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Informativo 265 – Reis da savana; termômetro e pterossauro

1 – Reis da savana

2 – Americano cria “termômetro” para examinar animal extinto

3 – Quem matou o pterossauro?

 

1 – Reis da savana

Nem leão, nem elefante. Segundo nova pesquisa, os animais mais importantes para o bioma africano são os pequenos cupins, que estimulam a produtividade vegetal e animal
Leões? Elefantes? Girafas? Nenhum deles. Os majestosos animais mais frequentemente associados com a savana africana não têm um papel tão importante quando o assunto é a importância para o ecossistema.
Pelo menos não tanto como a do verdadeiro rei da savana nesse caso, que é o modesto cupim. Segundo uma nova pesquisa, o pequeno inseto contribui enormemente para a produtividade do solo por meio de uma rede de colônias uniformemente distribuídas.
Os cupinzeiros estimulam de modo importante a produtividade vegetal e animal em nível local, enquanto que sua distribuição por uma área maior maximiza a produtividade do ecossistema como um todo, indicam os pesquisadores.
A conclusão do estudo, publicado na revista de acesso livre PLoS Biology, confirma uma abordagem conhecida da ecologia de populações: frequentemente são as menores coisas que importam mais.
“Não são os predadores carismáticos – como leões e leopardos – que exercem os maiores controles em populações. Em muitos aspectos, são os pequenos personagens que controlam o cenário. No caso da savana, aparentemente os cupins têm uma tremenda influência e são fundamentais para o funcionamento do ecossistema”, disse Robert Pringle, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, um dos autores da pesquisa.
Os cupinzeiros estudados no Quênia central têm cerca de 10 metros de diâmetro e se encontram distribuídos com distâncias de 60 a 100 metros entre eles. Cada estrutura abriga milhões de insetos e são muitas vezes centenárias.
Depois de observar um número inesperado de lagartos nas vizinhanças de cupinzeiros, Pringle e colegas passaram a quantificar a produtividade ecológica relativa à densidade da estrutura.
Os pesquisadores observaram que cada cupinzeiro dava suporte a densas agregações de flora e de fauna. Plantas cresciam mais rapidamente quando estavam mais próximas aos montes e as populações de animais e as taxas de reprodução diminuíam à medida que se afastavam dos mesmos.
O que os pesquisadores observaram em campo foi ainda mais fácil de perceber por meio de imagens feitas por satélite. Cada cupinzeiro se encontrava no centro de uma “explosão de produtividade floral”.
O mais curioso é que essas manifestações de produtividade são organizadas, distribuídas uniformemente como se fossem as casas de um tabuleiro de xadrez.
O resultado é a formação de uma “rede otimizada de plantas e animais intimamente ligados à distribuição ordenada dos cupinzeiros”, segundo Pringle.
Os cientistas estão estudando os mecanismos que levam à distribuição centrada nos cupinzeiros. Uma suspeita é que os cupins distribuem nutrientes, como fósforo e nitrogênio, que beneficiam a fertilidade do solo.
“Cupins costumam ser vistos como pragas e ameaças à produção agrícola, mas a produtividade – tanto em cenários selvagens como dominados pelo homem – pode ser muito mais intrincada do que se estimava”, disse Pringle.
O artigo Spatial Pattern Enhances Ecosystem Functioning in an African Savanna (PLoS Biol 8(5): e1000377.doi:10.1371/journal.pbio.1000377), de Robert Pringle e outros, pode ser lido em http://biology.plosjournals.org (Agência Fapesp, 26/5)

 

