Fechar menu lateral

Informativo 328 – Aves no Brasil e Ancestral americano

1 – Estudo registra cinco espécies de aves pela primeira vez no Brasil

2 – Ancestral americano

 

1 – Estudo registra cinco espécies de aves pela primeira vez no Brasil

Pesquisador mapeia 655 espécies de aves no Acre e realiza novos levantamentos em regiões que ainda não haviam sido visitadas por ornitólogos
Com o objetivo de determinar quantas e quais são as espécies de aves do estado do Acre, como estão distribuídas dentro do estado e qual o seu estado de conservação, o biólogo Edson Guilherme da Silva desenvolveu em seu doutorado a tese “Avifauna do Estado do Acre: Composição, Distribuição Geográfica e Conservação”.
Os dados levantados por Silva, que é professor do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da Universidade Federal do Acre (Ufac), confirmaram 655 espécies no estado, distribuídas em 73 famílias e 23 ordens. Cinco delas foram registradas pela primeira vez em território brasileiro: flamingo-da-puna (Phoenicoparrus jamesi), pica-pau-anão (Picumnus subtilis), arapaçu-de-tschudi (Xiphorhynchus chunchotambo), flautim-rufo (Cnipodectes superrufus) e caneleiro (Pachyramphus xanthogenys).
“Minha tese tenta sintetizar e descrever da forma mais acurada possível a diversidade e a distribuição de um grupo animal específico, as aves, ao longo do estado”, resume Edson Silva. A tese de doutorado, defendida no ano passado, teve orientação do professor José Maria Cardoso da Silva, no âmbito do Programa de Pós-Graduação de Zoologia, mantido pelo Museu Goeldi e a Universidade Federal do Pará (UFPA).
Ponto de partida
De acordo com o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), o Brasil possui atualmente 1.825 espécies de aves (eram 1.820 no período de elaboração da tese de Edson Guilherme). Segundo Silva, o país é um dos mais ricos em espécies da América do Sul.
Algumas localidades do oeste amazônico, situadas próximo ao sopé dos Andes, revelaram a presença de mais de 500 espécies de aves e, na região, a maioria das áreas de endemismo para aves é delimitada pelas margens dos grandes rios, como por exemplo, o Madeira, o Tapajós e o Xingu.
Estudos de campo
Durante os anos de 2006 e 2007, foram realizadas vinte expedições ao Acre com o objetivo de registrar e coletar aves, e as regiões escolhidas para os novos inventários foram aquelas onde havia pouco ou quase nenhum levantamento ornitológico prévio. Os espécimes coletados foram taxidermizados e depositados na coleção ornitológica do Museu Goeldi.
A partir dessas informações, então, foi elaborada uma base de dados com todas as localidades do Acre onde pelo menos uma ave tenha sido registrada, coletada e depositada em algum museu, sua taxonomia e distribuição, além da confecção de um mapa de distribuição de cada espécie onde se apresentam os locais onde a ela foi registrada.
Foram compilados 7.141 registros de aves para o todo o estado do Acre. Por influência desse estudo, a avifauna acreana teve um acréscimo de 45 espécies e, de todas as espécies confirmadas para o Acre, 22 são conhecidas em território brasileiro apenas a partir dos registros feitos no estado.
Das 655 espécies registradas, apenas uma (Sporophila maximiliani, que pode ter sido introduzida) está na lista das aves brasileiras ameaçadas de extinção divulgada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No entanto, tendo como base a lista vermelha de espécies ameaçadas divulgada pela IUCN (International Union for Conservation of Nature), há no Acre dez espécies classificadas na categoria “Quase Ameaçada”, segundo Edson Guilherme.
A pesquisa registrou, ainda, 59 espécies migratórias (oriundas de sítios de reprodução fora do bioma amazônico), dos tipos migrantes neárticas (provenientes do hemisfério norte), intra-tropicais, ou austrais (do sul da América do Sul). Em relação às 596 espécies de aves florestais residentes (que se reproduzem no estado), a maioria (405) se distribui em todo o Acre – o que pode ser reflexo das poucas barreiras físicas presentes no relevo estadual.
Para o autor da tese, o grande número de espécies registradas no estado do Acre corrobora a ideia de que o sudoeste amazônico é, de fato, uma região de alta diversidade avifaunística. “Para se ter uma ideia, as 655 espécies confirmadas representam mais da metade de todas as espécies de aves registradas na Amazônia”, acrescenta, lembrando que o número de espécies detectadas deverá aumentar quando novos levantamentos forem realizados. (Com informações da Agência Museu Goeldi)

 

