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Informativo 149 – Baleias, eucalipto, Amazônia, temperatura, impacto e crocodilos

1 – Ambiente: Silêncio diplomático diante de iminente matança de baleias

2 – Eucalipto em Minas Gerais

3 – Amazônia foi responsável por 1,5% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2008

4 – Temperatura global pode subir até 7º C

5 – Impacto imediato

6 – A era dos crocodilos

 

1 – Ambiente: Silêncio diplomático diante de iminente matança de baleias

 

Os governos latino-americanos prevêem responder em bloco à decisão do Japão de habilitar a partida de sua frota baleeira para a Antártida para, segundo sua justificativa, nova temporada de caça com fins científicos, que ameaça a vida de mil destes cetáceos no protegido santuário austral. Mas a eventual ação diplomática em estudo pelos países da região integrantes da Comissão Baleeira Internacional (CBI) ao que parece não chegará no tempo reclamado pelas organizações conservacionistas para evitar uma nova matança destes mamíferos como as que vêm ocorrendo ano a ano.
Na semana passada o Japão autorizou a partida da frota baleeira, apesar de estarem em andamento negociações na CBI para definir se mantém, ou não, a autorização para a caça não letal ou com fins científicos. Os conservacionistas querem revogar esta exceção, à qual o Japão apela para fornecer carne ao seu mercado. Mas os países favoráveis à caça buscam levantar a moratória vigente desde 1986, que restringe a caça comercial. Existe na discussão uma paridade de posições que impede chegar-se à maioria exigida para adotar mudanças, mas a América Latina trabalha fortemente.
Todos os países da região defendem posições conservacionistas nesta matéria e lideram no mundo as gestões para frear a caça. Este perfil se reflete na designação do atual presidente da CBI, o comissário chileno Cristián Maqueira. Por iniciativa da região foi criado este ano um pequeno grupo de nações que se reuniu, sem resultado, em outubro e voltará a se reunir em dezembro no Chile em busca de um acordo. No entanto, a partida da frota japonesa foi recebida como mau presságio entre as organizações não-governamentais.
Se o Japão não partisse para a Antártida estaria fazendo um gesto de boa vontade, disse à IPS a argentina Roxana Steinberg, do Instituto de Conservação de Baleias (ICB). Por outro lado, a continuidade desta prática em plena negociação é uma burla, ressaltou. Nos preocupa seriamente o silêncio dos governos, acrescentou. O brasileiro José Truda Palazzo, ex-comissário governamental da CBI e agora membro do Centro de Conservação Cetácea no Brasil, disse que é hora de acabar com a imobilidade. Alertou, ainda, que enquanto os comissários negociam, os baleeiros continuam massacrando baleias, sem que ninguém os puna.
Mediante comunicado conjunto do último dia 11, 40 organizações não-governamentais da região, entre elas as que integram Steinberg e Palazzo, solicitaram aos governos latino-americanos da CBI todos, menos Colômbia e Venezuela que impeçam uma nova carnificina a favor do diálogo. As entidades haviam feito um apelo para que as nações da região liderem uma ação diplomática contra a matança indiscriminada de baleias.
No momento em que divulgaram essa mensagem, as organizações conservacionistas supunham que a frota partiria do Japão apenas em dezembro, e desejava evitar isso. Mas, na semana passada foram surpreendidas ao saberem que o navio-fábrica Nisshin Maru, insígnia da flota baleeira, e outras pequenas embarcações, já havia partido. A frota se dirige ao Santuário Baleeiro Austral, nas águas em torno da Antártida. Trata-se de uma área de proteção criada pela CBI em 1994, onde está proibida a caça com fins comerciais. A demarcação da zona foi votada pelos países membros da comissão menos o Japão.
Desde que a CBI aprovou a moratória para deter a caça comercial, em 1986, o Japão capturou mais de oito mil baleias na área que depois foi declarada santuário. E se somarmos as capturas feitas por Islândia e Noruega chega-se a 20 mil baleias mortas. Nesta campanha, estima-se que o Japão irá capturar cerca de mil cetáceos, um total semelhante ao que caçou nos dois últimos anos, segundos a CBI, e que se aproxima perigosamente dos níveis de caça anteriores à moratória, quando a atividade praticamente não sofria restrição, explicou Steinberg. As entidades denunciaram ainda que a frota caçou na última temporada mais de 300 baleias fêmeas, 63% delas prenhes.
A IPS ouviu funcionários de três países que trabalham nestes temas para saber se haveria uma condenação ao Japão por esta ação, e responderam que o caso está sendo analisado. O assunto é objeto de consideração dentro do grupo Buenos Aires, disse uma fonte brasileira próxima ao comissariado, sem dar mais dados. No entanto, a fonte da Argentina, que pediu para não ser identificada, afirmou que os comissários da região estão em contato entre si e avaliando o que fazer, embora admitindo que a eventual resposta pode demorar porque a coordenação leva tempo.
Os ingleses estiveram durante três ou quatro meses coordenando uma demarche (ação diplomática) contra a Islândia, disse a fonte. Por outro lado, se o que se deseja é uma ação política séria, que tenha algum impacto no Japão, é preciso uma boa preparação, justificou. A fonte recordou que até agora houve meia dúzia de ações deste tipo contra o Japão sem nenhum resultado. De fato, o Grupo de Buenos Aires foi criado em 2005 e sua primeira ação foi condenar o Japão por enviar sua frota de caça à Antártida, e a prática contínua desde então.
Muitas vezes as organizações não-governamentais pensam que com a divulgação de uma carta muda-se a situação, mas, lamentavelmente, o mundo não funciona assim, ressaltou a fonte, destacando que pela primeira vez em 20 anos a CBI negocia a questão da caça científica e isso, segundo os governos, é um avanço. Fonte: Marcela Valente, IPS/Envolverde, 25.11.2009.

