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Informativo 201 – Fauna marinha, cana, dinos, pássaros, artrópodes e DNA

1 – Fauna marinha ameaçada

2 – Cana ameaça sítio de fósseis

3 – Museu da Vida lança exposição “Pré-história no Brasil: dinos e outros fósseis”

4 – Por que os pássaros procriam no Ártico

5 – Desafios da pesquisa com artrópodes

6 – DNA da preservação

 

1 – Fauna marinha ameaçada

 

Pesquisador norte-americano identifica que emissão de gás carbônico na atmosfera está tornando a água dos oceanos mais ácida, o que coloca em risco a vida das espécies que vivem no fundo do mar. A área mais afetada é a Antártica

A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera não afeta apenas a temperatura do planeta, mas está transformando os oceanos drasticamente. A constatação é do biólogo marinho Jim McClintock, professor da Universidade do Alabama em Birmingham (UAB), que pesquisou, no fundo do mar, as alterações provocadas pelo excesso de dióxido de carbono.

O renomado cientista, conhecido mundialmente por suas incursões na Antártica, onde passou duas décadas estudando as espécies marinhas, alerta que algumas poderão ser extintas.

De acordo com McClintock, os oceanos são um enorme tanque para o dióxido de carbono lançado na atmosfera. Ao serem emitidos, os gases de efeito estufa são absorvidos em parte pela água marinha e, por causa de um processo químico, os íons de hidrogênio acabam deixando o oceano mais ácido.

“Existem dados pontuais que comprovam um aumento da acidez dos oceanos, e isso está diretamente relacionado ao aumento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera. Isso é incontestável”, afirma em entrevista ao Correio. “As consequências para muitos dos organismos que chamam a água de lar são profundas”, diz.

Para medir a acidez, os cientistas observam os níveis de pH na água. Quanto menor a medida, mais ácido é o líquido. Segundo o pesquisador, dados coletados desde a era pré-industrial indicam que o pH médio dos oceanos baixou de 8,2 para 8,1, com um declínio de mais 0,4 ponto no fim do século, justamente quando a concentração de gases de efeito estufa aumentou na atmosfera.

1Para se ter ideia, 0,1 de mudança no pH pode deixar as águas oceânicas 10 vezes mais ácidas, o que tira de muitos organismos marinhos a habilidade de produzirem as conchas que os protegem, além de causar uma bagunça na cadeia alimentar do fundo do mar.

Segundo McClinton, que coletou com outros três autores do estudo dados precisos sobre a acidez do oceano, as alterações verificadas no pH marinho são um problema particular para a Antártica, o continente congelado.

“O Oceano Ártico é o maior tanque global para o dióxido de carbono. Além disso, há fatores únicos na região que podem acarretar na redução da variedade dos abundantes minerais dissolvidos na água do mar polar, que são usados por invertebrados marinhos para fazer suas conchas protetoras”, revela.

“Além do mais, o aumento na acidez da água do mar pode literalmente começar a engolir o exterior da superfície das conchas dos mariscos, caracóis e outros organismos calcificados, o que poderia destruir as espécies ou, ao menos, torná-las mais vulneráveis a novos predadores”, completa.

Erosão em conchas

Outro estudo conduzido recentemente por McClintock com um time de pesquisadores da UAB mostrou que conchas de invertebrados marinhos da Antártica mortos há pouco tempo apresentavam erosões evidentes e significativa perda de massa com menos de cinco semanas, depois de expostas a condições de acidez simulada.

O cientista diz que a acidificação pode ainda ter impactos negativos para a produção pesqueira, com a extinção de moluscos e crustáceos. Ele acrescenta que o potencial de perda da população marinha pode alterar ainda mais a cadeia alimentar dos oceanos e produzir efeitos ruins para as indústrias que dependem de substâncias encontradas no fundo do mar.

