1 – Florestas em código
2 – Estudo aponta impactos do aquecimento global e do desmatamento na Amazônia sobre o clima brasileiro
3 – Especial da Folha Online sobre a Conferência de Copenhague
4 – Metade das emissões do Brasil vem da pecuária
5 – Dinossauros surgiram na América do Sul
1 – Florestas em código
Método do “DNA barcoding” amplia fronteiras da taxonomia e pode ajudar a apreender a megadiversidade biológica da Amazônia
Fábio Reynol escreve para a “Agência Fapesp”:
Há mais espécies vegetais em um hectare da Floresta Amazônica do que em todos os países da Europa juntos. Essa comparação abriu a palestra do biólogo Christopher Dick no Simpósio Internacional sobre DNA Barcoding do Programa Biota-Fapesp, realizado na semana passada na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Dick é professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionista da Universidade de Michigan, Estados Unidos, e passou cinco anos no estado do Amazonas durante o seu doutorado.
A comparação do pesquisador teve como propósito mostrar a importância de se utilizar o método de DNA barcoding no desbravamento de novas fronteiras da taxonomia (classificação biológica) ao ampliar o número de espécies conhecidas.
DNA barcoding é um método que utiliza um trecho do DNA de cerca de 650 nucleotídeos como marcador para caracterizar espécies. Trata-se de uma sequência extremamente curta em relação à totalidade do genoma, que nos humanos, por exemplo, tem 3 bilhões de pares de bases.
O método, que tende a ser rápido e barato, pode identificar uma espécie a partir de uma pequena amostra de tecido. Por isso, tem aplicações potenciais que vão desde o combate à biopirataria até o controle de pragas e a investigação forense.
“Mas trata-se de um trabalho gigantesco. Em comparação a outros biomas, as florestas tropicais têm uma biodiversidade muito maior. São cerca de 22,5 mil espécies de árvores por hectare contra 61 na tundra canadense e cerca de 300 nas florestas temperadas da América do Norte”, disse.
Esse grande volume associado à dificuldade de deslocamento nas florestas tropicais torna o trabalho de coleta de espécies ainda mais difícil. “Para coletar flores, por exemplo, o pesquisador deve atuar na época de floradas, e, mesmo assim, elas podem estar fora de seu alcance”, disse Dick, que recomenda como prioridade classificar as espécies já conhecidas antes de identificar as desconhecidas.
Segundo o cientista, o DNA barcoding é uma ferramenta importante nessa tarefa mesmo apresentando limitações como, por exemplo, falhas em alguns dos casos, especialmente em espécies geneticamente muito próximas.
Digital biológica
“Graças à técnica, por exemplo, foi possível identificar hábitos alimentares de besouros e outros insetos herbívoros. A análise de material coletado de seus sistemas digestivos revelou as espécies vegetais das quais eles se alimentavam”, contou.
De acordo com o professor da Universidade de Michigan, o DNA barcoding também tem ajudado a eliminar ambiguidades taxonômicas ao conferir uma “impressão digital” a cada espécie, de modo que ela possa receber a mesma classificação se descoberta por pesquisadores diferentes.
Os maiores desafios para a elaboração desse grande inventário vegetal tropical vão além das técnicas utilizadas. “Há cada vez menos taxonomistas. Temos, com certeza, um gargalo nessa área”, disse Dick. Segundo ele, 1% das espécies coletadas nos trópicos são novidade para a ciência e há poucos profissionais para classificá-las.
O pesquisador norte-americano destacou também a necessidade de se manter herbários e bases de dados em bioinformática e de se investir em pesquisa de longo prazo em uma pequena e única área.
“Na reserva Ducke, em Manaus, por exemplo, foi preciso décadas para se encontrar e classificar 55 novas espécies”, disse ao se referir à reserva urbana na capital amazonense na qual realizou o doutorado. (Agência Fapesp, 11/12).
2 – Estudo aponta impactos do aquecimento global e do desmatamento na Amazônia sobre o clima brasileiro
Floresta pode entrar em colapso caso 40% de sua área original for desmatada
Dados preliminares do projeto Mudanças Climáticas Impactantes no Brasil (Dangerous Climate Change in Brazil, em inglês), uma colaboração entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Met Office Hadley Centre, do Reino Unido, indicam que o aquecimento global e desmatamentos podem causar grande impacto na floresta amazônica, e também afetar o clima local e regional.
