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Informativo 315 – Transgênicos; Morcegos e Réptil voador gaúcho

1 – Plantas transgênicas encontradas na natureza

2 – A ajuda dos morcegos

3 – Mais primitivo réptil voador era gaúcho

 

1 – Plantas transgênicas encontradas na natureza

Estudiosos acharam canola geneticamente modificada no campo, o que confirmaria risco para espécies nativas
Cientistas que trabalham em campo no estado americano de Dakota do Norte encontraram pela primeira vez evidências de que plantas alteradas geneticamente pelo homem – no caso, a canola – estão se estabelecendo na natureza, o que representa um risco para as espécies nativas, as culturas de plantas não alteradas e o ecossistema em geral.
Espécies invasoras, tanto de plantas como de animais, podem levar ao desaparecimento de outras, seja por ocuparem os mesmos nichos ecológicos, numa concorrência direta, ou por predação, entre outros fatores.
Meredith G. Schafer, da Universidade do Arkansas, em conjunto com colegas da Universidade estadual de Dakota do Norte, da Universidade estadual da Califórnia e da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, estabeleceram faixas que somaram 5.400 quilômetros de estradas principais e vicinais em Dakota do Norte ao longo das quais colheram, fotografaram e testaram 406 amostras de canola.
Os resultados – obtidos no início de julho e que serão apresentados hoje na 95ª reunião anual da Sociedade Ecológica da América, em Pittsburgh – mostram fortes evidências de que as plantas transgênicas escaparam das plantações e já se estabelecem fora dos campos cultivados.
Das 406 plantas coletadas, 347, ou 86%, deram positivo em testes para a presença das proteínas CP4 EPSPS ou PAT, ambas relacionadas à resistência a determinados herbicidas e introduzidas artificialmente nos vegetais.
– Também tivemos duas ocorrências de plantas com as duas alterações – conta Cynthia Sagers, da Universidade de Arkansas e uma das coautoras do estudo. – Variedades com múltiplos traços transgênicos ainda não foram lançadas comercialmente, então esta descoberta sugere que essas plantas estão se reproduzindo e se estabelecendo fora das áreas de plantio. Essas observações têm importantes implicações para a ecologia e gerenciamento de espécies nativas, assim como dos produtos biotecnológicos nos EUA – acrescenta. (O Globo, 6/8)

 

2 – A ajuda dos morcegos

Os animais, que transmitem doenças como a raiva, foram utilizados em uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos para decifrar como agem vírus acostumados a sofrer mutações rápidas e a migrar de uma espécie para outra
Eles são feios, assustam e transmitem doenças infecciosas. Justamente graças a essa última característica, porém, os morcegos estão ajudando a ciência a entender melhor os vírus de RNA,, aqueles que sofrem mutações muito rápidas e são responsáveis por desencadear pandemias ao migrarem entre diferentes espécies, como o ebola, o da gripe suína e o H5N1, causador da gripe aviária.
Outra doença infecciosa provocada por um vírus de RNA é a raiva. Como os micro-organismos que causam o mal costumam se hospedar em morcegos, um grupo de cientistas americanos escolheu esse mamífero alado como objeto de estudo.
De acordo com a pesquisa, publicada na edição de quinta-feira (6/8) da revista especializada Science, somente nos Estados Unidos 2 mil morcegos portadores de raiva são coletados anualmente, depois de humanos ou animais domésticos serem expostos a eles.
No Brasil, onde existem cerca de 150 espécies, a Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde registrou 88 casos de morcegos infectados até junho deste ano. Em 2009, foram 181 casos – um deles no Distrito Federal.
O vírus da raiva entra no organismo, multiplica-se, atinge o sistema nervoso periférico e, depois, ataca o sistema nervoso central. De lá, dissemina-se para vários órgãos. É transmitido aos humanos por animais e, até hoje, só se conhecem oito casos em todo o mundo em que um homem foi infectado por outro, mas essas ocorrências referem-se a pessoas que receberam transplante de órgãos doados por um indivíduo que morreu da doença.
Bastante grave, a raiva provoca, entre outros sintomas, febre alta, dor de cabeça, náusea, irritabilidade, delírios, convulsões e, por fim, as paralisias cardiorrespiratórias que levam à morte.
A pesquisa publicada na Science, conduzida pelo estudante de pós-doutorado da Universidade da Geórgia Daniel G. Streicker, concentrou-se na raiva, mas seus resultados não se aplicam apenas a essa doença.
De acordo com Streicker, eles vão ajudar a decifrar o comportamento de outros males transmitidos por vírus que migram de uma espécie para outra, já que a atuação desse tipo de micro-organismo infeccioso é semelhante em todos os casos. “A raiva foi escolhida por ser um modelo ideal para o que pretendíamos. Ela ocorre em todas as regiões, afeta diferentes espécies hospedeiras e é conhecida por sofrer frequentes mutações”, explica.
Sequenciamento
Para determinar a quantidade de indivíduos ou animais que podem ser infectados por um único agente transmissor, a equipe de Streicker usou um banco de dados sobre 23 espécies de morcegos existentes nos Estados Unidos, com informações dos últimos 10 anos. Eles sequenciaram os genes de 372 vírus da raiva encontrados nesses mamíferos. As análises revelaram que apenas um morcego contaminado costuma transmitir a doença para até dois indivíduos de diferentes espécies.
“É importante destacar que, para chegar a essa informação, lançamos mão de uma ferramenta muito barata e acessível, que é o sequenciamento molecular”, enfatiza o pesquisador. De acordo com ele, a metodologia poderá ser aplicada para quantificar as taxas de infecção de espécies hospedeiras em relação a outros patógenos encontrados na vida selvagem.
Além de verificar o potencial de transmissão viral, os pesquisadores procuraram entender quais são os fatores que permitem que um micro-organismo hospedado em determinada espécie consiga migrar para outra completamente diferente e desencadear uma doença. Eles fizeram uma importante descoberta: quanto maior a diferença genética entre as espécies, menor a possibilidade de haver a infecção, ainda que os vírus de RNA tenham capacidade de se transformar rapidamente.
“É a similaridade inata entre espécies que favorece a habilidade do vírus de infectar novos hospedeiros”, explica Gary McCracken, professor da Universidade do Tennessee, que também assina o artigo.
Para Daniel Streicker, essa informação será importante para futuras abordagens terapêuticas. “O conhecimento básico que adquirimos com essa pesquisa será a chave para o desenvolvimento de novas intervenções estratégicas para o combate de doenças que podem migrar da vida selvagem para os humanos”, diz.
O estudo, custeado pela National Science Foundation, não acabou. Com o apoio do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, a Universidade de Michigan e os ministérios peruanos da Saúde e da Agricultura, a equipe de Streicker vai investigar como as atividades humanas afetam a transmissão do vírus da raiva em morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue), no Peru. (Paloma Oliveto) (Correio Braziliense, 6/8)

