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Informativo 324 – Aquecimento; Tsunami triplo e Lua está encolhendo

1 – Aquecimento pode estar por trás de secas no Brasil

2 – Tsunami foi golpe triplo

3 – A Lua está encolhendo

 

1 – Aquecimento pode estar por trás de secas no Brasil

Eventos climáticos extremos são esperados em fases de mudança global
Está acontecendo agora, provavelmente vai acontecer de novo. Para cientistas, os extremos climáticos, como a secura que turbina queimadas no Centro-Oeste e na Amazônia, podem estar ligados ao aquecimento global.
O mesmo vale para as enchentes que deixaram 20 milhões de desabrigados no Paquistão nas últimas semanas, ou para a seca na Rússia, a pior da história, que devastou as plantações de trigo e fez aumentar o preço do pão até no Brasil.
Claro, nenhuma dessas catástrofes pode ser atribuída de forma específica às mudanças climáticas globais. É difícil separar os efeitos do aquecimento causado pelo homem da variabilidade natural do clima quando se trata de casos isolados.
“Mas o que se pode dizer é que a frequência com que eventos climáticos extremos ocorrem tende a aumentar”, afirma o físico Paulo Artaxo, da USP. Desse ponto de vista, a secura no interior do país, e em especial na região amazônica, é o esperado.
“Os modelos climáticos [projeções do clima futuro feitas em computador] projetam secas maiores no centro e no leste da Amazônia e no Nordeste”, afirma o climatologista José Antonio Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
“No Centro-Oeste haveria mais ondas de calor”, disse Marengo, que na quarta-feira participava de um evento sobre mudança climática e desertificação em Fortaleza.
Artaxo, da USP, lembra que o primeiro fator responsável por estimular eventos climáticos fora do comum num planeta mais aquecido é a energia sobrando. “Você injeta energia extra no sistema ao aquecer a atmosfera. E essa energia precisa ir para algum lugar”, afirma.
Outro ponto crucial, segundo Marengo, é o fato de que continentes e oceanos esquentam a taxas diferentes -é mais difícil esquentar uma massa de água do que a mesma massa de terra.
Como o ciclo da chuva e o dos ventos dependem muito dos mares, a diferença mais acentuada de temperatura entre oceano e continente pode levar a mais vendavais e mais tempestades.
“É como se houvesse uma aceleração no ciclo hidrológico, como se ele virasse um carro andando em quinta.”
A estiagem deste ano ainda não virou uma catástrofe no Brasil. “Está só um pouco mais seco do que a média”, diz o climatologista Carlos Nobre, também do Inpe.
Já a onda de calor russa tem tudo para virar um estudo de caso, como o evento semelhante que matou 30 mil pessoas na Europa em 2003.
Segundo Nobre, ambas as ondas de calor foram causadas por bloqueios atmosféricos. “”É como se fosse uma bola sobre a região, que não deixa o ar frio entrar.”
Nobre diz que não há nenhuma boa teoria ligando os bloqueios atmosféricos ao aquecimento global. Mas cita estudos depois da onda de 2003, mostrando que a probabilidade de ela ter a ver com o fenômeno era de 80%. No caso da Rússia, essa possibilidade é menor, afirma. (Reinaldo José Lopes e Cláudio Ângelo) (Folha de SP, 19/8)

 