Além disso, reforçando conclusões de estudos anteriores, a pesquisa aponta que o desmatamento em grande escala poderá tornar o clima mais quente e seco. Se mais de 40% da extensão original da floresta amazônica for desmatada, isto pode significar a diminuição drástica da chuva na Amazônia Oriental. Segundo os pesquisadores, 40% de desmatamento, ou aquecimento global entre 3°C e 4°C, representaria o ‘tipping point’, ou melhor, o ponto a partir do qual parte da floresta corre o risco de entrar em colapso.
O projeto foi apresentado nesta quarta-feira (9/12) durante a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), em Copenhague.
O estudo foi desenvolvido a partir de modelos climáticos do INPE e do Hadley Centre, que indicam um aquecimento maior nas regiões tropicais amazônicas em relação ao aumento médio de temperatura projetado para as áreas continentais do planeta. Outro resultado importante é a tendência de tropicalização do clima em parte do Brasil, com duas estações ao ano. Neste cenário, a primavera pode se tornar tão ou mais quente que o verão em algumas regiões hoje de clima subtropical.
Esses impactos são extremamente importantes porque reduções de precipitação nas bacias levarão à diminuição da geração de energia hidroelétrica. Os modelos mostram que concentrações mais baixas de CO2 na atmosfera causam menor aquecimento e, portanto, menos impactos nas chuvas e nos regimes de temperatura e de extremos de clima. Talvez para o Brasil a melhor opção de mitigação dos efeitos do aquecimento global seja reduzir o desmatamento tanto quanto possível”, declara o pesquisador José Marengo, do INPE.
Também é importante ressaltar que os próprios impactos do desmatamento são maiores em condições de seca. Sendo assim, reduzir o desmatamento ajudaria a manter a floresta mais resistente num clima sob mudanças. Pelo INPE, participam do projeto os pesquisadores Carlos Nobre, José Marengo, Gilvan Sampaio e Luiz Salazar.
Modelos climáticos
Enquanto o modelo climático global do Hadley Centre é usado para projetar mudanças do clima em todo o mundo, o modelo climático regional do INPE fornece maiores detalhes sobre o Brasil para níveis diferentes de aquecimento global. No Brasil, o INPE vem utilizando desde os anos 80 modelos climáticos globais para estudar os impactos dos desmatamentos da Amazônia no clima. Da mesma forma, seus modelos regionais têm sido utilizados para avaliar os efeitos do desmatamento da Amazônia no clima de todo o Brasil. (Com informações da Assessoria de Comunicação do Inpe).
3 – Especial da Folha Online sobre a Conferência de Copenhague
A cúpula da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudança climática, destinada a discutir metas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, foi iniciada nesta segunda-feira (07 de dezembro), em Copenhague, na Dinamarca. A Folha Online preparou um especial sobre o evento, com matérias, artigos e videocasts. Para ter acesso ao especial da Folha, clique no link: http://migre.me/dvPz .
4 – Metade das emissões do Brasil vem da pecuária
Levantamento será divulgado em Copenhague neste sábado
Mauro Zanatta escreve para o “Valor Econômico”:
O rebanho bovino brasileiro emite anualmente quase metade de todos os gases causadores do efeito estufa no Brasil. E a abertura de novas áreas de pastagens responde por 75% da área devastada na Amazônia e por 56,5% no Cerrado do país, estima um estudo inédito coordenado pelos pesquisadores Mercedes Bustamante (UnB), Carlos Nobre (Inpe) e Roberto Smeraldi (Amigos da Terra).
O levantamento, a ser divulgado no sábado (12/12) na conferência sobre mudanças climáticas em Copenhague, aponta para o “potencial” de redução de emissões pela pecuária nacional. Essa concentração das emissões do país num único segmento seria, segundo os pesquisadores, “a mais importante” oportunidade de mitigação no Brasil.
“Devemos caminhar para uma agricultura integrada ao ambiente tropical, científica e tecnológica, que aumenta sua eficiência, diminui seu impacto ambiental, inclusive em emissões”, diz o climatologista Carlos Nobre. As opções de mitigação pelo setor “não implicam o corte na produção atual” e podem ser compatíveis com a “elevação moderada” da produção.
A compensação ambiental poderia ser feita via redução do desmatamento, eliminação do fogo no manejo de pastagens, recuperação de áreas e solos degradados, regeneração da floresta secundária, redução da fermentação entérica e implantação do sistema misto de integração lavoura-pecuária.
