Fechar menu lateral

Informativo 287 – Peixes; Gás estufa e Aves

1 – Estudo inédito mapeia 819 espécies de peixes raros no Brasil

2 – Emissão de gás do efeito estufa estaciona em 2009

3 – Desastre ameaça aves quase extintas

 

1 – Estudo inédito mapeia 819 espécies de peixes raros no Brasil

Pesquisadores identificaram 540 áreas-chave para a conservação de espécies nas águas doces do país
Um grupo de seis pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil) identificou 819 espécies de peixes raros de água doce no Brasil.
O estudo, publicado pela revista científica eletrônica PLoS ONE (http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0011390) é resultado das análises das informações acumuladas ao longo de décadas sobre a fauna de peixes brasileiros e de coleções científicas e representa o mais completo mapeamento já elaborado sobre peixes raros de água doce no Brasil.
“Esse mapeamento representa um passo importante para que finalmente a sociedade brasileira passe a reconhecer que os nossos rios, além de serem fontes de água, alimento e energia, são também lugares onde uma importante parte da biodiversidade única do país está presente”, afirma Naércio Menezes, da Universidade de São Paulo e coautor do estudo.
Com base nas distribuições das espécies de peixes raros foram identificadas 540 bacias hidrográficas que podem ser consideradas como áreas-chave para a conservação (ACB) dos ecossistemas aquáticos brasileiros. As ACBs são lugares insubstituíveis, pois abrigam espécies de peixes que somente ocorrem lá.
“Sem estudos detalhados de mapeamento, é impossível saber quais áreas específicas abrigam biodiversidade única e sob grande ameaça,” enfatiza outro autor do estudo, Cristiano Nogueira, da Universidade de Brasília.
Segundo o estudo, apenas 26% das 540 bacias hidrográficas identificadas como ACBs podem ser consideradas como razoavelmente protegidas. Do total, 220 (40%) ACBs estão em estado crítico devido ao impacto direto de hidrelétricas ou por apresentarem uma combinação de baixa proteção formal (Unidades de Conservação) e altas taxas de perda de habitat. Tais áreas críticas passam por um rápido processo de degradação ambiental e abrigam 344 espécies endêmicas de peixes, ou seja, aquelas apenas encontradas na região.
“Se o atual ritmo de degradação dessas ACBs continuar como está, o Brasil corre o risco de perder uma parcela importante do seu patrimônio biológico único em pouco tempo, o que seria um desastre em grandes proporções para a principal potência biológica do planeta”, afirma Fábio Scarano, diretor-executivo da CI-Brasil. 
O estudo é o primeiro realizado em microescala no Brasil, o país com a fauna de peixes de água doce mais rica do mundo. “Os resultados apontam que a conservação da biodiversidade aquática e a manutenção desses ecossistemas têm sido negligenciadas ao longo dos anos”, diz um dos autores do estudo, Paulo Buckup, pesquisador do Museu Nacional da UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira de Ictiologia. Segundo Buckup, o estudo somente foi possível em virtude da imensa quantidade de conhecimento acumulado nas últimas duas décadas pelos ictiólogos brasileiros, que formam um grupo de excelência mundialmente reconhecido na área de biodiversidade.
De acordo com Thais Kasecker, coordenadora de serviços ecossistêmicos do programa Amazônia da CI-Brasil e uma das autoras da pesquisa, o estudo apresenta um método simples e direto de detecção de áreas-chave para a conservação de ecossistemas de água doce baseado na presença de espécies restritas a microbacias e ameaçadas de extinção. “A metodologia utilizada representa um ponto de partida para a elaboração de estratégias de conservação mais representativas, que aliam tanto os ecossistemas aquáticos quanto os terrestres”, diz Kasecker.
“A criação urgente de planos de conservação para as ACBs, a implementação de governança apropriada de ecossistemas aquáticos e de pagamentos por serviços ambientais nessas 540 áreas-chave identificadas serão decisivas para evitar a extinção de peixes raros de água doce do Brasil”, conclui José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente da CI para a América do Sul e um dos autores do artigo.
Para unir os esforços de pesquisadores na área, a Conservação Internacional criou o site http://peixesraros.conservation.org.br/. Seguindo o modelo lançado no ano passado apara as plantas raras do Brasil (www.plantasraras.org.br), o objetivo do site é ser referência de informação sobre os peixes raros do país. O site disponibiliza o estudo, em inglês, e os resultados apontados, com mapas com a localização das ACBs e das espécies e informações adicionais em português. (Assessoria de Comunicação da Conservação Internacional)

