1 – O renascimento do El Nino
2 – Museu Nacional/UFRJ realiza a conferência sobre aquecimento global
3 – Pesquisadora da UFPE produz bioinseticida contra Aedes aegyptii
1 – O renascimento do El Niño
Oceano Pacífico volta a se aquecer com mais mudanças para o clima do Brasil
Causador de alguns dos maiores problemas deste verão, como o calor extremado no Rio e as chuvas contínuas em São Paulo, o fenômeno climático El Niño acaba de ganhar nova força. Medições realizadas pela Nasa nos dois últimos meses mostram que o fenômeno climático, já enfraquecido em janeiro, voltou a aquecer as águas do Pacífico no fim de fevereiro.
A reviravolta pode aumentar a pluviosidade na Região Sul e reduzi-la no Nordeste. Estes efeitos climáticos seriam sentidos até o meio do ano.
O aquecimento das águas superficiais do Pacífico, característico do El Niño, é mantido por ondas gigantes formadas próximo à Indonésia que avançam rumo à América do Sul.
As mudanças são quase imperceptíveis na superfície – as ondas medem, no máximo, 22 centímetros, e a temperatura sobe até 3 graus Celsius. Sob as águas, no entanto, as transformações são suficientes para alterar o clima de boa parte do continente sul-americano, ao mudar a circulação oceânica, a distribuição de chuvas e o regime de ventos.
– A elevação provocada por essas ondas tem a altura de um palmo de mão na superfície, mas, abaixo dela, as transformações podem chegar a 100 metros de profundidade – explica Paulo Polito, professor do Instituto Oceanográfico da USP. – As ondas vão causar uma variação no calor armazenado pelo oceano. Certamente haverá uma mudança, que pode repercutir nos próximos meses, no clima do Oceano Pacífico.
As transformações meteorológicas, no entanto, chegam até a países não banhados pelo oceano Pacífico, como o Brasil.
– As ondas se propagam em diversas direções, atingindo ambos os hemisférios – explica Caio Coelho, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec-Inpe). – Além de atingir os polos, pode influenciar as previsões meteorológicas, principalmente nas regiões Sul e Nordeste.
O impacto provocado pelas ondas na atmosfera é a formação, no Pacífico Central, de um sistema semelhante a uma grande torre, que vai do oceano a nuvens de até 10 quilômetros de altura. O ar sobe para estas nuvens e se desloca, por exemplo, para o Nordeste do país, onde impede as pancadas de chuva.
A região também é prejudicada pela formação de uma zona de convergência ali perto, provocada pelo aumento de temperatura das águas do Atlântico Norte. Já no outro extremo do país, a formação prevista é inversa.
– As correntes de ar formadas pelas ondas provocam o surgimento de um centro de alta pressão no Sul, onde o ar é sugado para cima e propicia grande pluviosidade. Já no Nordeste, forma-se um centro de baixa pressão, em que o movimento do ar é oposto e, por isso, inibe a formação de chuvas – explica Coelho.
Segundo o Cptec, o Sul será a única região brasileira a registrar índice de chuvas maior do que a média histórica até junho. Do Maranhão à Bahia, porém, as chuvas não atingirão o volume normalmente registrado nesta época do ano.
De acordo com Coelho, o El Niño, que surgiu em meados do ano passado, já atingiu sua fase madura. Seus efeitos, portanto, não devem sofrer transformações drásticas. É provável que o fenômeno climático passe por sinais de esvaziamento até julho, quando finalmente deve desaparecer e parar de causar problemas. (Renato Grandelle). (O Globo, 24/3)
2 – Museu Nacional/UFRJ realiza a conferência sobre aquecimento global
Nesta sexta-feira, 26 de março, a partir das 14h30
O evento incluirá o lançamento do livro “Aquecimento Global?”, de autoria de Shigenori Maruyama, que questiona os informes alarmistas sobre o futuro do clima na Terra.
A conferência contará com a presença de Kenitiro Suguio, professor emérito do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e tradutor da publicação.
O debate contará, também, com a participação dos professores Ciro Alexandre Ávila e João Wagner Castro, do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ, e com a presença da diretora da instituição, Claudia Carvalho.
Para Kenitiro Suguio, há processos astronômicos e geológicos que são negligenciados nos estudos e nas previsões climáticas. Ainda segundo Suguio, o resfriamento do clima se deve ao fato de o planeta estar vivenciando o final de uma era interglacial, se opondo claramente a uma visão alarmista divulgada na mídia sobre o futuro do planeta.
A sinopse do livro descreve a posição do autor como uma resposta contundente aos alarmistas do aquecimento global, que reivindicam medidas economicamente impraticáveis, apoiadas em relatórios decorrentes de modelos incompletos e exagerados. Ele ainda argumenta em prol de preocupações mais imediatas, como excesso populacional para capacidade do planeta, água potável e suprimentos de alimentos. O lançamento é da Editora Oficina de Textos.
