1 – Mandioca amarela tem até 50 vezes mais caroteno que a variedade comum da raiz
2 – Exemplos que ensinam
1 – Mandioca amarela tem até 50 vezes mais caroteno que a variedade comum da raiz
Pesquisa de laboratório da Universidade de Brasília demonstra que variedade pouco conhecida da raiz tem até 50 vezes mais caroteno do que o tipo mais conhecido, o branco. Mudas já foram distribuídas a 11 produtores do Distrito Federal
Uma pesquisa do Laboratório de Melhoramento Genético da Mandioca da Universidade de Brasília (UnB) descobriu uma variedade da raiz tuberosa mais nutritiva do que a branca, comumente encontrada em feiras e supermercados de todo o Distrito Federal. O tipo originário do Amapá tem até 50 vezes mais caroteno (1)se comparado à variedade comum e recebeu o nome de Amarela 1. Depois dos estudos, o laboratório distribuiu mudas da mandioca a 11 agricultores do DF para o cultivo por meio de convênio com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF). Fazem parte da pesquisa oito estudantes da UnB.
As análises começaram há três anos, quando o coordenador do laboratório e professor responsável pelo estudo, Nagib Nassar, começou a reunir variedades de mandioca de vários lugares do país. Das 30 raízes tuberosas pesquisadas, foram escolhidas as duas que apresentaram a maior quantidade de caroteno em sua composição: a Amarela 1, do Amapá, e a Amarela 5, de Minas Gerais. Os cultivares indígenas são muito mais ricos em diversas características. Eles são como tesouros nacionais, mas ainda precisam ser explorados e aproveitados, acredita o professor. De acordo com Nassar, a mandioca comum tem cerca de 0,4 miligrama de caroteno em um quilo do produto, enquanto a variedade amarela pode apresentar até 26 miligramas da substância.
Aluna do 5º semestre de agronomia da UnB, Angela Valentini Gorgen, 20 anos, trabalha no projeto há dois anos e fez parte do grupo de estudantes que levou a variedade descoberta aos produtores do DF. Logo que entrou no laboratório para trabalhar com o melhoramento da mandioca, descobriu um interesse na área de assistência aos trabalhadores rurais. É muito importante esse diálogo. Nós fazemos a distribuição duas vezes ao ano e, de três em três meses, acompanhamos o trabalho deles para ver se está tudo bem ou se têm alguma dúvida, conta. O próximo passo é expandir a distribuição a todo o Distrito Federal. Além da mandioca amarela, o laboratório oferece outras variedades, de acordo com a necessidade do produtor.
O agricultor Manoel Pereira da Silva, 65 anos, tem uma propriedade no Recanto das Emas e cultiva tomate, couve-flor e milho verde. Ele costuma vender toda a produção nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF) e nas feiras da cidade. Em novembro do ano passado, recebeu pela primeira vez a variedade Amarela 1 do laboratório e espera que a produtividade seja alta. Não tem mais comércio para a mandioca comum. Ela quase não tem mais saída, afirma. Silva ainda tem em casa alguns pés de mandioca vermelha, que é mais rara.
Produtividade
No Laboratório de Melhoramento Genético da Mandioca há 25 espécies silvestres que crescem no habitat natural e sem a necessidade de plantio para serem usadas no cruzamento com a mandioca comum. A técnica, conhecida como enxerto, consiste em juntar as estacas dos dois tipos para depois plantá-las. Nassar garante um aumento da produtividade da raiz tuberosa com esse trabalho. Depois disso, selecionamos as melhores com a participação dos produtores rurais, conta o professor. Entre as variedades que apresentaram boa resistência à seca da região Centro-Oeste estão UnB 110, UnB 115, UnB 122 e ICB 300.
O coordenador da pesquisa afirma que o Brasil é o maior produtor e consumidor da mandioca. “Ela está entre os cultivos mais plantados entre os pequenos produtores no DF, principalmente na agricultura familiar. Mas a produção ainda é pequena se comparada a outros Estados”, diz. Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) revelam que, em 2009, 417 produtores usaram uma área de 915 hectares para o cultivo da raiz tuberosa. A produção chegou a 13.578 toneladas das variedades de mandioca, de um total de 827.949 toneladas de tudo o que foi produzido no DF no ano passado.
1 – Nutriente
O caroteno, quando processado pelo fígado, produz vitamina A. A substância é importante para o fortalecimento da retina e para a proteção do tecido epitelial do corpo humano. Fonte: Thaís Paranhos, Correio Braziliense de 17.03.2010.
2 – Exemplos que ensinam
O planeta Terra é quase uma ilha cósmica. Está ligada imaterialmente ao Sol, do qual recebe seu suprimento de energia em quantidade e condições limitadas e definidas. É essa energia que, contínua e lentamente, sustenta o processo metabólico da biosfera.
Dizemos nós os ambientalistas que o ecossistema está sendo grave e intensamente ferido de morte pelas ações irresponsáveis da humanidade. E isso pode ser comprovado pela anterioridade histórica.
Para saber o destino que vem sendo projetado para os seres vivos deste planeta, sob o comando da estrutura econômica individualista, basta voltar nossa atenção para o que a História e os estudos científicos nos contam do fim trágico de outras sociedades que existiram no passado. São casos pontuais, mas constituem exemplos ao todo planetário. Se tivermos a sabedoria básica do aprendizado, teremos apenas que evitar os mesmos erros que tais sociedades cometeram, todos eles condizentes com o meio ambiente. O dia de ontem ensina quais procedimentos corretos hoje. Os acontecimentos caóticos do passado são lições que devemos aprender no presente, sob pena de recebermos as mesmas conseqüências.