 

Todas as mudanças ocorridas nos oceanos são drásticas para a fauna marinha porque, segundo McClintock, os organismos que vivem nos oceanos demoram muitos períodos – séculos e, às vezes, milênios – para se adaptar naturalmente aos novos ambientes. “Mas a acidez dos oceanos tem ocorrido tão rápido que algumas espécies podem não conseguir essa adaptação, a não ser que haja uma inversão na tendência do aumento das emissões de dióxido de carbono na atmosfera”, alerta. (Paloma Olivetto). (Correio Braziliense, 9/2)

 

2 – Cana ameaça sítio de fósseis

 

MPF quer delimitar área de interesse paleontológico

O Ministério Público Federal (MPF) deu prazo de cinco dias para que técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitem, cerquem e façam a segurança de sítios paleontológicos da região noroeste do Estado de São Paulo, que estão sendo ameaçados por plantações de cana-de-açúcar.

O prazo foi dado pelo procurador da República de Jales, Thiago Lacerda Nobre, que abriu investigação para levantar os efeitos nocivos da monocultura da cana nessas áreas.

Os sítios ficam nos municípios de General Salgado, Auriflama e São João de Iracema, onde, em 2001, pesquisadores encontraram o crânio do Baurusuchus salgadoensis, um crocodilo que viveu há 90 milhões de anos na região e agora, reconstituído inteiramente, faz parte de um dos mais importantes acervos da paleontologia brasileira.

O mérito pela descoberta foi do estudante Clésio Felício, então com 13 anos. Há cerca de 20 anos, ele caminhava numa estrada de General Salgado quando encontrou um dente serrilhado: era a primeira peça do quebra-cabeça paleontológico que levou os cientistas à região.

Patrimônio

De acordo com Nobre, o cultivo da cana estaria colocando em risco os cemitérios de fósseis e comprometendo novas descobertas. Em alguns casos, as plantações estão a menos de 50 metros de distância dos cemitérios de fósseis.

Segundo os pesquisadores, o manejo do solo para preparação e plantio da cana e o tráfego de máquinas pesadas podem destruir os fósseis e mudar o trajeto das águas de chuva, causando erosões nos jazigos. “Além disso, há informações de que fósseis estariam sendo retirados por curiosos”, disse.

Nobre também acionou as prefeituras dos três municípios para saber quais ações elas tomaram para proteger os sítios. “A proteção do patrimônio arqueológico deve ser feito pelas três esferas, União, Estado e municípios.”

O procurador disse que se as medidas não forem tomadas dentro do prazo, pretende abrir inquérito civil. Segundo ele, as áreas, embora sejam particulares, podem ser desapropriadas ou tombadas para preservação do patrimônio arqueológico. (Chico Siqueira). (O Estado de SP, 10/2).

 

3 – Museu da Vida lança exposição “Pré-história no Brasil: dinos e outros fósseis”

 

Mostra gratuita exibe réplicas e esqueletos originais de dinossauros, além de vestígios preservados de plantas e animais que viveram há milhões de anos

Que tal ver de perto esqueletos de dinossauros brasileiros, fósseis de plantas e animais muito antigos e trabalhar como um autêntico paleontólogo? Conheça a exposição “Pré-história no Brasil: dinos e outros fósseis” – em cartaz no Museu da Vida até 31 de março – e embarque num passeio por tempos remotos, em que a vida na Terra era muito diferente do que conhecemos hoje.

Você vai ver que os primeiros habitantes do nosso planeta foram organismos minúsculos que viviam no mar. Apesar do tamanho, eles foram capazes de modificar a atmosfera terrestre, preenchendo-a com um gás precioso: o oxigênio. Mais tarde, surgiram animais mais complexos, alguns pequenos, outros gigantes. Desse mundo, certamente você já ouvir falar dos dinossauros, que surgiram há cerca de 230 milhões de anos (na Era Mesozóica) e desapareceram por volta de 65 milhões de anos atrás (no Período Cretáceo).

Mas como sabemos de tudo isso? Através da paleontologia, ciência que estuda todo organismo que um dia habitou o planeta Terra. Os vestígios preservados desses organismos são chamados de fósseis, verdadeiros tesouros que carregam em si muita informação científica. Decifrando essas pistas, os paleontólogos nos contam mais sobre o passado do mundo.