2 – Americano cria “termômetro” para examinar animal extinto

Química de dentes e ossos permite inferir temperatura corporal
Uma charge do cartunista americano Gary Larson mostra um cientista se aproximando de um dinossauro com um termômetro retal gigante nas mãos. A legenda: “Um instante mais tarde, o professor Waxman e sua máquina do tempo são obliterados, deixando sem resolução o debate sobre se os dinossauros tinham sangue quente ou frio”.
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia apresentou no periódico “PNAS” um método real -e mais seguro- para tentar resolver o debate. Eles descobriram que é possível inferir a temperatura corporal de uma criatura extinta olhando a composição química de seus dentes.
“Não é como voltar no tempo e enfiar um termômetro no traseiro de um animal, mas é quase”, brincou o geoquímico John Eiler, líder do grupo de pesquisa.
Eiler e seus colegas mostraram que os cristais de apatita (um mineral de cálcio) nos ossos e dentes podem guardar essa informação, na forma de uma ligação química entre um tipo de carbono e um tipo de oxigênio pesados.
A ligação entre esses isótopos, como são chamados (o O18 e o C13) é a chave. Quanto mais frio, mais facilmente ela acontece, formando “agregados” moleculares.
Um aluno de Eiler, Robert Eagle, criou um método para contar a proporção de agregados de O18 e o C13 na apatita.
Teste
O “paleotermômetro”, então, foi testado em amostras de dentes de elefantes, rinocerontes, crocodilos e tubarões. Em todos os casos, foi possível inferir com precisão a temperatura corporal (a dos mamíferos, por volta de 37C, e a dos répteis, de “sangue frio”, cerca de 26C).
Em seguida, o grupo testou fósseis de mamute, de milhares de anos, e de parentes extintos do rinoceronte e do aligátor, de 12 milhões de anos – para saber se o método poderia ser aplicado também a fósseis. Pode.
O grupo já está analisando fósseis de dinossauro. E quer ir além. Como a apatita existe desde o Pré-Cambriano, eles acham que a técnica pode ser usada para reconstituir a temperatura em que viveram os primeiros animais. (Folha de SP, 26/5)

3 – Quem matou o pterossauro?

Agraciado com prêmio nacional, o paleontólogo Alexander Kellner tenta decifrar ataque de 110 milhões de anos
Um crime impune há 110 milhões de anos intriga paleontólogos. Cientistas brasileiros e australianos encontraram três marcas de violentas mordidas no osso de um pterossauro – réptil voador que costuma ser confundido com dinossauros. O autor da investida ainda é desconhecido. Mas, como em toda perícia, algumas hipóteses já são consideradas.
Eis os suspeitos: um mamífero, um dinossauro ou um crocodilomorfo, o antepassado dos jacarés.
A vítima era particularmente frágil. O pterossauro, de sexo desconhecido, tinha quatro metros de envergadura – os maiores chegam a seis metros. Os ossos da espécie são finos e ocos. É no metacarpo, atingido pela mordida, que se prende o dedo alar, responsável por sustentar a membrana da asa.
O ataque foi rápido, mortal e ocorreu em terra firme. Há, no entanto, a possibilidade de que a ação tenha ocorrido após a morte do pterossauro – e, por trás da mordida, estariam animais carniceiros.
– Teoricamente poderiam ser mamíferos, mas, à época, eles eram muito pequenos, e as marcas são grandes – descarta Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional. – Os dinossauros são uma possibilidade real. Mas também podemos considerar os crocodilomorfos, predadores rápidos, uma característica essencial para uma ação como a que estudamos.
Recém-agraciado pela Ordem Nacional do Mérito Científico – uma das maiores honraria do país para um cientista -, Kellner dividiu as análises do osso com Fabiana Costa, também do Museu, e Thomas Rich, australiano responsável pela escavação do osso na Oceania.
Além do metacarpo, a equipe também encontrou a vértebra cervical de outro pterossauro. Suas descobertas serão publicadas semana que vem na revista australiana “Alcheringa”, especializada em paleontologia.
Esta é o segundo registro conhecido de osso mordido de um metacarpo. No primeiro, encontrado no Canadá, o ataque foi atribuído a um dromeossaurídeo – o mais famoso deles, eternizado no filme “Jurassic Park”, é o velociraptor.
Os fósseis australianos compartilham semelhanças com outros encontrados no Brasil, particularmente na divisa entre Ceará, Pernambuco e Piauí. A região, hoje uma chapada que ultrapassa os 900 metros de altitude, foi o fundo de uma laguna 100 milhões de anos atrás. Lá foi encontrada a maioria dos quase 600 pterossauros já escavados no país.
– Ainda há muito o que aprender sobre a espécie, que se espalhou por cinco continentes, e os seus hábitos. Não sabemos, por exemplo, se costumavam andar sozinhos ou em grupo – diz Kellner. – Será muito difícil descobrir que dinossauro poderia ter sido o predador do pterossauro mordido. (Renato Grandelle) (O Globo, 28/5)