1 – Um basta aos charlatães das células-tronco
2 – Brasil tem 1,5% de área marinha protegida por unidades de conservação
3 – Homens alteram o clima desde a pré-História
1 – Um basta aos charlatães das células-tronco, artigo de Lygia da Veiga Pereira
“Existe uma linha tênue entre a ousadia e a irresponsabilidade, mas pesquisadores de verdade sabem muito bem respeitar esse limite”
Lygia da Veiga Pereira é professora e chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da Universidade de São Paulo. Artigo publicado em “O Globo”:
De todas as perguntas que respondo sobre células-tronco (CTs), as mais delicadas são as de pacientes e familiares querendo saber se já existe algum tratamento para sua doença – são dezenas delas todos os meses.
A pergunta é absolutamente natural e justificada – afinal, com sua capacidade de regenerar órgãos e tecidos, as CTs são a grande promessa terapêutica do século XXI, e nos últimos dez anos cientistas do mundo todo trabalham para transformar esta promessa em realidade. Porém, em geral a pergunta é baseada na percepção de que as CTs já fazem parte de uma realidade médica, tratando desde infarto e diabetes até gripe suína.
Mas não fazem? Não. Até hoje, o único tratamento com CTs consolidado é o transplante de medula óssea ou de sangue do cordão umbilical, utilizado principalmente no tratamento de leucemias e outras doenças do sangue. Todas as outras aplicações das CTs, seja em infarto ou lesão de medula, são ainda experimentais.
É verdade que em várias doenças já passamos dos testes em animais para testes em seres humanos, porém ainda são testes em andamento.
Entre a enorme expectativa dos pacientes e a forma por vezes sensacionalista de as CTs serem apresentadas, não é de se admirar que muita gente acredite que elas já estejam incorporadas à medicina de consultório. Infelizmente, isso levou ao surgimento em vários países de um comércio de tratamentos milagrosos com CTs para doenças hoje incuráveis.
A comunidade científica repudia veementemente essas práticas, não fundamentadas experimentalmente, aéticas, e que submetem os pacientes a riscos desnecessários.
Algumas famílias argumentam que não têm nada a perder, mas se enganam.
No ano passado, o resultado de um desses tratamentos misteriosos com CTs oferecidos em uma clínica na Rússia foi relatado: o desenvolvimento de múltiplos tumores no cérebro de um menino que buscava tratamento para sua doença neurodegenerativa. Atenção: por enquanto tratamentos com CTs só podem ser realizados em instituições de pesquisa, com a aprovação dos respectivos comitês de ética, e sem nenhum custo financeiro para os pacientes.
Entendemos e somos absolutamente solidários com o sofrimento e a ansiedade dos pacientes e familiares que aguardam os tão prometidos tratamentos com CTs. Porém, precisamos primeiro averiguar se essas terapias são seguras, e depois se são de fato eficazes para aquelas doenças antes de torná-las disponíveis para a população.
Para formalizar o repúdio e combater os “mercadores de CTs”, a Sociedade Internacional para Pesquisa em CTs (ISSCR – www.isscr.org), que reúne os principais cientistas de CTs do mundo, lançou um guia para pessoas interessadas nesses tratamentos (“A closer look at stem cell treatments”, disponível em http://www.closerlookatstemcells.org).
Nele são discutidos como funciona uma pesquisa clínica, e o que perguntar sobre teóricos tratamentos com CTs. E ainda é possível submeter uma clínica de CTs a análise pela ISSCR, que verificará se a mesma oferece tratamento com base científica comprovada, e se atende a normas éticas e sanitárias.
No Brasil, a Rede Nacional de Terapia Celular está traduzindo o guia para o português para atender também a nossa população.
Existe uma linha tênue entre a ousadia e a irresponsabilidade, mas pesquisadores de verdade sabem muito bem respeitar esse limite.