2 – Ancestral americano

Descoberto em caverna submersa do México esqueleto de jovem que vivia na região há cerca de 10 mil anos. Achado pode mudar teoria sobre a ocupação do continente
A Península de Yacután, no México, é conhecida por ter sido o palco de uma grande explosão provocada por um meteoro, que teria eliminado os dinossauros da face da Terra. Uma nova descoberta destaca a importância científica do local – mas, dessa vez, a antiga cidade maia revela a história de outro animal surgido há 150 mil anos, muito tempo depois que os grandes répteis foram extintos: o Homo sapiens.
Cientistas do Instituto Nacional de Antropologia e História anunciaram a descoberta de um dos esqueletos humanos mais antigos da América. Ele viveu na era do gelo, há mais de 10 mil anos, e foi resgatado de uma caverna inundada na Península de Yacután.
De acordo com os pesquisadores, o fóssil vai revelar novos dados sobre o povoamento do continente americano. Pelo pouco desgaste do esmalte dos dentes, os cientistas afirmam que se tratava de um jovem.
Durante três anos, a equipe do biólogo Arturo González, diretor do Museu do Deserto de Coahuila, trabalhou in loco para retirar a ossada sem que nenhum material se perdesse. Também participaram dos trabalhos os espeleólogos Eugenio Acévez, Jerónimo Avilés e Luis Martínez, do Instituto da Pré-História da América.
O Jovem de Chan Hol, que recebeu esse nome em referência à caverna onde foi encontrado, estava em uma caverna de 542m de largura e 8,3m de profundidade, onde abundam estalagmites e por onde só se chega através de labirintos intrincados, também inundados e completamente escuros.
Os antropólogos que analisaram a ossada acreditam que o corpo foi colocado na caverna em uma cerimônia funerária realizada no fim do Pleistoceno, quando o nível do mar era 150m mais baixo do que hoje.
De acordo com o estudo divulgado pelo Instituto Nacional de Antropologia e História do México, 60% do esqueleto foi resgatado, com ossos representativos das quatro extremidades do corpo, vértebras, costelas, crânio e vários dentes.
Os antropólogos ficaram impressionados com o estado de conservação dos restos mortais, já que, quando se fala de exemplares de 10 mil anos, geralmente encontram-se apenas o crânio e a mandíbula e, com sorte, entre 20% e 30% da ossatura.
Migrações
Juntamente aos esqueletos da Mulher de Naharon, a Mulher das Palmas e o Homem do Tempo, descobertos também no interior de cavernas inundadas próximas a Tulum recentemente, o Jovem de Chal Hol é uma peça-chave para se entender o povoamento da América, já que fortalece a hipótese de que o continente foi povoado a partir de várias migrações provenientes da Ásia.
Segundo Arturo Gonzáles, um especialista em paleobiologia, as quatro ossadas revelam migrações procedentes do sudeste asiático, anteriores às conhecidas até agora, como os grupos clóvis, que chegaram à América a partir do norte asiático, também pelo Estreito de Bering, no fim da era do gelo.
“Nossas descobertas comprovam que os ossos coletados nessas cavernas pertencem a indivíduos de grupos pré-clóvis, e se encaixam dentro dos escassos restos humanos do Pleistoceno Tardio americano, cujas características físicas assemelham-se às das pessoas do centro e do sul da Ásia, sugerindo diversas migrações em direção ao continente americano”, disse Gonzáles na pesquisa.
A forma como o Jovem de Chan Hol foi encontrado também despertou o interesse dos pesquisadores. Ele estava com as pernas flexionadas para o lado esquerdo e os braços estendidos em ambos os lados do corpo. Para os cientistas, trata-se de mais uma “interessante novidade a ser estudada”, já que, até hoje, nunca se encontrou um esqueleto em postura similar.
Os ossos do Jovem de Chan Hol devem ficar vários meses intocados, para se consolidarem, antes de submetidos a exames que possam determinar com mais precisão sua idade, sexo, causa mortis e idade que tinha ao morrer. Os cientistas também pretendem examinar a composição, densidade e estrutura dos ossos, por meio de tomografias.
Acaso
A história do Jovem de Chan Hol começou em 2006, quando um casal de espeleólogos alemães descobriu o esqueleto quando exploravam a caverna de Chan Hol, que significa “olho pequeno” em maia. Até então, a caverna era um local muito desconhecido, e o que os alemães faziam era acrescentar mais tramas da chamada “linha da vida”, ou seja, a corda guia que os mergulhadores usam para não se perderem.
Ao avistar o esqueleto, o casal avisou o Instituto Nacional de Antropologia e História do México, em Quintana Roo, e imediatamente começaram as pesquisas. Levar o Jovem Chan Hol até a superfície não foi fácil. Desde que os alemães o encontraram, foram necessários três anos de estudos arqueológicos e de antropologia física in loco, até o dia em que foi possível tirá-lo do local com riscos mínimos de danificação.
Os estudos incluíram o registro fotográfico e em vídeo de cada parte do esqueleto e do ambiente ao redor. Foram necessários pelo menos 50 mergulhos para investigar tudo o que poderia ocorrer quando a ossada fosse movida, porque cada centímetro dos ossos – e seu contexto – significam uma peça irrecuperável no quebra-cabeças de uma história milenar.
Segundo Arturo Gonzáles, durante a era do gelo, a Península de Yacután deveria ser um grande deserto. Com as mudanças climáticas, virou uma selva. Os homens que faziam parte do grupo do Jovem de Chan Hol provavelmente usavam as cavernas para se refugiar das intempéries e buscar água filtrada pelas pedras.
Desde 2002, os pesquisadores encontram evidências desse tipo de vida: ferramentas de pedra, fogueiras, restos de animais extintos do período Pleistoceno, além de outros três esqueletos humanos em situações similares à do Jovem de Chan Hol já foram descobertos. Agora, com o novo achado, há indícios de que as cavernas também eram usadas para enterrar mortos, já que a posição dos ossos não corresponde a um modo natural, mas de uma forma que sugere a existência de um ritual funerário. (Paloma Oliveto) (Correio Braziliense, 26/8)