 

3 – Mais primitivo réptil voador era gaúcho

Pterossauro de 215 milhões de anos, estudado por brasileiros e argentino, não ultrapassava tamanho de pardal
As mesmas rochas gaúchas onde se encontram os restos dos avós dos dinossauros revelaram outra relíquia: o animal que pode ser o réptil voador mais primitivo do mundo, dizem cientistas.
Com cerca de 215 milhões de anos, o Faxinalipterus minima era, de fato, mínimo. Em vida, teria o tamanho de um pardal, ou de um morceguinho (comparação mais apropriada, já que ele não possuía penas, mas sim asas membranosas). Trata-se um ensaio modesto na evolução dos pterossauros, bichos que chegariam a ter 12 m de uma ponta à outra das asas.
O bicho foi batizado por Cesar Schultz e Marina Soares, ambos da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e pelo argentino José Bonaparte, da Fundação de História Natural Félix de Azara. O inusitado “primeiro nome” da criatura vem de Faxinal do Soturno (RS), origem dos fósseis.
“Ele era contemporâneo do Guaibasaurus, ou seja, da segunda geração de dinossauros”, explicou Schultz à Folha. A comparação com pterossauros achados na Europa sugere que o bicho gaúcho é tanto ligeiramente mais velho que eles quanto mais primitivo -termo que, para os paleontólogos, tem sentido mais preciso.
Primitiva, nesse jargão, é a criatura com traços mais semelhantes aos do grupo ancestral. E é exatamente o que acontece com o F. minima. Um exemplo importante envolve a tíbia e a fíbula, os dois ossos das patas traseiras abaixo do joelho. Eles aparecem separados, e não fundidos num único osso, como em outros répteis alados.
“A vantagem de ter dois ossos separados é poder girar o membro”, explica Schultz. “Mas, se você voa, fundi-los significa um ponto a menos do corpo para destroncar durante o impacto com o solo no pouso, coisa que é um problema com os paraquedistas, por exemplo.”
Nesse ponto, portanto, o bicho gaúcho era “do modelo antigo” -talvez um voador menos eficaz que outros pterossauros. Outros detalhes viram especulação, porque o fóssil é fragmentado, correspondendo basicamente a cacos dos ossos das patas da frente e de trás. “Pode ser que ele se revele algo ainda mais interessante, algo que ainda não era exatamente um pterossauro”, diz Schultz.
Tal polêmica já está em curso. Alexander Kellner, especialista em pterossauros do Museu Nacional da UFRJ, está agora reexaminando o fóssil e diz ter dúvidas sobre sua classificação. “Estamos na fase inicial da pesquisa, fazendo uma redescrição.”
Kellner aposta que se trata de um bicho que estaria na origem da linhagem dos pterossauros, sem ser um réptil voador verdadeiro, ou então algo que antecede a separação evolutiva de dinos e pterossauros, já que os dois grupos possuem um ancestral comum bastante próximo.
Isso preencheria um buraco dos grandes no registro fóssil, já que, até hoje, todos os pterossauros descobertos, mesmo os mais antigos, aparecem já “prontos”, totalmente voadores. Mas formas mais intermediárias e terrestres devem ter existido. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 5/8)