Apesar da urgência dos pacientes, o desenvolvimento científico sério deve ser feito de forma absolutamente responsável para que um dia possamos de fato transformar em realidade. (O Globo, 16/7)
2 – Brasil tem 1,5% de área marinha protegida por unidades de conservação
Meta é chegar a 10%
A área marinha brasileira corresponde a mais da metade do território terrestre e, somada à zona costeira, é chamada de Amazônia Azul – são 8.500 km de costa e 4,5 milhões de km2 quando contabilizada a plataforma continental.
“Contudo, apenas 1,5% dessa área está protegida por unidades de conservação, o que é muito pouco se considerada a meta de 10% de conservação definida pela Convenção sobre Diversidade Biológica até 2010”, disse Roberto Gallucci, da Gerência de Biodiversidade Aquática e Recursos Pesqueiros do Ministério do Meio Ambiente, no encerramento do “Seminário Ano Internacional da Biodiversidade: os desafios para o Brasil”, organizado pela Câmara dos Deputados.
Para modificar este cenário, o MMA acredita ser necessário valorizar e implementar as unidades de conservação existentes, criar novas, monitorar os ecossistemas frágeis, incentivar e apoiar a geração do conhecimento acerca da biodiversidade marinha e, também, criar uma Política Nacional de Conservação dos Oceanos.
UCs marinhas
Hoje são 102 unidades de conservação (UCs) marinhas no Brasil, sendo que as duas últimas foram criadas em junho deste ano, ambas no estado do Espírito Santo: Área de Proteção Ambiental da Costa das Algas e Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz.
Estudos apontam a área como de maior biodiversidade de invertebrados marinhos do mundo, onde se alimentam populações de baleias (jubarte, franca, cachalote) e golfinhos. Na parte terrestre, merecem destaque os remanescentes de manguezais e restinga em bom estado de conservação.
Situados na região costeira dos municípios de Serra, Fundão e Aracruz, o RVS de Santa Cruz (17.741 de hectares) e a APA da Costa das Algas (114.931 de hectares) têm extrema importância biológica de acordo com o mapa das Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade Brasileira e atenderão a demandas sociais da região, que possui atividades de pescarias de subsistência e de pequena escala praticadas pelas comunidades pesqueiras litorâneas. (Assessoria de Comunicação do MMA, 14/7)
3 – Homens alteram o clima desde a pré-História
Caça ao mamute permitiu a proliferação de plantas, o que aumentou absorção de radiação solar
Ao caçarem os últimos mamutes que caminhavam sobre a Terra, os homens antigos acabaram contribuindo para o aquecimento global milhares de anos antes de a civilização moderna começar a queimar combustíveis fósseis, mostra estudo sobre mudanças climáticas pré-históricas divulgado ontem.
De acordo com os pesquisadores da Carnegie Institution for Science, a extinção destes gigantescos animais herbívoros contribuiu para a proliferação de pequenas árvores dentro e no entorno do Ártico, escurecendo uma região em sua maior parte desolada e reflexiva, o que acelerou o aumento das temperaturas em todo Polo Norte.
Isso porque o avanço da vegetação rumo ao norte diminuiu o chamado “efeito albedo”, segundo o qual a substituição da neve e do gelo esbranquiçados por uma superfície mais escura faz com que mais radiação solar seja absorvida, criando um ciclo que se auto-alimenta.
Apesar de a última Idade do Gelo já estar a caminho do seu fim quando os últimos mamutes foram mortos, a descoberta sugere que a atividade humana já afetava o clima global séculos antes do que se pensava, embora seus efeitos sejam minúsculos se comparados com os provocados pelas atuais queimas de carvão, gasolina e outros combustíveis.
De acordo com o estudo, o aumento da cobertura vegetal aqueceu as regiões boreais da Sibéria e da América do Norte em 0,2o C num período de vários séculos. Enquanto isso, a temperatura média da Terra já aumentou em 0,74o C desde o início do século XX, sendo que a alta pode ter sido até o dobro no Ártico.
– Não estamos dizendo que o efeito foi grande. A questão de nosso estudo não é o seu tamanho, mas o fato de ser um efeito humano – defendeu Chris Field, diretor do Carnegie e um dos autores do estudo. (O Globo, 16/7)