2 – Tsunami foi golpe triplo

Ondas gigantes que atingiram Samoa em 2009 não foram provocadas apenas por um terremoto, mas por três consecutivos – um de 8,1 e dois de 7,8 graus -, afirma estudo publicado na Nature
O grande terremoto que provocou um tsunami responsável pela morte de 192 pessoas em Samoa, em setembro de 2009, não foi um, mas três.
Segundo pesquisa publicada na edição desta quinta-feira (19/8) da revista Nature, as ilhas da Polinésia foram atingidas por um golpe triplo. O terremoto de magnitude 8,1 na escala Richter, que foi detectado, escondeu outros dois, quase tão fortes quanto o primeiro.
Os outros terremotos, de acordo com Keith Koper, da Universidade de Utah, e colegas, foram disparados pelo primeiro, tendo ocorrido dois minutos depois e atingido 7,8 graus na escala Richter.
“Achávamos que fosse apenas um terremoto. Mas, ao analisar os dados registrados do evento, verificamos que foram três grandes terremotos. Os dois que ficaram escondidos pelo primeiro foram responsáveis por parte dos danos e das gigantescas ondas”, disse Koper.
Em termos de liberação de energia, segundo o estudo, os dois terremotos de 7,8 graus somados representaram a energia liberada por um terremoto de 8 graus. Ou seja, estiveram longe de ser apenas os tradicionais choques posteriores a um grande evento sismológico.
O terremoto triplo gerou ondas com alturas variadas dependendo da área atingida, mas que em alguns pontos chegaram a quase 15 metros acima do nível do mar.
“Os três contribuíram para o tsunami, principalmente os dois seguintes”, disse Koper. Os terremotos tiveram origem entre 14 e 19 quilômetros de profundidade. O primeiro durou 80 segundos. O segundo começou entre 49 e 89 segundos e, o terceiro, de 90 a 130 segundos após o primeiro.
Os cientistas decidiram investigar o fenômeno que provocou o tsunami em Samoa após a identificação de inconsistências nos sismogramas. “Simplesmente não conseguimos entender como um terremoto poderia produzir tais leituras. Sabíamos que havia algo de estranho, mas levamos meses para descobrir o que era”, disse Koper.
O artigo The 2009 Samoa-Tonga great earthquake triggered doublet (doi:10.1038/nature09214), de Keith Koper e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com (Agência Fapesp, 19/8)

 

3 – A Lua está encolhendo

Frio e tectonismo fizeram satélite perder 100 metros de circunferência
Imagens de uma sonda da Nasa, divulgadas hoje pela revista “Science”, revelam que a Lua está perdendo tamanho. A circunferência do único satélite terrestre já retraiu 100 metros – e este movimento ainda estaria longe do fim. A contração foi motivada pelo esfriamento do corpo celeste.
Formada após um intenso bombardeio de asteroides e meteoros, a Lua, antes quente, esfriou com a idade. Seu interior resfriado provocou o surgimento de escarpas na superfície.
Algumas destas ondulações já eram conhecidas. Mas outras 14, dispersas por todo o satélite, foram documentadas pela primeira vez.
O registro foi feito a partir de objetivas instaladas na Sonda de Reconhecimento Lunar, em órbita há cerca de um ano.
– Houve uma contração radical das ondulações – explicou ao Globo Thomas Watters, pesquisador do Museu Nacional do Ar e do Espaço e principal autor do trabalho. – As escarpas foram formadas dentro do último bilhão de anos. Pela aparência, no entanto, elas poderiam ser mais novas.
Embora este período pareça uma eternidade nos padrões humanos, ele corresponde a menos de 25% do tempo de existência da Lua.
A equipe de Watters constatou que o esfriamento lunar, um processo antigo, teria se conjugado com uma atividade tectônica recente no satélite. Por isso, as ondulações poderiam ter menos de 100 milhões de anos.
Lua não vai recuperar tamanho nem sumir
De acordo com Watters, não há possibilidade de que a mudança na circunferência seja resultado de um ciclo – ou seja, que a Lua se expanda e recupere a circunferência perdida.
– Este movimento só seria possível se o satélite ganhasse uma nova fonte interna de calor – avaliou. – Na verdade, é mais provável que a Lua continue esfriando lentamente.
O encolhimento flagrado pelas câmeras é pequeno demais para ser observado a olho nu. E esta situação não mudará: Watters acredita que a Lua retrairá “um pouco mais” e, depois, sua circunferência vai se estabilizar.
A possibilidade de que o corpo celeste desapareça está descartada. Tampouco suas mudanças de tamanho provocarão qualquer efeito na Terra.
Espera-se que a sonda, que continuará sendo usada no mapeamento da Lua, proporcione mais revelações relacionadas à sua história e à do próprio Sistema Solar.
As ondulações já conhecidas na Lua foram registradas nos anos 70, pelas missões Apollo 15, 16 e 17. Estes veículos, no entanto, orbitaram apenas pelo equador lunar, sugerindo que estas escarpas eram um fenômeno localizado. Agora que elas foram encontradas em outras localidades, ganhou força a tese de que elas seriam um processo global – e a explicação mais natural seria que o corpo celeste está encolhendo.
As ondulações da Lua são encontradas em outros corpos do Sistema Solar, como Mercúrio, onde elas são muito maiores do que as do satélite terrestre. O tamanho das formações naquele planeta faz os cientistas acreditarem que ele estava completamente derretido quando se formou. (Renato Grandelle) (O Globo, 20/8)