 

2 – Eucalipto em Minas Gerais

O eucalipto está deixando de ser patinho feio para se tornar cisne no agronegócio mineiro. A demanda mundial por celulose da árvore para fabricação de papel avança a passos largos, impulsionada pela China. No Brasil, as siderúrgicas engrossam o coro. Elas estão de olho nas florestas plantadas por pequenos produtores rurais porque querem uma produção sustentável, que não dependa das importações de carvão mineral, mais poluente que o vegetal. Essa busca fez com que o eucalipto atingisse uma área de quase 1,5 milhão de hectares em Minas Gerais, ultrapassando a cultura mais tradicional do estado, o café, cujas plantações ocupam hoje 1,1 milhão de hectares, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No primeiro semestre de 2009, a China aumentou em 68% as importações de celulose, enquanto os mercados desenvolvidos apresentaram queda próxima de 20%, diz o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho. Ele chama a atenção para a preferência pelo eucalipto. Em 2008, enquanto a demanda mundial por celulose subiu algo próximo de 1,3%, a demanda por celulose de eucalipto cresceu 13%, 10 vezes mais, compara.
O Brasil, e Minas Gerais especialmente, avança nesse cenário. Segundo a pesquisa do IBGE, em 2008 Minas ultrapassou o Paraná e assumiu a liderança nacional no valor bruto da produção da silvicultura (florestas plantadas) e extração vegetal (vegetação nativa). Atingiu a cifra de R$ 2,54 bilhões. O estado é agora o maior produtor nacional, participando com 78% da produção nacional da silvicultura e com 18% da extração vegetal. Interessante é que a produção de carvão proveniente de vegetação nativa apresentou queda de 4,9% em relação a 2007, enquanto a da silvicultura aumentou 7,9%, salienta o supervisor de pesquisa agropecuária do IBGE, Humberto Silva Augusto. Segundo ele, o aumento poderia ter sido ainda maior se não fosse a crise.
Com uma participação modesta de apenas 3% no mercado mundial de celulose e madeira serrada de origem renovável, o Brasil tem grandes chances de ocupar mais espaço nesse novo filão, sustenta Bernardo de Vasconcellos, presidente da Associação Mineira de Silvicultura (AMS). Para ter uma ideia da baixa representatividade brasileira, a Finlândia, país de dimensões bem menores, detém 8% das vendas mundiais. “Poucos países têm condições de produzir madeira de origem limpa, mas todos têm de consumir. O Brasil domina a tecnologia em genética e cultivo de florestas e o nosso índice de produtividade é seis vezes maior que a média no mundo, afirma o executivo.
Vasconcellos lembra que o uso da floresta plantada foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como sistema capaz de gerar os chamados créditos de carbono, enquanto mecanismo de produção movido a combustível renovável. A floresta captura mais carbono do que produz e libera oxigênio em proporções superiores. A sociedade vem tomando conhecimento de que precisamos defender o que temos de florestas nativas, e cada hectare de eucalipto plantado ajuda a preservar cerca de 10 hectares dessas florestas nativas. O índice de desenvolvimento humano progride significativamente nas áreas onde temos as atividades florestais, afirma o presidente da Câmara da Indústria de Base Florestal da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Antônio Claret de Oliveira.
O cultivo de eucalipto mudou a rotina dos moradores de Paraopeba (Região Central), a 97 quilômetros de Belo Horizonte. Luiz Fernando Figueiredo, proprietário da Fazenda Capão da Ema, é um deles. Dedicava-se à pecuária de leite, atividade que nunca rendeu bom retorno financeiro, até que em 2002 aderiu a um programa do governo e iniciativa privada. Plantei no pasto degradado, com mais de 20 anos de pisoteio de gado, e preservei a mata nativa. Foi uma ótima aposta. Comecei com 27 hectares e já tenho 140 hectares plantados. Depois de sete anos, momento do primeiro corte, e após R$ 68 mil em investimentos (R$ 2,5 mil por hectare), ele negocia a sua produção de eucalipto por R$ 700 mil. Com a pecuária, não chegaria nem no pé disso, afirma.
Figueiredo aponta ainda como vantagem a flexibilidade de negociação dentro do setor. Se as siderúrgicas estão em crise, posso vender para a indústria moveleira, construção civil (postes e mourões), casca para alambiques e folhas para óleos essenciais. Não preciso ficar restrito ao carvão, exemplifica. Ele conta que quase toda a vizinhança se dedica ao mesmo negócio, o que está transformando o município de Paraopeba em mais um polo moveleiro de Minas. A gente estima que o apagão florestal, previsto para 2017, seria adiado para 2020 com a ajuda dos produtores rurais, observa. De acordo com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), a cadeia produtiva florestal gera cerca de 800 mil empregos diretos e indiretos em Minas. Fonte: Jornal O Globo de 20.11.2009