O evento marca as comemorações pelos dez anos de criação do curso de especialização em Geologia do Quaternário do Departamento de Geologia e Paleontologia (DGP) do Museu Nacional/UFRJ, que tem por finalidade proporcionar aos alunos o domínio de conceitos e métodos básicos para a descrição, análise e interpretação da Geologia do período Quaternário.
O Museu Nacional/UFRJ fica na Quinta da Boa Vista, s/nº, São Cristóvão. Mais informações pelo fone (21) 2562-6974.
3 – Pesquisadora da UFPE produz bioinseticida contra Aedes aegyptii
A antecipação das chuvas e a alta temperatura são fatores que contribuem para o aumento do índice de infestação por larvas do mosquito Aedes aegyptii, transmissor da dengue. Atualmente, o mosquito já apresenta resistência aos produtos químicos utilizados para seu controle, inclusive os que são aplicados em fumacês. Nesse contexto, o uso do controle biológico surge como alternativa à utilização de inseticidas de natureza química, como mostra o trabalho da professora do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da UFPE Christine Lamenha Luna Finkler, intitulada “Produção de biolarvicida à base de Bacillus thuringiensis var. israelensis para o controle de dípteros de importância para a saúde pública”, que prevê a produção de bioinseticida utilizando bactérias do gênero Bacillus.
Segundo a professora, a pesquisa, que é realizada em cooperação técnica com o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), visa a produzir em larga escala um bioinseticida a ser utilizado pelas secretarias de saúde do Estado para o combate do Aedes aegyptii. Christine Lamenha afirma que o uso de inseticida químico tem inúmeras desvantagens. “Eles [os inseticidas] inibem, principalmente, a proliferação dos mosquitos adultos, não são específicos para os vetores, além de serem tóxicos”, explica. As diretrizes de combate à dengue no País, como atesta a pesquisadora, já indicam que os produtos a serem utilizados são os agentes microbianos de controle biológico, como as bactérias do gênero Bacillus, que se destacam pela sua capacidade de formar esporos e toxinas de elevada especificidade aos insetos-alvo. Dentre essas bactérias, destaca-se o Bacillus thuringiensis israelensis (Bti), inócuo ao homem e a outros animais e que produz toxinas específicas às larvas do mosquito Aedes aegyptii, que morrem após se alimentarem dela.
Christine constata que, por ser capaz de formar esporos, a Bti é a bactéria mais adequada à produção industrial e à aplicação em campo, além de possuir menor sensibilidade às radiações ultravioleta e condições climáticas adversas, como calor excessivo e baixos teores de umidade, aumentando sua persistência no campo. E completa: o Bti é uma bactéria que faz parte do ambiente, e tem ação larvicida conhecida, porém o seu processo produtivo não é produzido em larga escala no Brasil, que importa larvicida, mesmo sabendo produzir”.
ETAPAS: A pesquisa desenvolvida por Christine Lamenha envolve as etapas de produção e separação das células de Bti, o desenvolvimento de formulações e testes de atividade biológica visando à sua aplicação em campo. A produção de Bti é realizada por meio de um processo fermentativo, utilizando biorreatores contendo um meio de cultura líquido que utiliza matérias-primas de baixo custo. Após o cultivo, segundo a pesquisadora, as células são separadas do meio fermentado por um processo de separação utilizando a floculação e sedimentação. O concentrado de células é submetido à secagem sob condições controladas e o pó ativo é, então, formulado para a obtenção de produtos tais como comprimidos ou grânulos.
Durante seu doutorado, em 2004, a pesquisadora desenvolveu um comprimido à base de Bti que apresentou eficácia de 100% de mortalidade das larvas de Aedes aegyptii para 50 litros de água e 90% para 100 litros em testes do campo simulado. Na ocasião, o comprimido foi aplicado em diferentes tipos de criadouros domésticos na cidade de Moreno (PE) na dose de 1 comprimido para 50 litros de água, e os testes revelaram excelentes resultados no controle populacional de Aedes spp. Atualmente, além da produção em larga escala, a pesquisa busca novas formulações e visa a aprimorar as apresentações do Bti tais como a produção de grânulos, que são de mais fácil aplicação. Devemos aprimorar os comprimidos, com mais testes, dentre eles observar as condições ambientais adversas como a exposição às radiações UV, diferenças de pH e temperatura, afirma a pesquisadora. O interesse de expandir a produção também é pontuado pela pesquisadora. Temos uma endemia e temos como produzir [bioinseticida]. Se conseguirmos atender Pernambuco e posteriormente todo o Nordeste, será excelente, conclui. Mais informações: Professora Christine Lamenha. chrislluna@yahoo.com.br. Fonte: Talita Bezerra, Assessoria de Comunicação da UFPE