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Informativo 325 – Plantas crescem menos com aquecimento global e Cientistas atacam cura com célula-tronco

1 – Plantas crescem menos com aquecimento global

2 – Cientistas atacam cura com célula-tronco

 

1 – Plantas crescem menos com aquecimento global

Ao contrário do que se estimava, elevação nas temperaturas tem reduzido a produtividade nas plantas, segundo análise dos últimos dez anos feita a partir de dados de satélite
O aquecimento global não tem feito as plantas crescerem mais, como se estimava, mas sim menos. Segundo um estudo publicado na revista “Science”, a produtividade dos vegetais tem decaído em todo o mundo.
Até então, achava-se que as temperaturas constantemente mais elevadas estariam estimulando o crescimento das plantas, mas a nova pesquisa, feita com dados de satélites da Nasa, a agência espacial norte-americana, aponta o contrário.
O motivo são as secas regionais, indica o estudo feito por Maosheng Zhao e Steven Running, da Universidade de Montana, segundo o qual a tendência na produtividade já dura uma década.
A produtividade é uma medida da taxa do processo de fotossíntese que as plantas verdes usam para converter energia solar, dióxido de carbono e água em açúcar, oxigênio e no próprio tecido vegetal.
O declínio observado na última década foi de 1%. Parece pouco, mas, de acordo com os autores da pesquisa, é um sinal alarmante devido ao impacto potencial na produção de alimentos e de biocombustíveis e no ciclo global do carbono.
“Os resultados do estudo são, além de surpreendentes, significativos no nível político, uma vez que interpretações anteriores indicaram que o aquecimento global estaria ajudando no crescimento das plantas mundialmente”, disse Running.
Em 2003, outro artigo publicado na “Science”, de Ramakrishna Nemani, do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, e colegas, havia apontado um aumento de 6% na produtividade global de plantas terrestres entre 1982 e 1999.
O aumento foi justificado por condições favoráveis na temperatura, radiação solar e disponibilidade de água, influenciados pelo aquecimento global, que seriam favoráveis ao crescimento vegetal.
Zhao e Running decidiram fazer novo estudo, a partir de dados da última década reunidos pelo satélite Terra, lançado em 1999. Os cientistas esperavam pela continuidade da tendência anterior, mas verificaram que o impacto negativo das secas regionais superou a influência positiva de uma estação de crescimento mais longa, o que levou ao declínio na produtividade.
Segundo o estudo, embora as temperaturas mais elevadas continuem a aumentar a produtividade em algumas áreas e latitudes mais altas, nas florestas tropicais, responsáveis por grande parte da matéria vegetal terrestre, a elevação nas temperaturas tem diminuido a produtividade, devido ao estresse hídrico e à respiração vegetal, que retorna carbono à atmosfera.
O artigo “Drought-Induced Reduction in Global Terrestrial Net Primary Production from 2000 Through 2009” (doi:10.1126/science.1192666), de Maosheng Zhao e Steven Running, pode ser lido por assinantes da “Science” em www.sciencemag.org (Agência Fapesp, 23/8)

 