Ao visitar a exposição “Pré-história no Brasil: dinos e outros fósseis”, você vai observar diversos tipos desses vestígios e poderá participar de uma oficina para saber como trabalham os paleontólogos. É só pegar sua ferramenta e começar a cavar! Encontre um fóssil e veja quais informações ele pode te oferecer. Aproveite para conferir réplicas e esqueletos originais de dinossauros – de velozes predadores terrestres a répteis aquáticos e voadores.

Resultado de parceria entre o Museu da Geodiversidade (UFRJ), Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz) e Departamento de Paleontologia e Estratigrafia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a mostra fica aberta de segunda a sábado, das 9h às 16h30. A entrada é gratuita.

Mais informações pelo telefone 21-2590-6747 ou pelo e-mail recepcaomv@coc.fiocruz.br

 

4 – Por que os pássaros procriam no Ártico

 

“Pássaros capazes de migrar mais ao norte possuem uma maior chance de deixar descendentes”

Fernando Reinach (fernando@reinach.com) é biólogo. Artigo publicado em “O Estado de SP”:

Muitos pássaros migram enormes distâncias todos os anos. Quando termina o verão, partindo do norte do Canadá ou do Alasca, eles voam em direção ao sul, podendo ser encontrados nas praias do sul da Argentina ou da Nova Zelândia no verão no Hemisfério Sul.

Findo o verão no sul, retornam ao norte. São mais de 13 mil quilômetros até chegarem ao Ártico, onde colocam os ovos e esperam o nascimento dos filhotes. Findo o curto verão, pais e filhos voltam ao Hemisfério Sul. Esse ciclo anual se repete há milhões de anos.

Apesar de conhecermos as rotas migratórias e como se orientam durante o voo, sabemos muito pouco sobre as razões evolutivas que levaram esses animais a migrarem distâncias tão grandes todos os anos. É fato que eles não sobrevivem aos invernos rigorosos, seja por falta de alimento ou isolamento térmico.

Mas, se esses fossem os únicos determinantes, não seria necessário viajar quase o equivalente a uma volta no planeta todos os anos: bastaria migrar entre as regiões subtropicais dos hemisférios Norte e Sul a cada ano.

O que levou esses pássaros a escolher latitudes tão ao norte como o norte do Alasca e da Groenlândia para passar o curto verão e colocar seus ovos? Alguma grande vantagem deve compensar o gasto energético e a mortalidade associada a voos tão longos. Apesar de nessas latitudes os dias terem 24 horas e haver comida abundante, condições semelhantes podem ser encontradas mais ao sul, onde o verão dura mais dias e as temperaturas são mais amenas.

O que levou esses pássaros a migrarem quase até o polo norte todos os anos? Um grupo de cientistas parece ter encontrado a resposta: o numero de ovos que sobrevive nos ninhos aumenta a medida em que os ninhos são feitos mais ao norte.

Foram estudados sete locais onde esses pássaros se reúnem para procriar. A região mais ao sul, uma praia ao sul da Ilha de Akimiski (Canadá, 53° de latitude norte) dista 3.350 quilômetros de outra praia no norte da Ilha de Ellesmere (Canadá, 82° de latitude norte). Os outros locais estão nas latitudes 59°, 63°, 64°, 67° e 73°, em diversas ilhas. No total, foram estudados 1.555 ninhos.

Para avaliar o efeito dos predadores, os cientistas construíram ninhos artificiais (pequenas depressões no solo) entre os naturais e colocaram quatro ovos em cada um. Os ninhos eram visitados todos os dias pelos cientistas para verificar o estado dos ovos.

Normalmente, após dez dias, somente parte dos ovos havia sobrevivido – os outros tinham sido devorados por predadores, principalmente raposas. Esse procedimento era repetido no inicio, no meio e no fim do verão em cada uma das sete localidades, ao longo de três anos.

Quando todos os resultados foram tabulados e examinados, o que se descobriu é que o numero de ovos que sobrevivia ao ataque dos predadores diminuía a medida em que se caminhava em direção ao norte. Para cada 3 graus de latitude em direção ao norte, o risco de os ovos serem devorados caia 3,6%.

