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Informativo 173 – Fundo do mar, temperatura, sequências e gordura saturada

1 – Brasileiros exploram fundo do mar polar

2 – Temperatura em elevação

3 – Sequências mais rápidas

4 – Gordura saturada é a maior responsável por aumento de peso

 

1 – Brasileiros exploram fundo do mar polar

 

Coletas feitas por biólogos a bordo de navio na baía do Almirantado, Antártida, revelam espécies ainda desconhecidas

Eduardo Gerarque escreve para a “Folha de SP”:

As mãos estão quase congelando. Mas, na popa do navio Ary Rongel, o pesquisador Marcelo Bernardes, da Universidade Federal Fluminense, não desiste. “Vamos tentar mais uma vez”, anuncia para a equipe, que trabalha há mais de seis horas na baía do Almirantado, na ilha Rei George, Antártida. A sensação térmica é de alguns graus abaixo de zero.

Todo o esforço, recompensado depois, é para entender como é a biodiversidade do fundo marinho da baía. Um equipamento chamado “box core” -uma grande mandíbula de aço que “morde” o sedimento lá embaixo, a centenas de metros de profundidade- é o que traz a vida marinha para o barco.

A segunda tentativa de fazer a coleta de sedimentos, num ponto a 100 metros de profundidade, tem sucesso. No ponto seguinte, a 300 metros, os cientistas começaram a penar.

Foram nove tentativas, sem sucesso. Por causa da topografia do fundo do mar no local, foi difícil achar um ponto plano, onde o equipamento pudesse realmente fazer a amostragem. “Sabíamos que esse seria o ponto mais complicado. Mas o sucesso das coletas aqui foi total”, afirma Bernardes.

O pesquisador integra um grupo que se dedica a mapear a biodiversidade antártica, desde as mais insignificantes algas unicelulares até os grandes mamíferos -“do plâncton às baleias”, como gosta de dizer a coordenadora do projeto, a bióloga Lúcia Siqueira Campos, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O esforço brasileiro, desde o ano passado em cooperação com um grupo australiano, faz parte de um projeto internacional, o CAML (Censo da Vida Marinha Antártica). Iniciado em 2005, o CAML tem feito o número de espécies registradas no oceano Austral explodir -hoje são mais de 7.500 registradas, o que torna a Antártida mais biodiversa que os trópicos em alguns grupos de animais.

O resultado da coleta deste ano na baía do Almirantado vai ser estudado e identificado no Brasil. Mas o “olhômetro” do pessoal a bordo já indica que espécies novas poderão surgir, de vários grupos de invertebrados marinhos – ou, pelo menos, espécies nunca antes descritas para essa parte do mundo.

Atração vital

Noutro ponto da baía, na estação Comandante Ferraz, a bióloga Karen Silva, também da UFRJ, examina ao microscópio o resultado de outra pescaria, esta bem mais sutil. “Elas estão aqui”, anuncia. “Elas”, no caso, são bactérias magnéticas.

Esses organismos sintetizam cristais magnéticos cuja função supostamente é orientá-las ao longo da coluna d’água, sempre na direção de locais com pouco oxigênio. Comuns em todos os continentes, elas haviam sido encontradas pela primeira vez na Antártida pelo grupo brasileiro, exatamente na baía do Almirantado, em fevereiro.

Agora veio a confirmação de que elas realmente existem. Ao lado de Silva está Lia Teixeira, colega inseparável de trabalhos de campo. A também pesquisadora da UFRJ estava na coleta histórica do início do ano.

Aplicações

Depois de passarem muito frio coletando sedimentos em zonas rasas e de processarem o material, as cientistas encontram seus organismos de estudo. É virtualmente impossível descobrir bactérias magnéticas da maneira tradicional, enviando uma amostra de sedimento ao Brasil para análise, porque elas morrem no caminho.

O truque para detectá-las é explorar os magnetossomos, os tais cristais magnéticos: basta colocar um imã perto da lâmina no microscópio e literalmente atrair os micróbios.

Apesar de comuns, as bactérias magnéticas ainda são pouco conhecidas. Há quem proponha usá-las como agentes de contraste em ressonância magnética, ou como “mísseis” que ajudem medicamentos, no caso de um tumor, por exemplo, a irem direto ao alvo. (Folha de SP, 30/12).

 

2 – Temperatura em elevação

 

O ano de 2009 é o quinto mais quente da História, confirmam três agências

Sentindo calor? Não é à toa. O ano de 2009 se encerra carregando o estigma de ter sido um dos mais quentes da História e, certamente, da última década.