2 – Cientistas atacam cura com célula-tronco

Pesquisadores querem deter propagação de clínicas que oferecem tratamentos milagrosos sem base científica
A proposta é tentadora: cura ou melhora significativa para esclerose múltipla, Alzheimer, lesões na medula e vários outros males que a medicina tradicional até agora não consegue resolver de forma definitiva.
Mesmo sem documentação científica que comprove esses resultados, é cada vez maior o número de pessoas que se aventuram por clínicas que oferecem tratamentos com células-tronco. A maioria em países com regras frouxas quanto a seus riscos e eficácia.
O chamado “turismo de células-tronco” atingiu escala global e, até maio de 2009, pesquisadores já tinham identificado 27 países que disponibilizam o tratamento.
Embora a maioria dos centros fique na Ásia, com destaque para China e Índia, há polos também em países da Europa, como a Alemanha.
Para atrair clientes do exterior, as clínicas têm sites bem cuidados -normalmente com versões em inglês e francês- com fotos e depoimentos de pacientes relatando o progresso após serem submetidos à terapia.
No topo do ranking de tratamentos estão as doenças degenerativas, como mal de Parkinson. Derrames e diabetes vêm logo atrás, seguidos por lesões na espinha. Embora menos comum, terapia contra HIV/Aids também pode ser encontrada.
“As células-tronco são muitas vezes apresentadas como solução milagrosa para qualquer problema. Isso é sensacionalismo. As terapias realmente comprovadas ainda são muito restritas”, diz Lygia Pereira, do departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP.
Uma vez no organismo dos pacientes, as células-tronco estão sujeitas a uma série de problemas, desde o crescimento fora de controle até a transformação em células diferentes das desejadas. Em alguns casos, até tumores. Esses riscos não costumam ser descritos pelas clínicas.
Para a geneticista, os centros oferecem falsa esperança de cura e se aproveitam do desespero da doença.
“É muito difícil, como profissional e ser humano, dizer para alguém que não existe alternativa, mas os médicos e os pesquisadores têm de ser fortes. A ciência séria precisa de comprovação, por mais tentador que seja”, afirma.
A questão dos bioturistas se tornou tão significativa que a Sociedade Internacional de Pesquisas com Células-Tronco (ISSCR, em inglês) criou um site (www.closerlookatstemcells.org) sobre isso.
Além de desmascarar os principais golpes – como simplesmente injetar soro e outras soluções no corpo do paciente- os especialistas se oferecem para analisar clínicas suspeitas.
Na página há um guia para download, com informações em cinco idiomas (o português deve entrar na lista até o fim de setembro).
Revistas científicas respeitadas, como “Science” e “Nature”, têm abordado o tema mais regularmente desde o ano passado.
Este mês, a FDA (Federal Drug Administration), órgão que regulamenta os procedimentos médicos nos EUA, entrou na Justiça para impedir que uma clínica do Colorado oferecesse o tratamento com células-tronco.
Brasil ainda não tem casos registrados
Não há casos registrados de clínicas de células-tronco não regulamentadas no Brasil. Em 2009, porém, duas unidades foram fechadas na Argentina. Há indícios de outras em funcionamento na América Latina.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Conselho Federal de Medicina afirmam estar atentos à questão.
“O ambiente no Brasil está, de certa forma, mais protegido, porque o Estado fiscaliza. Mas não existe norma específica em relação às clínicas ainda” disse o diretor da Anvisa Dirceu Barbano.
No primeiro Simpósio Brasileiro de Células-Tronco, que aconteceu na semana passada na Faculdade de Medicina da USP, a questão foi uma das mais discutidas entre os principais nomes da ciência.
Falta de comprovação científica não desanima interessados
Tetraplégica há seis anos, a ex-modelo pernambucana Yoko Sugimoto, 26, acaba de voltar da China, onde se submeteu a um tratamento com injeções de células-tronco.
“Acho que valeu muito a pena. Agora consigo fazer alguns pequenos movimentos com o pulso que antes eram impossíveis. Também sinto mais equilíbrio no corpo.”
Para pagar a terapia e os custos da viagem, estimados em R$ 100 mil, amigos criaram um blog (www.yokonachina.com.br) com sua história. Em sete meses no ar, a quantia foi arrecadada.
A jovem conta com a assessoria de uma jornalista e de um publicitário e apareceu em vários jornais e canais de televisão, incluindo em um telejornal local da Rede Globo no Nordeste.
Agora, ela vai iniciar uma nova campanha para custear a segunda fase do tratamento, também na China. Sugimoto afirma que estudou o tema a fundo e estava consciente dos riscos.
O neurocirurgião Alberto Bortman, pai da estudante Daniela, 27, tetraplégica desde 2006, diz o mesmo. Acostumado a tratar pacientes com lesões semelhantes às da filha, o médico se viu “sem alternativas” quando a jovem ficou paralisada após um acidente.
“Como médico, eu sabia que as chances de dar certo eram muito pequenas, mas qualquer coisa que me falavam eu tentava. Sou de origem judaica, mas frequentei vários centros espíritas.”
Em 2008, eles embarcaram para China para fazer um tratamento em uma das clínicas mais movimentadas do país. Em seu site, o local diz ter atendido pacientes de mais de 80 nacionalidades.
“Ela [Daniela] teve alguma melhora, mas foi pequena. Um movimento no pulso que antes não era capaz de fazer. Não sei se foi por causa da cirurgia, mas aconteceu logo depois”, disse o pai.
A geneticista Lygia Pereira afirma que a melhora não significa que as células-tronco funcionaram. “Os tratamentos podem ter um efeito psicológico muito forte que explica alguns pequenos progressos.” (Giuliana Miranda) (Folha de SP, 22/8)