 

2 – Emissão de gás do efeito estufa estaciona em 2009

Estimativa foi feita por agência ambiental holandesa; recessão é “culpada’
As emissões industriais de dióxido de carbono (CO2), principal gás causador do aquecimento global, ficaram estacionadas no ano passado, graças principalmente à crise econômica global.
A recessão diminuiu a produção de gases-estufa em países ricos, enquanto o crescimento econômico ainda forte na China e na Índia compensou essa queda, de forma a chegar a um valor neutro, sem variação em relação a 2008.
Os dados são da Agência de Avaliação Ambiental da Holanda. Segundo o órgão, 2009 foi o primeiro ano desde 1992 que registrou crescimento zero nas emissões de carbono vindos da queima de combustíveis fósseis, produção de cimento e atuação de indústrias químicas -fontes-chave de gases-estufa.
O que não entrou na conta da agência são as emissões vindas do desmatamento, queimadas e liberação de carbono de biomassa em decomposição, que poderiam responder por até 20% do montante mundial.
A agência do governo holandês foi a primeira a mostrar que a China havia ultrapassado os EUA como o maior emissor de gás carbônico em 2006. Sua avaliação é baseada em dados da companhia petroleira BP, da Agência Internacional de Energia e do projeto Edgar, da Comissão Europeia.
As emissões encolheram 7% nos principais países industrializados, o equivalente a 800 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Isso foi compensado, no entanto, por um aumento de 9% na China e de 6% na Índia. As emissões do Brasil diminuíram um pouco -20 milhões de toneladas de gás carbônico a menos em 2009.
A China mais do que dobrou suas emissões desde o ano 2000, chegando a um total de 8,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, ainda que, nos últimos cinco anos, tenha dobrado anualmente sua geração de energia eólica e solar.
Já as emissões da Índia cresceram 50% desde 2000, e o país agora ultrapassou a Rússia como o quinto maior gerador mundial de CO2.
Quando se comparam os países, a China continua sendo o grande emissor de carbono, mas os EUA emitem quase três vezes mais gás carbônico por pessoa do que os chineses, diz o estudo.
Por enquanto, o único mecanismo para tentar combater as emissões é o Protocolo de Kyoto, o qual pede que os países industrializados reduzam em 5% o o CO2 produzido em relação aos níveis de 1990 -isso até 2012. Os países em desenvolvimento não são obrigados a fazer cortes.
O relatório holandês afirma que as emissões dos países ricos já estão 10% abaixo dos níveis de 1990, mas a situação ainda pode mudar com o fim da recessão e a retomada da produtividade industrial nessas nações.
Já as emissões globais totais no ano passado foram de 31,3 bilhões de toneladas, o que equivale a 40% mais do que os níveis de 1990. (Folha de SP, 2/7)

 