As informações são do Instituto Oceânico e Atmosférico Americano (NOAA) e confirmam, com os dados completos, as projeções apresentadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Met Office (a agência de meteorologia do Reino Unido), há algumas semanas, durante a Conferência do Clima da ONU, em Copenhague.

Segundo a NOAA, esta década será a mais quente já registrada, com temperaturas 0,54 grau Celsius acima da média do século XX. E 2009 deve terminar como o quinto ano mais quente de todos os tempos, com registros 0,44 grau Celsius acima da média de 14 graus Celsius.

Para três das maiores instituições climáticas do mundo, a Terra está em inegável processo de aquecimento. E o aquecimento global provocado pelo homem, este ano com o auxílio de um intenso fenômeno El Niño, é o principal responsável pelas altas temperaturas registradas.

Oceanos também estão mais quentes

“Tanto a temperatura da Terra como a da superfície dos oceanos teve um aumento médio de 0,56 grau Celsius em relação aos valores normais, e esta é a quinta temperatura mais quente já registrada”, sustentaram, em relatório, os pesquisadores do NOAA, que trabalhou com registros de temperaturas feitos a partir de 1880.

Os dados foram coletados em mais de 1,5 mil estações meteorológicas espalhadas por todo o planeta – em terra, boias, navios e via satélite. Eles revelam que a última década (2000 a 2009) foi mais quente que a anterior (1990-1999), que, por sua vez, foi mais quente que os anos 80, confirmando a tendência geral de aquecimento.

De acordo com o relatório da NOAA, a superfície da calota polar do Ártico atingiu o seu nível mínimo pelo terceiro ano consecutivo, enquanto as temperaturas dos oceanos são as sextas mais quentes já registradas (0,47 grau Celsius acima da média do século XX).

Nos Estados Unidos, destaca o relatório, a temperatura média foi superior ao normal em 2009, assim como o volume das precipitações. Já a temporada de furacões foi relativamente calma, com nove tempestades tropicais e três furacões.

No Brasil, a elevação da temperatura se refletiu num ano totalmente atípico para a Amazônia, segundo estudo divulgado esta semana pela Companhia de Investigação de Recursos Minerais (CPMR), do Serviço Geológico do país.

Segundo os dados divulgados, alterações climáticas registradas na região nos últimos seis meses não ocorriam ali há mais de 100 anos. Especialistas relacionaram os períodos de enchentes seguidos por épocas de seca extrema ao aquecimento do planeta e não a consequências imediatas do El Niño.

Em junho do ano passado, o rio Negro subiu tanto que alcançou a altura de 15,89 metros, a quinta maior dos últimos 100 anos. A elevação do nível dos rios amazônicos deixou mais de 100 mil desabrigados em 55 municípios, em junho. Agora, menos de seis meses depois, as mesmas famílias sofrem com a seca. Pelo menos 20 municípios já decretaram estado de emergência. (O Globo, 30/12).

 

3 – Sequências mais rápidas

 

Nova pesquisa reduz a quantidade de DNA necessária para o sequenciamento e elimina a fase de amplificação

Um método para sequenciar genomas mais rapidamente e com menor custo está sendo desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos e de Israel. A pesquisa foi descrita na revista Nature Nanotechnology. A novidade reduz a quantidade de DNA necessária para o sequenciamento e elimina a fase de amplificação de DNA, que é cara, demorada e sujeita a erros, apontam os autores do estudo.

A técnica apresentada pelo grupo, liderado por Amit Meller, professor do Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade de Boston, consiste em detectar moléculas de DNA à medida que elas passam por nanoporos de silício.

Campos elétricos são usados para “alimentar” longas fitas de DNA por meio de poros com 4 nanômetros de largura, de forma análoga a passar um fio por uma agulha de costura. Medidas de correntes elétricas são usadas para detectar cada molécula de DNA à medida que ela passa pelos nanoporos.

“A fase atual da pesquisa indica que podemos detectar quantidades muito menores de amostras de DNA do que se estimava. Quando começarem a implementar o sequenciamento de genomas ou a obtenção de perfis genômicos com o uso de nanoporos, nossa abordagem poderá ser empregada de modo a reduzir grandemente o número de cópias usadas para as medidas”, disse Meller.

Atualmente, o sequenciamento de genomas usa a amplificação de DNA para fazer bilhões de cópias moleculares de modo a produzir uma amostra grande o suficiente para ser analisada. Além do tempo e do custo desse processo, algumas das moléculas – como fotocópias de fotocópias – não saem perfeitas.

