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Informativo 207 – Nível do mar, inseticida, tubarão branco e algas marinhas

1 – Estudo sobre elevação do nível do mar é corrigido

2 – Inseticida genético pode barrar dengue

3 – Monstro dos mares em perigo

4 – Cientistas analisam resultados de pesquisas com algas marinhas

 

1 – Estudo sobre elevação do nível do mar é corrigido

 

Após erro, revista científica retirou texto de seu arquivo

A revista científica Nature Geoscience retirou de seus arquivos um estudo que projetava a elevação do nível do mar em até 82 centímetros até o fim do século em razão do aquecimento global.

O cientista responsável pela pesquisa, Mark Siddall, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Bristol, afirmou que havia dois erros técnicos em seu trabalho, comprometendo as conclusões. Ele não soube dizer se suas projeções estavam superestimadas ou subestimadas.

O estudo foi publicado em 2009 e confirmou as conclusões do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), elaborado em 2007. Para isso, o cientista analisou dados dos últimos 22 mil anos. Na época, Siddall afirmou que o estudo “fortalece a confiança para se interpretar os resultados do IPCC”.

De acordo com IPCC, o nível do mar provavelmente subiria entre 18 e 59 centímetros até 2100, embora o documento ressaltasse que a projeção se baseava em informações incompletas sobre o derretimento da camada de gelo e que a elevação real poderia ser maior.

Muitos cientistas criticaram a abordagem do IPCC como muito conservadora. Vários estudos posteriores sugeriram que o nível do mar poderia se elevar mais. Martin Vermeer, da Universidade de Tecnologia de Helsinque, na Finlândia, e Stefan Rahmstorf, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impactos Climáticos na Alemanha, publicaram um estudo em dezembro do ano passado que projetava o aumento de 0,75 metro para 1,9 metro até 2100.

Ao anunciar a retirada formal do estudo da publicação, Siddall disse: “Essa é uma das coisas que acontecem. As pessoas cometem erros e erros ocorrem em ciência”. Ele explicou que havia dois erros técnicos separados no estudo que foram apontados por outros cientistas após a publicação.

Pelo fato de os erros comprometerem as conclusões do estudo, foi pedida uma retirada formal da pesquisa dos arquivos da revista, em vez de uma correção. “A retirada é uma parte normal do processo de publicação”, justificou ele. “A ciência é um jogo complexo e há procedimentos estabelecidos que funcionam como verificações e balanços”, disse.

O Nature Publishing Group, que publica Nature Geoscience, informou que esse foi o primeiro trabalho retirado da publicação desde sua criação em 2007.

O trabalho, intitulado “Constraints on future sea-level rise from past sea-level change”, usou dados de corais fósseis e registros de temperatura derivados de medições do núcleo do gelo para reconstruir como o nível do mar flutuou com a temperatura desde o pico da última era do gelo. A partir destes parâmetros, foi construída a projeção de como ele subiria nas próximas décadas.

Numa declaração conjunta, os autores do estudo disseram: “Desde a publicação, tomamos consciência de dois erros que incidem sobre uma estimativa detalhada da elevação futura do nível do mar. Isso significa que não podemos mais tirar conclusões firmes com respeito à elevação do nível do mar no século 21 desse estudo sem novos trabalhos.”

Segundo eles, um dos erros foi por causa de um “julgamento defeituoso” e o outro ocorreu por não considerarem integralmente as mudanças de temperatura nos últimos dois mil anos. “Por conta dessas questões, retiramos o trabalho e investiremos em novas pesquisas para corrigir esses erros”, disse Siddall. O pesquisador também agradeceu Vermeer e Rahmstorf por “trazerem essas questões à nossa atenção”. (O Estado de SP, 22/2)

 

2 – Inseticida genético pode barrar dengue

 

Grupo de brasileiro nos EUA faz fêmeas de “Aedes” transgênicas incapazes de voar, que podem cortar ciclo da doença

Entre os mosquitos, as fêmeas costumam ser as vilãs, já que são elas que sugam sangue e transmitem doenças. Nada mais natural, portanto, que uma nova estratégia contra os insetos se dirija a elas: alterações genéticas que tornam os membros do sexo feminino incapazes de voar.

Em laboratório, a ideia está dando certo no caso do Aedes aegypti, mal-afamado transmissor do vírus da dengue, e também há planos de aplicá-la ao Culex quinquefasciatus, o pernilongo comum, que, além de sugar sangue, também pode carregar o causador da elefantíase.

O importante é que as modificações no DNA inviabilizam apenas o voo das fêmeas. Os machos que as carregam são capazes de voar normalmente, o que ajudaria a espalhar a característica por cruzamento com os mosquitos normais.

Dengue

Os resultados mais recentes com o A. aegypti estão na edição desta terça-feira (23/2) da revista científica “PNAS”, descritos por uma equipe internacional que inclui o biólogo brasileiro Osvaldo Marinotti, ex-professor da USP e hoje na Universidade da Califórnia em Irvine (EUA). Marinotti explica que a criação de fêmeas transgênicas toma partido de uma diferença natural entre os sexos.

