, Hawking se diz defensor de uma das possíveis junções das duas teorias. Segundo ela, haveria um Multiverso -ou seja, infinitos universos, entre os quais este aqui seria só mais um.
A existência do Multiverso resolve, em tese, a estranha coincidência de que o Universo conhecido parece ter sido “regulado” para que estrelas, planetas e seres vivos pudessem surgir. Se há infinitos universos, um deles, inevitavelmente, teria condições pró-vida. Não há, contudo, indício direto da existência desses outros cosmos.
“No fim das contas, assim como não é possível provar pela ciência que Deus existe, também não é possível provar que não existe -e nem mesmo que ele é desnecessário”, afirma Belisário. (Sabine Righetti e Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 3/9)

 

2 – Incrível mesmo seria se a ciência usasse fé como explicação, artigo de Hélio Schwartsman

“Desde que evitem juízos verificáveis sobre o presente ou o passado, religiões podem sobreviver sem feridas fatais ao escrutínio da ciência”
Hélio Schwartsman é articulista da “Folha de SP”:
Incrível mesmo seria se Hawking tivesse encontrado um Deus oculto entre supercordas e multiversos. Pelo menos desde Laplace (1749-1827), para quem o Criador era uma “hipótese desnecessária”, o trabalho dos físicos consiste justamente em encontrar explicações naturalistas para as coisas.
A intenção de Hawking de trazer Deus para o debate, porém, é revelada desde o título de seu novo livro: “The Grand Design”. O exercício é legítimo como provocação e deve ajudar nas vendas, mas acrescenta pouco em termos epistemológicos.
Na verdade, uma teoria que dependesse de uma inteligência infinita para parar em pé é que seria excomungada “latae sententiae” da ciência, pois incorreria no pecado de multiplicar desnecessariamente as entidades explicativas, violando o princípio da navalha de Occam.
Daí não decorre que ciência e religião não possam dialogar e, como muitas vezes ocorre, brigar uma com a outra. Só que é preciso ser mais específico e não se devem esperar nocautes triunfantes.
Não conseguimos demonstrar para além de qualquer dúvida seja a existência ou a inexistência de um ente supremo. Mas podemos levar a sério algumas teses religiosas, convertê-las em hipóteses e testá-las cientificamente. Isso nos permite descartar, por exemplo, a ideia de que a Terra tem menos de 10 mil anos de idade, como querem os criacionistas bíblicos.
De modo análogo, podemos estimar como remotas as chances de um nascimento virginal no século 1º a.C. ou de pessoas mortas, às vezes há milhares de anos, voltarem à vida no futuro.
O alcance desses testes, contudo, é limitado, uma vez que os crentes sempre podem recorrer à noção de que Deus tem, por definição, o poder de suspender quando quiser as leis da natureza.
Assim, desde que evitem juízos verificáveis sobre o presente ou o passado, religiões podem sobreviver sem feridas fatais ao escrutínio da ciência.
Cérebros selecionados durante milhares de anos para crer não precisam de muito mais do que isso. (Folha de SP, 3/9)

 

3 – Brasil amplia a fronteira marítima da área do pré-sal

Mudança incorpora área de 960 mil km2 à zona de soberania nacional no mar, hoje de 3,5 milhões de km2. Medida, que não conta com aval da ONU, amplia direitos do Brasil para exploração de petróleo e gás
O Brasil decidiu não esperar o aval da ONU (Organização das Nações Unidas) para expandir, além das 200 milhas náuticas, as fronteiras de sua soberania sobre recursos minerais como petróleo e gás no fundo do mar.
A partir de uma resolução interministerial publicada na última sexta-feira, qualquer nação ou empresa que queira prospectar recursos minerais na Plataforma Continental Brasileira terá de pedir autorização ao governo.
Segundo a Folha apurou, a decisão foi tomada após consulta da Petrobras, que poderá ter até 50% do capital nas mãos da União assim que for concluído o processo de capitalização em curso. Hoje, a União detém 39,8% da empresa.
A mudança incorpora 960 mil km2, quase quatro vezes o Estado de São Paulo, à zona de soberania nacional, hoje de cerca de 3,5 milhões de km2. É uma área cobiçada em razão da possível existência de novas reservas de petróleo na área do pré-sal.
Direito do mar
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, abre a brecha para que países reivindiquem direitos sobre o oceano a até 350 milhas náuticas de sua costa. Além, portanto, da Zona Econômica Exclusiva, de 200 milhas.
Para que essa incorporação ocorra, os países signatários da convenção precisam entregar à ONU um mapeamento de sua plataforma continental, espécie de extensão submarina do território soberano.
O Brasil encaminhou esse pedido à ONU em 2004, mas, três anos depois, a organização rejeitou a proposta, após questionamento dos EUA.
Depois, a ONU requisitou que o governo brasileiro reformulasse o pleito.
A ONU não aceitou incluir 190 mil km2 distribuídos desde o Amazonas até a região Sul do país. Segundo a Marinha, o Brasil discordou e pretende apresentar nova proposta até 2012.
Consultada pela Petrobras, porém, a Cirm (Comissão Interministerial para os Recursos do Mar) entendeu que o país não precisa esperar a chancela da ONU.
Agora, cabe à ANP (Agência Nacional de Petróleo) decidir sobre as pesquisas de recursos minerais na área. Procurada, a ANP não se manifestou.
Um decreto de 1988 e uma lei de 1993 já definiam que qualquer investigação científica na plataforma continental só poderia ser feita por outras nações com autorização do governo e acompanhamento da Marinha, e que o Brasil exerce direitos de soberania sobre ela para fins de exploração de recursos naturais.
Além disso, o país se ancora no fato de que a ONU não estabelece condições e limitações de soberania sobre a plataforma continental.
Geologia da confusão
Plataformas continentais são extensões planas ou quase planas do leito submarino, que terminam nos abismos oceânicos. Elas são formadas por rochas sedimentares -exatamente o tipo de rocha na qual se formam o petróleo e o gás natural. Daí o interesse estratégico da Petrobras nessas regiões.
O único país que concluiu o levantamento de sua plataforma antes do Brasil foi a Rússia.
O pleito da Rússia também foi questionado, uma vez que incluía porções do Ártico em disputa entre EUA, Canadá, Dinamarca e Noruega.
Em 2007, a Rússia mandou um minissubmarino ao Ártico para lançar no fundo do mar uma bandeira russa -simbolizando a suposta soberania do país sobre os recursos minerais da região.
A expedição causou um incidente diplomático com o Canadá, que chamou o feito de “impostura”.
País quer elevar domínio na costa do NE
A área marítima que o governo brasileiro incorporou estende mar adentro boa parte das fronteiras de onde estão hoje os principais campos de petróleo descobertos pelo país na última década.
Os campos Tupi, Carioca, Guará e Júpiter, ao longo da costa Sudeste-Sul, estão situados bem no limite da zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas.
O país também está determinado a ampliar sua soberania da região do Cone do Amazonas, entre a costa do Nordeste e os limites com a Guiana Francesa. (José Ernesto Credendio e Claudio Ângelo) (Folha de SP, 6/9)