O sistema de Meller e colegas usa campos elétricos em torno das entradas dos nanoporos de modo a atrair fitas extensas de DNA, com carga elétrica negativa, e passá-las pelos orifícios para que possam ser detectadas. Como o DNA é atraído para os nanoporos a distância, poucas cópias da molécula são necessárias para que a análise possa ser feita.

“As tecnologias atuais de amplificação de DNA limitam o tamanho da molécula a ser utilizada a menos de mil pares de base. Como nosso método não usa a amplificação, ele não apenas reduz o custo, o tempo e a taxa de erros como também permite que a análise seja feita em fitas extensas de DNA, muito maiores do que as usadas atualmente”, afirmou Meller.

O artigo “Electrostatic Focusing of Unlabelled DNA into Nanoscale Pores Using a Salt Gradient”, de Amit Meller e outros, pode ser lido por assinantes da “Nature Nanotechnology” em http://dx.doi.org/10.1038/natureNNANO.2009.379. (Agência Fapesp, 30/12).

 

4 – Gordura saturada é a maior responsável por aumento de peso

 

Ela leva a crescimento de até três vezes da massa corporal

Pesquisa feita no Laboratório de Morfologia e Morfometria Cardiovascular do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostra que as gorduras saturadas levam a um aumento três vezes maior da massa corporal em relação às não saturadas quando ingeridas na mesma quantidade.

“A novidade é que a qualidade do lipídio é mais importante do que a quantidade ingerida”, diz Marcia Águila, coordenadora do estudo.

A pesquisa visa investigar como os diferentes tipos estruturais de lipídios conhecidos atuam no acúmulo de gordura corpórea e visceral. Para isso, na metodologia usada, camundongos foram distribuídos em grupos, recebendo a mesma quantidade de alimento: um grupo controle recebeu dieta padrão (para roedores), com 10% de lipídios, e quatro grupos receberam diferentes dietas hiperlipídicas (“banha de porco”, “óleo de oliva”, “óleo de canola” e “óleo de girassol”) que continham 50% de lipídios, simulando projeção do consumo real da população ocidental.

Os animais que consumiram gorduras poliinsaturadas (óleo de girassol e óleo de canola) e monoinsaturadas (óleo de oliva) apresentaram um aumento de 6%, somente na massa corporal, quando comparados ao grupo controle. Já os animais que receberam gorduras saturadas (“banha de porco”) apresentam uma percentual quase três vezes maior: o aumento foi de 17% no peso na mesma comparação.

Além dos lipídios insaturados não apresentarem muita influência no ganho de massa corporal, ainda atuam como proteção cardiovascular, mostrou o estudo. A nutricionista revela que já coordenou outros estudos sobre o consumo desse tipo de lipídio, e as respostas obtidas indicaram a diminuição da pressão arterial e a proteção das estruturas cardíacas e hepáticas, diminuindo e revertendo os processos inflamatórios dos tecidos, desencadeado pelo sobrepeso. Na dieta humana, são encontrados principalmente nos óleos vegetais, como o azeite extra virgem, mas também em alguns alimentos, como milho, amendoim, peixes etc.

Entretanto, a atual pesquisa confirma aquilo que outros estudos já haviam demonstrado: que as gorduras saturadas são extremamente prejudiciais à saúde. Mas foi além ao indicar que elas são as grandes vilãs do acúmulo de gordura corpórea e, portanto, responsáveis pelo desencadeamento dos processos inflamatórios. A gordura causa o enrijecimento de estruturas celulares (membrana plasmática) e, consequentemente, provoca diminuição da taxa metabólica basal.

Márcia Águila explica que o sobrepeso, em uma pessoa, indica que os órgãos internos estão envoltos em gordura, inclusive o próprio tecido adiposo. A gordura visceral libera substâncias (citocinas) que atuam como um corpo estranho. Inicia-se, assim, o processo inflamatório no tecido, o que desregula ou diminui suas funções orgânicas.

As gorduras saturadas estão presentes em muitos alimentos do consumo popular, como doces e salgadinhos. Márcia reforça que o grande vilão para a obesidade é o excesso na alimentação, somado ao sedentarismo e ao estresse. Se a população obesa não para de crescer, um tratamento relativamente simples pode ajudar a reverter essa tendência. “Um paciente com síndrome metabólica, independente do grau, pode reverter seu quadro clínico com perda de peso e exercício físico regular”, assegura a nutricionista.

Confira nos links a seguir mais informações sobre a pesquisa: www.lmmc.uerj.br e www.bhex.uerj.br. (Com informações do Boletim Faperj On-line).