É que certos músculos cruciais para a capacidade de voar das fêmeas dependem de uma proteína, a actina-4, cuja receita está contida num gene que é bem mais ativo nos mosquitos que são do sexo feminino.

“Os machos têm o mesmo gene, mas ele é expresso [ativado] numa intensidade muito menor. O macho tem outra actina que faz a mesma função. Não se sabe o porquê da diferença, embora se especule que ela venha da necessidade da fêmea de ter músculos mais fortes, porque suga sangue e carrega ovos, ou seja, leva muito peso”, afirma o biólogo.

Com esse dado nas mãos, os cientistas projetaram um fragmento de DNA que continha dois elementos principais. Um deles era um promotor -a região que controla quando um gene é ligado ou desligado- específico para o gene da actina-4. O outro continha a receita para a produção de uma substância tóxica. Na prática, isso significa que esse “veneno” era produzido apenas nas células dos músculos do voo que costumam conter actina-4.

O resultado eram fêmeas cujo desenvolvimento caminhava normalmente até a fase de larva, mas que, ao se tornar adultas, eram incapazes de usar suas asas. Já os machos geneticamente alterados ainda conseguiam voar. Na natureza, as fêmeas modificadas poderiam até morrer afogadas antes de deixar a água, onde passam a fase larval, mas em laboratório elas recebem um antídoto que lhes permite ter asas normais.

“É uma estratégia muito promissora”, afirma Mauro Toledo Marrelli, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Estamos tentando usar o mesmo sistema com o Culex quinquefasciatus, embora ainda não tenhamos criado nenhuma linhagem de mosquitos. O Culex é mais difícil porque, ao contrário do Aedes, que põe seus ovos individualmente, os dele vêm todos juntos, e é preciso separá-los em laboratório. Nisso, você acaba perdendo muitos ovos”, diz Marrelli.

Inseticida

O pesquisador da USP compara a estratégia a um inseticida, porque ela destrói apenas as primeiras gerações de mosquitos que cruzarem com os animais modificados. “Mais tarde, esse gene vai desaparecer da população, e você vai precisar soltar mais animais modificados”, diz Marinotti. “Mas, do ponto de vista da regulação, quando chegarmos a testes de campo, isso é uma vantagem. Você não vai inserir perpetuamente um gene modificado na população, o que diminui as preocupações com segurança.”

Testes em grandes gaiolas, uma situação considerada “semisselvagem”, já estão sendo feitos para avaliar a viabilidade do plano, afirma Marinotti. (Reinaldo José Lopes). (Folha de SP, 23/2)

 

3 – Monstro dos mares em perigo

 

População do tubarão branco sofre declínio

Injustamente aprisionados no inconsciente coletivo como máquinas de matar, os tubarões vivem uma realidade bem diferente. Há dois anos, um estudo da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) estimou que um terço das 64 espécies de tubarão em todos os oceanos estava ameaçada de extinção.

Agora, um novo estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Stanford, revela que o Grande Tubarão Branco, o vilão dos filmes de Steven Spielberg, é uma das espécies mais ameaçadas do mundo, tendo atualmente uma população estimada em apenas 3.500 indivíduos – 90% menos que há 20 anos. Contra esses animais, pesam a sobrepesca, e também a antipatia da população, como ressalta uma pesquisa feita no Brasil sobre o consumo de sua carne e iguarias.

Imagem impede solidariedade

No estudo feito em Stanford, divulgado durante a reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), em San Diego, os pesquisadores analisaram um grupo de 150 tubarões brancos, marcados e monitorados por satélite. Durante muito tempo, acreditava-se que esses animais eram raros, mas ainda não ameaçados de extinção, já que diversos grupos eram vistos em várias regiões do planeta.

– A marcação mostrou que, na verdade, os grupos que estavam sendo avistados eram os mesmos grupos marcados – afirmou Ronald O’Dor, um dos pesquisadores envolvidos no Censo da Vida Marinha, estudo internacional para mapear a biodiversidade dos oceanos.

A partir dessa constatação, e usando estimativas sobre populações, os pesquisadores chegaram ao número, aproximado, dos tubarões brancos existentes.

Tais animais são ameaçados pela sobrepesca, quando não ficam presos em redes de arrasto ou batem em navios de grande porte ou barcos pesqueiros.

– O fato é essa população estimada de tubarões brancos é menor do que a de tigres existente na Terra – disse O’Dor. – Ouvimos muito falar do perigo de extinção enfrentado pelos tigres, mas esses tubarões estão em situação semelhante.

A pesquisa também confirmou que boa parte desses animais se reunem, durante 100 dias do ano, numa área entre a costa da Califórnia e o Havaí, apelidada pelos cientistas de “Café do Tubarão Branco”.

– Através da marcação dos tubarões, aprendemos que eles se movimentam mais intensamente do que pensávamos. Tudo isso lembra de que se trata de um animal tão raro quando especial, e que tem que ser preservado. Só que as pessoas parecem não se preocupar com os tubarões, tomando-os como assassinos dos mares, mas essa não é a realidade – garantiu O’Dor.