Nos ninhos na Ilha de Ellesmere, a mais ao norte, a chance de um ovo sobreviver era 66% maior do que nos ninhos da Ilha de Akimiski.

O resultado demonstra que uma das vantagens obtidas pelos pássaro ao migrar até o interior do círculo polar ártico antes de depositar seus ovos é que isso aumenta de forma significativa a taxa de sobrevivência dos ovos e, provavelmente, dos filhotes. Isso deve compensar os custos associados ao longos voos.

Pássaros capazes de migrar mais ao norte possuem uma maior chance de deixar descendentes e, portanto, foram selecionados ao longo de milhões de anos. (O Estado de SP, 11/2).

 

5 – Desafios da pesquisa com artrópodes

 

Durante o 28º Encontro Brasileiro de Zoologia, pesquisadores de diversas partes do Brasil se reúnem para discutir as dificuldades e perspectivas das pesquisas em artrópodes

“Os artrópodes são tão importantes como outros grupos taxonômicos. Podem ser extintos, podem causar graves problemas de saúde pública e ainda interferem nos mecanismos de manutenção de florestas e de cadeias produtivas”, quem afirma é Ana Lúcia Gutjahr, entomóloga da Universidade Estadual do Pará (UEPA), durante o I Simpósio de Arthoropoda: Perspectivas do Conhecimento e Valorização, promovido nos dias 9 e 10 de fevereiro, no 28º Congresso Brasileiro de Zoologia.

A realização do simpósio teve em vista a promoção de um amplo debate e a valorização dos estudos sobre artropodofauna, maior grupo de animais existentes, cujos representantes são as formigas, mutucas, aranhas, gafanhotos, caranguejos, entre outros.

Um dos focos de reflexão foi a exigência de pesquisas sobre artrópodes nos documentos de estudo de impactos, na conferência de inventários, planos de manejo e monitoramento de fauna. “Estamos buscando uma ação a partir de reflexões conjuntas construídas no simpósio”, explicou Ana Lúcia.

A ideia é que um documento seja produzido contendo os principais destaques para divulgação, tanto na mídia, quanto no circuito acadêmico. “A Uepa se dispôs a elaborar e doar para as instituições o produto final do simpósio”, esclareceu a pesquisadora.

No primeiro dia de atividades, o evento reuniu especialistas para expor o “Estado da Arte do Conhecimento” sobre alguns grupos de artrópodes. Pesquisadores foram chamados com o desafio de mapear e discutir as produções acadêmicas sobre esses grupos, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares, numa espécie de apanhado geral sobre o desenvolvimento da pesquisa nessa área.

Do primeiro dia da programação, além de Ana Lúcia, coordenadora do simpósio, participaram os pesquisadores José Wellington de Moraes e Ana Lúcia Tourinho, ambos do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA); além dos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) Cleverson Santos, Ana Harada e  Inocêncio de Sousa Gorayeb, convidado para falar sobre a família dos Tabanidae.

 

Tabanidae são popularmente conhecidos como as mutucas, estima-se que na Amazônia existam entre 150 e 170 espécies descritas. Sendo que na região neotropical (área que compreende a América Central, incluindo a parte sul do México e da península da Baja Califórnia, o sul da Flórida, todas as ilhas do Caribe e a América do Sul), segundo catálogo recente estima-se 1.172 espécies na região, distribuídas em 20 famílias, no entanto, todos os anos, descrevem-se entre 20 e 30 espécies.

Para Gorayeb, esses insetos podem funcionar como vetores de doenças virais e bacterianas. Mesmo assim, é um desafio conseguir financiamento para pesquisas taxonômicas desse grupo. “O critério é tratar dos doentes, não conhecer os vetores. Isso dificulta a captação de recursos”, criticou o especialista.

Além dessa dificuldade apontada pelo pesquisador do MPEG, as explanações que se seguiram também convergiram para a seguinte questão: ainda há, de modo geral, uma carência de especialistas dedicados à taxonomia de Artrópoda, embora seja imprescindível se fazer levantamentos e inventários. Afinal, como explicou Ana Lúcia Tourinho, o desafio é mapear e identificar as espécies no ritmo acelerado da devastação das florestas.