 

3 – Amazônia foi responsável por 1,5% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2008

 

São cerca de 500 milhões de toneladas de gás carbônico

Luana Lourenço escreve para a “Agência Brasil”:

 

O desmatamento da Amazônia entre 2007 e 2008 foi responsável pela emissão de cerca de 500 milhões de toneladas de gás carbônico. O montante representa entre 16% e 20% das emissões brasileiras e cerca de 1,5% (média entre 1,1% e 1,9%) das emissões globais do gás, segundo medição de 2008.

Os números foram divulgados nesta terça-feira (24) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base em uma nova metodologia para medição de emissões por desmatamento. Os resultados consideram fatores que levantamentos feitos até agora não levavam em conta, como diferenças da quantidade de biomassa em diferentes pontos da floresta e o papel da vegetação secundária.

“Antes a conta era uma multiplicação do número de hectares por 100 toneladas de gás carbônico. Esse modelo incorpora novas variáveis”, comparou o pesquisador do Inpe Carlos Nobre, um dos autores do estudo.

Já a colaboração do desmatamento da Amazônia para as emissões globais, de cerca de 1,5%, considera estudo apresentado na última semana na revista de divulgação científica Nature, que estimou o total de emissões de gás carbônico do planeta em 32 bilhões de toneladas em 2008. O pesquisador do Inpe Jean Ometto, um dos autores do estudo, pondera que é preciso considerar a margem de erro de 10%.

O estudo indica que a contribuição das emissões por uso da terra, mudança de uso da terra – que inclui agricultura – e desmatamento caiu de 20% na década de 1990 para 12% em 2008. O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) utiliza o dado de 20% em seus relatórios, mas deve revisar os dados nas próximas edições.

Pesquisadores brasileiros argumentam que alguns países desenvolvidos têm interesse em inflar a contribuição das florestas para as emissões globais para evitar responsabilidades de acordo com o verdadeiro tamanho de suas emissões, que estão ligadas principalmente ao uso de combustíveis fósseis.

(Agência Brasil, 24/11).