A ilha de Páscoa, isolada no Pacífico, foi habitada no ano referencial de 400 d.C. por polinésios vindos do oeste. Encontraram ali um paraíso. Terra boa, florestas exuberantes, boas aguadas, rica em peixes litorâneos e diversas espécies de aves. Com o aumento populacional, a construção febril de estátuas de pedra (moais) para atender exigências religiosas, uso abusivo dos recursos naturais da ilha, chegaram – num crescendo desesperante – aos estágios sociais de revolta, saques, assassinatos, destruição dos moais, antropofagia e severa redução populacional. Quando o capitão Cook, em 1774, aportou na ilha só encontrou misérias. Posteriormente, os europeus que ali chegavam, não tinham nada a explorar. Então praticaram a única ação possível: aprisionaram quase todos os sobreviventes e os levaram como escravos.
As menos conhecidas ilhas Pitcairn e Henderson, também na Polinésia, foram habitadas no ano referência 800 d.C. Ali as sociedades floresceram até o momento em que o equilíbrio ecológico foi quebrado com a exterminação da fauna e flora. Na miserabilidade, os habitantes passaram a praticar todos os atos desesperantes da fome, inclusive a antropofagia e, finalmente, o último recurso: o suicídio. Em 1606, quando essas ilhas foram descobertas por um navio espanhol para o mundo ocidental, já estavam completamente desabitadas e, naturalmente, inteiramente dilapidadas.
Os povos anasazis, antigos habitantes da região sudoeste da América do Norte, sugaram tanto os recursos naturais da região que, antes da colonização, desapareceram deixando para os arqueólogos suas monumentais construções.
O auge da civilização Maia, na península de Yucatán, terminou tragicamente no ano referência 1.000 d.C. Foi o epílogo de intensa exploração das matas, cultivando a terra para alimentar excessiva população. Isso demandou exploração de mais terras, o que produziu desequilíbrios climáticos, gerando secas continuadas. Em seguida, guerras que, num crescendo cíclico, implantou o caos, obrigando os remanescentes do lugar a fugir para longínquas regiões virgens, abandonando suas casas e templos.
Equilíbrio ecológico é coisa séria. As partes constitutivas de certo ambiente são inter-relacionadas. Ação humana numa parte produz uma desestabilização que vai interferir nas outras partes. E eis aí o elemento enganador: as conseqüências íntimas são imediatas, mas só surgem, aparecem, ficam evidentes e se mostram em longo prazo. De forma destrutiva, peremptória, irreversível.
A colonização do sudoeste da Groenlândia se deu no fim do primeiro milênio, época em que os Vikings, vindos da Islândia, encontraram, em meio ao gelo, terras férteis com cobertura de matas próprias da região. Em menos de 400 anos tais aventureiros sugaram os recursos ambientais, provocando alterações climáticas, erosão do solo, fome e suas conseqüências caóticas. De tal forma desrespeitaram o meio ambiente que aconteceu o inevitável: desapareceram misteriosamente daquela região.
Algumas ilhas do Pacífico nos dão informações sobre o manejo adequado do meio ambiente, tornando-o sustentável ou não, isto é, garantidor da sobrevivência humana, ou de seu suicídio. Numa ilha pequena, como Tikopia – com vida primitiva, mas sustentável há 3.000 anos – há o consenso de que as ações de uns representam alteração ambiental de toda a ilha. Em outras maiores, como Tonga – também com vida primitiva e sustentável há 3.200 anos – houve uma departição de interesses, agindo cada um em seu próprio benefício, sem notar que estavam degradando o todo. Nesse caso houve um momento em que todos perceberam, por força da fome, a necessidade de atuação de um chefe único para administrar o interesse maior, a sobrevivência.
Nessas ilhas, verdadeiros micromundos estanques, depois do desmatamento e aumento populacional descontrolados, tomaram decisões extremas, tais como formação obrigatória de florestas, abortos e até infanticídios, alcançando finalmente o equilíbrio ambiental e estabilização da densidade demográfica.
A ilha de tamanho médio Mangaia, no entanto, por não ter seu povo tomado decisões radicais e corajosas, necessárias ante idêntica degradação ambiental, ficou completamente desabitada, depois naturalmente do trágico cenário do caos.
Existem outros exemplos regionais em que podemos nos espelhar olhando os dois lados. O Japão, por exemplo, tem 75% de suas terras cobertas por florestas, formadas por decisão de governo. Paralelamente, as necessidades japonesas de madeira são atendidas por importação de outros países, onde a irresponsabilidade impera, como a Austrália e Brasil. O presidente Balaguer da República Dominicana, no curso de seus diversos mandatos, aboliu completamente a atividade madeireira no país, importando do Chile e Brasil tal matéria prima. O Brasil, como sempre, exporta madeira (cadáver de árvore) para todo o mundo. Explica-se: o Brasil não sabe o que faz.
Todos os fatos relatados, relativos a diversas épocas, ocorreram em uma região definida, localizada, configurando interesses nacionais, sem a conscientização global. Este é o grande perigo; pensar e agir em função de interesses individualistas, seja no sentido pessoal ou de nacionalidade. O planeta precisa de um governo global para tomar decisões corajosas e radicais como únicas alternativas para a sobrevivência dos seres vivos.
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista, colaborador e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas” Ezkizitaz, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
Nota: o livro “Agora ou Nunca Mais”, está disponível para acesso integral, gratuito e no formato PDF, clicando em http://www.ecodebate.com.br/pdf/agora_ou_nunca_mais.pdf . Fonte: Maurício Gomide Martins, Ecodebate.