A pesquisa avalia as três principais fontes de emissão do setor: desmatamento para formação de pastagem e queimadas da vegetação derrubada, além de queimadas de pastagem e fermentação entérica do gado (o chamado “arroto” do rebanho).
O estudo não considera, porém, emissões de solos de pastagens degradadas, da produção da ração, de grãos, do transporte e dos frigoríficos. Os cálculos seriam assim “conservadores”, pois não foi computado ainda o desmatamento fora da Amazônia e do Cerrado.
O estudo, assinado por dez cientistas, diz que as emissões da pecuária bovina caíram para 813 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente no ano passado, de 1,09 bilhão de toneladas em 2003. A emissão total associada à pecuária na Amazônia passou de 775 milhões de toneladas de CO2 a 499 milhões. No Cerrado, o volume foi de 231 milhões de toneladas a 229 milhões. Nas demais regiões do país, as emissões passaram de 87 milhões a 84 milhões.
O trabalho científico avalia que a alteração no cenário das emissões deve incluir o fim da impunidade nas grilagens de terras da União na Amazônia e a aplicação do decreto de crimes e infrações ambientais. “Há uma relação clara entre essa impunidade, a especulação fundiária desenfreada e a degradação das florestas, especialmente na Amazônia”, afirma. A implantação de grandes frigoríficos seria o “principal motor” da expansão descontrolada e sem precedentes da atividade pecuária.
“A sustentabilidade econômica da indústria da carne requer drástica queda em carbono-intensividade”, diz Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra. (Valor Econômico, 11/12).
5 – Dinossauros surgiram na América do Sul
Artigo publicado na revista Science descreve descoberta de fóssil que indica origem dos dinossauros
Um fóssil descoberto no Novo México, nos Estados Unidos, que pertence ao grupo dos terópodes – do qual fazem parte o tiranossauro e o velocirraptor -, indica que os primeiros dinossauros surgiram na atual América do Sul, de onde se dispersaram pelo mundo.
Comparado com os registros fósseis do Jurássico e do Cretáceo, o retrato da vida dos dinossauros no Triássico Superior não traz a mesma clareza. Sabe-se que os dinossauros se dividiram, nesse último período, em três grupos principais – terópodes, sauropodomorfos e ornitisquia -, mas os fósseis são raros e, quando encontrados, incompletos.
Sterling Nesbitt, da Divisão de Paleontologia do Museu Americano de História Natural, em Nova York, e colegas descrevem em artigo publicado nesta sexta-feira (11/12), na revista Science, esqueletos quase completos de um dinossauro terópode do Triássico Superior.
Os cientistas deram à espécie, que viveu há cerca de 214 milhões de anos, o nome de Tawa hallae. O nome reúne a palavra em hopi (língua de povo indígena norte-americano) para o deus do sol (Tawa) com uma homenagem à paleontóloga amadora Ruth Hall, mulher de Jim Hall, fundador do Ghost Ranch, sítio em que os fósseis foram encontrados.
O dinossauro era carnívoro e media cerca de 2 metros de comprimento e 70 centímetros de altura. Tinha uma mistura de características de espécies que vieram tanto antes como depois. Com os predecessores, compartilhava o formato de sua pelve, por exemplo. Com seus sucessores, dividia características como vértebras com espaços cheios de ar.
A semelhança da pelve com o anterior herrerassauro, encontrado na Argentina, foi destacada pelos cientistas, uma vez que essa espécie tem sido muito discutida desde que foi encontrada, na década de 1960. O novo estudo afirma que as características que o herrerassauro compartilha com o Tawa hallae comprovam que o primeiro era também um terópode. O que reforça a teoria da origem sul-americana.
Mas o grupo também analisou as relações evolucionárias da nova espécie com dinossauros conhecidos do Triássico Superior. A partir da complexidade e da diversidade dessas relações, os pesquisadores concluíram que os terópodes então encontrados na América do Norte não eram endêmicos e que seus predecessores possivelmente se originaram na América do Sul.
Foi apenas após a divergência em terópodes, sauropodomorfos (como o apatossauro) e ornitisquia (como o tricerátops), ocorrida há mais de 220 milhões de anos, que os dinossauros se dispersaram por todo o mundo Triássico, em um momento em que os continentes ainda se encontravam reunidos na Pangeia.
O artigo “A Complete Skeleton of a Late Triassic Saurischian and the Early Evolution of Dinosaurs”, de Sterling Nesbitt e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org. (Agência Fapesp, 11/12).