 

4 – Temperatura global pode subir até 7º C

 

Conclusão é de estudo do Instituto de Pesquisa sobre os Impactos do Clima de Potsdam, na Alemanha

O aquecimento do planeta pode ser ainda pior do que vinha sendo previsto pelos cientistas, correndo o risco de chegar a 7oC até 2100, anunciou um grupo de 24 especialistas em clima a menos de duas semanas do início da 15ª Conferência das Partes (COP-15) – a cúpula das Nações Unidas sobre mudanças climáticas que ocorrerá em Copenhague, capital da Dinamarca, entre 7 e 18 de dezembro.

O Instituto de Pesquisa sobre os Impactos do Clima de Potsdam, na Alemanha, publicou um documento de 64 páginas que sintetiza os trabalhos científicos sobre o tema divulgados desde o quarto relatório (2007) do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês). “A temperatura média do ar deve aumentar entre 2oC e 7oC até 2100 em relação ao período pré-industrial”, afirmaram os autores do documento, que pediram medidas urgentes para reverter a tendência.

O aumento de 40% das emissões de dióxido de carbono entre 1990 e 2008 torna mais difícil atingir a meta fixada pelos dirigentes de alguns países industrializados e emergentes de limitar a 2oC o aquecimento do planeta. “Cada ano de atraso na ação aumenta as possibilidades de o aquecimento ultrapassar esse limite”, advertiram os estudiosos.

Segundo Hans Schellnhuber, diretor do Instituto de Potsdam e membro do IPCC, o relatório é um último apelo dos cientistas aos negociadores dos 192 países que devem se encarregar de discutir a proteção do planeta em Copenhague. “Eles devem saber a verdade sobre o aquecimento do planeta e os riscos sem precedente que isso implica”, destacou Schellnhuber.

Aos que ainda duvidam da responsabilidade do homem no processo de aquecimento, o documento lembra que, no primeiro quarto do século 20, as temperaturas médias aumentavam 0,19oC por década, o que corresponde perfeitamente às previsões calculadas com base nas emissões de gás de efeito estufa.

O documento destaca que, se não forem adotadas medidas eficazes, inúmeros ecossistemas sofrerão danos irreversíveis.Para limitar o aquecimento a 2oC é necessário que as emissões parem de aumentar entre 2015 e 2020 para, depois, diminuírem rapidamente. “Deve-se conseguir antes do fim do século uma sociedade mundial sem emissões de carbono ou de outros gases de efeito estufa”, pedem os especialistas.

(Correio Braziliense, 25/11).

 

5 – Impacto imediato

 

Índia central foi desmatada por supererupção vulcânica, há 73 mil anos, sugere estudo

Um novo estudo afirma que a supererupção vulcânica de Toba, ocorrida na ilha de Sumatra há cerca de 73 mil anos, resultou no desflorestamento da maior parte da Índia central, em uma área que se estendeu a até 5 mil quilômetros do epicentro.

O vulcão teria ejetado estimados 800 quilômetros cúbicos da cinza na atmosfera. Outra consequência foi uma cratera de 100 quilômetros de comprimento por 35 quilômetros de largura, que hoje é o maior lago vulcânico do mundo.

De acordo com a pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista “Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology”, a cinza refletiu a luz solar e os aerossóis de enxofre bloquearam os raios solares na região por seis anos, iniciando uma era do gelo que teria durado 1.800 anos.

“Durante essa era do gelo, as temperaturas caíram em até 16o C”, disse Stanley Ambrose, professor da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, principal autor do estudo. Segundo ele, os efeitos da erupção podem explicar a queda nas populações humanas em todo o mundo que se estima teria ocorrido entre 50 mil e 100 mil anos atrás.

Os cientistas analisaram substrados marinhos na baía de Bengala, que contêm uma camada de cinza resultante da erupção. Também estudaram taxas de isótopos de carbono em sedimentos fossilizados subterrâneos em três regiões na Índia.

Os resultados indicam uma alteração clara no tipo de vegetação encontrada na Índia imediatamente após a erupção. A vegetação que se sucedeu demonstra as condições mais secas e mais frias na região por pelo menos mil anos depois do evento.

