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Informativo 237 – Animal vivem em água sem oxigênio, bactérias que gostam de sushi e vespa ajuda a controlar percevejo bronzeado

1 – Italianos descobrem animal que vive em água sem oxigênio

2 – Bactérias que gostam de sushi

3 – Eucalipto: vespa ajuda a controlar percevejo bronzeado

 

1 – Italianos descobrem animal que vive em água sem oxigênio

Criaturas achadas no Mediterrâneo foram as primeiras com múltiplas células achadas a 3.000 metros de profundidade
Um ambiente capaz de asfixiar todos os animais conhecidos do planeta foi colonizado por pelo menos três espécies diferentes de invertebrados marinhos. Descobertos a mais de 3.000 m de profundidade no Mediterrâneo, eles são os primeiros membros do reino animal a prosperar mesmo diante da ausência total de oxigênio.
Até agora, achava-se que só bactérias pudessem ter esse estilo de vida, conhecido como anaeróbico. Não admira que os bichos pertençam a um grupo pouco conhecido, o dos loricíferos, que mal chegam a 1 mm.
Apesar do tamanho, possuem cabeça, boca, sistema digestivo e uma carapaça. As três espécies foram achadas pela equipe de Roberto Danovaro, da Universidade Politécnica das Marche, na Itália, ao sondar a chamada bacia do Atalante, abismo marinho entre a Itália, a Grécia e o norte da África.
Além de desprovida de oxigênio, a bacia possui altas concentrações de sal e é rica em sulfeto de hidrogênio, gás tóxico que dá o cheiro aos ovos podres. Numa região tão profunda e inóspita, é esperada a presença de cadáveres de invertebrados, que “chovem” das partes mais superficiais do oceano. Por isso, Danovaro e companhia, para comprovar que os bichos realmente viviam lá, trouxeram os animais para a superfície e administraram um nutriente “marcado” com átomos radioativos, fáceis de detectar. Viram, então, que as criaturas estavam mesmo vivas, já que devoraram a comida recebida.
Os resultados estão em artigo publicado na revista científica “BMC Biology”. “Os argumentos deles são convincentes. De fato, trata-se de um metabolismo antes só conhecido para bactérias e outros micróbios”, diz Angelo Bernardino, do Departamento de Ecologia e Oceanografia da Universidade Federal do Espirito Santo.
A adaptação dos bichos à vida no sufoco é tão profunda que suas células dispensaram as chamadas mitocôndrias, estruturas que ajudam qualquer animal “normal” a usar oxigênio.
É uma mudança evolutiva radical, já que as mitocôndrias acompanham os ancestrais dos animais há bilhões de anos. Os habitantes das profundezas parecem ter trocado suas mitocôndrias por outras estruturas, mais adequadas a condições pouco oxigenadas.
“Esses loricíferos representam o primeiro caso dessa adaptação, mas as etapas do metabolismo deles provavelmente são parecidas com as que vemos em outros ambientes do mar profundo, onde há animais que se associam a bactérias capazes de aproveitar compostos químicos do lugar”, afirma Bernardino, que espera mais descobertas do tipo. (Folha de SP, 8/4)

 

2 – Bactérias que gostam de sushi

Cientistas descobrem que bactérias marinhas transferiram genes, que ajudam no aproveitamento de nutrientes, para o intestino de japoneses. O motivo da distinção evolucionária é o consumo secular de algas
Um grupo de pesquisadores franceses identificou enzimas que digerem carboidratos de uma bactéria marinha, a qual, por sua vez, se alimenta de algas. Mas a maior curiosidade é que os genes que codificam essas enzimas foram encontrados não apenas em ecossistemas marinhos, mas em um outro bem diferente: o intestino humano.