3 – Desastre ameaça aves quase extintas

Pelicanos-marrons estavam se recuperando nos últimos anos, mas vazamento de petróleo no Golfo do México é nova ameaça à espécie
Por mais de uma década, as centenas de pelicanos-marrons que faziam ninho nos mangues a oeste da Ilha Queen Bess eram prova de que uma espécie à beira da extinção conseguira se recuperar. A ilha era um dos três locais na Louisiana onde esses pássaros foram reintroduzidos depois que pesticidas quase provocaram seu extermínio nos anos 60.
Mas, no dia 29 de maio, esses pássaros, com suas penas cobertas por lama grossa, foram levados para um centro de reabilitação em Fort Jackson. São as vítimas mais recentes do desastre da Deepwater Horizon. E dezenas deles foram levados para outros centros de recuperação. 
Seis pelicanos foram trazidos para Fort Jackson e, como os visitantes observavam, os pássaros estavam imóveis nas gaiolas improvisadas; parecia que a lama os tinha congelado. Eram tratados em aposentos aquecidos por encarregados que vestiam uma roupa de proteção.
“Os pelicanos estão em péssima condição”, disse Dorg Inkley, cientista da National Wildlife Foundation, preocupado que o vazamento de petróleo possa acabar com a recuperação dos pássaros na Louisiana.
As imagens de pássaros cobertos de petróleo – pelicanos, mergulhões do norte, gaivotas e outros – são uma lembrança inquietante do desastre do Exxon Valdez, há 21 anos. E, nas últimas semanas, elas se tornaram o mais vívido símbolo dos danos provocados pelas centenas de milhares de barris de óleo cru derramados no Golfo do México desde a explosão da plataforma Deepwater Horizon, em 20 de abril. Desde que começou o vazamento, centenas de pássaros afetados foram catalogados, muitos mortos, mas alguns ainda vivos e encharcados de óleo.
Mas o pelicano-marrom, por causa de sua história de recuperação, tem um significado especial. Esses pássaros eram tão comuns que adornam a bandeira do Estado. Eram companheiros frequentes dos pescadores, que compartilhavam das suas águas e admiravam sua habilidade para localizar peixes à distância e mergulhar de grandes alturas para recolhê-los com seus bicos.
Na virada do século 20, observadores estimavam que a população de pelicanos-marrons na Louisiana chegava a 50 mil. Mas, em 1961, nenhum casal foi localizado ao longo de toda a costa do Estado, de acordo com a Guarda Costeira. Como outras subespécies do pelicano-marrom encontradas na Califórnia, os pássaros locais foram severamente atingidos por DDT e outros pesticidas, que afinavam as cascas dos seus ovos, esmagados quando adultos se sentavam sobre eles.
Em 1968, a Louisiana trouxe os pássaros de uma colônia de sobreviventes na Flórida e os reintroduziu na costa sul do Estado em três pontos. Um deles era a Ilha Queen Bess, que se tornou morada de um dos últimos casais de reprodução, disse Kerry St. Pe, diretor do Programa Nacional de Estuários de Terrebonne e Barataria.
Os pássaros tiveram dificuldades de adaptação. Os pântanos da região e a Ilha Queen Bess eram afetados pelos diques do Mississippi e pelos canais abertos pelas petroleiras. Isso até 199o, quando um projeto para restauração da costa financiou uma barreira rochosa em torno da ilha, estabilizando-a. A colônia de pelicanos começou a crescer. Em 2009, os pelicanos-marrons saíram da lista de espécies em perigo de extinção.
Mas o vazamento de óleo pode mudar isso. Como todas as aves, os pelicanos são muito sensíveis ao óleo, disse Melanie Driscoll, diretora de preservação de aves da Louisiana Coastal Initiative. O óleo os impede de regular a temperatura do corpo, deixando-os sujeitos a superaquecimento. O óleo também envenena os peixes dos quais eles se alimentam e se infiltra nos ovos.
Dano aparente
O dano era aparente no centro de salvamento do International Bird Rescue Research Center, da BP e de autoridades federais. Muitos dos pássaros estavam tão cobertos de óleo que não conseguiam ficar de pé. Os encarregados os limpavam com toalhas, davam fluidos e peixe e os colocavam em gaiolas. Na manhã seguinte, teve início a limpeza, com água e detergente.
Até agora, mesmo os mais encharcados de óleo sobreviveram. Se não tivessem sido tratados imediatamente, teriam se afogado ou perecido. “Muitos deles vão desaparecer”, disse Melanie. Mas a preocupação dela é que, um número muito maior de pelicanos em breve será levado ao centro. “Poderemos ter uma centena. E esse número pode chegar a milhares.” (O Estado de SP, 4/7)