O artigo “Environmental impact of the 73 ka Toba super-eruption in South Asia”, de Stanley Ambrose e outros, pode ser lido por assinantes da “Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology” em

www.sciencedirect.com/science/journal/00310182. (Agência Fapesp, 25/11)

 

6 – A era dos crocodilos

 

Dupla de paleontólogos descobre no Saara cinco espécies de répteis que viveram há 100 milhões de anos

Rodrigo Craveiro escreve para o “Correio Braziliense”:

Gondwana, uma massa continental formada por América do Sul, África, Madagascar, Antártica, Índia e partes do Sul da Ásia e da Austrália. Os pântanos eram cobertos por rios caudalosos, que serpenteavam em meio a uma flora abundante. Em uma parte dessa região, onde hoje é o Deserto do Saara, crocodilos de até 6,1m de comprimento trucidavam e comiam dinossauros com seus enormes caninos, cerca de 100 milhões de anos atrás.

O focinho reforçado com uma armadura óssea aumentava o poder destrutivo do animal, apelidado de CrocJavali. Essa e outras quatro espécies – cujos focinhos se assemelhavam aos de cães e ao bico de patos, ou cujos dentes lembravam os de ratos (veja o quadro) – foram revelados pela ciência depois que os paleontólogos Paul Sereno, da Universidade de Chicago, e Hans Larsson, da Universidade McGill (em Montreal), desenterraram os fósseis no Níger e no Marrocos.

“Esses crocodilos trouxeram uma nova visão sobre o mundo desses répteis”, afirmou o canadense Larsson ao Correio, em entrevista por e-mail. Os dois cientistas batizaram os fósseis segundo suas peculiaridades. 

“O CrocCão parecia ser onívoro (que se alimenta de carne e vegetais) e tinha uma dieta baseada mais em plantas do que em carne, além de um focinho igual ao de um cachorro. O CrocPato provavelmente comia invertebrados de corpo mole e pequenos vertebrados, e tinha garras para cavar. O CrocRato possuía incisivos frontais que também podiam ser usados para cavar. Já o CrocPanqueca era dotado de mandíbulas no formato de argolas, preenchidas com dentes pequenos e triangulares – semelhantes a lâminas -, bons para comer peixes”, acrescentou.

Larsson teve a atenção especialmente voltada para o CrocJavali, por sua aparência bizarra. “Os dentes dele são únicos, mas o resto do crânio é muito diferente do de outros fósseis de crocodilos”, descreveu. Ele próprio foi o responsável direto por encontrar um espécime de CrocJavali e de CrocPanqueca.

“São fósseis belos, com grande preservação”, assegurou. O canadense também cita a grande diversidade de tamanho das espécies. “Enquanto o CrocCão, o CrocRato e o CrocPato tinham menos de um metro de comprimento, o CrocJavali e o CrocPanqueca possuíam mais de 6m. Temos esqueletos relativamente completos apenas do CrocCão e do CrocPato. Dos outros animais, a única pista é o crânio”, disse.

Os cientistas já haviam encontrado fósseis de 100 milhões de anos no Brasil, na Argentina e no Uruguai. Mas jamais com uma diversidade tão grande como na África. Alguns dos crocodilos pré-históricos caminhavam como os mamíferos de hoje, sem que sua barriga tocasse o chão.

“O Saara é maior que o Brasil e muitos locais são repletos de rochas do tempo dos dinossauros, que estão bem expostas”, contou ao Correio o norte-americano Paul Sereno, ao admitir que fósseis surpreendentes provavelmente emergeriam daquele solo. A descoberta foi detalhada em artigos publicados pela revista científica ZooKeys e pela National Geographic.

Evolução

De acordo com Sereno, no passado, os crocodilos passaram por uma grande fase evolucionária. “Alguns deles comiam dinossauros, alguns comiam plantas, muitos caminhavam e corriam como se fossem cães. A história longínqua desses animais ajudou-nos a entender por que eles sobreviveram por tanto tempo. Eles são criaturas anfíbias únicas, altamente adaptadas à vida na terra e na água”, lembrou o lendário paleontólogo, que acumula um vasto currículo de descobertas impressionantes.

Depois do trabalho de campo – que exigiu o uso de martelos, cinzéis, gesso e caminhões para retirar a terra -, a equipe liderada por Sereno e Larsson aplicou ferramentas de odontologia e colas especiais nos fósseis.

“Os espécimes foram submetidos a uma tomografia computadorizada. Então, reconstruí os espaços que antes abrigavam os cérebros dos animais. Os dados de imagens em 3D foram usados para descrever o tamanho e o formato dos órgãos. A maior parte dos trabalhos envolveu equipamentos de baixa tecnologia, mão de obra e paciência”, observou Larsson. (Correio Braziliense, 25/11).