Segundo o estudo, publicado na edição desta quinta-feira (8/4) da revista “Nature”, microrganismos marinhos que vivem em algas transmitiram genes para a microbiota intestinal de humanos, mas apenas de alguns. Os genes foram encontrados em indivíduos japoneses, mas não em norte-americanos.
O motivo? O consumo de algas conhecidas como nori (Porphyra spp.), que costumam envolver os delicados sushis, um dos itens mais tradicionais da culinária japonesa.
Jan-Hendrik Hehemann, da Universidade Pierre e Marie Curie – Paris 6, e colegas compararam dados dos genomas dos intestinos de 13 voluntários japoneses com 18 norte-americanos para descobrir a transferência de enzimas de bactérias do mar.
No Japão, algas marinhas não estão apenas nos sushis, mas são parte importante da cultura e da sociedade do país há muito tempo. Registros históricos mostram, por exemplo, que no século 8 algas eram usadas como moeda para pagamento de impostos devidos pelos cidadãos.
Segundo os cientistas, após vários séculos, o contato com microrganismos marinhos pelo consumo de algas deve ter aberto uma rota por meio da qual genes que codificam enzimas responsáveis pela digestão de algas foram transferidos de um ecossistema, o oceano, para outro muito diferente: o intestino humano.
Os cientistas apontam que essa transferência é importante para a evolução, uma vez que permite o aproveitamento de nutrientes que anteriormente não teriam valor.
“Entre as diversas questões interessantes que essa pesquisa levanta está a importância relativa da adaptação da microbiota, que ocorre durante a evolução das espécies hospedeiras, a colonização de novos ambientes e as mudanças nas dietas”, disse Justin Sonnenburg, da Universidade Stanford, em comentário sobre a descoberta na mesma edição da Nature.
“Como a ampliação da capacidade de obter alimentos ricos em energia é considerada um dos fatores importantes da evolução humana, é provável que a adaptação da microbiota tenha acompanhado as mudanças dietárias que ocorreram durante a história humana”, apontou.
Segundo ele, novos estudos deverão ajudar a determinar como, durante a evolução, as mudanças na produção e preparação de alimentos influenciaram a microbiota intestinal.
“Estudos de amostras antigas derivadas de coprólitos e de hominídeos fossilizados ou mumificados e investigações em nossos parentes primatas poderão fornecer um retrato de como a microbiota se formou – e tem sido formada – pela história natural”, disse Sonnenburg.
As mudanças continuam, destaca o pesquisador. O consumo de alimentos produzidos em massa, muito calóricos, altamente processados e higiênicos, ou seja, isentos de micróbios pode não ser exatamente uma boa ideia. O motivo é que, com uma alimentação desse tipo, a microbiota intestinal deixaria de receber a transferência de genes de microrganismos.
“A próxima vez que você comer um alimento incomum à sua dieta, lembre que isso pode ser muito bom. Pense nos micróbios que você está ingerindo e na possibilidade de estar fornecendo a alguns de seus trilhões de amigos próximos [na microbiota intestinal] um novo conjunto de utensílios”, disse Sonnenburg.
O artigo “Transfer of carbohydrate-active enzymes from marine bacteria to Japanese gut microbiota” (doi: 10.1038/nature08937), de Jan-Hendrik Hehemann e outros, pode ser lido por assinantes da “Nature” em www.nature.com (Agência Fapesp, 8/4)

 

3 – Eucalipto: vespa ajuda a controlar percevejo bronzeado

 

Dois meses depois dos primeiros ataques do percevejo bronzeado aos plantios de eucalipto, registrados em fevereiro de 2008, no município de Jaguariúna, São Paulo, foram detectadas árvores inteiramente desfolhadas nos hortos florestais da região. Nativa da Austrália, a praga exótica chegou ao continente africano, Argentina e Uruguai antes de atingir o Brasil. O laboratório de Quarentena “Costa Lima” da Embrapa Meio Ambiente lidera as pesquisas e já deu início ao requerimento, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para importar um agente natural de controle. Pequeno, de corpo achatado e medindo aproximadamente três milímetros de comprimento, o inseto se locomove rapidamente, perfurando e sugando a seiva das folhas e ramos finos. A agressividade da ação provoca prateamento seguido de ressecamento da copa, que compromete toda a produção da floresta.

Luiz Alexandre Nogueira de Sá, pesquisador da unidade, conta que já existe monitoramento do número e incidência do parasitóide em algumas áreas. Dados preliminares já foram levantados desde o começo das apurações no ano passado. Dentro da extensa área plantada com eucalipto, o Camaldulensis, espécie mais vulnerável, ocupa em média 200 mil hectares.

— Para o desenvolvimento de práticas de manejo adequadas, estamos solicitando vistorias no campo aos profissionais responsáveis por esse segmento de proteção florestal nas empresas. As informações sobre a praga são fundamentais para o planejamento de estratégias de controle. Quanto mais restrita a incidência, maiores as chances de sucesso — afirma.

Nogueira explica que após a autorização do MAPA para trazer a vespa australiana com grande potencial de combate, o material passará por rigoroso processo de limpeza para retirada dos contaminantes. Mesmo sendo um parasitóide benéfico, possui uma série de esporos, vírus e bactérias.

— O material liberado normalmente é a terceira ou quarta geração da vespa que chega ao laboratório. A liberação é feita em três ou quatro locais específicos por hectare de floresta, soltando entre 1000 a 2000 indivíduos por ponto. Se houver adaptação climática, condições de cruzamento e descendência, ocorre o deslocamento e estabelecimento — explica.

Ainda segundo o pesquisador, uma nova praga já se estabeleceu em países como o Chile, Estados Unidos, México, África do Sul e parte da Ásia. Conhecida como vespa da galha, também causa grandes prejuízos ao eucalipto e tem potencial de entrada no país. Fonte: Portal Dia de Campo, Newsletter Diária, Nivea Schunk. 09/04/2010