Essa mesma percepção levou o Instituto Aqualung a realizar uma pesquisa nacional sobre o comportamento do consumidor brasileiro e sua percepção desses animais.

– O problema de fazer campanhas em defesa do tubarão é que ele não é um panda – garante o biólogo marinho Marcelo Szpilman, do Instituto Aqualung. – Embora esteja no topo da cadeia alimentar e seja muito importante para o equilíbrio do ecossistema marinho, as pessoas, em geral, não se solidarizam com ele, como o fazem com os golfinhos e os pandas.

Barbatanas são valorizadas

Conduzida com 1.400 entrevistas feitas no ano passado, a pesquisa mostra que 6% dos cariocas consomem carne de cação, contra 69% dos paulistas. Questionados sobre o consumo de barbatanas de tubarão (nadadeiras, na verdade), nenhum carioca afirmou fazê-lo, contra 17% dos paulistas que admitiram o consumo.

Para os realizadores da pesquisa, o fato de São Paulo ter uma grande população oriental talvez explique a diferença.

– Na China, há milênios, as barbatanas servem para fazer sopas, são símbolos de status, como o caviar – diz Szpilman. – Só que de vinte anos para cá, a classe média chinesa aumentou em 300 milhões de pessoas. E elas também querem consumir sopa de barbatana. E aí criou-se uma demanda que acabou gerando um mercado internacional de barbatana, que muitas vezes funciona na ilegalidade.

O estudo ressalta a diferença – nenhuma – entre cação e tubarão, usada, segundo os pesquisadores, para justificar o consumo.

– Muitas pessoas dizem que consomem cação, mas não tubarão. Mas é tudo a mesma coisa. No Brasil, se diz que cação é o tubarão menor e tubarão é o animal maior – garante Szpilman. – A sabedoria popular traz a melhor explicação. Como dizem os pescadores, “quando a gente come, é cação. Quando ele come a gente, é tubarão”.

(Carlos Albuquerque). (O Globo, 24/2)

 

4 – Cientistas analisam resultados de pesquisas com algas marinhas

 

Pesquisadores e representantes de diversos órgãos do governo estão reunidos em Brasília para discutir os avanços das pesquisas na área da biodiversidade marinha

O encontro, que começou nesta quarta-feira, dia 24, é coordenado pelos ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Saúde (MS), além da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm/Biomar). O encontro também pretende avalia os resultados do Edital MCT/CNPq/MS-SCTIE-Decit/CT-Saúde.

O incentivo, no valor de R$ 3 milhões, foi lançado em 2006 com o objetivo de apoiar projetos de pesquisa e desenvolvimento de fármacos e insumos farmacêuticos diversificados, a partir de algas marinhas, que apresentem potencial inovativo com vistas a sua aplicação em terapia.

A coordenadora Geral de Políticas para Mar e Antártica da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do MCT, Maria Cordélia Machado, explicou que a publicação do edital se deu a pedido da comunidade científica que trabalha com algas marinhas e que, na época, estavam com o interesse de buscar o potencial biotecnológico dessas plantas. “Em 2006, conseguimos uma parceira com o Ministério da Saúde para lançar o primeiro edital dedicado à biotecnologia marinha”, disse.

Cordélia acrescentou ainda que hoje os profissionais envolvidos nos projetos de pesquisa das algas marinhas, pertencentes às diversas instituições de pesquisa, estão reunidos com o intuito de mostrar os resultados alcançados até agora.

“Nossas algas marinhas têm conhecimento e riqueza, como, por exemplo, patentes. O seminário que estamos realizando, além de avaliar os resultados, pretende também servir de oportunidade para construirmos novas perspectivas. Queremos saber quais são suas carências hoje para tentarmos saná-las”, enfatizou.

Pesquisas

O pesquisador do departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Martins Teixeira, destacou a possibilidade de se criar novas interações entre as universidades, nos estudos das algas marinhas, como o ponto principal do edital.

“A produção de um fármaco hoje custa em média R$ 1 bilhão. Portanto, um edital de R$ 3 milhões não nos dará a possibilidade de chegar a conclusões tão avançadas. Mas, por outro lado, desperta na comunidade acadêmica o interesse por esse tipo de pesquisa”, salientou.

Texeira citou como exemplo de resultado de suas pesquisas a eficácia de determinada alga marinha no tratamento da artrite e contra a rejeição de alguns transplantes. “Identificamos o extrato bruto, queremos saber qual molécula atua nessa função citada de tratar a artrite, por exemplo”, exemplificou.

Áreas de atuação

As áreas de pesquisa são: alvos moleculares e vias regulatórias em doenças de importância nacional; desenvolvimento e uso de novas bibliotecas, biologia estrutural, proteômica e modelagem molecular computacional no desenvolvimento de fármacos; isolamento e caracterização química de princípios ativos com potencial terapêutico; desenvolvimento e uso de fármacos; sistemas inovadores de triagem (screening), incluindo aspectos de engenharia tecidual; e desenvolvimento e uso de modelos pré-clínicos para o teste do racional da triagem (screening) de produtos naturais. (Fabrício Francis, Assessoria de Comunicação do MCT)