(Assessoria de Comunicação do Museu Goeldi)

 

6 – DNA da preservação

 

Escola ligada à Universidade de São Paulo desenvolve banco de dados com informações genéticas dos jacarés brasileiros. Dados ajudarão no combate à caça ilegal dos animais e no maior conhecimento sobre as espécies mais ameaçadas de extinção

Conhecer e preservar as seis espécies de jacarés que vivem no Brasil. Esse é o objetivo de uma iniciativa da Universidade de São Paulo (USP) que pretende criar um banco de dados com informações genéticas sobre os crocodilianos brasileiros. A base servirá tanto para pesquisadores que queiram estudar os animais quanto para os órgãos de fiscalização, que poderão saber com mais precisão a espécie e a origem geográfica da carne e da pele de jacaré apreendidas.

Atualmente, não existe um banco que reúna dados de DNA das seis espécies brasileiras. Por isso, quando uma apreensão é feita, há dificuldade para determinar de qual espécie se trata ou de qual região do país ela foi retirada.

“A exploração ilegal de crocodilianos ainda é uma realidade no Brasil, principalmente na região amazônica, onde muitas vezes esses animais são abatidos para a obtenção de carne. Esse mercado ilícito abastece a própria região Norte, além de países vizinhos, como a Colômbia”, explica o biólogo Tiago Quaggio, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios, instituição ligada ao Ministério do Meio Ambiente.

Peles e animais inteiros ainda podem ser reconhecidos pelo relevo ou pelo padrão de manchas do corpo. No entanto, é difícil determinar a origem da carne, que pode ser encontrada já misturada à de peixe ou processada em restaurantes.

Para contribuir com o combate à caça predatória desses animais, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ligada à USP, em Piracicaba, desenvolveram uma técnica de catalogação do material genético dos jacarés. Eles trabalham no sequenciamento de uma região específica do DNA conhecida como citocromo B. Analisadas as características do material genético de 20 animais de cada espécie, foi possível criar uma matriz de comparação.

Assim, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou a Polícia Federal poderão comparar as informações genéticas de material apreendido com a base da USP. “Essa é uma ferramenta excelente para ser utilizada em análise filogenética, a diferenciação interespecífica e intraespecífica”, afirma a pesquisadora Priscilla Villela, uma das responsáveis pelo projeto.

Variações

Outra preocupação da pesquisa é a análise da variação genética dentro da mesma espécie. Nesse caso, foi estudado o Caiman latirostris, conhecido popularmente como jacaré-do-papo-amarelo, espécie brasileira mais ameaçada de extinção e que habita uma área que se estende do Nordeste ao Sul do país.

“Foi preciso avaliar a variabilidade genética das populações naturais e analisar a relação entre distância geográfica e diferenciação genética”, comenta a pesquisadora paulista, que para o trabalho observou cerca de 200 animais em diferentes regiões do país. “No caso do Caiman latirostris, cuja área de ocorrência coincide com os maiores centros populacionais do país, a expansão urbana e a destruição de sistemas fluviais e lacustres têm prejudicado a sua sobrevivência”, complementa Tiago Quaggio.

A intenção é utilizar o banco genético para fazer o manejo da espécie buscando sua preservação. Segundo Priscilla, as informações podem ajudar, por exemplo, na seleção de exemplares com maior variabilidade – ou seja, com maior poder de adaptação – para serem reinseridos no meio ambiente.

Apesar de o banco genético contribuir para a conservação dos jacarés brasileiros, de acordo com Quaggio, a solução para o problema está em uma ação conjunta de pesquisa, fiscalização e sustentabilidade na exploração dos animais. “A principal estratégia para coibir a exploração ilegal é investir em fiscalização e no manejo sustentável. Além de estudar as populações selvagens desses animais e estabelecer cotas de abate baseadas no tamanho dessas populações”, defende. (Correio Braziliense, 12/2)